One Flew Over the Cuckoo’s Nest

Milos Forman relembrado em sete filmes

O realizador americano de origem checa morreu na sexta-feira, com 86 anos. Recordamos o autor com sete dos seus filmes mais importantes

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Nascido na antiga Checoslováquia, hoje República Checa, Milos Forman naturalizou-se americano em 1977. Mas nunca perdeu o sentido crítico e o gosto pelas personagens individualistas e anti-convencionais que povoam os seus filmes, quer os tenha rodado sob um regime comunista, quer no Ocidente democrático 

Milos Forman relembrado em sete filmes

‘Os Amores de uma Loira’ (1965)

Interpretada por Hana Brejchová, antiga cunhada do realizador, Os Amores de uma Loira é a segunda longa-metragem de Milos Forman, uma comédia dramática sobre as andanças sentimentais de uma rapariga de uma cidade do interior da ex-Checoslováquia, que trabalha numa fábrica de calçado. O filme é emblemático do tipo de realismo naturalista, “espontâneo” e de feição documental, com muito diálogo improvisado e mesclando actores profissionais e não-actores, que caracteriza a fase checa de Forman.

‘O Baile dos Bombeiros’ (1967)

Banido pelo governo comunista após a invasão soviética que esmagou a Primavera de Praga e levou Milos Forman a instalar-se nos EUA, O Baile dos Bombeiros é um dos melhores filmes do realizador (e o primeiro que rodou a cores), uma sátira ao poder e à corrupção no seu país, feita por intermédio de uma festa de homenagem a um dirigente de uma corporação de bombeiros voluntáriosda província (interpretados pelo próprios bombeiros da vila onde a fita foi rodada). Tudo corre ao contrário do que devia, e no final, para cúmulo, há um grande incêndio.

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‘Os Amores de uma Adolescente (1971)

Apesar de ter sido bem recebido pela crítica e de ter ganho o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, o primeiro filme de Milos Forman no EUA foi um fracasso comercial. É uma história sobre o “abismo de gerações”, expressão muito em voga na época, centrada numa adolescente da classe média, Jeannie (Linnea Heacock), que, farta de aturar os pais, foge de casa. Forman traz a esta típica história de conflito de gerações um olhar exterior ao americano, fresco e não estereotipado, de que a fita beneficia em todos os aspectos.

‘Voando Sobre um Ninho de Cucos’ (1975)

Eis o filme onde talvez melhor se expresse o tema que percorre toda a obra de Forman: o confronto entre o indivíduo e as instituições que deviam existir para o servir, mas acabam por o constrangir. Jack Nicholson é um delinquente manhoso e espertalhufo, que finge ter problemas mentais para ser internado numa instituição especializada, onde entra em choque com a despótica e fria enfermeira Ratched (Louise Fletcher). Baseado num livro de Ken Kesey, Voando Sobre um Ninho de Cucos foi o segundo filme na história do cinema a conseguir ganhar os cinco Óscares mais importantes: Melhor Filme, Realizador, Argumento, Actor e Actriz.

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‘Amadeus’ (1984)

Aos cinco Óscares ganhos por Voando Sobre um Ninho de Cucos vieram juntar-se os oito de Amadeus, que voltaram a incluir os de Melhor Realizador para Milos Forman, e de Melhor Filme. É uma adaptação sumptuosa da controversa peça homónima de Peter Shaffer sobre Wolfgang Amadeus Mozart (Tom Hulce) e a sua relação com o também compositor e seu contemporâneo Antonio Salieri (F. Murray Abraham), bem como sobre o confronto da mediocridade artística com o génio. O retrato iconoclasta de Mozart, e as muitas e escancaradas liberdades que Shaffer tomou com os factos, não impediram o filme de ser um colossal sucesso – o último de Forman.

‘Larry Flynt’ (1996)

Milos Forman transformou o que poderia ter sido apenas uma biografia corriqueira e indiferente sobre Larry Flynt, o editor da revista pornográfica americana Hustler, num filme sobre a importância da liberdade de expressão e da sua defesa, mesmo nas sociedades abertas, transformando Flynt (interpretado por Woody Harrelson) não só numa figura de recorte libertário como também num símbolo - mesmo que imperfeito - dessa mesma liberdade de expressão. O realizador deu ao próprio Larry Flynt o papel de um juiz preconceituoso num dos vários julgamentos por imoralidade que o próprio teve que enfrentar, e são aqui recriados.

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‘Homem na Lua’ (1999)

Mais um filme biográfico, agora de uma das mais peculiares e excêntricas figuras da comédia americana, Andy Kaufman, actor e cómico desconcertante e inclassificável, chamado por alguns de “dadaísta tardio”, que morreu em 1984, apenas com 35 anos e tinha admiradores apaixonados e detractores raivosos. Jim Carrey interpreta primorosamente Kaufman, que é mais um exemplo acabado do tipo de personagem anti-convencional e individualista até às derradeiras consequências que agradava a Milos Forman. Incrivelmente, Carrey não foi nomeado para o Óscar de Melhor Actor.

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