2001: A Space Odyssey
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Os 100 melhores filmes de ficção científica de sempre

É sempre reconfortante ver e imaginar o futuro (mesmo que já seja passado). E é por isso que elencamos os 100 melhores filmes de ficção científica de sempre.

Escrito por: Keith Uhlich
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O potencial cinematográfico (e não só) da ficção científica é quase infinito. É nestes filmes que os nossos maiores pesadelos podem tornar-se realidade e os nossos sonhos concretizar-se, ao mesmo tempo que é dito e posto em causa algo sobre o nosso presente. E o género sempre fez as delícias do público, desde o tempo dos efeitos especiais básicos e rudimentares dos filmes mudos ao excesso digital dos blockbusters contemporâneos. Hoje, no entanto, é a própria crítica quem aplaude e celebra muitos destes filmes, tal como acontece com os super-heróis e o terror. A pensar nisso, elegemos os 100 melhores filmes de ficção científica de sempre.

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Os 100 melhores filmes de ficção científica de sempre

100. Dia da Independência (Independence Day, 1996)

Realizador: Roland Emmerich

Elenco: Will Smith, Jeff Goldblum, Bill Pullman

Sim, é meio chunga. Sim, é barulhento. Sim, é tão subtil como uma nave espacial estacionada na varanda. Mas, enfim, tem muita piada. Emmerich pode não ser tão ousado nem um habilidoso mestre da sátira como o seu colega Paul Verhoeven, e logo na estreia houve quem não visse mais do que demasiadas bandeiras americanas ao vento e um excesso de tiradas presidenciais. Porém, para lá da superfície, encontra-se entretenimento em estado puro. Afinal, quem mais teria a coragem de rebentar com a Casa Branca só pela emoção? Quem mais teria a coragem de representar o governo norte-americano como demasiado desejoso de usar armas nucleares – apenas para descobrir como elas não tinham qualquer efeito?

99. Black Panther (2018)

Realizador: Ryan Coogler

Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o

Criado em 1966 por Stan Lee e Jack kirby, e transportado para o grande ecrã por Ryan Coogler, Black Panther foi o primeiro super-herói negro da Marvel. No cinema, tal como nos comics, T’Challa (Chadwick Boseman) é o rei de um país africano ficcional, Wakanda, uma utopia étnica super-high tech que se desenvolveu mais do que qualquer outra nação devido a um minério vindo do espaço, o vibranium, mas cujo progresso foi deliberadamente escondido do resto do mundo. Sem ser apenas mais um filme de super-heróis, Black Panther destaca-se pelo seu original enquadramento e aa caracterização detalhada de Wakanda, desde a origem e costumes até à tecnologia futurista, passando pela diversidade tribal.

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98. Super-Homem: O Filme (Superman,1978)

Realizador: Richard Donner

Elenco: Christopher Reeve, Margot Kidder, Gene Hackman

Se hoje parece impossível entrar num cinema e não ver um filme de aventuras com um simpático rapaz em collants bem podem culpar Richard Donner. Fresquinho ainda do grande êxito de O Génio do Mal, o realizador virou a sua atenção para um guião escrito por Mario Puzo, o autor de O Padrinho, inspirado numa série de banda desenhada que quase todos os cinéfilos tinham já esquecido. O resto é história. Se Super-Homem: O Filme surge tão perto do fim da lista, isso acontece por a maior parte dos votantes não verem o filme realmente como ficção científica. É verdade que a coisa começa com a destruição de um planeta, e que o filme de super-heróis é um género à parte. Mas Super-Homem, apesar de tudo, permanece como um verdadeira pedrada no charco da época, um prodígio técnico ao mesmo tempo celebrando e exaltando as suas raízes patrióticas, enquanto entrega o sarcasmo para os deliciosos comentários de Margot Kidder no papel da azougada Lois Lane.

97. Eclipse Mortal (Pitch Black, 2000)

Realizador: David Twohy

Elenco: Vin Diesel, Radha Mitchell, Cole Hauser

Filmes como este são as fundações da ficção científica. Pode não ter a ambição de 2001: Odisseia no Espaço, ou mesmo de Alien – O 8.º Passageiro, com quem partilha o ADN, todavia é uma entretida  caldeirada intergaláctica. O enredo – um grupo heterogéneo de viajantes tem de combater os elementos, eles próprios e um exército de bestas para sobreviver num mundo hostil – está longe de ser original, um facto de que o co-argumentista e realizador estreante David Twohy está perfeitamente consciente. Por isso é a realização, a maneira ardilosa como é executado o trabalho com efeitos especiais básicos, todavia eficazes, e a solidez das interpretações que faz o filme correr sobre carris. Melhor ainda é a forma como Twohy brinca com as tradições da ficção científica e os seus arquétipos. Fica o aviso: é melhor evitar as sequelas.

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96. Serenity (2005)

Realizador: Joss Whedon

Elenco: Nathan Fillion, Chiwetel Ejiofor, Gina Torres

A primeira pergunta é: como é que este filme foi feito? A série televisiva que lhe está na origem, a cóboiada espacial Firefly, foi cancelada dois anos antes após apenas 11 episódios. O seu criador Joss Whedon, nunca antes dirigira, e o seu êxito televisivo, Buffy, A Caçadora de Vampiros, tinha também já saído de cena. No entanto, alguém na Universal achou ser boa ideia dar mão livre e um punhado de dinheiro a Whedon para ressuscitar o seu bebé no cinema. Foi uma péssima decisão económica, claro, pois Serenity nem conseguiu recuperar o investimento. Contudo, foi uma dádiva espectacular para quem tem aprecia a idiossincrática arte de Whedon.

95. Rogue One: Uma História de Star Wars

Realizador: Gareth Edwards

Elenco: Felicity Jones, Diego Luna, Mads Mikkelsen

(Quase) sem a presença da Força, e apesar de colocar mais ênfase na “Guerra” do que nas “Estrelas”, Rogue One: Uma História de Star Wars é o filme da Disney que se revela mais fiel ao espírito e à letra da trilogia-mãe, e que vem injectar-lhe frescura e vitalidade, e descomplicá-la. Na concepção, na vibração, nas peripécias e nas personagens (com a despachada Felicity Jones a brilhar no papel da heroína Jyn Erso), Rogue One revela uma identidade de space opera genuína e muito bem-vinda. E a batalha final, travada em terra e no ar, no cenário de uma ilha de um planeta tropical, é uma das melhores que já vimos. Uma lufada de ar e uma transfusão de sangue fresco numa saga que bem precisava disso.

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94. Alphaville (1965)

Realizador: Jean-Luc Godard

Elenco: Eddie Constantine, Anna Karina, Akim Tamiroff

Aphaville é a cidade modernista onde livre arbítrio e individualidade foram abolidos e criminalizados. O que é um cenário inesperado para um dos grandes inspiradores e praticantes da Nova Vaga do cinema francês, Jean-Luc Godard, que ninguém via com queda para a ficção científica. No entanto, virou-se para o género, e criou uma das suas obras mais acessíveis ao grande público com esta distopia futurista comandada pelo super-computador Alpha 60. Filmando em contrastante preto e branco, em e nos arredores de Paris, a ousadia do realizador tornou-se a principal atracção ao relacionar com muita seriedade a brutalidade do fascismo e a falta de humanidade da tecnologia. Mais, numa cidade onde a falta de lógica das emoções é punida com a morte, não existe ninguém melhor do que Anna Karina para nos fazer acreditar que o amor vale o risco.

93. THX 1138 (1971)

Realizador: George Lucas

Elenco: Robert Duvall, Donald Pleasence, Maggie McOmie

O subtítulo “as drogas não funcionam” fica mesmo bem neste filme em que George Lucas e o seu amigo Francis Ford Coppola convenceram a Warner Brothers a investir. O estúdio detestou o resultado final desta fábula onde amor livre e livre arbítrio lutam contra o todo poderoso Estado totalitário. Visto agora, o seu elenco de carecas, a linguagem autoritária e insinuante da propaganda e a enervante paleta de brancos glaciares da fotografia dão uma imagem genuinamente verosímil de um sociedade moldada pela vigilância constante e o fornecimento governamental de sedativos.

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92. Solaris (2002)

Realizador: Steven Soderbergh

Elenco: George Clooney, Natascha McElhone, Jeremy Davies

Digamos que é difícil imaginar um executivo de Hollywood perder tempo a ver o magnífico filme que o cineasta Andrei Tarkovsky dirigiu em 1972, Solaris, quanto mais dar alguma atenção à vontade de Steven Soderbergh em refazer a obra para o público americano dos primeiros anos deste século. Mas decerto a presença de James Cameron como produtor facilitou a vida à recriação de uma das óperas espaciais mais introspectivas. Como argumentista, realizador, montador, e director de fotografia, Soderbergh faz um trabalho onde ecoam o tom solene do original (realizado na era soviética como uma espécie de resposta a 2001: Odisseia no Espaço), contudo conduz a história com firmeza, introduzindo intrigantes deambulações sobre o conhecimento de nós próprios e dos outros, enquanto Clooney lida com a reencarnação da mulher, isto é, com reencarnação das suas memórias dela.

91. ETs in da Bairro (Attack the Block, 2011)

Realizador: Joe Cornish

Elenco: John Boyega, Jodie Whittaker, Alex Esmail

Quando Joe Cornish estreou este filme atafulhado de ideias meio maradas, muitos críticos fizeram questão de assinalar o que entendiam como uma tendência para o mau gosto da “baixa cultura” das ruas, pois as principais personagens, diziam, não são heróis, antes criminosos sem apelo nem agravo. O que é verdade e é confirmado logo na primeira cena de um particularmente violento assalto. Mas era isso mesmo que o realizador queria questionar: ao representar a juventude inglesa com um bando de rufias de navalha no bolso, não só se criminaliza uma geração inteira, como arriscamos o futuro. Porque, sabe-se lá se não vamos precisar do seu auxílio em caso de invasão extraterrestre?

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90. As Aventuras de Buckaroo Banzai (The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension, 1984)

Realizador: W.D. Richter

Elenco: Peter Weller, John Lithgow, Ellen Barkin

Peter Weller, em modo pré-Robocopinterpreta um cientista e astro rock, líder dos Hong Kong Cavaliers, neste inclassificável filme de W.D. Richter que só alcançou o seu estatuto de culto após a sua edição em VHS. Trabalhando a partir de um argumento de Earl Mac Rauch, mas próprio de um romance de Thomas Pynchon, Richter atira-se à acção convicto de que a sua história é mais estranha e selvagem do que qualquer coisa antes feita. Melhor ainda, ao engajar John Lithgow no papel do desaparafusado vilão com sotaque italiano, Dr. Emilio Lizardo, tornando todas as suas falas objecto de antologia, deu substância a uma película que ainda tem o desplante de anunciar euforicamente uma sequela no genérico final – e de que se continua à espera.

89. Viagem Fantástica (Fantastic Voyage, 1966)

Realizador: Richard Fleischer

Elenco: Stephen Boyd, Raquel Welch, Donald Pleasence

A tensão entre um muito imaginativo conceito central e a tecnologia de efeitos especiais disponível é, por assim dizer, o motor desta obra nascida da paranóia da Guerra Fria. O entrecho apresenta-nos a aventura de uma equipa de médicos miniaturizada, num igualmente minúsculo submarino, percorrendo o sistema nervoso central de um cientista dissidente em estado de coma. O que permite à realização imprimir à obra uma verosimilhança rara, ampliada pelo encanto de Raquel Welch e pela sempre confiável representação de Donald Pleasence.

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88. Relatório Minoritário (Minority Report, 2002)

Realizador: Steven Spielberg

Elenco: Tom Cruise, Colin Farrell, Samantha Morton

Em 2002, quando era seguro considerar que tanto Steven Spielberg como Tom Cruise já tinham tido melhores dias, chega Relatório Minoritário – um negro, comoventemente e futurista filme negro adaptado de um conto de Philip K. Dick (o qual, diz a lenda, Stanley Kubrick desejara realizar antes da morte se interpor). Aqui, em 2054, a ciência ainda não descobriu a cura para uma vulgar gripe, porém conseguira já reduzir a taxa de homicídios em Washington, D.C. a zero, graças ao Pré-crime, unidades da polícia apoiadas por um trio de “precogs”, uns psíquicos capazes de prever assassinatos e prender os criminosos antes deles os executarem. Cruise é o chefe de uma dessas unidades, subitamente indicado como futuro assassino, que tem de fazer o que pode e o que não pode para provar a sua inocência nesta película francamente assustadora.

87. The Damned (1963)

Realizador: Joseph Losey

Elenco: MacDonald Carey, Shirley Anne Field, Oliver Reed

Um dos filmes mais estranhos e, provavelmente, menos vistos desta lista é esta peculiar produção da Nova Vaga britânica, realizada pelo cineasta americano Joseph Losey (impedido de trabalhar nos Estados Unidos desde que viu o seu nome incluído na lista negra do senador anticomunista Joseph McCarthy). The Damned não é (apesar da contribuição de Harold Pinter no argumento), tão perspicaz como O Criado, do mesmo realizador, mas é sem dúvida uma obra pouco usual e particularmente intrigante na sua mistura de todas as estirpes da paranóia do pós-guerra – energia nuclear, sexo e sociedade – num pastoso e imprevisível guisado psicodramático.

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86. Barbarela (Barbarella, 1968)

Realizador: Roger Vadim

Elenco: Jane Fonda, John Phillip Law, Anita Pallenberg

Quão diferente seria Barbarela se Jane Fonda tivesse tido a sua epifania feminista antes das filmagens? Especulação à parte, aquando da estreia, a crítica esfacelou o filme sem piedade e com grande reflexo nas bilheteiras. Agora é um clássico de culto do psicadelismo dos anos de 60. É verdade que é um objecto oco e tonto, todavia contém alguns detalhes brilhantes (como aquelas crianças assustadoras com as suas bonecas assassinas). E é também certo que hoje é mais recordado pela miríade de maneiras que o argumento encontrou para despir a protagonista.

85. A Ameaça de Andrómeda (The Andromeda Strain, 1971)

Realizador: Robert Wise

Elenco: Arthur Hill, James Olson, David Wayne

Chamam-lhe ficção científica, mas só muito raramente é que este género cinematográfico tem o seu principal foco na ciência propriamente dita. Esta adaptação do primeiro best-seller de Michael Crichton centra-se na crise que se desenvolve quando uma sonda espacial cai na Terra transportando no interior um vírus que instantaneamente transforma o sangue dos humanos em pó. Felizmente as autoridades dos Estados Unidos acabaram de construir um centro de pesquisas secreto e subterrâneo oportunamente concebido para lidar com circunstâncias como esta. O veterano realizador Robert Wise dirige o filme com a austeridade de documentarista, assim, aos poucos, construindo um clima de ansiedade claustrofóbica.

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84. Frankenstein (1931)

Realizador: James Whale

Elenco: Colin Clive, Boris Karloff, Mae Clarke

Com aquela cicatriz desenhada na testa, o crânio achatado e os parafusos no pescoço, a criatura representada neste marco dos Estúdios Universal é um dos ícones do cinema fantástico. Mas são as profundas piscinas de emoção transparecendo dos olhos de Boris Karloff que fazem deste filme um clássico, acrescentando um suplemento de humanidade ao arquétipo do brilhante mas moralmente duvidoso cientista que vai demasiado longe. Colin Clive injecta grande convicção no papel do barão Frankenstein, mas é sem dúvida a combinação de força sobre-humana e vulnerabilidade infantil que Karloff desenvolve na sua mostrenga personagem que marca a diferença entre este e tantos dos seus descendentes já passados pelas telas.

83. A Vida Futura (Things to Come, 1936)

Realizador: William Cameron Menzies

Elenco: Raymond Massey, Ralph Richardson, Edward Chapman

Para o bem e para o mal, o produtor Alexander Korda deu ao escritor e argumentista H.G. Wells controlo criativo sobre a adaptação do seu romance, assim marcando um dos poucos momentos em que um dos gigantes da ficção científica literária teve poder de decisão sobre a adaptação de uma sua obra. Obra onde estranhamente prevê a devastação dos raides aéreos de 1940 sobre a Inglaterra, para depois imaginar décadas de carnificinas e doenças antes de uma nova raça de tecnocratas utópicos meter a humanidade nos eixos.

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82. Divertida-Mente (Inside Out, 2015)

Realizador: Pete Docter

Elenco: Amy Poehler, Phyllis Smith, Richard Kind, Bill Hader, Mindy Kaling, Lewis Black

Conhecida pela ousadia e qualidade da sua animação, a que não é alheia a coragem de abordar temas complexos como a doença mental e o crescimento, Divertida-Mente é decerto uma das mais originais e emocionantes criações da Pixar (agora parte do império Disney). O filme leva o espectador para o interior do cérebro de Riley, uma rapariga de 11 anos. E é lá que somos apresentados a Alegria, Tristeza, Medo e Nojo, que controlam a vida e as acções da miúda através de uma espécie de computador instalado no interior do seu cérebro. As coisas tornam-se complicadas quando Alegria tenta apagar o núcleo de uma má memória, acidentalmente desligando as “ilhas de personalidade” e lançando as emoções de Riley para um muito desagradável desconcerto.

81. O Gigante de Ferro (The Iron Giant, 1999)

Realizador: Brad Bird

Elenco: Eli Marienthal, Jennifer Aniston, Vin Diesel

No rescaldo do lançamento da sonda Sputnik em 1957, um gigante metálico aterra numa pequena cidade do Maine, inadvertidamente assustando todos os que encontra. Na verdade é um enorme e inofensivo robô procurando recolher as peças de metal necessárias para a sua reparação, no processo protegendo um rapaz que lhe salva a vida. Para os adultos, o clássico de animação de Brad Bird é uma bem observada evocação da paranóia anticomunista que infectou a vida nos Estados Unidos durante a década de 1950. Para as crianças, é uma fábula universalista sobre a tolerância e a confiança na amizade.

80. Star Trek (2009)

Realizador: J.J. Abrams

Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Bruce Greenwood

Nos anos anteriores a J.J. Abrams realizar este filme, a série Star Trek, nas suas várias encarnações, andava pelas ruas da amargura. A última série exibida no pequeno ecrã, Enterprise, era insuportavelmente tonta e pomposa, enquanto os dois últimos filmes da Next Generation não passavam de entediantes variações sobre o mesmo tema, sem grande emoção, frescura, ou – citando as palavras de James T. Kirk – graça.

Como seria de esperar, os trekkies de linha dura fartaram-se de espernear quando Abrams se chegou à frente e transformou a sua preciosa série numa coisa acessível e agradável para uma mais ampla faixa de espectadores, mas, como se costuma dizer, esse é um problema deles. Esta nova interpetação de Star Trek mais parece uma viagem de montanha russa, saltando de cenário em cenário, multiplicando a acção e reinventando as personagens que todos aprendemos a conhecer e, enfim, a amar. Chris Pine é um Capitão Kirk exemplar, enquanto Zachary Quinto como que acrescenta uma nova camada de racionalidade humanista à personagem de Spock.

79. Ghost in the Shell: Cidade Assombrada (Ghost in the Shell, 1995)

Realizador: Mamoru Oshii

Elenco (vozes): Atsuko Tanaka, Akio Otsuka

No ano 2029, a humanidade vive numa sociedade dirigida por uma rede electrónica que controla a sua consciência (ou “ghost”) através de um fato cibernético especial (“shell”). Parece complicado, e é, mas entre as várias camadas de delírio tecnológico e intriga política está a ideia simples de que a identidade humana existe em função da memória e, por isso, em teoria é indistinguível de um disco rígido. Ainda assim, em Ghost in the Shell abundam os mistérios e os paradoxos. O filme, embora japonês, apresenta um mundo muito parecido com uma versão de Hong Kong; o cenário é futurista, mas a banda sonora é dominada por ancestrais cânticos nipónicos; as personagens principais são robôs, que, no entanto, não conseguem conter algumas obsessões próprias dos humanos. Eis o estranho e subtil mundo do anime.

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78. O Mundo no Arame (World on a Wire, 1973)

Realizador: Rainer Werner Fassbinder

Elenco: Klaus Löwitsch, Barbara Valentin, Mascha Rabben

O Mundo no Arame foi a primeira, a última e a única incursão pelo mundo especulativo da ficção científica de Rainer Werner Fassbinder. O resultado é um épico elaborado e opulento – mesmo que tenha sido inicialmente apresentado como uma série televisiva em três partes. Vagamente adaptado de um romance mais ou menos de cordel escrito em 1964 por Daniel F. Galouye, Simulacron-3, este surpreendente trabalho em muito prefigura qualquer filme que lide com o conceito de realidades concêntricas (A Origem, ou Lawnmower Man 2: Beyond Cyberspace, por exemplo), e fá-lo com economia, rigor e estilo. Tanto, mas tanto estilo.

77. Avatar (2009)

Realizador: James Cameron

Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver

O realizador James Cameron sempre afirmou que Avatar tem muitas influências, desde as selvas de Tarzan aos temas abordados por Edgar Rice Burroughs na série John Carter. Porém, como é seu costume, Cameron acrescenta-lhes grandiosidade melhor do que qualquer outro. Tendo a ideia para este filme nascido durante a preparação de Titanic, o cineasta literalmente esperou que a tecnologia se desenvolvesse até poder, através de sofisticados meios cinematográficos e efeitos especiais topo de gama, mergulhar no planeta Pandora com o seu avatar do soldado terrestre Jake Sully (Worthington). O resultado é de cortar o fôlego, especialmente em 3D, garantindo à obra os Óscares de Melhor Fotografia, Efeitos Especiais e Direcção Artística, ao mesmo tempo permitindo ao cineasta reclamar o título de mais lucrativo filme de sempre. No entanto, Avatar é mais do que um grande espectáculo ou um campeão de bilheteira com a sua tocante história de um militar que muda de lado após conhecer o pacífico povo de que deseja fazer parte.

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76. O Primeiro Encontro (Arrival, 2016)

Realizador: Denis Villeneuve

Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker

Cinematografia em grande escala incrustrada por pequenos momentos humanos, O Primeiro Encontro é o tipo de ficção científica cerebral que permitiu ao realizador apresentar um trabalho da dimensão de, por exemplo, Blade Runner 2049 ou Duna. Aqui, Denis Villeneuve casa o intelectualismo de Kubrick com o coração de Spielberg numa pungente e simples história de comunicação, família e a necessidade de encontrar um caminho comum face a uma catástrofe. Assim, enquanto o mundo especula se a gigantesca nave extra-terrestre vai abrir as portas do inferno, as aptidões linguísticas da personagem de Amy Adams servem de ferramenta para o entendimento do propósito dos visitantes, apelando a menos medo e menor angústia, mais calma e capacidade de compreensão por parte dos líderes mundiais. O que é uma mensagem a ter em conta nos dias de hoje.

75. Star Wars: Episódio VI – O Regresso de Jedi (Return of the Jedi, 1983)

Realizador: Richard Marquand

Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher

O último episódio da trilogia inicial de Star Wars tem os seus problemas, mas, convenhamos, vê-se muito bem. Claro que os seus detractores podem argumentar contra a fofura dos amorosos Ewoks, a surpreendente representação da Princesa Leia, ou a decisão dos argumentistas de recuperar a Estrela da Morte do filme inicial em vez de marcharem para o grande assalto ao poder do Império. Contudo, a verdade é que há muito neste filme que funciona na perfeição: a fuga das garras, por assim dizer, de Jabba, o Hut é um dos melhores pedaços de acção cinematográfica de todos os tempos, a perseguição naquela espécie de motoretas voadoras através da floresta de Endor é das melhores perseguições de que há memória, e o clímax wagneriano conclui esta parte da obra em grande estilo.

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74. Flash Gordon (1980)

Realizador: Mike Hodges

Elenco: Sam J. Jones, Max von Sydow, Brian Blessed

Vendo Flash Gordon pode-se imaginar que alguém pensou existir entre os aficcionados de ficção científica um grupo, como a crítica original da Time Out tão bem afirmou, de “cavalheiros que preferem louros.” Todavia, sem ser propriamente engraçado, pois, verdade seja dita, o sentido de humor roça o ridículo; sem ser propriamente excitante, pois os efeitos especiais são básicos e mal concebidos e as cenas de acção parecem coladas com cuspo umas às outras; de alguma maneira esta história de um herói musculado (interpetada por um antigo jogador de futebol americano) em tecnicolor, com o seu vilão inspirado em Fu-Manchu e os exaltados homens-pássaro, mais a operática banda sonora dos Queen, acaba por funcionar a modos como uma paródia camp.

73. The American Astronaut (2001)

Realizador: Cory McAbee

Elenco: Cory McAbee, Gregory Russell Cook, Joshua Taylor

Não há dinheiro? Não há problema. O argumentista e realizador Cory McAbee usou imaginativas artimanhas para se orientar e desenrascar com um mísero orçamento, criando, a preto e branco e ao estilo de Barbarella, uma combinação de kitsch com machismo de caubói, como quem põe um daqueles chapéus de chuva para coquetéis num copo de Jack Daniels. As charmosas bizarrias de McAbee, bem pode dizer-se, perdem gás conforme se aproxima o fim dos 91 minutos de duração da película, mas a sua aproximação idiossincrática à ficção científica torna este filme uma espécie de quebra-cabeças para quem aprecia combinar ciência com estrepitosa especulação.

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72. Uma Segunda Vida (Seconds, 1966)

Realizador: John Frankenheimer

Elenco: Rock Hudson, John Randolph, Salome Jens

Qual, entre os grandes astros de Hollywood, estaria mais à-vontade com a ideia de completa transformação individual que Rock Hudson? Para o ídolo macho das matinés que era secretamente gay, o artista sério preso, aí por meados de 60s, numa série de antiguadas e fúteis comédias românticas, este filme foi decerto uma escapatória. Como acontece com muita da melhor ficção científica, a ideia por detrás de Uma Segunda Vida é completamente simples: um homem definitivamente no caminho da velhice paga para ser cirurgicamente transformado num bonzão musculado, mas a vida entre os belos e as belas não é bem o que ele imaginou. Frankenheimer constrói a sua obra com partes iguais de filme negro de pós-guerra, contracultura (facção anos 60 do século XX) e paranóia pré-Watergate, tornando a película no mais radical e perturbador policial jamais distribuído por um dos maiores estúdios de Hollywood. Mais, aproveitando para no processo criar uma das melhores e mais grandiosas cenas de abertura da história do cinema.

71. O Terceiro Passo (The Prestige, 2006)

Realizador: Christopher Nolan

Elenco: Christian Bale, Hugh Jackman, Michael Caine

O final do século XIX em Londres é a localização ideal para esta disputa entre obsessivos e concorrenciais mágicos (tecnicamente: prestigitadores) criada por Christopher Nolan. A era vitoriana foi tempo de grandes descobertas científicas, onde o impossível se tornava possível praticamente a cada nova invenção, tal qual como na magia, o que o realizador aproveita para criar um filme quebra-cabeças que se incia com um assassinato e se desenvolve em sucessivos regressos ao passado. Alfred Bordern (Bale) e Robert Angier (Jackman) conhecem-se desde quando eram aprendizes de feiticeiro, e, movidos pela rivalidade, durante anos roubaram truques um ao outro, até Bordern criar a ilusão de “O Homem Transportado”. Angier não consegue perceber como o concorrente concebeu o truque e, louco de inveja, pede ao inventor (também na vida real) Nikola Tesla para lhe construir uma máquina que rivalize com o dispositivo de Bordern. Mas a que preço?

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70. Homem de Ferro (Iron Man, 2008)

Realizador: Jon Favreau

Elenco: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Jeff Bridges

Tudo começou aqui. A expansão multimédia da grande telenovela que são os filmes da Marvel que agora preenchem as listas de campeões de bilheteira e chegam Verão após Verão, começou nesta película e não mostra sinais de abrandar o ritmo de produção. E, como declaração de intenções, Homem de Ferro é praticamente imbatível. Aqui, completamente formatado, está o modelo para todos os futuros filmes da Marvel: heróis carregados de tecnologia ou habilidades extra com a sua piada, vilões constantemente ameaçando a existência do mundo, bastas sequências de vistosas explosões, gagues meio desbocados e uma ponta de consciência social. Mais, Robert Downey Jr., entretanto desmobilizado do elenco, não só deixa a sua marca como Homem de Ferro, como conseguiu um regresso convincente depois de uma sucessão de “maus comportamentos” que quase lhe lixaram a carreira.

69. Fuga no Século XXIII (Logan’s Run, 1976)

Realizador: Michael Anderson

Elenco: Michael York, Jenny Agutter, Peter Ustinov

A ideia geral é a de um enredo baseado no radicalismo e no questionamento da autoridade, assim como uma crítica à valorização da juventude sobre o conhecimento, a experiência e o bom senso. Para isso, Anderson fez nascer uma sociedade, tipicamente correspondente à visão do futuro das décadas de 1960 e 1970, onde a vida acaba aos 30 anos, isto é, uma sociedade controlada, luminosa, branca e educada até à náusea, no entanto com o coração negro como noite de Lua Nova. Inspirado muito vagamente no romance de William F. Nolan e George Clayton Johnson, o filme é protagonizado por Michael York em grande forma física como Logan 5, uma espécie de polícia que procura e captura os que tentam escapar à “renovação” dos 30 anos, quando, na verdade, são mortos às escondidas. Coisa que há muito Jessica 6 (Agutter) suspeita, acabando por convencer Logan a juntar-se a ela na demanda da verdade. Embora não tenha sido propriamente bem recebido na sua época, Fuga no Século XXIII tornou-se um filme de culto, muito apreciado pelo estilo, os intérpretes e o tema.

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68. O Mundo do Oeste (Westworld, 1973)

Realizador: Michael Crichton

Elenco: Yul Brynner, James Brolin, Richard Benjamin

20 anos antes de criar Parque Jurássico (e mais de 40 antes da estreia da série televisiva da HBO que caminha para a sua terceira temporada), o até então escritor Michael Crichton aventurou-se pela primeira vez na realização, dirigindo o seu próprio argumento como uma fábula presciente sobre um parque de diversões que deu para o torto quando os seus robôs ganharam inexplicavelmente sentimentos e livre-arbítrio. Para aí chegar usou os mais secretos desejos de um americano: matar pessoas em Westworld, participar em jogos de poder em Medievalworld e apreciar os prazeres dionísicos e a indulgência sexual dos nobres do Império Romano. Claramente, o filme é mais interessante quando vai para Oeste, recuperando o imaginário das cobóiadas série B e colocando no centro da acção um genuíno ícone do celulóide, o macho-alfa Yul Brynner, no papel do pistoleiro andróide que ganha vida própria e desembesta contra a clientela do parque.

67. A Ameaça (The Thing from Another World, 1951)

Realizador: Christian Nyby

Elenco: Margaret Sheridan, Kenneth Tobey, Douglas Spencer

É verdade que esta livre adaptação do romance do lendário escritor de ficção científica John W. Campbell, Who Goes There, não sobreviveu muito bem à passagem do tempo: os efeitos especiais são fracotes e pouco convincentes, a acção domada, senão mesmo mansa, e a criatura, quando finalmente se mostra, tristemente parecida com uma cenoura com dentuças. Mas também tem os seus aspectos positivos, que não são poucos. Ora, um grupo de cientistas no Ártico descobre algo vasto e sem dúvida de outro mundo enterrado no gelo, e o argumento (apurado pelo não creditado Howard Hawks, rei na criação de arquétipos de masculinidade em perigo) é como um espumante efeverscente de imaginação, a partir do qual o realizador Christian Nyby cria um genuíno sentido de perigo crescente, mantendo a criatura nas sombras durante grande parte da película. É verdade que a versão de 1982 de John Carpenter, Veio do Outro Mundo, é obra de qualidade superior, mas também não é mentira que aqui se encontram arrepios e sangueira suficientes para alimentar a imaginação.

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66. O Abismo (The Abyss, 1989)

Realizador: James Cameron

Elenco: Ed Harris, Mary Elizabeth Mastrantonio, Michael Biehn

Ainda a gozar do prestígio e da dinheirama resultante de Aliens: O Recontro Final, James Cameron perdeu três anos e uma pipa de massa do estúdio até levar este projecto amaldiçoado, até ao ecrã. Obcecado pelo mergulho, o conhecimento do realizador sobre os aspectos práticos da vida no fundo do oceano torna a obra numa espécie de experiência táctil, mesmo quando o sentimentalismo se interpõe. No argumento encontra-se aquela velha e inicialmente contrariada relação de uma equipa de cientistas civis contratados para auxiliar os militares a desvendar um mistério. Aqui, os trabalhadores de uma plataforma de extracção de petróleo, comandados por Ed Harris, tentam salvar um submarino nuclear para se encontrarem perante um perigo ainda maior. As sequências de acção são da mais fina estirpe, e essa é a principal qualidade de uma película que se rende a um final, digamos, um bocadito viscoso.

65. A Guerra dos Mundos (The War of the Worlds, 1953)

Realizador: Byron Haskin

Elenco: Gene Barry, Ann Robinson, Les Tremayne

Orson Welles já tinha aterrorizado a América com a sua adaptação radiofónica muito antes do produtor George Pal levar pela primeira vez ao cinema o romance escrito em 1889, por H.G. Wells, como o relato de um ataque marciano em larga escala. A versão pós-11 de Setembro de Steven Spielberg, em 2005, é, sem dúvida, um mais espectacular e particularmente destrutivo espectáculo, mas no filme de Haskin encontra-se algo mais insidiosamente arrepiante na concepção dos invasores e das suas naves vomitando raios mortais sobre os terráqueos e as suas propriedades. A ideia de um verdadeiramente implacável e de todo desprovido de remorso agressor extra-terrestre aqui introduzido é o elemento-chave para todas as histórias de ataque vindas do espaço entretanto criadas, e apesar de marcado por uma certa religiosidade, o medo que revela nos humanos cria uma espécie de empatia dos espectadores, eventualmente ainda recordados da violência da II Guerra Mundial, memória aliás muito bem aproveitada pela realização.

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64. O Herói do Ano 2000 (Sleeper, 1973)

Realizador: Woody Allen

Elenco: Woody Allen, Diane Keaton

Ficção científica e Woody Allen não são palavras facilmente associáveis na mesma frase, mas o cineasta nascido em Brooklyn, no seu quinto filme, não se inibe de interpretar um comerciante vegetariano acabado de acordar de um sono criogénico em 2173, 200 anos depois de morrer durante uma operação de rotina. O ambiente de ficção científica é mais ou menos uma desculpa para Allen se lançar numa comédia física girando em torno de um homem indiscutivelmente fora do seu tempo e do seu lugar. No entanto, continua a ser um filme de Woody Allen, apesar de tudo, com as suas personagens arquétipas de neuróticos. Só que, desta vez, com robôs.

63. Eu Amo-te, Eu Amo-te (Je t’Aime, Je t’Aime, 1968)

Realizador: Alain Resnais

Elenco: Claude Rich, Olga Georges-Picot, Anouk Ferjac

1968 foi um raio de um ano para a ficção científica. Com a Guerra do Vietname rugindo nos ouvidos dos norte-americanos e a revolução a fazer das suas um pouco por toda a Terra, um pequeno grupo de cineastas encontrou consolo em outros mundos, fossem eles o arrepiante futuro de 2001: Odisseia no Espaço, ou a sátira apocalíptica O Planeta dos Macacos. Mas é no geralmente esquecido Eu Amo-te, Eu Amo-te que o realizador francês Alain Resnais melhor utilizou a ficção científica para ver o destempero do mundo em redor. O entrecho apresenta o escritor suicidário Claude Ridder (Rich), a quem é pedido para participar numa experiência governamental que inclui uma imensa escultura de um cérebro em papier-mâché e um número considerável de ratos confusos. Porém, quando o projecto dá para o torto, Ridder dá por si perdido no tempo, revivendo o fim da sua relação com a modelo Catrine (Georges-Picot). Beneficiando de uma banda sonora saída da imaginação privilegiada do lendário compositor polaco Krzysztof Penderecki, e explorando temas como a memória, o arrependimento e a empatia, de certo modo como antes fizera em O Último Ano em Marienbad, Resnais criou uma exploração do sonho merecedora de maior atenção.

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62. Cidade Misteriosa (Dark City, 1998)

Realizador: Alex Proyas

Elenco: Rufus Sewell, Jennifer Connelly, Kiefer Sutherland

Como a ciência propriamente dita, a ficção científica adora provar a natureza daquilo a que chamamos realidade, colocando questões como a percepção subjectiva versus factos objectivos no coração da história. Poucos, contudo, cavaram tão fundo à procura de respostas como Alex Proyas em Cidade Misteriosa, esse pedaço de angústia existencial disfarçado de filme negro. O argumento leva-nos para a cidade do título onde um assassino anda à solta. Pode ser John (Sewell), mas ele próprio não tem a certeza. De facto, tem poucas certezas nos dias que correm, seja o que faz na vida ou o que comeu ao jantar… Partindo de um simples crime misterioso, Proyas introduz o espectador a um mundo no qual nada é o que parece.

61. Mad Max 2: O Guerreiro da Estrada (Mad Max 2: The Road Warrior, 1981)

Realizador: George Miller

Elenco: Mel Gibson, Bruce Spence

O primeiro Mad Max tinha um certo tom de ficção científica, com a desolação do deserto australiano a convocar a visão de inferno pós-nuclear. Com esta continuação, o argumentista e realizador George Miller foi mais além. O mundo é agora uma bola de poeira habitada por mutantes raivosos, gente normal petrificada pelo medo e um brutal agente de uma lei inexistente, todos com o mesmo em comum, a lúxuria do ouro negro. Mas O Guerreiro da Estrada não é apenas uma balada prescientemente futurista, é, também, provavelmente, o mais exaltante filme de acção de sempre, pois nenhum realizador, antes ou depois, criou um espectáculo de gladiadores de rodas dentadas, borracha derretida e travões periclitantes com esta dimensão e energia.

60. Quatermass and the Pit (1967)

Realizador: Roy Ward Baker

Elenco: Andrew Keir, James Donald, Barbara Shelley

Pronto, os efeitos especiais de tuta-e-meia têm um aspecto bastante caseiro, para nem dizer raquítico, mas este filme de culto nascido dos estúdios Hammer ainda tem algumas cartas escondidas na manga. Baseado na popular série exibida pela BBC nos anos de 1950, este é o terceiro e o melhor dos filmes da série Quatermass. A coisa começa com os trabalhos de engenharia na estação de metro ficcional Hobbs End, quando os operários de serviço descobrem antigos restos mortais humanos. Escavações posteriores revelam o que o exército acredita ser uma massiva e por explodir bomba da II Guerra Mundial, antes de se concluir que nem os cérebros nazis que a construiram são responsáveis pelo insectóide extra-terrestre que por ali anda com as suas larvas. Há quem acredita ser esta uma das fontes de inspiração de Alien – O 8º Passgeiro.

59. Gravidade (Gravity, 2013)

Realizador: Alfonso Cuarón

Elenco: Sandra Bullock, George Clooney

Como a maior parte de nós não tem nem terá qualquer oportunidade de ir ao espaço, bem podemos agradecer ao argumentista e realizador Alfonso Cuarón, cuja extravagância em Imax 3D dá a todos uma oportunidade de sentir, o mais próximo possível, o que é ficar só e à deriva em órbita da Terra com o oxigénio a dar as últimas. O resultado é, sem dúvida, uma das experiências cinematográficas mais gratificantes (embora assustadora) da era moderna.

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58. Donnie Darko (2001)

Realizador: Richard Kelly

Elenco: Jake Gyllenhaal, Maggie Gyllenhaal, Jena Malone, Patrick Swayze

Amado pela sua perfeita evocação do Outono de 1988 e respectiva banda sonora (Echo and the Bunnymen, Tears for Fears, etc.), o perturbador thriller metafísico de Richard Kelly teve de ultrapassar o ambiente da altura da sua estreia, no Outono de 2001, quando um par de aviões foi atirado contra as Torres Gémeas em Nova Iorque. Apesar disso, o filme encontrou uma audiência apaixonada e fiel, além de servir de veículo para o lançamento das carreiras de Jake Gyllenhaal e da sua igualmente talentosa irmã mais velha, Maggie. O complicado enredo tem a ver com realidades alternativas, sacrifício pessoal, uma fatídica festa de Halloween, tudo funcionando como metáfora da angústia existencial adolescente de maneira profundamente estranha e… visionária.

57. Duna (Dune, 1984)

Realizador: David Lynch

Elenco: Kyle MacLachlan, Francesca Annis, Kenneth McMillan, Sting

O mais controverso filme desta lista? Bom, próprio realizador entendeu ter a sua visão compremetida por problemas orçamentais e constantes remontagens. No entanto, também existe um núcleo duro de fãs que não se cansam da peculiar adaptação de David Lynch da obra de Frank Herbert, muito prezando a ornamentação visual e a grotesca mistura de experimentalismo com o desejo de criar um campeão de bilheteira, sem esquecer a direcção de fotografia de cortar o fôlego ou o requinte dos cenários e do guarda-roupa. E, claro, a ambição e a perserverança que tornaram possível a estreia de uma obra densa, tematicamente complexa, ridiculamente cara e estranha ao ponto de desafiar a mais florescente imaginação.

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56. A Máquina do Tempo (The Time Machine, 1960)

Realizador: George Pal

Elenco: Rod Taylor, Yvette Mimieux, Alan Young

Uma pessoa pode ter milhões de pixéis à disposição, porém existe algo mágico na simplicidade destes efeitos especiais, que alcançam o seu apogeu quando a geringonça do cientista vitoriano interpretado por Rod Taylor parte direitinha ao futuro. Felizmente, a previsão de uma guerra nuclear em 1966 estava errada, mas nem tudo são boas notícias quando num futuro, esse, sim, verdadeiramente longínquo, os habitantes da superfície do planeta são pouco mais do que alimento para os assustadores habitantes dos subterrâneos.

55. O Clandestino (Repo Man, 1984)

Realizador: Alex Cox

Elenco: Emilio Estevez, Harry Dean Stanton, Tracey Walter

Muito poucos são os filmes que – como dizer? – permanecem sós e sem descendência. Contudo, a película de estreia do britânico Alex Cox, espécie de fábula sobre heróicos mas desleixados cobradores de dívidas, transtornados punks dos subúrbios, cadáveres de extra-terrestres, organizações governamentais secretas, uma mulher perneta e cintilantemente verdes Chevy Novas, cumpre o seu propósito. Financiado pelo Monkee Mike Nesmith e dirigido por Cox, mal saído da escola de cinema, O Clandestino é arte cinematográfica em versão acessível às massas, comédia na sua versão menos comum e ficção científica do mais absurdo. Emilio Estevez no papel de Otto, um estouvado adolescente, e Harry Dean Stanton interpretando o experiente, embora desiquilibrado, Bud, são uma dupla perfeita. Mas são as personagens secundárias que realmente juntam as partes e compõem a obra: Walter, o sucateiro perito em teorias de conspiração, e os parceiros de Otto no crime, os excêntricos irmãos Rosato.

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54. À Beira do Fim (Soylent Green, 1973)

Realizador: Richard Fleischer

Elenco: Charlton Heston, Leigh Taylor-Young, Edward G. Robinson

Os elementos que compõem esta exploração ecologista do terror são nutrientes quanto baste: a inspiração no romance que Harry Harrison escreveu em 1966, Make Room! Make Room!, sobre o excesso de população; a presença da lenda do cinema negro que foi Edward G. Robinson (falecido 12 dias depois da conclusão das filmagens); e o galã abrutalhado e ambíguo criado por Charlton Heston para a sua personagem. Porém, a verdadeira razão para o filme chegar à lista dos 100 Melhores é o seu revelador e chocante final, remetendo para questão hoje tão presente e importante: de onde vem a nossa comida?

53. Akira (1988)

Realizador: Katsuhiro Otomo

Elenco (vozes): Mitsuo Iwata, Nozomu Sasaki

O mais celebrado anime produzido fora dos Estúdios Ghibli começa com uma aparente explosão nuclear, em Tóquio, termina com um Big Bang e pouco deixa para o meio do enredo. Enredo, aliás, demasiado elaborado e complexo para ser aqui resumido, o que não impede de referir que nele se incluem gangues de motociclistas e mutantes à solta por um Japão pós-apocalíptico. A paisagem da cidade, espantosamente iluminada nas suas cenas nocturnas, reimagina uma Hiroshima do pós-guerra à maneira de Blade Runner, com os seus arranha-céus em ruínas e a profusa colecção de formas de vida mutantes. O ambiente de medo psicótico é ampliado pela pulsante banda sonora aliada aos efeitos acústicos criados por Geinoh Yamashirogumi. Todavia, para além da sua ousadia técnica, Akira funciona porque explora a desagradável visão das consequências que experiências militares sem controlo podem provocar na humanidade, mantendo-se ao mesmo tempo assustador e plausível mesmo nos seus mais desembestados momentos.

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52. O Predador (Predator, 1987)

Realizador: John McTiernan

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Carl Weathers, Kevin Peter Hall

Dizia-se que depois de Rocky IV, tendo levado ao tapete todos os seus oponentes humanos, só restava a Sylvester Stallone lutar com extra-terrestres. O que deu aos irmãos argumentistas Jim e John Thomas uma ideia… Ora, com Stallone envolvido em Rocky V, coube a Arnold Schwarzenegger ocupar o papel de Dutch, o duro militar que, com a sua equipa de mercenários de elite, se embrenha na selva latino-americana em missão de salvamento de um grupo de reféns, antes dos terroristas que os aprisionavam perceberem que esse era o menor dos seus problemas. Tenso e bem ritmado, O Predador é um caçador intergaláctico que vive como um chuto de testosterona a sua perseguição e aniquilamento aos habitantes deste planeta, para ele espécie de coutada onde acumula troféus de caça. Até se encontrar com uma presa que lhe dá resposta adequada.

51. O Planeta Selvagem (La Planète Sauvage, 1973)

Realizador: René Laloux

Elenco (vozes): Eric Baugin, Jennifer Drake

É preciso ter em conta que os 70s foram a época das camisas reflectoras e do rock sinfónico, também a época auge do psicadelismo e da criação de inspiração lisérgica e opiácea. O que é terreno muito fértil para a imaginação (e, mais tarde, para a desintoxicação, o que é outra conversa), embora para a sua alegoria René Laloux tenha escolhido partir de uma antiga questão filosófica: e se os humanos fossem animais de estimação de uma raça de gigantes extra-terrestres azuis? A cena em que um grupo de crianças alienígenas alegremente tortura uma mulher até à morte afasta a película do universo hippie-infantil. E a música resolve de todo o assunto, pois Serge Gainsbourg compôs uma banda sonora mórbido-psicadélica em tons de jazz funk que não deixa dúvidas sobre as intenções da obra.

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50. Debaixo da Pele (Under the Skin, 2013)

Realizador: Jonathan Glazer

Elenco: Scarlett Johansson

O cenário é simples: extra-terrestre chega à Terra, assume a forma de uma mulher linda (Johansson) enquanto se tenta instalar sem dar nas vistas para, assim, atrair homens, dar-lhes cabo do canastro e melhor saciar o seu apetite por carne humana. Mas o melhor do filme de Jonathan Glazer é a ausência de elementos próprios da ficção científica na paisagem familiar e chuvosa da Escócia contemporânea. A utilização de efeitos especiais pelo realizador para mostrar como a extra-terrestre engole as suas vítimas – que vemos caminharem para o que parece ser um lago de óleo – é estranho e misterioso, e, como em muita da melhor ficção científica, os elementos do género estão longe de ser evidentes, o que torna ainda mais eficaz a maneira como a protagonista interage e, quando necessário, engata escoceses (alguns dos quais não são actores e foram filmados às escondidas), levando o espectador a reconsiderar a natureza do sexo, do amor, do desejo e da atracção.

49. Soldados do Universo (Starship Troopers, 1997)

Realizador: Paul Verhoeven

Elenco: Caspar Van Dien, Denise Richards, Michael Ironside

A utilização da sátira na ficção científica não tem nada de novo, mas criar o equilíbrio perfeito entre entretenimento e política, isso, sim, exige uma habilidade particular. O que permite a Paul Verhoeven manter o título de grande criador de filmes de acção com subtexto político. Os três filmes do cineasta holandês presentes nesta lista (Robocop – O Polícia do Futuro, Desafio Total e esta pérola) são o trabalho de um artista igualmente interessado em arrepiar a audiência, ofender a sua sensibilidade e fazê-la pensar. Ora, num mundo futuro onde toda a gente é bonita e no qual apenas os cidadãos podem votar, Verhoeven imagina uma guerra contra uma raça de extra-terrestres que, só pela sua repugnante aparência, a torna no alvo perfeito para a agressividade dos humanos. Rapidamente se percebe o ataque contra o imperialismo norte-americano e a futilidade de Hollywood, que culmina numa das mais impressionantes imagens em toda a ficção científica quando Neil Patrick Harris, uniformizado como um agente da Gestapo, prepara o envio de um pelotão de aterrozidados adolescentes para a batalha.

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48. Os Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984)

Realizador: Ivan Reitman

Elenco: Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis

Mais um obra que balança entre géneros, neste caso a ficção científica e o cómico grotesco – o que talvez explique o seu fraco posicionamento nesta lista, mas nada significa em relação à sua qualidade –, é Os Caça-Fantasmas, um dos grandes filmes de Hollywood na década de 80, comédia apocalíptica de humor corrosivo que captou a atenção do público em 1984 e ainda não foi ultrapassada. Esta é, na verdade, uma daquelas raras ocasiões em que, como se costuma dizer, tudo bate certo: o elenco – especialmente Bill Murray, em um dos seus mais marcantes e divertidos papéis –, os efeitos especiais que, ainda hoje, permanecem sem rugas, e o impecável argumento carregado de citações adoptadas desde então pela cultura popular.

47. Contacto (Contact, 1997)

Realizador: Robert Zemeckis

Elenco: Jodie Foster, Matthew McConaughey, John Hurt

É Carl Sagan o herói esquecido da ficção científica moderna? Com frequência ouvimos falar de cientistas que chegaram à profissão inspirados pela série Cosmos, que criou nos idos de 80. E parece que igual efeito teve sobre autores e cineastas que, através do sábio olhar de Sagan, compreenderam quão vasto, rico e estranho é o Universo. Romancista ocasional, o mais conhecido dos trabalhos literários de Carl Sagan é Contacto, a história de uma jovem astrónoma, interpretada com serena dignidade por Jodie Foster, que recebe um sinal vindo do espaço. O filme de Robert Zemeckis sofre de excesso de sentimentalismo, mantendo sempre o enredo dentro dos limites de segurança exigidos pela indústria. Contudo beneficia de uma mão-cheia de momentos visuais gloriosos, diferentes de todo o resto da ficção científica, capazes de fazer esquecer o seu carácter excessivamente espiritual.

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46. Uma História de Amor (Her, 2013)

Realizador: Spike Jonze

Elenco: Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Amy Adams

O quarto filme de Spike Jonze tem lugar num futuro imediatamente reconhecível, um lugar onde a nossa relação com a tecnologia foi promovida a amizade e mesmo longos romances com os sistemas operativos que comandam os nossos computadores, telefones e quejandos. Aqui, Joaquin Phoenix faz de Theodore Twombly, homem de meia-idade, que vive em apartamento com vista para um horizonte de arranha-céus (a película foi parcialmente rodada em Shangai), cujo trabalho consiste em escrever cartas de carácter emocional para estranhos e por encomenda de estranhos. Theodore está naquela fase de ressaca de divórcio não desejado e, quando dá por si, já se apaixonou por um sistema operativo, Samantha, com a voz de Scarlett Johansson. A abordagem do futuro é, sem dúvida, subtil, até porque, em vez de se atirar ao último grito da tecnologia, Jonze prefere explorar ideias e ideais eternos sobre amor, relações e o que esperamos do parceiro.

45. Distrito 9 (District 9, 2009)

Realizador: Neill Blomkamp

Elenco: Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt

Ninguém esperava um filme assim. Distrito 9 é produção de orçamento curto, primeira obra do realizador, rodada na África do Sul. Estrelas não se encontram entre o elenco, o sotaque é impenetrável para os falantes de inglês e as referências culturais obscuras. Todavia é descarada a consciência política, e a brutalidade da violência é preenchida com terror no grau extremo da escala. Com certeza por isso, rendeu mais de 200 milhões de dólares e foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme. A história de um obnóxio gerente, interpretado pelo exemplar Sharlto Copley, que dá por si infectado por um esporo de origem extra-terrestre, é contada na ousadia dos seus efeitos à mistura com o extremo realismo dos bairros de lata onde se desenrola. Não se pode dizer que é perfeito – até por o tratamento dado um grupo de gangsters nigerianos ser duvidoso, para não dizer racista –, mas é sem dúvida entretenimento do mais vicioso, carregado de humor sombrio e sem qualquer medo de ser diferente.

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44. Star Trek II: A Ira de Khan (Star Trek 2: The Wrath of Khan, 1982)

Realizador: Nicholas Meyer

Elenco: William Shatner, Leonard Nimoy, Ricardo Montalban

Apenas duas entre as aventuras da série Star Trek conseguiram entrar nos 100 filmes desta tabela, mas também é verdade que a saga nascida na televisão nunca conseguiu a mesma qualidade nem o prestígio da sua arqui-rival Star Wars. Ainda assim, é geralmente aceite ser A Ira de Khan a melhor película da série que chegou ao grande ecrã, em boa parte graças ao seu vilão, o Khan propriamente dito, interpretado por Ricardo Montalban em modo de poderoso e vingativo mutante. O enredo segue em velocidade warp, como não podia deixar de ser, e o clímax é dos mais emocionais alguma vez criados no género, com Shatner e Nimoy a mais uma vez ultrapassarem as suas divergências pelo bem comum e o futuro de um Universo multirracial.

43. Desafio Total (Total Recall, 1990)

Realizador: Paul Verhoeven

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Sharon Stone, Michael Ironside

A filosofia existencial encontra-se com a maluqueira mutante em mais uma obra dessa espécie de génio do mal do cinema contemporâneo que é Paul Verhoeven. Nesta muito popular película, Arnold Schwarzenegger é um operário que se julga vulgar, como outro qualquer, até ao dia em que descobre ser um agente duplo, do tipo ou vai ou racha, trabalhando para descobrir um conspiração em Marte. O que, afinal de contas, pode muito bem ser apenas um sonho, ou uma memória, ou uma revelação messiânica, ou se calhar tudo junto. Com um argumento fervilhante de ideias e acontecimentos, a direcção de Verhoeven segue pelo caminho da acção de grande efeito, completando sucessivas séries de porrada e explosões com um imaginário delirante, suficiente para preencher um universo tão criativo como peculiar – que é a maneira educada de dizer bizarro.

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42. O 5º Elemento (The Fifth Element, 1997)

Realizador: Luc Besson

Elenco: Bruce Willis, Milla Jovovich, Gary Oldman

Nunca um queridinho da crítica, como o cineasta francês Luc Besson, se dedicou com tanta persistência a seguir o seu idiossincrático gosto e o seu desejo de fantasia fora das fórmulas estabelecidas por Hollywood como neste filme. O argumento envolve antigos egípcios, invasores interplanetários e uma mulher que é a encarnação de uma deusa, o que podendo não parecer muito é, de facto, um festival de efeitos para encher olhos e influenciar o espírito. Para nem falar nas bugigangas que o desenho de produção de Dan Weil criou para o efeito, mais as vestimentas desenhadas por Jean-Paul Gaultier para os corpos de Bruce Willis e de Milla Jovovich, ou os momentos cómicos criados pelo argumento para a interpretação de Chris Tucker.

41. Eles Vivem (They Live, 1988)

Realizador: John Carpenter

Elenco: Roddy Piper, Keith David, Meg Foster

Pode ter sido escrito e filmado durante a era Reagan, mas deus sabe como Eles Vivem continua a ser um filme relevante na sua paranóia. Esta história de um sem-abrigo à deriva que descobre que o mundo é governado por uns extra-terrestres disfarçados de humanos ricos, conforme contada por John Carpenter, é uma furiosa arenga disfarçada de fábula sobre a forma como o capitalismo promove a complacência entre as massas para assim reinar sem oposição. Por isso não espanta que o argumento seja, de certa forma, uma espécie de catálogo das desigualdades sociais e das formas de manipulação originadas pelos media como teorias de conspiração, ou simplesmente notícias falsas capazes de garantir o conformismo popular.

No entanto, Eles Vivem está longe de ser um filme perfeito. Pois não só os efeitos especiais são de qualidade duvidosa, como este emaranhado de ideias interessantes despejado para o argumento merecia desenvolvimento capaz de alimentar mais um par de filmes ou uma série televisiva daquelas com muitos episódios.

40. WALL-E (2008)

Realizador: Andrew Stanton

Elenco (vozes): Ben Burtt, Elissa Knight

Três anos antes de O Artista recordar ao público a existência do cinema mudo, a Pixar teve a brilhante ideia de recuar até ao tempo anterior à introdução do som através de uma animação digital. Tendo chegado à fama com uma série de imaginativas e divertidas personagens, o estúdio regressou ao silêncio das suas curtas-metragens e há tanto de Luxo Jr. em WALL-E como há de R2-D2. Acontece, no filme, que incapazes de lidar com a sua produção de lixo, a solução encontrada pelos humanos foi evacuar a Terra, deixando atrás de si robôs para limpar a porcaria. A atmosférica cena de abertura segue o rastro do último robô ainda em funcionamento, WALL-E, enquanto silenciosamente executa as suas tarefas numa paisagem inspirada em Chernobyl. A primeira linha de diálogo só chega lá para os 45 minutos, quando o protagonista encontra e, por assim dizer, se apaixona por EVE. O filme esmorece um pouco quando encontra uma nave humana, mas nem por isso deixa de ser uma crítica pertinente ao consumismo e ao impacto da acção da humanidade no ambiente.

39. Estrela Negra (Dark Star, 1974)

Realizador: John Carpenter

Elenco: Dan O’Bannon, Dre Pahich, Brian Narelle

Esta odisseia espacial tem uma grande ideia por detrás: uma bomba inteligente que discute com os seus criadores a anulação da ordem de explosão. Anos mais tarde, ambos os criadores de Estrela Negra, John Carpenter e Dan O’Bannon, estiveram envolvidos na criação de importantes filmes de terror – o primeiro dirigiu As Noites de Halloween (1977), o outro escreveu Alien, o Oitavo Passageiro (1979) –, mas no início da década de 1970 este par de amigos de faculdade tentaram o caminho da sátira misturando Dr. Estranhoamor com 2001: Odisseia no Espaço. Desta mistura nasceu uma nave espacial de loucos, habitada por uma tripulação mais parecida com um grupo de filósofos pedrados do que cientistas, na sua vigésima missão de explodir planetas instáveis, constantemente implicando uns com os outros. É o próprio O’Bannon quem faz de desestabilizador-mor do grupo, mas, cedo no argumento, os tripulantes encontram outros problemas com que lidar. Como é o caso do extra-terrestre saltitão que parece uma bola de praia com garras vagueando pelos corredores, ou a bomba avariada falante que tenta justificar existencialmente a sua necessidade de explodir e matar toda a gente.

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38. A Invasão dos Violadores (Invasion of the Body Snatchers, 1978)

Realizador: Philip Kaufman

Elenco: Donald Sutherland, Brooke Adams, Jeff Goldblum

A próxima vez que ouvirem um amigo queixar-se da fábrica de remakes de Hollywood mandem-lhe uma link para esta lista. A Mosca e Veio do Outro Mundo podem ser mais conhecidos, mas a versão do realizador de Os Eleitos, Philip Kaufman, do clássico de 1956, merece igual menção. Situado em São Francisco, nos anos de 1970, o filme deita um olhar sardónico sobre o estado do sonho hippy e atreve-se a lançar a pergunta: o que tem de especial o livre-arbítrio, afinal? Donald Sutherland e Brooke Adams ocupam o centro do argumento, com a colaboração de Jeff Goldblum, Veronica Cartwright e Leonard Nimoy, rodos contribuindo para o crescente clima de paranóia que domina a película.

37. Primer (2004)

Realizador: Shane Carruth

Elenco: Shane Carruth, David Sullivan, Casey Gooden

O argumentista e realizador Shane Carruth, no seu filme de estreia, produzido com escassos sete mil dólares, tem no mínimo o mérito de provar como as grandes ideias se podem concretizar com quase nada. Primer tem ainda o valor de acreditar na inteligência do público para decifrar as pistas da sua narrativa elíptica, aos poucos fazendo o seu caminho até se encontrar algures entre a ansiedade paranóica e a loucura. Para o que muito contribui a montagem deste drama de câmara suburbano que coloca questões que outros não se atreveram antes, como, por exemplo: o duplo que viaja através do tempo está no outro lado da cidade quando a sua mulher telefona. Que telemóvel toca primeiro?

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36. A Origem (Inception, 2010)

Realizador: Christopher Nolan

Elenco: Leonardo DiCaprio, Ellen Page, Tom Hardy

Uma equipa de peritos, dirigida por Leonardo DiCaprio, rouba material – factos, ideias, memórias – do cérebro de pessoas enquanto elas dormem. Até que esta trupe é contratada para uma missão especial: inserir, em vez de remover, uma ideia na cabeça do presidente de uma grande corporação (Cillian Murphy) de maneira a satisfazer as ambições do seu rival de negócios (Ken Watanabe). Além do enredo aberto a tantas interpretações quantos os espectadores dispostos a fazê-las, o filme é dominado por efeitos especiais verdadeiramente cativantes, como quando Ellen Page e DiCaprio andam por Paris e as ruas parecem dobrar-se e desdobrar-se aos seus olhos.

35. O Homem Que Veio do Espaço (The Man Who Fell to Earth, 1976)

Realizador: Nicolas Roeg

Elenco: David Bowie, Candy Clark, Rip Torn

Esta divagação em forma de psicodrama é o último filme de ficção científica da década de 70, antes do pêndulo cair para o lado das heróicas sagas espaciais e estas ocuparem todo o espaço. Um filme cheio de sonhadores à procura de um propósito para a vida, que, em sua vez, encontram a televisão, armas, álcool e inércia. E este tom resignado permite o nascimento de um romance tão improvável como a necessidade de encontrar água no deserto que dá o mote ao entrecho.

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34. Heróis Fora de Órbita (Galaxy Quest, 1999)

Realizador: Dean Parisot

Elenco: Sigourney Weaver, Tim Allen, Alan Rickman

Objecto de estudo da arte do pastiche, Heróis Fora de Órbita reúne os suspeitos do costume – o capitão machista (Allen), a fêmea vistosa (Weaver), a personagem de recorte shakespeariano (Rickman) – e atira estes actores-personagens de uma série de ficção científica para uma verdadeira guerra intergaláctica. A ideia de uma raça de alienígenas que confunde uma série de televisão com um documentário sobre verdadeiros heróis espaciais, raptando-os e levando-os a travar uma batalha real, é brilhante. Mas é a qualidade do elenco, tanto como as constantes piscadelas de olho aos lugares-comuns do género, que torna esta comédia exemplar.

33. O Cosmonauta Perdido (Silent Running, 1972)

Realizador: Douglas Trumbull

Elenco: Bruce Dern, Cliff Potts

O Cosmonauta Perdido demonstra, para além de qualquer dúvida, o que muitos de nós temem: mesmo no espaço não se consegue escapar aos hippies. Num futuro em que as plantas já desapareceram da Terra, uma mão-cheia de naves espaciais faz o papel de estufas onde se preservam as poucas espécies sobreviventes na esperança de reflorestar o planeta. Porém, o capitalismo nunca dorme, não interessa em que século, e não passará muito tempo antes da ordem de destruição da carga ser dada para as naves poderem retomar o seu devir comercial. Mas os chefões esqueceram o poder da “paz e amor”, personificado por Bruce Dern no impressionante e consistentemente zangado piloto Freeman Lowell, que se revolta, mata os colegas e parte com o seu carregamento de plantas e um par de robôs de confiança. O filme não envelheceu lá muito bem, contudo a mensagem é eterna: sejam quais forem os riscos, o homem tem de ser o seu próprio salvador.

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32. Gattaca (1997)

Realizador: Andrew Niccol

Elenco: Ethan Hawke, Jude Law, Uma Thurman

A preparação é fundamental quando alguém quer dar o salto de “Inválido” para a perfeição genética de “Válido”. São necessárias falsas impressões digitais, sangue de boa qualidade, um saco da urina certa e ainda algum cabelo e amostras de pele para completar a ilusão. Eis a trabalheira diária que a personagem interpretada por Ethan Hawke tem para garantir o seu sonho de alinhar com os astronautas de elite nesta fantasia criada por Andrew Niccol. 

O realizador inventou um mundo no qual a discriminação é tecnicamente ilegal, mas onde os patrões decidem quem empregam com base na qualidade das amostras de sangue do candidato ao trabalho. Niccol utiliza a linguagem com grande efeito dramático, contudo o êxito do filme deve-se a não ser apenas um receptáculo de ideias sobre o totalitarismo, fazendo a tensão escalar quando a investigação a um crime não relacionado com o protagonista ameaça desmascarar a sua farsa existencial.

31. O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, 1951)

Realizador: Robert Wise

Elenco: Michael Rennie, Patricia Neal, Hugh Marlowe

Neste clássico da ficção científica fabricada em Hollywood, Robert Wise ajuda a definir as regras do género, quer pela utilização do teremim na banda sonora de Bernard Herrmann, como pelo arquétipo do disco voador extre-terrestre, ou ainda o icónico robô gigante, Gort. Todavia, o centro do argumento é o dilema do costume: como responde a Humanidade à visita de extra-terrestres. E a resposta é também a que era costume (pelo menos até E.T.): disparar primeiro, mesmo que a chegada do humanóide Klaatu seja um aviso para a ameaça que o desenvolvimento nuclear da Terra constitui para o resto da galáxia.

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30. Parque Jurássico (Jurassic Park (1993)

Realizador: Steven Spielberg

Elenco: Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum

Toda a gente gosta de dinossauros, desde que sejam um monte de ossos alinhados num museu ou um grupo de bonecos mecânicos organizados em exposição. Este thriller em jeito de montanha russa criado por Steven Spielberg, a partir da adaptação do romance de Michael Crichton, devolve a vida às bestas pré-históricas e envia-as para um parque temático criado pelo multimilionário John Hammond (Richard Attenborough). Tudo vai bem até o sistema de segurança falhar e o T-rex e companhia entrarem em modo de caçada aos humanos. O elenco, com Sam Neill à cabeça no papel de um paleontologista resmungão e Jeff Goldblum como um astro da teoria do caos, é uma delícia de ironia e boa representação. Além de que Spielberg, então, já sabia muito bem como construir um filme de acção inovador, interessante e capaz de manter a plateia firmemente agarrada às cadeiras, como acontece na agora icónica cena em que um velociraptor persegue o pessoal numa cozinha.

29. O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 1968)

Realizador: Franklin J. Schaffner

Elenco: Charlton Heston, Roddy McDowall, Kim Hunter

É verdade, esta aventura de ficção científica pode muito bem ter lugar num mundo dominado por símios, mas a intenção desta sátira kitsch é analisar, por assim dizer, o comportamento dos seus descendentes. O filme apresenta uma sociedade partilhada por três espécies – os gorilas-soldado, os intelectuais orangotangos e os prudentes chimpanzés – mas nenhuma delas sabe como lidar com o heróico viajante espacial, que acabou de estampar a sua nave no território desta sociedade meio medieval, interpretado por Charlton Heston.

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28. La Jetée (1962)

Realizador: Chris Marker

Elenco: Étienne Becker, Jean Négroni, Hélène Chatelain

Inspirado pelo romantismo hipnótico de A Mulher Que Viveu Duas Vezes, de Hitchcock, o cineasta da nova vaga do cinema francês, Chris Marker, criou este foto-romance de 28 minutos composto quase exclusivamente por fotografias a preto e branco acompanhadas por uma narrativa em tom atormentado. Aqui, Paris está reduzida a escombros radioactivos, mas cientistas vivendo abaixo do solo alimentam a esperança de enviar um viajante através do tempo para resolver a situação. Quem está a pensar em La Jetée como um percursor de 12 Macacos está a pensar bem.

27. Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)

Realizador: Stanley Kubrick

Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Warren Clarke

Se em 2001: Odisseia no Espaço Stanley Kubrick deixou meio mundo a pensar no que está além, algures no espaço sideral, ou, através do temível HAL 3000, nas eventuais consequências da Inteligência Artificial, em Laranja Mecânica é a violência e a maneira do Estado reprimir que está no centro da acção. Neste, que é um dos mais controversos e brilhantes filmes do realizador, Malcolm McDowell interpreta um jovem chefe de gangue futurista, alimentado a leite fortificado e violência descabelada, que é sujeito a uma experiência científica alegadamente destinada a prevenir o crime. O resultado é triunfante e lamentável, pois a manipulação…, quer dizer, a lavagem ao cérebro a que foi sujeito, torna-o incapaz de se defender.

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26. A Terra em Perigo (Invasion of the Body Snatchers, 1956)

Realizador: Don Siegel

Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter, King Donovan

O alarmismo da ameaça comunista à liberdade de consciência da América domina este filme, descaradamente série B, sobre uma espécie de vagens extra-terrestres que controlam e manipulam durante o sono os cidadãos de uma pequena cidade californiana. Aos poucos, aquele povo vai perdendo a sua personalidade e transformando as suas emoções de maneira assustadora, enquanto o sensível médico interpretado por Kevin McCarthy tenta lutar contra a submissão imposta aos seus conterrâneos. A controvérsia sobre a moldura imposta pelo estúdio de maneira a elevar o nível de pânico anti-comunista ainda persiste, mas o tempo favoreceu a ambiguidade criada pela realização de Don Siegel.

25. 12 Macacos (12 Monkeys, 1995)

Realizador: Terry Gilliam

Elenco: Bruce Willis, Brad Pitt, Madeleine Stowe

Depois de La Jetée era inevitável a presença nesta lista de 12 Macacos, mesmo quando se aceita a ideia de que a segunda obra de ficção científica de Terry Gilliam dificilmente chega aos calcanhares do magnífico Brazil. O que não retira interesse ao filme em que Bruce Willis faz de criminoso de pouca estaleca e é enviado de uma Terra algures no futuro, destruída por uma doença, para traçar a origem da praga. No processo, o herói contrariado cai de amores pela personagem interpretada por Madeleine Stowe e vai parar a um manicómio, onde encontra Brad Pitt num muito bem desempenhado papel de eco-terrorrista amalucado. Carregado de vaivéns temporais e reviravoltas surreais, destinadas essencialmente a dar a entender mais do que realmente acontece no argumento, o filme permanece como um habilidoso quebra-cabeças, com o bónus de dar a ver Willis como uma cabeleira loura e uma camisa havaiana que lhe ficam a matar.

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24. Ex Machina (2015)

Realizador: Alex Garland

Elenco: Domhnall Gleeson, Oscar Isaac, Alicia Vikander

A tecnologia é muito capaz de dar cabo de nós e muitos dos melhores filmes de ficção científica partem precisamente desta abordagem. Não propriamente por medo do avanço tecnológico, mas da utilização que dele se faz. Uma questão ética que o argumentista e realizador Alex Garland usa com grande habilidade. Nesta obra, Oscar Isaac faz de Nathan, o psicopático, embora carismático, multimilionário fundador da firma na qual trabalha o protagonista, Caleb (Domhnall Gleeson). O trabalho de câmara e de som elevam a qualidade do filme e reforçam a intensidade da acção, principalmente quando Caleb é confrontado pela robô humanóide Ava, criando um movimento, digamos, de suspense suficiente para deixar os espectadores indecisos sobre que partido tomar.

23. A.I. Inteligência Artificial (A.I. Artificial Intelligence, 2001)

Realizador: Steven Spielberg

Elenco: Haley Joel Osment, Jude Law, Frances O’Connor

Várias são as razões para considerar este filme um dos melhores da carreira de Steven Spielberg. A coisa começou como um projecto de Stanley Kubrick, até ele entender que a adaptação do conto do brilhante Brian Aldiss, Supertoys Last All Summer Long, só por si obra de grande valor, seria mais apropriada à sensibilidade cinematográfica do criador de E.T., que meteu mãos à obra após a morte de Kubrick, em 1999.

E, de facto, o rapaz-robô interpretado por Osment é o protagonista típico da obra de Spielberg: o adolescente para sempre amaldiçoado pelas necessidades de uma mulher carente (O’Connor), que primeiro o adopta e depois o abandona. As circunstâncias obrigam David a partir em busca do seu criador, o que se revela uma perigosa jornada e, simultaneamente, um ritual de passagem concluído em regime de grande emoção, alastrando do coração ao cérebro e deixando o espectador a pensar nas possibilidades da Inteligência Artificial.

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22. O Despertar da Mente (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)

Realizador: Michel Gondry

Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst

Neste filme de Michel Gondry, o romance apropria-se da ficção científica e com basta sofisticação leva-o para o território da neurose. Movimento a que decerto não é alheio o argumento de Charlie Kaufman, capaz, mais uma vez, de percorrer caminhos nunca antes percorridos pelos interstícios da mente. Além da solidez do argumento e da requintada arquitectura narrativa da realização, a maior revelação, porém, vem da interpretação de Jim Carrey e da forma como o actor assume o retorcido desconforto da sua personagem.

21. Regresso ao Futuro (Back to the Future, 1985)

Realizador: Robert Zemeckis

Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson

Na raiz de qualquer grande filme de ficção científica está um argumento à prova de bala e não efeitos especiais e lasers. E Regresso ao Futuro é disso (mais uma) prova. Trabalhando com o argumentista Bob Gale, o realizador Robert Zemeckis constrói uma labiríntica e surpreendente história em constante vaivém intertemporal entre os anos 80 e os anos 50 do século passado. Para o êxito da obra é grande a contribuição de Michael J. Fox, então a entrar no apogeu da carreira, tornando o seu Marty McFly um exemplo de perseverança e, porque não, heroísmo – embora a a veia cómica de Christopher Lloyd e a sua inspirada interpretação do excêntrico e visionário Dr. Emmett Brown arrebate todos os melhores momentos do enredo.

20. Planeta Proibido (Forbidden Planet, 1956)

Realizador: Fred M. Wilcox

Elenco: Walter Pidgeon, Anne Francis, Leslie Nielsen

Uma coisa é certa: neste filme a ficção científica e a psicologia encontraram-se. E outra que também é certa é serem tantos os paralelos e as comparações entre esta película e o seu argumento com o enredo de A Tempestade, de William Shakespeare, que facilmente passam despercebidas as suas ideias sem dúvida originais em 1956. Nenhum outro filme de ficção científica até esta altura lidou com conceitos tão poderosos como, por exemplo, uma raça de extra-terrestres telepatas caindo em desgraça por conta da ambição; um homem tão consumido pela sua paixão freudiana que não suportava a ideia da filha se afastar da sua vista; uma nave espacial cheia de tipos normais, aborrecidos na sua viagem intergaláctica. Junte-se a isto efeitos especiais que, passe a redundância, ainda têm o seu efeito, uma banda sonora electrónica e a presença do seco e irónico Robbie, o robô, entretanto tornado ícone do género e, digamos, da sua espécie, e o resultado é uma obra que passa pelo tempo com soberba elegância.

19. A Mosca (The Fly, 1986)

Realizador: David Cronenberg

Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis, John Getz

Se existe filme que deixa a audiência com um nó no estômago é, sem dúvida, A Mosca. David Cronenberg usa um truque habilidoso para que assim seja, embalando os espectadores com um início tirado de comédia romântica quando a jornalista interpretada por Geena Davis conhece o excêntrico cientista criado por Jeff Goldblum numa convenção. Ele leva-a até casa para lhe dar a conhecer os seus teletransportadores, e não demora muito para o romance florescer. Romance que tem o seu arrufo, arrufo que leva o cientista à bebedeira, bebedeira que o faz tornar-se cobaia na sua própria experiência… sem reparar que uma mosca embarcou com ele na maquineta. Há cenas – o sonho da jornalista, o concurso de braço de ferro, a repulsiva e trágica mutação do cientista – nesta obra impossíveis de esquecer. Episódios que em meados da década de 1980 foram entendidas como metáforas da sida, mas que o argumentista e realizador negou em entrevistas, afirmando que procurara abordar temas mais amplos como o envelhecimento e a morte com que todos temos de lidar.

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18. Os Filhos do Homem (Children of Men, 2006)

Realizador: Alfonso Cuarón

Elenco: Clive Owen, Julianne Moore, Clare-Hope Ashitey, Michael Caine

Esta ambiciosa adaptação do romance de P.D. James, por Alfonso Cuarón, é um thriller político-social carregado de acção digna de uma aventura de Jason Bourne. O que qualifica a obra como ficção científica é situar-se em 2027 e haver uma crise mundial de infertilidade – nenhuma criança nasce desde 2009. Neste contexto, Clive Owen é um homem vazio, um manga-de-alpaca no Ministério da Energia, convencido pela sua ex-mulher, a líder de um grupo de guerrilha, a ajudar um refugiado africano.

17. Solaris (1972)

Realizador: Andrei Tarkovsky

Elenco: Natalya Bondarchuk, Donatas Banionis, Jüri Järvet

Eis o temperamental e melancólico original que inspirou a versão de Steven Soderbergh em 2002 (ver entrada 92, s.f.f.). A adaptação pelo realizador russo Andrei Tarkovksy da obra futurista de Stanislaw Lem é, a bem dizer, companheira de jornada de 2001: Odisseia do Espaço, de Stanley Kubrick, com o qual é, aliás, frequentemente comparada (enquanto, paralelamente, por via da propaganda, considerado a resposta soviética aquela obra).

O protagonista humano é Kris Kelvin (Donatas Banionis), um cientista ainda a fazer o luto da sua há muito falecida esposa, Hari (Natalya Bondarchuk), viajando na direcção da estação espacial em órbita de Solaris, um planeta com consciência que, aparentemente, tem o poder de ressuscitar os mortos. No meio da sua investigação, a mulher reaparece miraculosamente e tudo se torna mais estranho a partir daqui.

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16. Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento (Terminator 2: Judgment Day, 1991)

Realizador: James Cameron

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Edward Furlong

Com Aliens: O Recontro Final, James Cameron provou a sua mestria na construção de sequelas capazes de acrescentar ao original. Mas em termos de orçamento, dimensão e acção, Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento elevou definitivamente a fasquia. A partir do seu seco original, Exterminador Implacável, o realizador como que desmontou a máquina de morte (o melhor papel de sempre de Arnold Schwarzenegger, talvez pelo seu carácter mecânico) e tornou-a num poderoso camião que se tornou um dos mais importantes campeões de bilheteira. Sem o qual os filmes, hoje, seriam decerto diferentes.

15. Stalker (1979)

Realizador: Andrei Tarkovsky

Elenco: Aleksandr Kaydanovskiy, Anatoliy Solonitsyn, Nikolay Grinko

Pode ser livremente inspirado no romace de ficção científica Roadside Picnic (em Portugal traduzido, depois da estreia do filme, como Stalker), dos irmãos russos Boris e Arkady Strugatsky, mas Stalker amplia a definição do género. A história acompanha três homens que entram clandestinamente na misteriosa e fortemente guardada Zona alimentando sonhos de conhecimento, mas dificilmente esse é o tema da obra (para muitos um dos mais perfeitos filmes de sempre). Como em todo o trabalho do realizador russo, Stalker é um filme de ambiente, desembocando num espaço contemplativo disponível para a exploração dos espectadores e que conta com as reacções deles para uma eventual compreensão – a qual, neste caso, é francamente sobrevalorizada. É, também, e provavelmente a mais negra obra do genial cineasta, pois é impossível não ver na Zona – uma terra prometida que afinal não passa de um buraco industrial abandonado – um comentário agreste sobre a ambição do Estado soviético.

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14. Moon – O Outro Lado da Lua (Moon, 2009)

Realizador: Duncan Jones

Elenco: Sam Rockwell, Kevin Spacey

A estreia na realização de Duncan Jones fez-se com um pequeno filme preenchido com suficientes alusões aos clássicos de ficção científica dos anos de 1970 para criar algum efeito. No seu sentido mais lato, é uma película sobre o desumanizante impacto da tecnologia. Mas é igualmente um filme que lida com avassaladora monotonia do dia-a-dia e a esmagadora depressão provocada pela solidão. Jones mantém tudo simples, confinando a película a meia-dúzia de apartamentos e um par de cenas de exterior, limitando as personagens a Sam Rockwell e à voz que Kevin Spacey como o robô que controla aquilo tudo. É, sem dúvida, uma obra visualmente cuidada e que, ao contrário de tanta ficção científica contemporânea, coloca ênfase nas ideias e não nas explosões.

13. Matrix (The Matrix, 1999)

Realizador: Lana and Andy Wachowski

Elenco: Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss

A velha frase “angústia milenar” foi tantas vezes pronunciada que se espalhou que nem confetis em dia de festa nos últimos anos do século passado, porém assenta que nem uma luva a Matrix. Pois a derradeira expressão da paranóia existencial na ficção científica tornou-se, nas mãos das (agora) irmãs Wachowski, um clássico de ciber-acção que não só questiona o sentido da vida como a sua própria existência. De alguma maneira, o filme também consegue conciliar kung-fu e taoísmo com inovadores efeitos digitais e medo da tecnologia, o que o torna um dos mais significativos momentos cinematográficos dos anos de 90.

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12. Veio do Outro Mundo (The Thing, 1982)

Realizador: John Carpenter

Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley, T.K. Carter

A sequência de abertura de Veio do Outro Mundo é imbatível, com o helicóptero voando rasante sobre uma estação de pesquisa científica norte-americana na Antártida e a sua tripulação de cientistas noruegueses disparando nervosamente sobre um cão que corre na planície gelada como se de uma singela cena de caça se tratasse. No entanto, vai-se a ver, e o cão é, de facto, um organismo parasita extra-terrestre, capaz de imitar qualquer forma de vida, que matou os cientistas americanos um a um. John Carpenter prolonga esta visceralmente tensa paranóia ao longo de toda a película, e Kurt Russell lidera um elenco de completamente críveis trabalhadores científicos aborrecidos de morte naqueles confins e mais ou menos a caminho da loucura.

11. E.T. – O Extra-Terrestre (E.T. the Extra-Terrestrial, 1982)

Realizador: Steven Spielberg

Elenco: Henry Thomas, Dee Wallace, Drew Barrymore

Diz a lenda que nas filmagens de Encontros Imediatos de 3º Grau, François Truffaut sugeriu a Spielberg que o seu próximo trabalho devia ser algo de pessoal e honesto como “um pequeno filme sobre crianças”. Quando o cineasta francês, continua a lenda, soube que essa película familiar envolvia um alienígena perdido, partiu-se a rir – longe de saber como E.T. – O Extra-Terrestre se tornaria o filme mais bem sucedido de sempre. Eventualmente, a obra tornou-se vítima do seu próprio êxito, pois todos aqueles brinquedos amorosos e T-shirts com “phone home” estampados ajudaram a esquecer como, realmente, este é um filme de pequena escala, concentrado na humanidade das personagens e no seu sentido de solidariedade.

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10. Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back, 1980)

Realizador: Irvin Kershner

Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher

Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca é verdadeiramente maravilhoso, ou melhor, um exemplo perfeito de como tornar uma bem sucedida mas muito simplista fórmula da ficção científica em algo emocionalmente absorvente, filosoficamente rico e – mais importante – delirantemente divertido. É um filme que encontra o equilíbrio perfeito entre o espectáculo, as personagens, o humor e os sentimentos. Por ele passam batalhas no gelo e o impacto de asteróides, despertares espirituais e romances complicados enquanto faz o seu caminho até a um clímax verdadeiramente operático, concluído como uma das mais célebres reviravoltas da história do cinema.

9. O Exterminador Implacável (The Terminator, 1984)

Realizador: James Cameron

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Michael Biehn

Voltemos atrás no tempo até aos dias em que o único crédito cinematográfico de James Cameron era Piranha II – O Peixe Vampiro (1981), pois foi durante a promoção dessa sequela que surgiu na sua imaginação o sonho de um torso metálico arrastando-se para fora dos escombros de uma violenta explosão. Pesadelo que o realizador transformou no início de uma série proveitosa com um orçamento de pouco mais de seis milhões de dólares. O argumento é quase de cordel: um robô matador disfarçado com pele sintética (Schwarzenegger) é enviado de uma Terra arruinada, algures no futuro, para o presente, com a missão de matar Sarah Connor (Hamilton), a mãe do futuro salvador da humanidade. O seu protector é Kyle Reese (Biehn), um soldado da guerra pós-apocalíptica que está para surgir, que também viaja através do tempo para convencer a céptica Sarah do perigo que aí vem e do sarilho em que está metida. Embora os humanos sejam personagens com que facilmente uma plateia se identifica, o espectáculo é todo de Arnold Schwarzenegger, apesar (ou por causa) das suas poucas linhas de diálogo (apenas 18 falas) e da sua aterrorizadora presença como uma máquina indestrutível. Uma cristalina visão de como a tecnologia se pode voltar contra os seus criadores.

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8. Metropolis (1927)

Realizador: Fritz Lang

Elenco: Brigitte Helm, Alfred Abel, Gustav Fröhlich

"Recentemente vi um filme verdadeiramente tonto", escreveu H.G. Wells, nas páginas de The New York Times, em 1927. Não estava sozinho nesta consideração, pois a generalidade da crítica embirrou claramente com o ambicioso épico de Fritz Lang na altura da estreia. Todavia, com o tempo, este tornou-se provavelmente o mais imitado filme de ficção científica.

O enredo leva o espectador até uma sobrepopulada cidade no futuro, onde Freder, o filho de um rico industrial, cai de amores por uma habitante da infernal lixeira subterrânea onde os trabalhadores fazem pela vida, garantindo o conforto dos que vivem à superfície. Apesar desta trama novelesca, é impossível não realçar a importância de Metropolis, nem ver na robô e gémea má de Maria a inspiração para C-3PO ou para os replicantes em Blade Runner, ou mesmo a visão do realizador de uma cidade de arranha-céus e auto-estradas no céu como inspiração para tantas cidades futuristas entretanto criadas. Wells fez pouco dos trabalhadores ingenuamente acreditando que a tecnologia lhes podia mudar o destino e elevar a civilização até um novo patamar de desenvolvimento. Porém, quase 100 anos depois, a representação do trabalho escravo humano criada por Lang parece cada vez mais relevante.

7. Brazil (1985)

Realizador: Terry Gilliam

Elenco: Jonathan Pryce, Kim Greist, Michael Palin

No coração deste pesadelo distópico retro-futurista, concebido por Terry Gilliam, encontra-se a eterna batalha entre o livre-arbítrio e as regras da sociedade, temperado por uma desconfiança na tecnologia e na burocracia. Sam Lowry (Jonathan Pryce) sonha elevar-se aos céus da popularidade e ter as seus pés uma linda quão misteriosa mulher (Kim Greist). Mas, na realidade, dá por si no interior de um confuso escândalo envolvendo presumíveis terroristas e um caso de falsa identidade, contrariadamente aceitando um trabalho num departamento governamental em busca de respostas. A presença de Michael Palin parece remeter Gilliam para os seus dias enquanto membro dos Monty Python. Contudo, aqui encontra-se algo de mais majestático, ambicioso e perturbador.

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6. Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (Star Wars, 1977)

Realizador: George Lucas

Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher

Uma obra-prima pop que redefiniu a indústria do entretenimento, Star Wars, como ficção científica moderna aditivada por um optimismo fora de moda, tornou-se naquela matéria que faz os executivos de um estúdio salivarem compulsivamente. Antes das filmagens, no entanto, o seu criador, George Lucas, não era senão o tipo que realizara, em 1973, American Graffiti – Nova Geração, uma terna mistura de cultura automóvel e nostalgia com o amor no horizonte. Pelo que não é surpresa que estes elementos tenham sido transpostos de maneira tão eficaz para o distante planeta Tatooine, onde um jovem, a bem dizer enclausurado numa cidade no meio do nada, consegue levar a sua vida até um estado de grandiosidade mítica.

As inovações técnicas do filme foram de fazer cair o queixo aos mais cépticos sobre o poder narrativo da tecnologia, desde o desenho de som de Ben Burtt até às engenhosas criaturas e veículos que se tornariam fundamentais elementos de comercialização da saga. O que hoje é fácil de esquecer, mas não deve ser, tão fresca e inovadora foi a visão de Lucas que, entre outros feitos, tornou Harrison Ford um super-astro do dia para a noite.

5. Aliens: O Recontro Final (Aliens, 1986)

Realizador: James Cameron

Elenco: Sigourney Weaver, Michael Biehn, Bill Paxton

Mais de três décadas depois, Aliens: O Recontro Final continua a parecer uma espécie de milagre. Como conseguiu James Cameron, com apenas dois filmes (um dos quais nem vale o preço do bilhete em dia de promoção) igualar, senão mesmo melhorar, um dos mais inventivos filmes de ficção científica jamais realizado? É verdade que estão aqui muitas ideias sacadas a Alien: O 8º Passageiro, mas Cameron não se limitou a usá-las, nem mesmo a desenvolvê-las, dando-se ao meritório trabalho de criar algo de novo e francamente infuenciador do futuro da série. Foi obra que o realizador não mais conseguiu repetir, mas, mesmo sem os êxitos vindouros, foi o suficiente para lhe garantir um lugar no desenvolvimento do cinema de acção e ficção científica.

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4. Encontros Imediatos do 3º Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977)

Realizador: Steven Spielberg

Elenco: Richard Dreyfuss, François Truffaut, Melinda Dillon

Para aqueles que não acreditam em nenhum grande e barbudo espírito celeste, a descoberta de vida extra-terrestre deve ser o mais comparável que existe com uma experiência religiosa. Se é esse o caso, então Encontros Imediatos do 3º Grau é o Velho Testamento. Com a excepção de E.T., este filme de Steven Spielberg é uma das suas declarações cinematográficas mais pessoais. O protagonista, aqui, é um adolescente crescido, já pai de família, incapaz de tomar uma decisão racional entre as suas ambições e a sua responsabilidade. Possuído por uma pulsão que não compreende, o anti-herói Roy Neary (Dreyfuss) dá cabo da vida e fica à beira da loucura antes de descobrir a fonte das suas visões e prosseguir o seu desejo egoísta. Bom, isso, e efeitos especiais, então, de fazer cair o queixo, ampliados por grandes interpretações e uma banda sonora inexcedível de John Williams, bastaram para criar uma obra ainda hoje influente.

3. Alien – O 8.º Passageiro (Alien, 1979)

Realizador: Ridley Scott

Elenco: Sigourney Weaver, John Hurt, Ian Holm

O espaço nem sempre é lugar de glamorosas viagens através das galáxias, descobrindo planetas e andando na marmelada com gentis e sulfurosas meninas extra-terrestres de múltiplos seios. O espaço pode igualmente ser… apenas mais um local de trabalho. E é o que é, neste assustador épico de horror criado por Ridley Scott, assombrado por uma criatura viciosa e cheia de baba. Alien – O 8.º Passageiro é um filme carregado de grotesco, aqui e ali polvilhado pelo imaginário freudiano com as suas criaturas fálicas e os seus ovos pulsantes… Por outras palavras: é uma lição de suspense cinematográfico abrilhantada pela arte da monstruosidade, criada por H.R. Giger com uma criatura saída de um pesadelo gótico que não deixa ninguém indiferente passados todos estes anos.

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2. Blade Runner: Perigo Iminente (Blade Runner, 1982)

Realizador: Ridley Scott

Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young

Debaixo do enredo fantasioso de Hampton Fancher e David Webb Peoples, inspirado na obra-prima de Philip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep?, encontra-se, como num palimpsesto, uma reflexão profunda e séria sobre a vida e a morte e o futuro da humanidade. Ridley Scott nunca mais foi tão longe esteticamente (apesar dos produtores lhe retirarem o direito de montagem final, para mais introduzindo um narrador muito pouco apreciado pelo realizador, e que desapareceu mal Scott teve oportunidade de exibir a sua montagem). Poucas foram as vezes em que os efeitos especiais tiveram uma efectiva razão narrativa e dramática, e as interpretações de Harrison Ford, Sean Young e, principalmente, Rutger Hauer, no papel de replicante-mor, são exemplares.

1. 2001: Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968)

Realizador: Stanley Kubrick

Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester

É uma história da evolução como nunca se fez outra, que não deve ser confundida com a caça a monólitos de material desconhecido dos terrestres, por muito que esse seja o objectivo da missão espacial filmada por Stanley Kubrick. 2001: Odisseia no Espaço é um filme e é uma viagem, mas também é uma reflexão, radicada na filosofia, na religião e na política, sobre tecnologia, a sua utilização e a sua influência no desenvolvimento da ciência, na história e, enfim, na evolução da espécie – ou na sua substituição por outra, caso o (na perspectiva humana) pérfido computador HAL leve a sua avante sobre o brioso, curioso e intenso astronauta interpretado por Keir Dullea. Máquina versus homem não era um tema novo na altura. Mas a maneira como Kubrick deu corpo cinematográfico a esta demanda pelo desconhecido até ao devir da humanidade, fez da película um prodígio técnico e um importante avanço no desenvolvimento tecnológico do cinema, mas, principalmente, criou um momento artístico irrepetível.

Os melhores filmes de sempre

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Os 100 melhores filmes de terror de sempre
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O cinema de terror é monstruoso. Destratado, incompreendido e alvo de virulentos ataques críticos, consegue ainda assim andar para a frente, deixado um rasto de destruição no seu caminho. A verdadeira questão é: quais são os melhores filmes de terror? Depois de consultarem um painel de actores, realizadores, argumentistas e fãs do género, os críticos da Time Out elegeram os 100 melhores filmes de terror de sempre. 

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Qualquer lista de melhores filmes de comédia de sempre é discutível (mas qual é que não é?), que isto do humor varia muito de pessoa para pessoa. Então como é que se escolhem os melhores? Com seriedade e abrangência. Mais concretamente, falando com peritos, desde cómicos a actores, realizadores e escritores.

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Cinquenta dos melhores filmes clássicos de sempre
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Comédias e westerns, policiais e melodramas, ficção científica e fantástico, sem esquecer o musical, há de tudo nesta lista de melhores filmes clássicos. São 50 fitas mas podiam ser mais, e este pode ser também o início de uma colecção de grandes obras do cinema mundial em DVD. Ou ainda uma lista para orientação no YouTube, onde se encontram vários destes títulos em boas cópias.

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