O Sangue (1989)
Por esta altura, Pedro Costa ainda não era o artista radical que hoje o circuito artístico-cinematográfico disputa e louva com encomendas, mostras, conferências, livros e críticas aos filmes onde, no mínimo, se insinua a genialidade da sua abordagem, a empatia com as personagens, ou o brilhantismo dos seus planos e sequências cuidadosamente compostos. Nesta altura era o estreante prometedor que gizou a pungente história de dois rapazes (Pedro Hestnes, Nuno Ferreira), irmãos pela morte libertados do jugo paterno, e uma rapariga (Inês de Medeiros), sua aliada na tentativa de, juntos, encontrarem o seu caminho e acharem o seu lugar. Mas, tão importante com a sageza do argumento, a agilidade da realização e a segurança na direcção dos intérpretes, aqui já despontavam algumas marcas do seu cinema futuro, e o que mais brilhava era a relação entre as imagens e a banda sonora que tão bem desenvolveu.