Horror Movies
Photograph: Time Out
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Os 100 melhores filmes de terror de sempre

Tenha medo, muito medo. Estes são os melhores filmes de terror da história do cinema.

Matthew Singer
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Um homem sábio e violento perguntou certa vez: "Gostas de filmes assustadores?". A pergunta certa, porém, é: quem não gosta de filmes assustadores? Não existe emoção mais poderosa do que o medo. E podemos experimentá-lo de forma controlada, através do entretenimento. Claro, todos temos os nossos limites: nem todos estão preparados para ver um palhaço demoníaco a serrar uma mulher ao meio (embora os lucros de bilheteira sugiram que há um número surpreendente de pessoas que está). Mas até os mais medrosos gostam de um pequeno susto de vez em quando.

O género de terror está a viver um grande momento de renascimento, tanto junto dos espectadores como da crítica. Em 2024, alguns dos maiores e mais comentados filmes do ano (I Saw the TV Glow, O Coleccionador de Almas, A Substância e o sucesso de bilheteira Terrifier 3 – Aterrorizante) pertencem ao género. Mas o terror tem uma longa história, que remonta ao início do cinema. Quer ter os nervos à flor da pele? Com estes 100 clássicos, é provável que o encontrem escondido atrás do sofá quando os créditos finais estiverem a rolar.

Textos de Tom Huddleston, Cath Clarke, Dave Calhoun, Nigel Floyd, Phil de Semlyen, David Ehrlich, Joshua Rothkopf, Nigel Floyd, Andy Kryza, Alim Kheraj e Matthew Singer.

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Os 100 melhores filmes de terror de sempre

100. It (2017)

Realização: Andy Muschietti

Elenco: Jaeden Lieberher, Bill Skarsgård, Sophia Lillis

Para alguns, Tim Curry será sempre a personificação de Pennywise, o palhaço dançarino, uma manifestação do próprio medo. Mas nesta adaptação de 2017 do épico romance de Stephen King, agora ambientada nos anos 80 em vez dos anos 50, é Bill Skarsgård que nos aterroriza completamente. Como Pennywise, os olhos de Skarsgård vagueiam em direcções opostas, fazendo a personagem parecer verdadeiramente monstruosa e perturbada. Quando interage com as crianças, ele baba-se, como se estivesse faminto, ansioso por devorá-las junto com os seus medos. As excelentes interpretações do jovem elenco também evitam qualquer embaraço de “actuação infantil”, enquanto os temas de amizade e perda de inocência são reminiscências de Conta Comigo (outra adaptação de King) e E.T: O Extraterrestre. Por vezes, pode ser sentimental, mas quando assusta – e assusta mesmo – é um arrepiante lembrete de que, independentemente da idade, os palhaços são aterradores.

99. O Homem Invisível (2020)

Realização: Leigh Whannell

Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen

A engenhosa adaptação de Leigh Whannell do romance de ficção científica de HG Wells traz uma crítica afiada aos homens tóxicos e às suas tácticas de manipulação psicológica. Elisabeth Moss interpreta Cecilia, uma arquitecta traumatizada pelo seu marido abusivo, Griffin, um empreendedor da indústria tecnológica (interpretado por Oliver Jackson-Cohen). Pouco depois, Griffin é dado como morto por suicídio. Mas estará mesmo? E por que motivo começaram as coisas a fazer barulho à noite? Whannell respeita o clássico e homónimo filme de monstros da Universal (fique atento a uma breve aparição das famosas ligaduras), mas esta adaptação não é uma mera homenagem. Traz ideias próprias, abordando, em particular, a forma como uma relação abusiva pode transformar a vida numa prisão. Moss, naturalmente, destaca-se como uma “scream queen” de primeira.

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Phil de Semlyen
Global film editor
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98. Nevoeiro Misterioso (The Mist, 2007)

Realização: Frank Darabont

Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Toby Jones

Frank Darabont já se tinha atirado à obra de Stephen King por duas ocasiões – em Os Condenados de Shawshank (1994) e À Espera de um Milagre (1998) – quando finalmente fez o seu primeiro filme assumidamente de terror. Uma adaptação erma da novela de King sobre um nevoeiro misterioso que cobre uma terriola, forçando os habitantes a abrigarem-se no supermercado local. De certa forma é quase nostálgico, um filme de monstros à antiga com tentáculos e tudo que ganha nova vida na reluzente e monocromática versão em DVD. Mas também é um drama ferozmente moderno, já que, desfazendo a estrutura política e social da América dos anos Bush, Darabont faz da câmara um microscópio com o qual analisa dogmas religiosos, divisões políticas e intervenções militares, num dos mais inteligentes, estimulantes e desoladores filmes de terror deste século.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

97. Foi Deus Quem Ordenou (God Told Me To, 1976)

Realização: Larry Cohen

Elenco: Tony Lo Bianco, Deborah Raffin

Larry Cohen é, decididamente, um dos mais inventivos e idiossincráticos escritores/ realizadores americanos da década de 1970, com uma obra que vai do comentário social de baixo orçamento à blaxploitation e alguns dos filmes de terror mais politicamente engajados de sempre. Mas aqui estamos, passadas quatro décadas, e ele só consegue meter um filme no nosso top 100. Foi Deus Quem Ordenou é, sem dúvida, um dos mais escuros e estranhos filmes que se encontram nestas páginas, uma história de assassínios em série, clamor religioso e raptos extraterrestres rodada nalgumas das ruas mais mal frequentadas da Nova Iorque da década de 1970. Cohen merece ser mencionado ao lado de Carpenter e Craven no cânone do terror – e esta é capaz de ser a sua obra-prima, se bem que Terror Sobre a Cidade, O Monstro Está Vivo! (It’s Alive) e Substância Maldita andem lá perto.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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96. Saint Maud (2020)

Realização: Rose Glass

Elenco: Morfydd Clark, Jennifer Ehle

Este perturbador e brilhante filme de estreia de Rose Glass transporta-nos para uma monótona cidade costeira inglesa, carregada de uma intensa dose de fanatismo religioso, jogos psicológicos de poder e momentos de arrepio profundo. Morfydd Clark é impressionante como Maud, uma enfermeira profundamente religiosa, cuja primeira tarefa em serviço privado a leva à casa da ex-bailarina terminalmente doente e mordazmente irreverente, interpretada por Jennifer Ehle. O jogo psicológico entre a asceta atormentada e a sensualista fumadora de cigarros lembra as tensões de Persona, uma grande influência em Saint Maud, e rapidamente descamba para uma espiral de tensão crescente. Ehle é excelente, e num mundo justo Clark estaria a ganhar prémios pela sua impressionante actuação física. O resultado é o melhor filme de terror britânico desde Under the Skin.

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Phil de Semlyen
Global film editor

95. O Soro Maléfico (Re-Animator, 1985)

Realização: Stuart Gordon

Elenco: Jeffrey Combs, Bruce Abbott

Algures entre o conto original de H.P. Lovecraft e A República dos Cucos, de John Landis, O Soro Maléfico é uma fita de terror cartoonesca, que entrelaça sangue e gargalhadas num desfile vertiginoso de imagética grotesca. Jeffrey Combs interpreta o perturbado anti-herói Herbert West (até a forma como pronuncia o nome tem piada), o cientista que descobre um soro ressuscitador verde fluorescente. O Soro Maléfico é estranho, louco, imprevisível e frequentemente tonto, o tipo de filme de terror esquisito e imaginativo que parece ter passado de moda.

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94. Morte Cerebral (Braindead, 1992)

Realização: Peter Jackson

Elenco: Timothy Balme, Diana Peñalver, Elizabeth Moody

Antes de se render aos hobbits, Peter Jackson era um dos mais inventivos e ferozes realizadores independentes de filmes de terror de baixo orçamento, um sucessor digno de pioneiros do gore DIY, como George Romero ou Sam Raimi. O primeiro filme, Carne Humana Precisa-se, foi feito ao longo de quatro anos, aos fins-de-semana, por ele e uns quantos amigos, mas quando chegou a altura de fazer Morte Cerebral já tinha um orçamento (ou perto disso) e uma equipa de profissionais. O resultado é um dos mais incansáveis e desagradáveis filmes alguma vez estreados, com macacos mutantes, zombies devoradores de carne, cortadores de relva assassinos e padres que lutam kung-fu.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

93. Irmãos Inseparáveis (Dead Ringers, 1988)

Realização: David Cronenberg

Elenco: Jeremy Irons, Genevieve Bujold

Mais do que qualquer outro filme de Cronenberg, Irmãos Inseparáveis testa os limites do terror. Tem sangue, ferramentas para operar mulheres mutantes e uma aura tensa, mas é sobretudo um estudo sobre a psicose doméstica em circunstâncias extremas. Também é um exercício de representação sem paralelo, com Jeremy Irons a interpretar ambos os protagonistas, os gémeos ginecologistas Elliot e Beverly Mantle. O que é assombroso é quão clara e facilmente o realizador os distingue: Elliot é uma personagem forte e tipicamente masculina; Beverly é mais passivo, cuidadoso, feminino.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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92. Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985)

Realização: George A Romero

Elenco: Lori Cardille, Terry Alexander

All you need is Bub

Muito boa gente ficou desiludida com a conclusão da trilogia dos Mortos-Vivos de Romero, por não ser tão inovadora como A Noite dos Mortos-Vivos nem tão satírica e divertida como Zombie: A Maldição dos Mortos Vivos. E aquilo que o realizador originalmente ambicionou para o projecto – um ataque à desigualdade dos anos Reagan – não foi possível de conceber por motivos orçamentais, apesar de muitas dessas ideias terem sido aproveitadas no seu sucessor, Terra dos Mortos. Não obstante, Dia dos Mortos continua a ser um filme espantoso, um ataque sensorial constante alimentado por uma sensação de desespero e um niilismo sem precedentes. A dada altura, é difícil saber por quem estamos a torcer, se pelos soldados lamuriosos, os supostos heróis, ou pelos seus prisioneiros zombies, humanizados pelo morto-vivo pensante Bub.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

91. O Homem Sem Braços (The Unknown, 1927)

Realização: Tod Browning

Elenco: Lon Chaney, Joan Crawford

Cinco anos antes de A Parada dos Monstros, Tod Browning realizou outra história retorcida sobre atracções e artistas circenses que se apaixonam e separam, magoando-se uns aos outros. Nesta história de um estrangulador com dois polegares na mão esquerda, que se faz passar por um faquir sem braços para seduzir uma linda rapariga aterrorizada por mãos de homens, as pessoas aparentemente mais estranhas e diferentes são também as mais retorcidas. Não é por acaso que há quem considere que A Parada dos Monstros acaba por ser um pedido de desculpas por O Homem Sem Braços.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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90. A Nona Sessão (Session 9, 2001)

Realização: Brad Anderson

Elenco: Peter Mullan, David Caruso

Este filme independente americano praticamente sem orçamento tornou-se um objecto de culto. E não podia ambicionar mais: é tão sombrio, estranho e inquietante que nunca seria abraçado pela corrente dominante do cinema. Peter Mullan está incrível no papel de Gordon, o chefe de uma empresa de remoção de amianto encarregado de limpar e esvaziar um hospital psiquiátrico abandonado. Filmado integralmente em vídeo digital HD, tem um lustre sobrenatural, hiper-real, que contribui para uma atmosfera asfixiante.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

89. Salò ou Os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 giornate di Sodoma, 1975)

Realização: Pier Paolo Pasolini

Elenco: Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi

A derradeira película de Pasolini está longe de ser um filme de terror no sentido tradicional – mas é difícil imaginar algum filme desta lista a ultrapassar a sua concepção do desespero e a sua visão sombria e pessimista da humanidade. Inspirado nos escritos do Marquês de Sade e influenciado pelo "Inferno" de Dante, Pasolini imaginou quatro libertinos fascistas que prendem um grupo de jovens rapazes e raparigas num casarão italiano e os submetem a um inconcebível ciclo de terror. Violação, tortura, homicídio, pessoas obrigadas a comer merda – está tudo aqui. O filme ofendeu largos sectores da sociedade, mas hoje quaisquer comparações com pornografia parecem ridículas. Há uma total ausência de prazer neste retrato perturbador de uma sociedade feita em cacos.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer
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88. Fantasma (Phantasm, 1979)

Realização: Don Coscarelli

Elenco: Michael Baldwin, Reggie Bannister, Angus Scrimm

No início dos anos 1980, o boom do vídeo doméstico impulsionou uma onda de filmes de terror americanos. Mas, com o apoio financeiro adequado e quase total liberdade criativa, estes filmes estavam muito longe da aspereza barata do cinema grindhouse: realizadores como Stuart Gordon, Frank Henenlotter e Don Coscarelli tinham o financiamento necessário para concretizar visões que seriam impossíveis poucos anos antes, resultando em alguns dos filmes mais idiossincráticos do cânone do terror. Fantasma foi o filme que deu início a tudo, combinando um terror inventivo de baixo orçamento com uma trama insana que envolvia anões assassinos do espaço, heróicos vendedores de gelados, esferas voadoras que perfuram o cérebro e, claro, o aterrador Homem Alto. Ao longo de três selváticas sequelas, Don Coscarelli expandiria o seu bizarro universo de maneiras delirantes e imaginativas, mas nada se compara ao original.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

87. Candyman (1992)

Realização: Bernard Rose

Elenco: Tony Todd, Virginia Madsen, Xander Berkeley

A adaptação livre feita por Bernard Rose do livro The Forbidden, de Clive Barker, tem vindo a ganhar força com o tempo. O que é totalmente apropriado para uma história sombria centrada em lendas urbanas sussurradas. O filme acompanha uma académica céptica, interpretada por Virginia Madsen, que explora os bairros pobres de Chicago para estudar o mito de um espírito vingativo que se apresenta com um gancho no lugar de uma das mãos (Tony Todd, numa presença ameaçadora e com a boca cheia de abelhas). Também graças à assombrosa banda sonora de Philip Glass, Candyman é um filme surpreendentemente vanguardista, misturando o terror gráfico com temas como a gentrificação, o privilégio branco e a violência contra a comunidade negra. Que Nia DaCosta tenha enfrentado dificuldades para alcançar o mesmo equilíbrio numa recente reinterpretação não é tanto uma crítica ao filme produzido por Jordan Peele, mas sim uma prova da visão barroca e macabra de Rose. Como o fantasma sedento de vingança no seu núcleo, o legado deste filme torna-se mais poderoso à medida que os anos passam.

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Andy Kryza
Contributor
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86. O Horror de Drácula (Dracula, 1958)

Realização: Terence Fisher

Elenco: Christopher Lee, Peter Cushing, Michael Gough

A Hammer foi mais do que uma produtora. Foi um santuário erguido ao cinema de terror e um refúgio para os fãs do género nas décadas de 1950 e 1960. Com muito sangue, violência chocante e actores como Christopher Lee e Peter Cushing. A Máscara de Frankenstein, de 1957, mostrou a um público mais vasto o que a Hammer tinha para dar, mas foi O Horror de Drácula, um filme influente e um fenómeno à escola global, que cimentou o seu sucesso. É suficientemente impressionante que Lee tenha conseguido sair da sombra do imortal Bela Lugosi, interpretando um Drácula viril, sensual e vicioso. No entanto, o seu verdadeiro impacto só se sentiu mais tarde: não voltou a haver outra adaptação de Bram Stoker tão cativante.

85. As Três Faces do Terror (I Tre Volti Della Paura, 1963)

Realização: Mario Bava

Elenco: Boris Karloff, Mark Damon, Michèle Mercier

É difícil fazer uma boa antologia de terror, contudo na versão original italiana (quanto menos falarmos da vergonhosa versão americana melhor) de As Três Faces do Terror, Mario Bava consegue conferir uma coerência estilística a estas três histórias díspares, graças ao uso expressionista da cor e da luz. "Il Telefono" é uma história de um erotismo macabro em que uma prostituta parisiense é aterrorizada pelo telefonema de um ex-chulo vingativo. Sob a influência do folclore vampiresco russo, "I Wurdalak" começa com a descoberta de um corpo esfaqueado ao qual cortaram a cabeça, e progride com cenas atmosféricas de sangue a ser chupado, enquanto uma enfermeira que roubou um valioso anel a um cadáver é perseguida pela culpa em "La Goccia d'Acqua".

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84. Gritos (Scream, 1996)

Realização: Wes Craven

Elenco: Neve Campbell, Courteney Cox

Vinte e cinco anos, um mar de imitadores e quatro sequências (e contando) depois, é fácil esquecer o impacto que Gritos teve quando Ghostface entrou na consciência popular. Tal como fez Wes Craven com O Novo Pesadelo de Freddy Krueger – trabalhando com um argumento extremamente inteligente de Kevin Williamson – subverteu completamente os clichés dos filmes de slasher que ajudara a cultivar, começando com uma astuta referência ao grande clássico do género, Psico, e depois dissecando e subvertendo tudo o que veio depois. No entanto, apesar de todas as piscadelas de olho, referências e piadas, muitas vezes esquece-se o quão genuinamente assustador Gritos é, um whodunit à Agatha Christie ensopado de gore, onde a auto-suficiência dos personagens prova ser uma armadura de enredo ineficaz assim que as lâminas começam a brilhar.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

83. A Invasão dos Violadores (Invasion of the Body Snatchers, 1978)

Realização: Philip Kaufman

Elenco: Donald Sutherland, Brooke Adams, Leonard Nimoy

Um filme de zombies em tudo, excepto no nome, A Invasão dos Violadores, um aterrorizante filme sobre invasão alienígena, conformidade imposta à força e vegetação sinistra, é aqui interpretado como uma parábola assustadora sobre o lado negro do populismo. Kevin McCarthy e Dana Wynter são o casal apaixonado numa cidade fictícia da Califórnia que começa a perceber uma conspiração que substitui a população por pessoas sem alma, os tais "pod people". À medida que o casal tenta escapar e o thriller de conspiração dá lugar a um filme de fuga, A Invasão dos Violadores exala uma paranóia urgente e áspera, deixando-nos a reflectir sobre o mundo à nossa volta. Foi feito um remake pós-Watergate, o clássico de 1978 de Philip Kaufman. Pode ser um sacrilégio dizer isso, mas talvez a era pós-verdade também mereça um?

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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82. Midsommar – O Ritual (Midsommar, 2019)

Realização: Ari Aster

Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Will Poulter

O realizador de Hereditário, Ari Aster, descreveu Midsommar como "O Feiticeiro de Oz para pervertidos", mas também poderia ser chamado de "O Sacrifício com psilocibinas". Apesar de todo o seu horror, Midsommar tem muito mais do que apenas crânios esmagados e torsos despelados (embora tenha isso). É também uma história surpreendentemente engraçada sobre a arrogância americana, uma estranha e afirmativa história de separação feminista e uma divagação sobre a colisão entre a cultura moderna e as tradições antigas, com Florence Pugh a oferecer uma performance que define a sua carreira, mergulhada em luto, confusão, desgosto, raiva e esperança. Enquanto isso, o terror paira à luz do dia, não para surpreender a audiência, mas para empurrar o conto de fadas enlouquecido em direcção à sua conclusão flamejante.

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Andy Kryza
Contributor

81. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018)

Realização: John Krasinski

Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe

Neste filme, o realizador acompanha os trabalhos de uma família para sobreviver num mundo pós-apocalíptico patrulhado por uma espécie de extraterrestres que caça através do som, como uma espécie de golfinhos satânicos. Embora produzido por Michael Bay, a película é, em muitos aspectos, antítese do seu cinema enquanto realizador: em vez de ruído está o silêncio; em vez de acção desenfreada encontra-se a quietude. O que ainda torna a experiência mais aterrorizadora. Na sua primeira longa-metragem, Krasinski apresenta um controlo da tensão narrativa quase hitchcockiano, onde cada estalo ou sussurro pode atrair as bestas voadoras varrendo o terreno em redor. Emily Blunt tem uma interpretação que supera largamente o resto do elenco. E, sim, a cena do parto é inesquecível.

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Phil de Semlyen
Global film editor

80. Tentadora Maldição (Ginger Snaps, 2000)

Realização: John Fawcett

Elenco: Emily Perkins, Katharine Isabelle

O corpo feminino foi sempre fonte de fascínio do cinema de terror, desde a sexualidade animal de A Pantera, de Jacques Torneur, ao mais contemporâneo Dentes (para quem não viu, o título brasileiro, Vagina Dentada, é mais esclarecedor sobre o enredo desta espécie de panfleto contra a violência sexual), de Mitchell Lichtenstein. Entre os corredores da frente deste pelotão de filmes está, sem dúvida, esta artificiosa produção canadiana (já considerada a melhor película da subcategoria lobisomem adolescente) na qual a primeira menstruação de uma rapariga é imediatamente seguida pelo selvático ataque de um cão e de uma série de assustadoras transformações físicas. Outra razão para a importância deste filme é a forma como retrata a vida na adolescência antes de o trauma liceal e o terror sobrenatural se tornarem um lugar comum.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

79. Vai Seguir-te (It Follows, 2015)

Realização: David Robert Mitchell

Elenco: Maika Monroe, Keir Gilchrist

Não há nada de errado com um filme de terror feito às três pancadas – membros a voar, monstros de cartão, péssimas interpretações. Mas há algo de particularmente prazenteiro – e perturbador – num filme de terror em que cada plano, cada fala, cada batida foi minuciosamente pensada para assustar o espectador. Vai Seguir-te é um bom exemplo: o realizador David Robert Mitchell sabe perfeitamente o que pretende e para onde nos está a levar em cada segundo desta história sobrenatural suburbana, esparsa e precisa, mas multidimensional, sobre o desejo sexual e as suas consequências.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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78. O Nevoeiro (The Fog, 1979)

Realização: John Carpenter

Elenco: Adrienne Barbeau, Jamie Lee Curtis, Janet Leigh

Se As Noites de Halloween versava sobre um mito urbano tornado realidade, a sua continuação (por assim dizer) é uma facada de John Carpenter na fábula de acampamento. O filme até começa como uma história de princesa prometida, com três jovens escutando a narrativa de como, um século antes, um nevoeiro misterioso caiu sobre Antonio Bay, desencadeando uma onda de criminalidade que um dia voltará a assombrar a cidade. Sem a brutalidade sanguinária da sua película anterior, Carpenter percorre aqui um território feito de sombras, um pouco na tradição da fantasmagoria da era vitoriana.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

77. Fogo Maldito (Hellraiser, 1987)

Realização: Clive Barker

Elenco: Andrew Robinson, Clare Higgins, Sean Chapman, Doug Bradley

Da perturbada imaginação do fabulista inglês Clive Barker nasceu este pacto faustiano com atitude, envolvendo um misterioso quebra-cabeças, um doloroso renascimento e uma dieta de carne humana necessária para devolver a pele ao sensual corpo musculado do ressuscitado Frank. Ao resolver o quebra-cabeças, o protagonista entra num mundo de requintada crueldade dirigido por Pinhead e os seus Cenobitas – uns sádicos glamorosos com uma inclinação para infligir dor transcendental em corpos esfolados. Apesar da vontade de "abraçar o monstruoso" do autor, o apelo fetichista dos Cenobitas anda de mãos dadas com a atmosfera tenebrosa onde se desenvolvem as ambiguidades morais de Frank, principalmente na relação com a ex-namorada, Júlia (agora mulher do seu irmão), que ressoa no subtexto que ainda envolve Kirsty, a sua sobrinha adolescente.

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76. A Máscara do Demónio (La Maschera del Demonio, 1960)


Realização:
Mario Bava

Elenco: Barbara Steele, John Richardson

Para os estudiosos da ficção de terror, 1960 é sem dúvida o ano de A Vítima do Medo e Psico. Mas a monocromática obra-prima de Bava merece ombrear com essoutras obras-primas, pois onde Michael Powell e Alfred Hitchcock revolucionavam o género colocando o terror no interior do lar, Bava faz praticamente o contrário, criando um muito imaginativo e ousado mundo de sonho inspirado nos clássicos produzidos pelos estúdios Universal, ao mesmo tempo que utiliza efeitos especiais inovadores para assegurar que os horrores descritos no ecrã eram mais assustadores do que alguma vez foram. A Máscara do Demónio é um filme nascido de uma variedade do imaginário surrealista mais chocante, começando logo na primeira cena, na qual uma máscara de pregos é, digamos, atarrachada ao rosto da bruxa interpretada por Barbara Steele.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

75. Férias Assombradas (Black Christmas, 1974)

Realização: Bob Clark

Elenco: Olivia Hussey, Keir Dullea, Margot Kidder

Versão canadiana de baixo orçamento do subgénero slasher sazonal lançado por Halloween, o perversamente imaginativo filme de Clark atrai para uma casa decrépita um grupo de universitárias, que logo são aterrorizadas por um telefonema obsceno antes de começarem a ser despachadas uma a uma. Neste trabalho, o realizador antecipa muito do que hoje são convenções familiares a qualquer cinéfilo, nomeadamente o recurso ao ponto de vista do assassino psicopata, reforçado por um desenho de som dissonante e concluído com uma floreada reviravolta final de grande efeito.

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74. A Velha Casa Sombria (The Old Dark House, 1932)

Realização: James Whale

Elenco: Boris Karloff, Ernest Thesiger, Charles Laughton

Durante mais de 30 anos andou este filme perdido até, em 1968, ser encontrado nos cofres dos estúdios Universal. E ainda bem, pois seria uma tragédia perder-se esta deliciosamente mórbida comédia de, por assim dizer, costumes. A obra foi adaptada do romance de J.B. Priestley, Benighted, e apresenta um jovem casal, ela corista, ele um veterano de guerra e um rude industrialista que se fez a si próprio a partir de baixas origens, os quais, por mor de uma tempestade, se abrigam numa mansão que já teve melhores dias. Os seus habitantes, a família Femm, estão indiscutivelmente do lado dos doidos, principalmente o chefe de família, Horace, em constante conflito com a sua irmã surda. Nesta contagem deve ainda incluir-se o velho de 101 anos acamado no andar de cima, e Saul, o irmão piromaníaco aferrolhado no sótão, sem esquecer Morgan, o mordomo louco interpretado por Boris Karloff embebedando-se na cozinha. Na sua ácida lucidez e indiscutível graça, A Velha Casa Sombria é filme definitivamente a não perder.

73. Operação Medo (Operazione Paura, 1966)

Realização: Mario Bava

Elenco: Giacomo Rossi-Stuart, Erika Blanc

A assustadora história de fantasmas em cidade pequena e afastada criada por Mario Bava para esta película pode parecer ligeira entre a esquisitice explícita deste filme inovador. No entanto, Operação Medo é um trabalho radical e perturbador, onde um médico legista é chamado para autopsiar o corpo de uma donzela. No seu labor o homem encontra uma moeda de prata incrustada no coração da rapariga, e vem a descobrir que a cidade tem sobre si uma antiga maldição; pior: que os que dela falarem rapidamente encontram o seu fim. Aproveitando a oportunidade de filmar a cores, o realizador cria um mundo de pesadelo, que muito viria a inspirar o trabalho de Dario Argento e Lucio Fulci, particularmente explícito na cena em que o herói parece perseguir uma visão de si próprio, que, a bem dizer, antecede, plano a plano, o perturbante final da segunda temporada de Twin Peaks, de David Lynch.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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72. O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920)

Realização: Robert Wiene

Elenco: Werner Krauss, Conrad Veidt

História de hipnotismo, histeria e múltiplos assassínios situada numa retorcida e folclórica paisagem alemã filtrada pela imaginação transtornada de um louco, com as suas paisagens fracturadas refletindo a mentalidade de uma nação derrotada, ao mesmo tempo anunciando mais desgraças no caminho, esta obra-prima de terror artístico dirigida por Robert Wiene é um caso raro no cinema de terror. Quase um século depois, mantém toda a sua importância cinematográfica e permanece genuinamente assustadora, principalmente na cena em que uma indefesa jovem é atacada por um estranho e tremelicante sonâmbulo, ou no final, transformando o mundo num manicómio, como se o realizador perguntasse quem é realmente são de espírito.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

71. 28 Dias Depois (28 Days Later, 2002)

Realização: Danny Boyle

Elenco: Cillian Murphy, Naomie Harris and Christopher Eccleston

Cada geração tem os zombies que merece. E, segundo Danny Boyle, os desta geração estão carregadinhos de raiva. Senão vejamos: um grupo de militantes pela libertação dos animais liberta de um laboratório chimpanzés infectados por um vírus fatal, doença que rapidamente se espalha pela população do Reino Unido transformando as pessoas em zombies tarados. Um mês depois deste acontecimento, num hospital londrino, Jim, um ciclista estafeta, acorda do seu estado de coma para encontrar a cidade envolvida num estranho e profundo silêncio. Daqui em diante, cenas há de arrepiar a espinha, como aquela em que um bando de ratos foge aterrorizado pela autêntica maré de mortos-vivos que os persegue. Mas o verdadeiro terror chega quando Jim e o bando de sobreviventes que encontrou procura assegurar a sua segurança juntando-se a um grupo de soldados barricados numa mansão.

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70. Foge (Get Out, 2017)

Realização: Jordan Peele

Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener

O cinema de terror apresenta-se no seu melhor quando o medo emana da condição humana propriamente dita. É isso que faz do filme de Jordan Peele (vencedor do Óscar para Melhor Argumento Original) uma das obras essenciais da memória cinematográfica recente. Protagonizado pelo actor britânico Daniel Kaluuya, no papel de Chris, um fotógrafo que acompanha a namorada branca em visita à família num fim-de-semana que dá para o torto, o terror, nesta película, nasce da forma como a narrativa funciona como um espelho para o persistente racismo da sociedade. Na construção da obra, Peele subverte as expectativas, claramente traçando um novo nicho do género pela utilização de partes iguais de horror, comédia e comentário social.

69. O Senhor Babadook (The Babadook, 2014)

Realização: Jennifer Kent

Elenco: Essie Davis, Noah Wiseman

O território onde os filmes de terror se justapõem ao realismo social continua a não ser devidamente explorado pela maior parte dos realizadores. O terror tem sido, tradicionalmente, um género virado para o entretenimento – ainda que retorcido – e lembranças das tragédias do mundo real tendem a ter pouca graça. É por isso que devemos aplaudir o primeiro filme de Jennifer Kent, por nunca encarar de frente o tormento da sua personagem principal: porque sim, Amelia está a ser perseguida por algo sobrenatural. Mas nunca sabemos ao certo se isso tornou a vida da protagonista consideravelmente pior, por isso compreende-se que tenha sido um dos mais bem recebidos filmes de terror desta década.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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68. A Noite do Demónio (Night of the Demon, 1957)

Realização: Jacques Tourneur

Elenco: Dana Andrews, Peggy Cummins, Niall MacGinnis

Jacques Tourneur nunca quis mostrar o monstro que aterroriza A Noite do Demónio. Mas o produtor Hal E. Chester muito insistiu e a besta flamejante lá faz duas aparições nesta fábula onde um psicólogo norte-americano, o doutor Holden, um céptico do paranormal conhecido em todo o planeta, está em Londres para desmascarar um culto demoníaco, julgando que o seu líder, o doutor Julian Karswell, é um inofensivo aldrabão. Tourneur tinha razão quanto ao monstro, mas o realizador francês que tanto trabalhou nos Estados Unidos, sabia do ofício e criou um manual de como assustar uma audiência apenas colocando uma mão sobre um corrimão.

67. A Bruxa (The Witch, 2015)

Realização: Robert Eggers

Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Harvey Scrimshaw

O realizador de O Farol, Robert Eggers, fez uma das estreias cinematográficas mais explosivas de todos os tempos com este thriller artístico que arde em lume brando, mergulhado num vórtice de fervor religioso, arrogância colonial e magia negra. Banhado pela luz iridescente das lamparinas de óleo e frequentemente evocando a aparência de gravuras centenárias, A Bruxa é uma obra-prima de técnica, desde o diálogo fiel ao período até aos cenários rústicos. É uma experiência aterradora, com interpretações de destaque de Anya Taylor-Joy e do jovem Harvey Scrimshaw, que ancoram uma história de colonos exilados dominados pela paranóia. À medida que o filme se desenrola para um final insano, uma voz sinistra pergunta: “Queres viver deliciosamente?” Dado o terror que se desenrola até esse ponto, é uma proposta tão tentadora quanto perturbadora.

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Andy Kryza
Contributor
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66. Haute Tension – Alta Tensão (Haute Tension, 2003)

Realização: Alexandre Aja

Elenco: Cécile De France, Maïwenn Le Bosco, Philippe Nahon

O estilo retro deste filme-choque francês mostra um prodigioso conhecimento do cinema de terror da velha escola, do slasher ao giallo, misturado com uma sensibilidade cinematograficamente moderna, que acrescenta horror neste filme em que as personagens de Cécile De France e Maïwenn Le Bosco se entretêm a aterrorizar estudantes em férias. Desde o princípio que se percebe que as coisas não vão acabar bem: basta ver a personagem interpretada por Philippe Nahon fazendo um felácio a si próprio com a cabeça decepada de uma mulher. Esta imaginativa nojice, mais os não menos arrepiantes assassínios e cenas de perseguição são o suficiente para dar cabo dos nervos aos mais experientes, mas o realizador acrescentou um desenho de som a dar para o psicótico e, assim, ainda mais amplia a tensão, levando a coisa até quase ao insustentável. O problema é que, depois, o provocativo e mal engendrado argumento atira o filme por terra, ajudado, aliás, pela tendência de Aja para o chauvinismo da velha guarda que não consegue esconder.

65. Kairo (2001)

Realização: Kiyoshi Kurosawa

Elenco: Kumiko Aso, Haruhiko Katô, Koyuki

Neste conto filosófico, Kurosawa usa o ambiente familiar da distopia própria da ficção científica misturado com o terror sobrenatural para explorar um mundo onde a comunicação na internet levou à erosão da coesão social, substituindo as relações e a comunicação entre humanos por uma solidão alienada. Neste universo, fantasmas sugadores de almas invadem a rede e espalham-se como vírus. Seduzidos pela estranha mensagem “Queres conhecer o fantasma?”, utilizadores obsessivos da internet abandonam família e amigos e colegas, afastando-se do mundo, tornando-se letárgicos, deprimidos e, finalmente, suicidas, fazendo de Tóquio um lugar de decadência espiritual – de que a sequela assinada por Jim Sonzero, em 2006, com produção de Wes Craven, apenas mantém a atmosfera mórbida e o final apocalíptico.

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64. As Sete Portas do Inferno (L'aldilà, 1981)

Realização: Lucio Fulci

Elenco: Katherine MacColl, David Warbeck

Fora o cinema de autor, o terror é o único género onde surrealismo em estado puro não é apenas aceitável como até desejável, e existem bastante mais exemplos disponíveis do que este amalucado banho de sangue criado por Lucio Fulci. O enredo é bastante vulgar e, nele, uma mulher, ainda jovem, herda um hotel que tem o pequeno problema de ter sido construído sobre uma passagem para o inferno. Isto, porém, é apenas uma moldura desengonçada que o realizador depressa desfaz, no processo horrorizando a audiência com um desfile de rostos a derreterem-se sem explicação, tarântulas arrancando línguas humanas, mortos-vivos a levantarem-se das campas, ou olhos a serem repetidamente arrancados das respectivas órbitas. O resultado é uma variedade de pesadelo difícil de encontrar em qualquer outro filme desta lista, uma verdadeira descida às profundezas do imprevisto e do aterrorizadoramente belo terror.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

63. O Segredo do Lago Mungo (Lake Mungo, 2008)

Realização: Joel Anderson

Elenco: Rosie Traynor, David Pledger

Este filme é uma surpreendente presença na lista, mas sem dúvida que se reconhece a esta produção australiana de muito baixo orçamento a razão porque levantou tantas ondas quando apresentada na programação de cinema do festival SXSW. Embora mais ou menos imediatamente desaparecida dos radares, isto é, das salas, o seu efeito foi suficiente para aqui chegar, com certeza resultado de um culto subterrâneo mas activo de seguidores. Realizado como um falso documentário, o filme conta a história de estranhos e provavelmente sobrenaturais acontecimentos ocorridos na muito remota cidade australiana de Ararat em consequência da trágica seca do reservatório de água que servia a cidade. Nada por aqui é esteticamente inovador ou surpreendente, mas a fotografia é maravilhosa, as interpretações sólidas e os momentos de inquietude são manipulados com arrepiante destreza.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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62. A Sombra do Caçador (The Night of the Hunter, 1955)

Realização: Charles Laughton

Elenco: Robert Mitchum, Shelley Winters, Lillian Gish 

O único e excelente filme realizado pelo actor Charles Laughton pode ser aterrorizador, mas é realmente um filme de terror? A incerteza da resposta é com certeza uma explicação para estar tão mal colocado nesta lista, mas não há dúvida de que estamos perante cinema em estado puro. Seja como for, existem fortes laços com o género nesta obra em que Robert Mitchum interpreta Harry Powell, um padre assassino cuja busca pelo pecado o leva a perseguir e caçar um par de órfãos desvalidos. Porém, mais de meio século depois da estreia, a obra de Laughton continua a resistir às tentativas de a enquadrar num género ou categoria, pois se é um filme de terror é igualmente uma história de aventuras, um policial, um drama sobre rituais de passagem e um conto de fadas. Certo, apenas, é ser uma obra-prima do cinema.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

61. As Diabólicas (Les Diaboliques, 1955)

Realização: Henri-Georges Clouzot

Elenco: Véra Clouzot, Simone Signoret

Há muito divertimento neste intrincado filme liceal dirigido pelo cineasta francês Henri-Georges Clouzot, armadilhado por um cómico sentido de provocação com o bónus de uns bons sustos. Em primeiro lugar por conta das personagens grotescas, cada qual horrorosa à sua maneira, desde o nervoso reitor até à sua enervante esposa, passando pela sua agressiva amante, assegurando que não foi por acaso que Clouzot foi crismado como o “Hitchcock francês”. É uma comparação compreensível, pois, como o realizador inglês, também Clouzot soube distribuir na justa medida a sua porção de divertimento com bom número de sustos entre o público.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer

60. [Rec] (2007)

Realização: Jaume Balagueró e Paco Plaza

Elenco: Manuela Velasco, Ferrán Terraza, David Vert

Um raro filme de "found footage" que realmente faz sentido, a produção espanhola [Rec] possui uma estranha presciência na sua história sobre um grupo de bombeiros e uma equipa de jornalismo presos num prédio de apartamentos em quarentena. O medo é palpável desde o início, mas uma vez que os inquilinos misteriosamente infectados começam a mostrar os dentes, o filme agarra os espectadores pela garganta de uma forma que poucos filmes modernos de zombies conseguem. Seguindo a linha de George A. Romero, [Rec] extrai uma tensão interminável do seu único cenário, aumentando o medo (e os assassinatos grotescos) com um toque de terror religioso numa corrida frenética até um final de cortar a respiração.

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Andy Kryza
Contributor

59. Vampiro (Vampyr, 1932)

Realização: Carl Theodor Dreyer

Elenco: Julian West, Jan Hieronimko, Sybille Schmitz

Costuma-se dizer que a primeira dentada é a mais profunda. Pois, em 1932, sem ser o primeiro filme sobre vampiros, Vampiro deixou uma cicatriz que ainda hoje se nota. E, no entanto, após a estreia, o crítico do The New York Times que escreveu sobre a obra não ficou nada impressionado. “Vampiro foi um dos piores filmes que vi”, escreveu. Apesar disso, acrescentou que a realização de Carl T. Dreyer é garantidamente “diferente”. E, de facto, é um filme diferente como mais nenhum outro até então. Dreyer monta o seu pesadelo cinematográfico a partir de dois contos de Sheridan Le Fanu. O protagonista é interpretado por Nicolas de Gunzburg (um aristocrata russo que financiou a rodagem, no genérico referido com o nome Julian West), um jovem obcecado com o oculto que visita uma aldeia francesa atormentada por um vampiro. No interim, o senhor da mansão e manda-chuva do sítio morre e a filha fica gravemente doente, apresentando misteriosos sinais de dentadas no pescoço. A vontade de Dreyer, disse o realizador dinamarquês, era “criar um sonho acordado no ecrã e mostrar que o horrível não se encontra entre nós, mas sim no nosso inconsciente”.

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58. Kwaidan (1964)

Realização: Masaki Kobayashi

Elenco: Tatsuya Nakadai, Rentarô Mikuni, Michiyo Aratama 

A partir de contos tradicionais japoneses e filmado sobre espantosos cenários pintados à mão, estas quatro histórias, com a mulher de cabelo negro como um corvo, belos espectros femininos, monges cegos cantores e fantasmas de guerreiros samurais, criam o enquadramento para grande parte do cinema sobre o sobrenatural que se seguiria. A estilização da cor por Kobayashi, por seu lado, é mais simbólica do que naturalista e alinhada com a banda sonora vanguardista de Toru Takemitsu, que também inclui gravações de sons naturais e cria uma atmosfera sombria e uma boa porção de arrepios.

57. O Homem Que Queria Saber (Spoorloos, 1988)

Realização: George Sluizer

Elenco: Bernard-Pierre Donnadieu, Gene Bervoets 

A premissa é simples: a namorada de um homem desaparece de uma área de descanso sem deixar rasto e o mistério sobre o que lhe aconteceu consome-o até ao ponto de quase loucura. Mas o que torna o thriller psicológico do realizador holandês George Sluizer tão assustadoramente eficaz é a forma como nos empurra até à beira da insanidade, tornando fácil para nós imaginarmos a nossa própria presença na mesma situação. Isso leva a um acordo perigoso e a um dos finais mais inabaláveis e "não-te-atrevas-a-revelá-lo" da história do cinema. A razão pela qual Sluizer decidiu refazer o filme nos Estados Unidos e mudar o seu próprio final brilhante é outro acto de loucura por si só.

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Matthew Singer
Film writer and editor
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56. O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

Realização: M. Night Shyamalan

Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Colette 

É um dos filmes mais parodiados de sempre e, depois dele, a carreira do realizador M. Night Shyalaman nunca mais foi a mesma. Porém, O Sexto Sentido deu preciosa contribuição de sustos e arrepios a um vasto público que tornou a obra um êxito mundial. Sem revelar a reviravolta final, basta dizer que força do enredo deriva de ser, realmente, um lúcido, embora estranho, estudo sobre a perda, a dor e a queda. Protagonizado pelo muito jovem Haley Joel Osment, no papel de um rapaz que vê e fala com mortos (a frase "Eu vejo pessoas mortas" tornou-se um clássico), enquanto Willis interpreta o psicólogo que tenta diagnosticar a sua situação, a eficácia narrativa da película vem da maneira como o realizador manobra de maneira a não revelar a verdade até mesmo ao final e, principalmente, por a tornar crível e não enfiada ali a martelo.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer

55. O Lamento (Gokseong, 2016)

Realização: Na Hong-jin

Elenco: Jun Kunimura, Hwang Jung-min, Kwak Do-won

Polícias desajeitados e burocracia opressiva são elementos recorrentes no cinema sul-coreano, mas poucos filmes contrastam o conflito entre a aplicação moderna da lei e o mal ancestral com a destreza de O Lamento. Na Hong-jin já tinha demonstrado a sua mestria em subverter expectativas com o thriller O Caçador, mas nada do que ele conseguiu nesse tesouro pouco visto se compara ao equilíbrio que atinge aqui. Parte horror folclórico, parte thriller de possessão demoníaca e parte comédia policial sombria, O Lamento desdobra-se lentamente ao longo de 156 minutos meticulosos e carregados de detalhes que arrepiam. Quanto menos souber, melhor: este é um filme que embala com a sua beleza e, de repente, queima as retinas com um desdém ousado.

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54. Repulsa (Repulsion, 1965)

Realização: Roman Polanski

Elenco: Catherine Deneuve

Polanski disse numa entrevista que Repulsa é um dos filmes que dirigiu por "azar do destino". Neste caso, devido a estar falido, em Londres, e ter surgido a oportunidade de realizar um filme de terror. Pode ter sido o acaso e a necessidade, mas o certo é a película ser um verdadeiro ensaio sobre o colapso mental. Catherine Deneuve tem o papel de uma mulher belga, jovem e reprimida, Carole, que vive em Londres com a irmã exercendo a profissão de manicura. "Dê-me com o fogo e o gelo da Revlon", diz-lhe uma das suas peculiares clientes às tantas. E fogo e gelo pode muito bem ser a descrição da presença da actriz no ecrã, com o seu distanciamento frio e secretivo. Tudo isto se passa enquanto, à volta da protagonista, Londres vive tempos de agitação boémia e, no seu apartamento, começam a surgir misteriosas rachas nas paredes que levam Carole a uma deriva psicológica e finalmente à psicose propriamente dita, com a realização manipulando habilmente os diversos estados de consciência e o que permanece recolhido no subconsciente.

53. No Céu Tudo É Perfeito (Eraserhead, 1977)

Realização: David Lynch

Elenco: Jack Nance, Charlotte Stewart 

Vários filmes nesta lista enfrentam o medo da paternidade, geralmente manifestado no nascimento da prole de Satanás. Claro, David Lynch a ser David Lynch, e a expressar a sua ansiedade em relação a tornar-se pai de uma forma um pouco diferente: com um sonho de stress alucinatório envolvendo um bebé lagarto que grita. Filmado a preto e branco nebuloso, o filme de estreia do realizador segue a lógica de pesadelo que se tornaria a sua assinatura, mas não é necessário ser Sigmund Freud para decifrar o seu significado. De muitas maneiras, continua a ser o filme mais pessoal de Lynch – e embora ele tenha continuado a trabalhar nas margens do horror, a crueza das imagens torna-o provavelmente o seu filme mais aterrador.

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Matthew Singer
Film writer and editor
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52. O Mistério da Casa Assombrada (Profondo Rosso, 1975)

Realizador: Dario Argento

Elenco: David Hemmings, Daria Nicolodi

Os fãs de Argento dividem-se geralmente em dois campos: os que preferem os relativamente simples gialli dos primeiros tempos e aqueles que tendem para a beleza surrealista dos filmes-sonho pós-SuspiriaO Mistério da Casa Assombrada é a película que une as duas facções, combinando uma narrativa intrigante com cenas de mortandade mais elaboradas e expressionistas do que qualquer outro realizador antes tentara, graças em grande parte às interpretações de Hemmings e Nicolodi, no papel de investigadores amadores na pista de um assassino em série.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

51. Os Diabos (The Devils, 1971)

Realização: Ken Russell

Elenco: Oliver Reed, Vanessa Redgrave

Em mãos menos firmes, a selvagem teatralidade e a estilização camp desta história de perseguição religiosa e possessão demoníaca no século XVII francês faria de Os Diabos uma histérica orgia carnal e visual. Porém, o que é brilhante no filme é Russell construir um verdadeiro sentido do medo e de claustrofobia em paralelo com um ambiente exuberantemente lunático. Em grande parte isto acontece por conta da contida interpretação de Oliver Reed – pelo menos em comparação com a loucura que o rodeia. Quando a sua personagem, o padre Grandier, é finalmente torturada, o espectador sente verdadeira repulsa pelo governo corrupto que manda naquelas terras e pelo fervor religioso que incentiva. Dito isto, a película é verdadeiramente engraçada, desde o esmagador cenário criado por Derek Jarman, até à vulnerável interpretação de Vanessa Redgrave como freira possuída.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer
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50. A Descida (The Descent, 2005)

Realização: Neil Marshall

Elenco: Shauna Macdonald, MyAnna Buring, Natalie Mendoza

Se fosse apenas sobre um grupo de mulheres perdidas num sistema de cavernas subterrâneas, em busca de adrenalina, o thriller de sobrevivência intensamente desconfortável de Neil Marshall já teria lugar nesta lista, pela pura claustrofobia que evoca. Adicionar uma raça de roedores-humanóides carnívoros à mistura quase parece injusto, tanto para as protagonistas quanto para os sistemas nervosos de todos os que assistem. O filme de Marshall chegou alguns anos antes do chamado "renascimento do terror", mas merece ser mencionado ao lado de Um Lugar Silencioso e A Evocação por lembrar ao público como um filme de género bem executado pode ser divertido, mesmo quando é tão sufocantemente stressante. Lembre-se só de respirar – é impressionante como é fácil esquecer.

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Matthew Singer
Film writer and editor

49. A Vítima do Medo (Peeping Tom, 1960)

Realização: Michael Powell

Elenco: Karlheinz Böhm, Moira Shearer, Anna Massey

Produzido no mesmo ano que Psico, de Alfred Hitchcock, este foi o filme que levou a carreira de Michael Powell a um final prematuro, tão perturbados ficaram os seus contemporâneos com a história do jovem fotógrafo e cineasta que esconde uma arma na câmara para mais facilmente matar as mulheres que caem no seu ardil. Em retrospectiva, Mark Lewis (Karlheinz Böhm) permanece como um dos mais assustadores criminosos nascidos para o ecrã e as suas mortes filmadas são intrinsecamente cruéis, em particular a da personagem interpretada por Moira Shearer num estúdio de cinema vazio. Mas decerto foram os elementos mais modernos da película – a sugestão de que a câmara em si é invasiva e predatória, ou a ideia instilada de que o protagonista está a representar um trauma vindo de infância – que mais espectadores afugentaram das salas e que fizeram os críticos do realizador resmungarem por mor da sua representação de prostitutas seminuas.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer
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48. Ring – A Maldição (Ringu, 1998)

Realização: Hideo Nakata

Elenco: Nanako Matsushima, Miki Nakatani

É com certeza uma das mais assustadoras cenas da história do cinema: um homem vê um vídeo no qual uma figura fantasmagórica, vestida de branco com uma longa cabeleira negra caída sobre o rosto, rasteja de maneira nada humana de um poço e depois continua, atravessando o televisor, até ao mundo real… Não é só por isto, mas Ring – A Maldição é uma obra-prima de medo e terror atmosférico, em que um jornalista investiga um boato que se espalha como fogo entre os adolescentes sobre uma amaldiçoada cassete VHS. Todos os que vêem o vídeo, diz a história, morrem sete dias depois. A muita profunda escuridão simbólica e visual que Hideo Nakata despeja sobre o seu filme é decerto uma das principais razões para a película ser a mais rentável na história do cinema de terror do Japão.

47. A Terra em Perigo (Invasion of the Body Snatchers, 1956)

Realização: Don Siegel

Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter 

É gratificante ver ambos os filmes de Body Snatchers nesta lista: o original de 1956 de Don Siegel pode ser mais directo e impactante, mas o remake dos anos 70 de Philip Kaufman é mais engraçado e autoconsciente. Enquanto o filme original era (dependendo de quem acreditamos) uma análise da conformidade mccarthista ou do comunismo crescente, o remake leva as coisas para um território mais estranho e oblíquo, satirizando as consequências do idealismo dos anos 60 com os seus freaks naturais que adoram lentilhas e brotos de feijão, e os seus convertidos à psicoterapia que entram na onda. Além disso, é um filme de terror absolutamente fantástico: a cena em que Sutherland destrói um ser de cápsula em gestação com um ancinho é horrível como o inferno, mas é aquele famoso e devastador plano final que realmente nos gela o sangue.

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Phil de Semlyen
Global film editor
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46. A Dança da Morte (Dead of Night, 1945)

Realização: Alberto Cavalcanti, Charles Crichton, Basil Dearden, Robert Hamer

Elenco: Michael Redgrave, Googie Withers, Ralph Michael

É de Michael Redgrave, no papel de ventríloquo possuído pelo seu próprio boneco, de quem toda a gente se lembra nesta antologia de horrores produzida pela Ealing Studios e organizada com uma série de histórias contadas por convidados de um chá numa remota casa de férias. A qualidade das histórias varia, neste filme que é a primeira produção de terror após a II Guerra Mundial, período durante a qual o género andou desaparecido em Inglaterra. Mas o talento envolvido, isto é, a nata daquela importante produtora, continua a impressionar. Além do episódio do ventríloquo, um dos mais fortes segmentos é It Always Rains on Sunday, realizado por Robert Hamer, em que um espelho reflecte outro tempo e outro lugar. Nesta história, um marido (Ralph Michael) possuído é arrastado para o espelho, que o leva a tentar matar a mulher (Googie Withers).

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer

45. Os Outros (The Others, 2001)

Realização: Alejandro Amenábar

Elenco: Nicole Kidman, Christopher Eccleston

Nicole Kidman encarna o papel de mãe de duas crianças, ambas portadoras de doença foto-sensitiva que as obriga a permanecerem em casa nesta história de fantasmas para adultos situada na ilha de Jersey em 1945. Com ecos de Os Inocentes, dirigido por Jack Clayton, em 1961, por sua vez baseado no romance A Volta no Parafuso, de Henry James, muito à vista, o argumentista hispano-chileno Alejandro Amenábar perturba o equilíbrio desta família peculiar introduzindo um trio de novos criados, com os quais chegam também uma série de pequenos e eventualmente sobrenaturais fenómenos. O medo, aqui, é mais sugerido do que físico, com as suas portas que fecham sozinhas ou o piano de desata a tocar por sua aparente iniciativa, o que faz desta uma película psicologicamente madura e inteligente assente na experiência recolhida nos clássicos da velha guarda.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer
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44. O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1990)

Realização: Jonathan Demme

Elenco: Jodie Foster, Anthony Hopkins

Ah, sim, o famoso biopic do saudoso e lendário cavalheiro canibal, Hannibal Lecter. Não, ele na verdade não existiu, mas quase se pode perdoar alguns políticos iludidos por acharem que sim. Anthony Hopkins é assustadoramente convincente no papel, interpretando-o não como um bruto ou um monstro, como era comum entre os serial killers no cinema até então, mas como um homem de boas maneiras, tão inteligente quanto insensível. Mas ele não é a única razão para o sucesso do filme de Jonathan Demme, vencedor do Óscar: Jodie Foster é igualmente hipnotizante como a agente do FBI que encara o diabo nos olhos, tentando não vacilar. E Hannibal nem é o maior doente da história. Mas a sua presença domina o filme inteiro, mesmo estando preso durante a maior parte da trama – e, de facto, essa presença ainda é sentida hoje, em filmes como O Colecionador de Almas ou em candidatos presidenciais que invocam o seu nome, na esperança de assustar eleitores à submissão.

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Matthew Singer
Film writer and editor

43. O Inquilino (The Tenant, 1976)

Realização: Roman Polanski

Elenco: Roman Polanski, Isabelle Adjani

Qual é a atracção de Roman Polanski por espaços fechados? Em Repulsa, A Semente do Diabo e finalmente nesta película situada em Paris, o realizador polaco mostra-se um mestre na arte de transformar um humilde apartamento em aterrorizador território doméstico. Aqui, o cineasta interpreta o homem que se movimenta no interior de um apartamento vazio, anteriormente ocupado por uma mulher (Isabelle Adjani) que tentara suicidar-se, para dar por ele no centro de uma tempestade paranóica na qual os outros inquilinos do prédio passam o tempo a acusá-lo, colocando-se abertamente contra ele. Isto, naturalmente, não lhe faz bem nenhum à saúde, tornando o seu estado mental ainda pior e deixando-o cada vez mais confundido com o que é real e o que não é. Apesar de passado no presente, é difícil não encontrar nesta obra sinais dos horrores por que passou Polanski durante a infância no gueto de Varsóvia.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer
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42. A Hora do Lobo (Vargtimmen, 1967)

Realização: Ingmar Bergman

Elenco: Max von Sydow, Liv Ullmann

É difícil ver o actor sueco Max von Sydow como um artista torturado, neste retrato de Ingmar Bergman de um homem em profunda crise existencial, sem pensar no papel do pintor atormentado que desempenhou em Hannah e as Suas Irmãs, realizado por Woody Allen quase duas décadas depois. Mas há as suas diferenças. Neste filme do cineasta sueco, os demónios com que lida a personagem e, digamos, o temperamento da obra é dado em grande parte pela narrativa da mulher (Liv Ullmann), recordando esse terrível período da vida do marido e as suas implicações na sua própria vida. Congeminado ao mesmo tempo que A Máscara, aqui Bergman cria em toda a sua desesperante beleza o esgotamento de um artista e o arrastamento de um casamento, tudo apresentado como um pesadelo gótico, com personagens andando no tecto, homens surgindo como pássaros numa alucinação, e o violento regresso ao passado em que a personagem de von Sydow recorda como atacou um miúdo com uma pedra. Apesar deste terror artisticamente apresentado, realmente assustador é saber como o argumento emergiu dos demónios pessoais do realizador durante uma depressão em meados da década de 1960.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

41. Nas Costas do Diabo (El Espinazo Del Diablo, 2001)

Realização: Guillermo del Toro

Elenco: Marisa Paredes, Eduardo Noriega

Uma obra complementar e mais contida a O Labirinto do Fauno, Nas Costas do Diabo de Guillermo del Toro também acompanha crianças na névoa da Guerra Civil Espanhola. Desenvolvendo-se como um mistério gótico com tons de O Deus das Moscas, o filme está repleto de imagens hipnotizantes e ameaçadoras: uma bomba não detonada a ranger num pátio escolar, um rapaz fantasmagórico cuja cabeça rachada liberta sangue que se eleva no ar. Tal como no inquietante O Orfanato, produzido por del Toro, rapidamente descobrimos que os fantasmas são o menor dos horrores à espreita nas caves húmidas e corredores em ruínas. É um filme que fica connosco e que nos faz desejar que o agora aclamado cineasta regressasse às suas raízes, como mestre de terrores intimistas, carregados de peso emocional.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

40. Possessão (Possession, 1981)

Realização: Andrzej Zulawski

Elenco: Isabelle Adjani, Sam Neill, Heinz Bennent

Uma representação dos estragos psicológicos desorientadores que o divórcio pode causar – com uma pitada de terror corporal à la Cronenberg –, o filme perturbadoramente intenso de Andrzej Zulawski parece ser o que realmente está a sofrer de algum tipo de possessão demoníaca. O realizador polaco mantém a câmara a rodopiar em torno de Mark (Neill) e Anna (Adjani), o casal que ocupa o centro do filme, transmitindo a sua loucura partilhada ao capturá-los em planos cada vez mais apertados. Adjani, em particular, é perturbadora como uma mulher à beira do colapso, a gritar e chorar como Shelley Duvall em Shining, canalizando Diamanda Galás. Numa cena notável numa estação de metro, Adjani entrega-se a um ballet convulsivo antes de desabar no chão, coberta de sangue e outros fluidos. Como o próprio filme, é corajosamente desequilibrado.

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Matthew Singer
Film writer and editor

39. BZ – Viagem Alucinante (Jacob's Ladder, 1990)

Realização: Adrian Lyne

Elenco: Tim Robbins, Elizabeth Pena, Danny Aiello

Adrian Lyne não é realizador que geralmente se associe ao cinema de terror ou ao psicadelismo, o que torna a sua presença neste rol uma surpresa, provavelmente até para ele. Mas BZ – Viagem Alucinante é o que é: uma daquelas películas sobre o regresso do soldado traumatizado do Vietname (subgénero que depois de uns anos em desuso, voltou com outras guerras e mais traumas), na qual Tim Robbins faz o papel de Jacob, um veterano de guerra com o cérebro como que a fragmentar-se assim que o conflito termina. Está Jacob a ficar maluco, ou existem outras forças a manobrar no escuro? Como uma belíssima fotografia, o filme parece um pedaço de experimentalismo pós-hippie concebido para a geração que então tinha a MTV como referência. O que lhe falta em profundidade e subtileza é compensado com a sua surpreendente imprevisibilidade, tudo equilibrado pela desembestada prestação de Robbins.

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38. Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust, 1980)

Realizador: Ruggero Deodato

Elenco: Francesca Ciardi, Perry Pirkanen

O Projecto Blair Witch ainda nem sequer era uma ideia e já Ruggero Deodato explorava o filão do bocado de película (cassete, cartão de memória) perdida e encontrada por acaso revelando a verdade por detrás de acontecimentos horríveis. E não o faz com paninhos quentes. Aliás, é a intensidade visceral deste falso documentário sobre uns exploradores testemunhando as barbaridades praticadas por uma tribo da Amazónia, a sua crueza, que não poupa o espectador a ver um feto arrancado do ventre da mãe, nem aligeira as violações nem os assassínios que mantêm o filme em circulação e fazem dele o modelo do falso documentário de terror.

37. Olhos Sem Rosto (Les Yeux Sans Visage, 1959)

Realização: Georges Franju

Elenco: Edith Scob, Pierre Brasseur, Alida Valli, Juliette Mayniel

A Pele Onde Eu Vivo, de Pedro Almodóvar, é parcialmente inspirado neste filme clínico e monocromático sobre um professor de cirurgia plástica particularmente obsessivo realizado por Georges Franju. Com o auxílio da sua amante/ assistente pessoal, Louise (Valli), o professor Génessier (Brasseur) rapta e esfola a pele dos rostos das raparigas que apanha. O objectivo de tal prática é aplicar a pele recolhida na face desfigurada da filha, menina que vive protegida por uma máscara de plástico. Na verdade prisioneira do pai, que se sente responsável pelo acidente de automóvel que a deixou naquele estado, a infantilizada Christiane é como uma cria de pássaro a tentar aprender a voar. Conta-se que alguns espectadores se foram abaixo durante as cenas de cirurgia facial, mas para o realizador a obra é mais sobre a angústia do que sobre a vontade de aterrorizar o público.

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36. Frankenstein, o Homem que Criou o Monstro (Frankenstein, 1931)

Realização: James Whale

Elenco: Colin Clive, Boris Karloff, Mae Clarke

A porta abre-se e dela assoma o monstro dando os seus primeiros e inseguros passos. Ele vive! Mas quando vira o rosto para a câmara nota-se uma sombria mortandade no seu olhar. A maneira como imaginamos o monstro criado por Frankenstein foi aqui definida pelo trabalho do maquilhador Jack Pierce, da sua imaginação saindo aqueles parafusos no pescoço, a cabeça achatada, os olhos profundos. Embora o público esperasse ver Bela Lugosi no papel de Monstro, o actor foi rejeitado pelos produtores. O que foi uma oportunidade preciosa para o ainda pouco conhecido Boris Karloff, que deu tão boa conta do recado que não mais abandonou o género e se tornou num dos seus ícones.

35. O Sacrifício (The Wicker Man, 1973)

Realização: Robin Hardy

Elenco: Edward Woodward, Christopher Lee, Britt Ekland 

Com 50 anos e ainda assustadoramente essencial, o marco do terror folclórico de Robin Hardy é uma oferenda aos deuses do cinema que precisou de alguns sacrifícios próprios apenas para ser realizado na costa oeste "tropical" da Escócia, em 1972. Mas, se o caminho até ao ecrã foi quase tão acidentado quanto a jornada do polícia presbiteriano de Edward Woodward pela comunidade pagã de Summerisle – as suas quatro versões são um testemunho de uma pós-produção turbulenta –, o esforço e a dor não se reflectem no desenrolar inquietante do seu terror iminente. Christopher Lee considerava a sua interpretação como o sofisticado e ameaçador Lord Summerisle, um líder de culto que hoje teria provavelmente dez milhões de seguidores no YouTube, uma das melhores da sua carreira, enquanto Woodward encarna um homem de fé rígido e atormentado, cuja obstinação o deixa cego, encurralado e condenado. O final, claro, dispensa apresentações – embora a recuperação seja outra história.

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Phil de Semlyen
Global film editor
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34. O Circo das Almas (Carnival of Souls, 1962)

Realização: Herk Harvey

Elenco: Candace Hilligoss, Frances Feist, Sidney Berger

O trabalho de Herk Harvey não é decerto o mais assustador filme alguma vez realizado, mas é um dos mais estranhos. Um insidioso circo de horrores barato que parece projectado directamente dos nossos pesadelos, o enredo traçando o esqueleto da história de uma mulher que perde uma corrida conduzindo para fora de uma ponte e caindo com estrépito no rio. Ela sobrevive, mas sem qualquer memória do que aconteceu. É aí que as coisas se tornam verdadeiramente esquisitas, com o realizador criando um purgatório sem saída onde cada tentativa de escapar leva ainda mais longe na escuridão. Há quem diga que, no processo, Harvey abriu caminho para obras como Eraserhead – No Céu Tudo É Perfeito, de David Lynch, e outros filmes de terror experimentais com orçamentos minúsculos.

33. A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein, 1935)

Realização: James Whale

Elenco: Boris Karloff, Colin Clive, Elsa Lanchester, Ernest Thesiger

É A Noiva de Frankenstein o melhor filme inspirado na arrepiante obra oitocentista de Mary Shelley? O painel de peritos reunido pela Time Out diz que sim. O realizador, James Whale, tentou baldar-se a dirigir uma continuação do seu filme de 1931, Frankenstein, mas perante as pressões do estúdio, cedeu. E desta cedência nasceu uma obra recheada de humor camp, e o regresso de Karloff ao papel de Monstro é quase comovente. Diz o entrecho que o doutor Frankenstein abandonou o seu papel de fazer de Deus e manipular cadáveres, mas o seu desonesto mentor, Praetorious, chantageia o cientista e obriga-o a criar uma parceira para o monstro. Mais uma vez, o lendário maquilhador Jack Pierce faz maravilhas com a caracterização da Noiva, o que, aliado à representação de Elsa Lanchester, torna este filme memorável.

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32. Hereditário (Hereditary, 2018)

Realização: Ari Aster

Elenco: Toni Collette, Gabriel Byrne

Tal como em Babadook, é a desestruturação da vida doméstica e o trauma familiar que assombram Hereditário, o filme de estreia do argumentista e realizador Ari Aster. Toni Collette interpreta Annie, uma artista que constrói dioramas inquietantemente realistas: quartos em miniatura que simbolizam o tema do filme, de uma entidade maligna a brincar com "bonecos" humanos. A sua família está à beira do colapso, com o filho adolescente Peter (Alex Wolff), um fumador compulsivo, e a perturbadora filha Charlie (interpretada com mestria por Milly Shapiro) a tornarem-se cada vez mais inquietos à medida que a história avança. Após um acidente devastador e difícil de digerir, o filme dá uma nova reviravolta, obrigando o espectador a um salto de fé à medida que o luto de uma mãe se funde com o sobrenatural. Felizmente, Aster conduz tudo isso com o seu dom para um posicionamento de câmara preciso e uma paciência generosa; não é apenas um invocador do frio "kubrickiano", mas traz também uma empatia genuína.

31. A Pantera (Cat People, 1942)

Realização: Jacques Tourneur

Elenco: Simone Simon, Kent Smith

A ideia do terror como um acto de subversão política e cultural decerto ganhou força na década de 1970, mas já andava por aí há muito tempo. O que é Frankenstein, na versão original de Mary Shelley, senão uma sátira ao sistema de classes inglês? A mensagem de Jacques Tourneur no estranho e belo A Pantera pode ser mais subtil, mas é igualmente persuasiva: este filme é um estudo do poder intrínseco da sexualidade feminina e de como esse poder pode levar por inesperados e perigosos caminhos. Aqui, Simone Simon interpreta Irena, uma imigrante sérvia com uma infância reprimida – envolvendo, subentende-se, abusos sexuais –, o que a leva a transformar-se numa perigosamente mortal pantera em momentos de excitação sexual. A força da película vem da maneira como o realizador subtilmente explora estes temas sem nunca cruzar a linha invisível do bom gosto nem perder de vista a tragédia emocional que está na origem da história.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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30. Experiência Alucinante (Videodrome, 1982)

Realização: David Cronenberg

Elenco: James Woods, Sonja Smits, Debbie Harry

O mais presciente filme de David Cronenberg explora – através do olhar e da mente alterada pelo excessivo consumo dos media do programador de uma estação de televisão por cabo rasca Max Renn (James Woods)– um mundo perigoso, imaginado por censores, no qual a exposição a imagens de violência extrema retira ao espectador a capacidade de distinguir entre a realidade plastificada e a fantasia perversa. Enquanto a violenta imagética do canal nocturno Videodrome distorce a percepção de Max da realidade, somos forçados pela realização a partilhar o seu subjectivo ponto de vista. Assim, não podemos saber até que ponto a sua relação sadomasoquista com Nicki Brand (interpretada pela cantora dos Blondie, Debbie Harry) é mais real do que o orifício em forma de vagina que se abre no estômago dela. Para mais porque quando Max enfia uma cassete vídeo nesta abertura, carne e tecnologia tornam-se unas. "É preciso aprender a viver com uma estranha e nova realidade", proclama o auto-nomeado evangelista dos media Brian O’Blivion. Pois…

29. O Desvendar de um Mistério (The Changeling, 1980)

Realização: Peter Medak

Elenco: George C. Scott, Trish Van Devere, Melvyn Douglas

Antiquado, no melhor sentido da palavra, é como se pode definir o muito negligenciado policial sobrenatural em que o realizador Peter Medak usa cinematografia em estado puro para fazer um tipo… Enfim, borrar-se todo. No filme, o magistral George C. Scott interpreta um conhecido compositor que, depois da morte da mulher e do filho num acidente de viação, aceita um lugar de professor em Seattle e muda-se para uma arrepiante e assombrada casa vitoriana. Para se ter uma ideia, até cenas habitualmente xaroposas de vulgaridade, como a sessão espírita em que se tenta contactar o irrequieto espírito do rapaz morto, são montadas com grande habilidade e convicção emocional para parecerem pelo menos verossímeis.

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28. Os Pássaros (The Birds, 1963)

Realização: Alfred Hitchcock

Elenco: Tippi Hedren, Rod Taylor

A par de Psico, esta muito livre adaptação do romance de Daphne du Maurier, marca o domínio de Hitchcock no território do terror. Os Pássaros mostra como perniciosos bandos de aves perseguem a louraça interpretada por Tippi Hedren desde São Francisco até uma cidade costeira meio adormecida no seu rame-rame quotidiano. O realizador, mais de uma vez, praticou o susto por sugestão, mas quando os corvos pousam no cabo telefónico e o ruído se torna arrepiantemente intenso, antecipando o iminente ataque aéreo, atingiu um pico desta arte. Psicologicamente, Os Pássaros é talvez não o melhor filme de Hitchcock, mas certamente aquele em que o entrecho é mais poroso e mais interrogações provoca no espectador, principalmente quando se tenta compreender a relação entre o romance das personagens de Hedren e Rod Taylor, a claustrofóbica relação deste com a mãe (Jessica Tandy) e o perigoso e assustador ataque aviário.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer

27. A Noite dos Mortos-Vivos (The Evil Dead, 1981)

Realização: Sam Raimi

Elenco: Bruce Campbell, Ellen Sandweiss

O horror faça-você-mesmo de baixo orçamento já era uma força a considerar em 1981, como aliás demostraram os criadores de Massacre no Texas, uns anos antes, ao fazerem milhões de dólares na bilheteira, trabalhando com uma câmara velha, alguns amigos entusiastas e ferramentas de jardinagem. Mas o filme que levou este movimento para um nível superior foi sem dúvida este, que marca a estreia de Sam Raimi na realização de longas-metragens. Adaptando a sua curta Within the Woods, o amigo de infância Raimi, o produtor Robert Tapert e o actor Bruce Campbell conseguiram financiamento de comerciantes locais e enfiaram-se na floresta das redondezas criando o mais feroz, original e implacável filme de terror do seu tempo. É verdade, agora a coisa parece um bocadinho tosca, mas A Noite dos Mortos-Vivos permanece como inspiração para novos cineastas testarem o poder da plasticina, da cola e do descaramento.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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26. Projecto Blair Witch (The Blair Witch Project, 1999)

Realização: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez

Elenco: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard

Apesar de Holocausto Canibal, rodado quase duas décadas antes, antecipar com estrépito o falso documentário de terror, o filme de Myrick e Sánchez tornou estes realizadores numa espécie de modernos pais fundadores do subgénero. Filmado com 50 mil dólares em apenas oito dias, propositadamente editado em imagem fartamente granulada, como se de uma filmagem à mão de inexperientes estudantes universitários se tratasse, o filme mostra como Heather, Josh e Michael se entregaram à busca e à investigação da lenda da bruxa de Blair nos arrabaldes de Burkittsville, no estado de Maryland. Entrevistas com os habitantes, o trio perdido na floresta e os seus cada vez mais histéricos argumentos e justificações para o que lhes sucedia, mais as cenas nocturnas no interior da tenda foram a matéria-prima e a mais-valia deste filme que marca um importante momento para o cinema de terror.

25. Poltergeist, o Fenómeno (Poltergeist, 1982)

Realização: Tobe Hooper

Elenco: JoBeth Williams, Heather O’Rourke, Craig T. Nelson

Ainda existem casas assombradas nas feiras, ou tornaram-se obsoletas nesta era de porno-tortura e centopeias humanas? Seja como for, as casas assombradas do passado são um modelo perfeito de comparação com o que se passa em Poltergeist, o Fenómeno, um filme que deixa o espectador em modo pele de galinha durante um par de horas, embora em regime de estranha felicidade, principalmente por nada de especialmente mau acontecer ao longo da película, pelo menos quando se compara com – sabe-se lá? – Hostel. A grande questão que ainda rodeia o filme é, claro, quem realmente dirigiu a película: o realizador creditado, Tobe Hooper, ou Steven Spielberg, o produtor que mete o bedelho em todas as cenas? Não há dúvida que parece uma obra saída da mão de Spielberg, em que a típica família suburbana transfere a angústia de classe média para o sobrenatural, mas é verdade que a ferocidade habitual em Hopper também deixa a sua marca, pelo que o melhor é dizer que foi uma feliz colaboração.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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24. O Génio do Mal (The Omen, 1976)

Realização: Richard Donner

Elenco: Gregory Peck, Lee Remick

Um verdadeiro sucesso de bilheteira na estreia, a contribuição de Richard Donner para a onda de pânico satânico dos anos 70 e 80 levou muitas mães a examinarem o cabelo dos filhos em busca da marca da besta e tornou impossível que qualquer pessoa chamada Damien conseguisse ir ao banco ou pedir uma bebida no café sem atrair olhares de estranheza. Embora não seja tão refinado quanto A Semente do Diabo – o outro grande filme sobre pais que, sem saber, criam o filho do diabo, lançado uma década antes – é muito mais acessível e não menos inquietante, mesmo que o enredo seja um pouco mais rebuscado. Após a morte do próprio filho durante o parto, um diplomata americano (um Gregory Peck totalmente entregue ao papel) troca-o por um recém-nascido órfão, sem que a sua mulher (Lee Remick) saiba, e em cinco anos percebe por que motivo o capelão do hospital estava tão ansioso para entregar o bebé. Peck torna tudo credível com o seu semblante eternamente franzido e o ritmo é tão preciso quanto o de Tubarão. E depois há o jovem Harvey Stephens como Damien, que fala pouco, mas cujo rosto projecta uma mistura de inocência e malícia verdadeiramente perturbadora.

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Matthew Singer
Film writer and editor

23. A Parada dos Monstros (Freaks, 1932)

Realização: Tod Browning

Elenco: Olga Baclanova, Harry Earles

A obra-prima pré-Código de Tod Browning é um filme simultaneamente anos à frente do seu tempo e difícil de imaginar com o apoio de um grande estúdio nos dias de hoje. Ao contar a história sombria de uma trupe circense infiltrada por uma interesseira "normal", Browning lançou, de forma pioneira, artistas reais de espectáculos de aberrações, incluindo gémeas siamesas, um homem sem membros e um "cabeça de alfinete". Na época, o filme chocou o público, irritou o chefe da MGM, Irving Thalberg, e prejudicou a reputação de Browning – e é fácil imaginar a enxurrada de artigos acusando-o de "exploração" se se estreasse agora. Mas, se A Parada dos Monstros fosse apenas um espectáculo de bizarrices, seria lembrado como pouco mais que uma curiosidade histórica. Em vez disso, Browning trata o elenco – que, é preciso dizer, tem uma presença magnética em frente à câmara – com mais humanidade do que muitos realizadores conseguiriam, nessa altura ou agora. Mesmo no clímax aterrador, em que a trupe se vinga de forma arrepiante contra o intruso interesseiro no seu meio, fica claro que os verdadeiros monstros não são os que têm deformidades físicas... o que, provavelmente, incomodou tanto o público como os poderosos de Hollywood, mais do que qualquer outra coisa.

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Matthew Singer
Film writer and editor
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22. Nosferatu, o Vampiro (Nosferatu: A Symphony of Horror, 1922)

Realização: F. W. Murnau

Elenco: Max Schreck, Greta Schröder

A livre e não oficial adaptação do romance de Bram Stoker, Drácula, por F. W. Murnau não foi o primeiro filme de terror (honra por ventura pertencente a Le Manoir du Diable, de George Meliés), mas é decerto a mais influente película do género tantas são as ideias que formataram o cinema de terror que se seguiria. Por exemplo: a utilização da luz e da sombra, da ameaça e da tensão, da beleza e da fealdade de um homem grotescamente maquilhado atraindo e aterrorizando uma mocinha inocente… Porém, o que é ainda mais notável, é como a obra se mantém perturbadora tantos anos passados. A impecável prestação de Schreck e a sua assustadora maquilhagem podem ser a imagem icónica desta obra-prima cinematográfica, mas a cena da praga de ratos é de levar qualquer um à beira de um ataque de nervos – e só podemos imaginar o seu efeito num público acabado de sair dos horrores da I Guerra Mundial.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

21. A Casa Maldita (The Haunting, 1963)

Realização: Robert Wise

Elenco: Julie Harris, Claire Bloom, Richard Johnson

Com alguns filmes de terror é tudo uma questão de contexto. Ver A Casa Maldita numa tarde bem iluminada é como ver uma velharia encarquilhada um bocadinho tonta. Mas ver esta película de noite, a sós, já é como ver a melhor história de fantasmas da história com a sensação de certeza de que os maiores perigos não estão no exterior, mas antes ali mesmo, junto a nós, ou pelo menos no interior do nosso cérebro. A utilização de ângulos amplos é muito bem manipulada pela direcção de Robert Wise, claramente um estudioso do trabalho de Orson Welles, cujo estilo descaradamente domina o filme.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

20. Pesadelo em Elm Street (A Nightmare on Elm Street, 1984)

Realização: Wes Craven

Elenco: Heather Langenkamp, Robert Englund, John Saxon

Um monstro que invade os nossos sonhos, estraçalhando a nossa psique com as suas luvas-navalhas é, sem dúvida, um dos melhores achados do cinema de terror. E mesmo que os filmes seguintes da série tenham optado por um tom de auto-paródia (por exemplo, colocando à venda bonecos de Freddy Krueger dirigidos ao público pré-adolescente), o original permanece como um dos mais desafiantes, inventivos e realmente aterrorizadores filmes-choque do século XX. O controlo de Wes Craven sobre o material filmado e a montagem final foi absoluto, e não serão meia-dúzia de efeitos especiais rascas a minar a importância deste pesadelo esteticamente vanguardista. Por outro lado, convém não esquecer, esta é a película que deu dimensão à New Line Cinema. Na altura em que os produtores deram 1,8 milhões de dólares a Craven para realizar a sua delirante visão, a empresa não era mais do que um grão de areia entre os estúdios independentes norte-americanos. Sete sequelas de Pesadelo em Elm Street depois e pouco mais de uma década passada sobre a estreia, a New Line Cinema financiou a trilogia Senhor dos Anéis. É obra, Freddy.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

19. Deixa-me Entrar (Låt den rätte komma in, 2008)

Realização: Tomas Alfredson

Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson

Nos filmes, o vampirismo é frequentemente usado como metáfora para uma série de temas difíceis, desde o vício em drogas até à SIDA. Neste clássico instantâneo escandinavo, é utilizado para explorar uma experiência menos sombria, mas mais amplamente relacionável: a solidão adolescente. Oskar (Hedebrant) é um pré-adolescente excluído que vive numa suburbana e gelada Suécia e forma uma ligação forte com uma rapariga chamada Eli (Leandersson), que também parece não ter muitos amigos, por razões que são ao mesmo tempo semelhantes e drasticamente diferentes. "Tenho 12 anos", diz ela. "Mas tenho 12 anos há muito tempo." Baptizado a partir de uma canção de Morrissey, o filme tem a mesma sensação: frio, mas tocante; melancólico, mas romântico. O tom é gélido (tal como a paisagem), mas as emoções são quentes – Alfredson trata a amizade jovem com grande sensibilidade e entrega algo mais próximo dos irmãos Dardenne do que de um verdadeiro filme de terror, apesar de conter pelo menos uma cena de desmembramento memorável. E, no entanto, é uma das utilizações mais eficazes da mitologia vampírica alguma vez feitas. O remake americano também não é nada mau, mas o original fará o seu coração crescer tanto quanto lhe fará arrepiar a pele.

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Matthew Singer
Film writer and editor
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18. A Mosca (The Fly, 1986)

Realização: David Cronenberg

Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis

Eis a delirante recriação por David Cronenberg da velha história do cientista experimentando teletransporte, experiência que dá para o torto e descamba numa nojenta mistura genética. A Mosca não é apenas um dos melhores filmes de terror de sempre, é também um dos mais trágicos romances da história do cinema. Com o seu argumento elegante e particularmente bem escrito, a relação inicial entre as personagens interpretadas por Jeff Goldblum e Geena Davis assenta nos mais básicos princípios do romance, o que ainda torna a transformação física e a degradação mental de Goldblum mais horrível de aguentar. Nas mãos do realizador canadiano, a doença genética torna-se numa poderosa metáfora para tudo o que de mau existe, seja cancro, sida ou o envelhecimento, passando pelo amor despedaçado. Embora um pouco doentio, o filme é simultaneamente belo e apaixonante, exaltante e selvagem, inspirador e inspirado, isto é, cinema humanista dirigido por um cineasta no seu melhor momento.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

17. A Morte Chega de Madrugada (Evil Dead II, 1987)

Realização: Sam Raimi

Elenco: Bruce Campbell, Sarah Berry

Eis a película em que Bruce Campbell se tornou na resposta da geração Fangoria (uma antiga revista norte-americana dedicada às artes inclinadas ao terror) a Buster Keaton. A Morte Chega de Madrugada tem indiscutivelmente humor, mas, lá no fundo, e principalmente depois de três cenas de violação, é ainda mais assustador, rapidamente abafando o riso que provoca. Na verdade, o facto de Sam Raimi e Campbell terem começado as suas carreiras alternando entre curtas-metragens de terror e imitações de Os Três Estarolas pagou grossos dividendos, pois esta é, sem dúvida, a mais bem sucedida mistura de horror e comédia, e um clássico do género. O momento definitivo é quando a mão da personagem interpretada por Campbell é possuída por um espírito demoníaco, levando a obra até algumas das mais espantosas cenas de humor negro. Ou melhor, vermelho, pois Raimi não se esquece de manter a sangueira constante, com membros a voar através do ecrã, olhos explodindo, já para não falar do que se passa na cabana…

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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16. Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981)

Realização: John Landis

Elenco: David Naughton, Jenny Agutter, Griffin Dunne

A maioria das comédias de terror tende a exagerar na parte da comédia, deixando os elementos de terror leves e fracos. Mas não é o caso aqui. Não nos entenda mal: é muito, muito engraçado, tipicamente à custa dos britânicos, que são retratados como bêbados de cidade pequena ou snobs pretensiosos de grandes centros urbanos. Mas nenhum nível de caricatura pode suavizar o terror visceral de assistir à transformação lupina de David Naughton, que mudou o jogo para o subgénero dos lobisomens. Nada de Lon Chaney a desaparecer nas florestas e a voltar com uma máscara de pele. Em vez disso, concebida pelo génio dos efeitos especiais Rick Baker, é retratada com um realismo de esticar a pele, de virar o estômago e de arrepiar os pêlos que normalmente se reserva para documentários da natureza ou vídeos educativos sobre o parto. A transformação inicial é tão impressionante que os Óscares basicamente inventaram a categoria de Melhor Caracterização só para homenagear adequadamente a conquista de Baker. E mesmo que o filme não tivesse mais nada a seu favor, provavelmente ainda estaria nesta lista apenas por essa cena. Mas o conjunto da obra é monstruosamente divertido e contém mais do que um momento de bravura – o ataque final da besta pelo Piccadilly Circus é icónico por si só.

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Matthew Singer
Film writer and editor

15. Carrie (1976)

Realização: Brian De Palma

Elenco: Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving

Mesmo sem ser a favorita do realizador para o papel, é difícil imaginar este filme sem a interpretação de Sissy Spacek. Stephen King teve a ideia para o romance original, o seu primeiro, no vestiário feminino de uma universidade onde trabalhava como encarregado de limpeza. Raparigas adolescentes podem ser o demónio em estado puro e é num vestiário que conhecemos Carrie, que acabou de ter o seu primeiro período e com quem as meninas más gozam sem piedade. Mal sabem elas que a jovem tem poderes de telecinesia e que esses poderes, que permitem mover objectos de um lado para outro apenas com a interferência da mente, estão à beira de provocar um apocalipse durante o baile de fim de ano lectivo. Quanto à cena do sangue de porco que lhe cai sobre o corpo, enfim, por muitas vezes que se veja, não há uma única em que não se deseje que o balde não caia. Já agora, apesar de a actriz se ter prontificado a ser coberta com verdadeiro sangue de porco, a mistela que lhe cai em cima não passa de uma mistura de xarope e corante.

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14. Os Inocentes (The Innocents, 1961)

Realização: Jack Clayton

Elenco: Deborah Kerr, Michael Redgrave, Pamela Franklin

As crianças já são assustadoras que chegue na vida real, com a sua moral flexível e aquelas mãos pequeninas. No entanto, o cinema consegue torná-las ainda mais arrepiantes. Tido como um dos mais estranhos e assustadores filmes à face da Terra, Os Inocentes foi adaptado, nem mais nem menos, do que por Truman Capote, a partir de do romance de Henry James The Turn of the Screw, e o tema é o da governanta contratada para educar um par de pestinhas aristocráticas que podem muito bem esconder um negro e sobrenatural segredo. Procurando manter a sua película o mais longe possível do estilo operático dos Estúdios Hammer, Jack Clayton criou uma obra-prima de contenção, muito por conta da grande interpretação de Deborah Kerr e da subtil banda sonora alimentada por música electrónica.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

13. Aquele Inverno em Veneza (Don't Look Now, 1973)

Realização: Nicolas Roeg

Elenco: Donald Sutherland, Julie Christie

As aparências iludem, o que sendo um lugar comum é também a síntese perfeita desta obra que um painel de peritos da Time Out considerou, em 2010, o melhor filme britânico de sempre. A adaptação por Nicolas Roeg do conto de Daphne Du Maurier é uma obra-prima do cinema de terror, assim como uma película de uma beleza espectral. Sendo esta uma lista de filmes de terror, passamos à frente a – para a época – ousada cena de sexo – para muitos a mais bem filmada de sempre – e passamos já para as partes assustadoras, como as irmãs psicóticas e, principalmente, a arrepiante sucessão de marteladas no final.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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12. A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968)

Realização: George A. Romero

Elenco: Duane Jones, Judith O’Dea, Marilyn Eastman

Aqui está um exemplo de filme que mudou tudo, que levou o terror para territórios outros que o do susto primário ou o da ciência mentalmente transtornada até à dura luz dos tempos modernos. George Romero insiste que o que fez a sua estreia na realização percorrer caminhos tão inovadores – o trabalho de câmara em estilo documentário, os interiores sem adornos e as pouco elaboradas interpretações – foi apenas resultado de um orçamento perto do zero. Mas esse argumento não vale para a abordagem progressista às políticas raciais e de género da obra, nem à sua montagem sobre o fio da navalha, ou a constante violência, como quando a rapariga morta se ergue para se alimentar da mãe já sem remédio.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

11. Suspiria (1977)

Realização: Dario Argento

Elenco: Jessica Harper, Stefania Casini, Flavio Bucci

Em termos de história, não há muito para contar em Suspiria, a obra-prima giallo de Dario Argento: uma rapariga americana (Jessica Harper) frequenta uma prestigiada academia de ballet na Alemanha, apenas para descobrir forças malignas à espreita. É o tipo de história de contos de fadas; de facto, Argento mencionou A Branca de Neve e os Sete Anões da Disney como uma das suas influências. Estilisticamente, no entanto, pode não haver outro filme de terror que faça tanto, e com tanta originalidade. É uma sobrecarga sensorial pura, cheia de cores primárias exageradamente brilhantes, cenários extravagantes envolvendo poços de arame farpado e órgãos expostos, e uma banda sonora dos italianos Goblin, que não provoca apenas arrepios, mas nos arranca a carne directamente dos ossos. Nem Thom Yorke, que compôs a música para o remake de 2018 de Guadagnino, se consegue comparar. Poucos filmes conseguem: é um pesadelo aparentemente transposto directamente do subconsciente para a tela.

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Matthew Singer
Film writer and editor
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10. Tubarão (Jaws, 1975)

Realização: Steven Spielberg

Elenco: Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss

Costuma-se dizer que o monumental blockbuster de Steven Spielberg assustou uma geração inteira, fazendo com que nunca mais ousassem meter sequer o pezinho no oceano. Mas, parafraseando uma velha piada de Chris Rock, aquele tubarão não ficou louco – aquele tubarão foi um tubarão. Por outras palavras, não se pode culpar uma besta carnívora marinha por devorar pessoas se essas pessoas continuam a colocar descaradamente os seus membros suculentos à frente do seu focinho (sim, na vida real, é extremamente raro que tubarões ataquem humanos e Spielberg causou mais danos à reputação do Carcharodon carcharias do que qualquer outra pessoa, mas esse não é o ponto). Se os oficiais eleitos da Ilha Amity tivessem feito a coisa certa e fechado as praias imediatamente, a contagem de corpos teria parado numa hippie festeira (RIP, Chrissie). E isso – junto com o ritmo magistral, os sustos de deixar o coração na boca e os efeitos de adição por subtracção – é o que torna Tubarão tão imortalmente assustador. Claro, ser mordido por um tubarão-branco parece uma maneira terrível de morrer, mas é um medo evitável. Ganância, incompetência e arrogância, no entanto? Esses são ameaças das quais não se pode escapar, esteja na água ou não.

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Matthew Singer
Film writer and editor

9. Zombie: A Maldição dos Mortos-Vivos (Dawn of the Dead, 1978)

Realização: George A. Romero

Elenco: Ken Foree, Gaylen Ross, David Emge

Com A Noite dos Mortos-Vivos, George Romero inventou o filme moderno de zombies. Depois, uma década mais tarde, mudou novamente as regras do jogo. Grande parte da reputação de Zombie: A Maldição dos Mortos-Vivos está ligada ao seu gore de outro nível, e sim, os efeitos de Tom Savini continuam a ser dos mais nauseantes alguma vez colocados em cena. Mas Romero aumenta tudo em relação ao seu primeiro filme: a escala, a acção, o humor, o comentário social. Mudando do campo para os subúrbios, o filme segue quatro sobreviventes que se abrigam num enorme centro comercial, sem saber que até os mortos-vivos sentem um impulso instintivo de fazer compras até cair. Todos os filmes de zombies desde então seguiram os seus passos desengonçados, e embora alguns possam ser maiores, mais assustadores, mais engraçados e até mais sangrentos, nem o próprio Romero conseguiu criar algo tão divertido – embora tenha chegado perto com O Dia dos Mortos.

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Matthew Singer
Film writer and editor
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8. As Noites de Halloween (Halloween, 1978)

Realização: John Carpenter

Elenco: Donald Pleasence, Jamie Lee Curtis

Cinéfilos snobes estarão sempre disponíveis para relembrar que Uma História de Natal, de Bob Clark, deu início ao subgénero slasher, mas foi este estrondoso êxito de John Carpenter (isto é, 70 milhões de dólares de receita para um orçamento de 300 mil dólares) a obra que confirmou o potencial destes filmes. Portanto, esqueçam-se todos os mascarados ambiciosos com uma catana na mão à solta nos subúrbios que vieram depois, e observem-se os movimentos de câmara criados por Carpenter, a cuidada elaboração das sombras num quase sofisticado claro-escuro, a presença do vilão que Michael Myers interpreta como um assassino tão eficaz como o tubarão em Tubarão, para verificar como, quatro décadas depois, o filme permanece à beira da perfeição.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

7. A Semente do Diabo (Rosemary's Baby, 1968)

Realização: Roman Polanski

Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon 

Já é difícil mudar para um novo apartamento e começar uma família, quanto mais ainda ter de lidar com a suspeita de que os novos vizinhos podem ser satanistas empenhados em criar uma criança demoníaca através de uma mulher alheia à trama. Ora, é mesmo através desta inteligente e subtil face do terror que Polanski reduz os pormenores do enredo ao mínimo possível, deixando os espectadores a especular sobre o que se passa na cabeça da personagem criada por Mia Farrow, à medida que ela cada vez mais acredita ser a sua gravidez produto de alguma força oculta. Um punhado de cenas – como uma potencial violação e um clímax arrepiante – servem bem o propósito de deixar os espectadores em pele de galinha, e, convenhamos, um bocadinho de pé atrás, quando vêem uma grávida. As interpretações de Farrow e Cassavetes como um casal em acelerada desagregação servem bem o desejo do realizador em retratar a rotina da vida familiar como um pesadelo carregado de simbolismo.

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Dave Calhoun
Global Chief Content Officer
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6. Veio do Outro Mundo (The Thing, 1982)

Realização: John Carpenter

Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley 

O mundo não estava preparado para Veio do Outro Mundo. É difícil imaginar, dado o seu actual estatuto nos cânones da ficção científica e do terror, mas quando John Carpenter lançou o seu remake de A Ameaça o filme foi criticado como uma mera cópia de Alien, o Oitavo Passageiro, mais interessado em efeitos visuais que ultrapassassem os limites do que em personagens e na história. Mesmo considerando o contexto da época, é difícil não questionar se os críticos da altura estavam realmente a ver o mesmo filme. Claro, as cenas gore ficam profundamente marcadas tanto na memória quanto no estômago. Mas as chocantes erupções de vísceras são sustentadas pela tensão paranóica que atravessa o centro de pesquisa da estação Antártica Outpost 31, enquanto uma forma de vida alienígena parasita, muta e separa os 12 membros da tripulação isolada. Quarenta anos depois, Veio do Outro Mundo é justamente considerado a obra-prima de Carpenter. As coisas mudam – às vezes para melhor.

5. Psico (Psycho, 1960)

Realização: Alfred Hitchcock

Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh

Há alguns anos, em The Moment of Psycho, David Thomson argumentava que esta comédia quase negra com assassino em série incluído não mudara apenas o cinema, mas a sociedade em si mesma. Ao confrontar o espectador com terrores quotidianos, manipulando-o subtilmente para simpatizar com o assassino, oferecendo uma heroína adúltera e amoral para depois a abandonar sem remorso ao seu destino; também ao satirizar a psicologia freudiana e os pomposos profissionais que a exerciam; mais, caracterizando a América como um labirinto social povoado por assustadores polícias e simpáticos psicopatas; e ainda por insinuar (o que agora parece não fazer sentido nenhum, mas então…) que as mulheres também utilizam o quarto de banho e não apenas para retocarem a maquilhagem, o realizador ajudou a pavimentar o caminho para os tremores de terra culturais e respectivas revisões morais da década. E ele fez tudo isso com um piscar de olho e um sorriso. Isso sim, é o mundo do espectáculo.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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4. Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, 1979)

Realização: Ridley Scott

Elenco: Sigourney Weaver, John Hurt, Ian Holm

O que se dizia era que a Twentieth Century Fox contratara Ridley Scott para fazer Tubarão no espaço. Mas em troca recebeu um dos mais estilizados, subversivos e indiscutivelmente belos filmes quer de terror quer de ficção científica. O golpe de mestre foi, claro, contratar o meio tresloucado H.R. Giger para criar o viscoso, nojento e cruel monstro. Mas não deve ser menosprezado o trabalho do argumentista Dan O’Bannon, e menos ainda a qualidade do elenco capitaneado por Sigourney Weaver.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

3. Massacre no Texas (The Texas Chain Saw Massacre, 1974)

Realização: Tobe Hooper

Elenco: Gunnar Hansen, Marilyn Burns

"Será que sobrevivem… e em que estado?" É a questão que tanto diz respeito à audiência do filme de perseguição e esquartejamento de Tobe Hooper como às suas amaldiçoadas e indefesas personagens. O cinema de terror nunca fora tão cru, e bem se pode argumentar que apesar de muitas tentativas nunca mais conseguiu ser, digamos, tão arrepiante na sua sucessão de sustos, cada um maior do que o outro, mais sádico do que o anterior, enfim, mais brutal e inimaginável que nunca. Por outras palavras: horror em estado puro criado de maneira completamente inesquecível. Sequelas e novas versões têm nascido como mato, mas nenhuma chega sequer aos calcanhares deste primeiro encontro com uma serra eléctrica e um assassino passado, mas mesmo passado dos carretos.

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist
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2. Shining (The Shining, 1980)

Realização: Stanley Kubrick

Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall

Os momentos mais assustadores de Shining são tão icónicos que se tornaram piadas: Jack Nicholson a olhar psicoticamente das paredes dos quartos de estudantes por todo o lado... "Here's Johnny". Mesmo assim, a obra-prima de execução e claustrofobia de Stanley Kubrick ainda mantém o poder de assustar o público até à loucura. Nicholson é Jack Torrance, um escritor que trabalha como zelador no isolado Overlook Hotel, nas montanhas do Colorado, durante o Inverno. Stephen King, autor do livro no qual o filme se baseia, ficou célebre por não ter ficado impressionado. O problema, disse ele, era que Kubrick, um céptico em relação a fantasmas, era "um homem que pensa demais e sente pouco". E ressentiu-se por Kubrick ter retirado os elementos sobrenaturais da sua história. Torrance não é atormentado por fantasmas, mas pela sua inadequação e alcoolismo. E para muitos é por ser um estudo sobre a loucura e o fracasso que Shining é tão arrepiante.

1. O Exorcista (The Exorcist, 1973)

Realização: William Friedkin

Elenco: Ellen Burstyn, Linda Blair, Jason Miller, Max von Sydow

Pelos anos da década de 1970 o cinema de terror dividia-se em dois campos. Por um lado existiam os terrores da vida real vindos de Psico e A Noite dos Mortos-Vivos, filmes que trouxeram o medo para o território do real, tornando-se assim ainda mais assustadores. No outro lado estavam os mais provocadores, e mais populares na Europa, filmes nascidos nos Estúdios Hammer, no Reino Unido, e o cinema de Mario Bava e Dario Argento, em Itália, películas marcadas pela pretensão artística, estranheza e terror explícito. O primeiro filme a tentar juntar os dois lados foi A Semente do Diabo, ao qual Polanski acrescentou um ponta de surrealismo. No entanto, o primeiro a chegar a esse desiderato foi, sem qualquer dúvida, O Exorcista – o que é um excelente argumento para justificar o primeiro lugar nesta lista.

Passando dos barulhentos bazares do Iraque para as ruas sossegadas de Georgetown através de sequências preenchidas por pedaços de sonhos e comovente e crível drama humano, Friedkin criou um filme de terror como nenhum outro: brutal e belo, artístico e especulativo, sempre explorando estranhos conceitos religiosos em confronto com o desejo de precisão científica do cientista agnóstico. E não se deixem enganar, pois apesar de pejado de ideias fartamente discutidas nos meios científicos e religiosos e capaz de um poder de observação extremo sobre os sentimentos humanos, O Exorcista é um verdadeiro filme de terror, já que o seu propósito é sempre chocar, assustar, horrorizar o mais possível a plateia – ou alguma vez a corrente dominante do cinema criou uma cena mais perturbadora do que a do crucifixo?

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Tom Huddleston
Arts and culture journalist

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