Os melhores filmes de 2023

De Hirokazu Kore-eda

Uma história de crianças desviadas para adopção filmada pelo realizador japonês na Coreia do Sul, Broker – Intermediários está cheio de uma humanidade compreensiva e calorosa, e Kore-eda frisa a importância de cada nascimento e de cada nova vida, e do melhor que lhes possa ser dado. 

De Jafar Panahi

Impedido de filmar pelo seu governo, o iraniano Jafar Panahi continua a fazê-lo clandestinamente (foi preso após esta fita). Nesta autoficção em que a personagem principal, um cineasta interpretado pelo próprio Panahi, tenta rodar um filme à distância, da Turquia para o Irão, volta a impor o seu olhar atento e generoso, apesar da intolerância, dos atavismos e dos constrangimentos em redor.

De Martin McDonagh

Colin Farrell e Brendan Gleeson brilham no papel de dois amigos desavindos, numa ilha irlandesa dos anos 20, neste filme que é ao mesmo tempo um drama de angústia existencial e uma metáfora sobre a conflitualidade crónica e doentia entre os irlandeses, com tempero de humor negro e de sobrenatural caracteristicamente gaélico.

De Todd Field

Cate Blanchett é aqui Lydia Tár, uma famosa, talentosa e autoritária maestrina lésbica que vê a sua vida pessoal e a sua carreira comprometidas por acusações de prepotência e assédio sexual. Tár é tanto sobre o abuso de poder no mundo das artes e da cultura, como sobre a devastação que as redes sociais e a cultura do cancelamento fazem nos nossos dias.

De Jerzy Skolimowski

O octogenário cineasta polaco homenageia neste filme o clássico Peregrinação Exemplar, de Robert Bresson, e manifesta o seu amor aos animais através da história do burrinho fugitivo que dá o seu nome ao título. Mas EO é ainda um filme audaz no aspecto formal, que acrescenta o gesto amplamente experimental à faceta subtilmente moral.

De Marco Martins

Um filme álgido e fantasmático, realista mas nunca miserabilista, passado antes do Brexit, na cidade costeira de Inglaterra onde muitos portugueses vão trabalhar na ingrata indústria do processamento de aves, e são manipulados e explorados por uma compatriota ansiosa de deixar aquele mundo, soberbamente personificada por Beatriz Batarda.  

De Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch

Um rapaz da cidade e outro do campo, uma amizade testada pelo passar dos anos, e as magníficas paisagens do Vale de Aosta fazem esta fita rodada em Itália por um casal de belgas. E que, dirigindo-se aos olhos e ao coração, fala dos valores do montanhismo, da vivência das raízes, de pertença e de alienação, e da relação das pessoas com a paisagem em que nasceram ou se instalaram.

De Makoto Shinkai

Na senda de Hayao Miyazaki, mas sem o querer imitar (e que homenageia aqui), Makoto Shinkai assina mais uma deslumbrante longa-metragem animada de fantasia em pleno Japão de hoje, onde os tremores de terra, a meteorologia, os gatos com qualidades sobrenaturais e a manipulação espácio-temporal mantêm ocupado o par de protagonistas adolescentes.

De Christopher McQuarrie

Tom Cruise volta a fazer de James Bond 2.0 e de super-herói à paisana nesta parte I do derradeiro filme da série Missão: Impossível, o último reduto do melhor grande espectáculo de Hollywood, e do cinema de acção indutor de palpitações cardíacas. Agora, o vilão já não é humano, mas sim informe: a Inteligência Artificial. 

De Rodrigo Sorogoyen

Um recém-chegado francês incompatibiliza-se com os moradores de uma aldeia galega por causa da instalação de umas turbinas eólicas na zona. Ganância, intolerância, ressentimentos ancestrais e violência misturam-se neste filme em que o espanhol Rodrigo Sorogoyen dramatiza o eterno conflito entre a cidade e o campo, e as perturbações trazidas a este pela economia “verde” e “sustentável”.  

De Colm Bairéad

Cáit vive com os pais e as irmãs numa quinta, e vai ficar com uns primos da mãe enquanto esta tem mais um bebé. E, além da atenção, do carinho e do amor que lhe faltam em casa, ela vai descobrir um segredo na sua nova família. Este filme irlandês trata com sensibilidade e recato emocional temas delicados (a infância negligenciada, a morte de um filho), e tem uma interpretação luminosa da jovem Catherine Clinch.

De Alexei Chupov e Natalya Merkulova

Na Leninegrado dos anos 30, em plenas purgas estalinistas, um oficial do NKVD (o antecessor do KGB) percebe que vai passar de torcionário a torturado e foge para salvar a vida, enquanto é perseguido pelo seu chefe e procura expiar os seus crimes, após ter tido um encontro sobrenatural. Um thriller político arrasador sobre a máquina cega e trituradora do totalitarismo comunista.