Raël, o Profeta dos Extraterrestres
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‘Raël, o Profeta dos Extraterrestres’: óvnis, mentiras, sexo e dinheiro

Depois de um alegado encontro com um extraterrestre, Claude Vorilhon criou a seita que o tornaria rico e lhe saciaria os apetites sexuais. Esta série documental da Netflix conta a história do charlatão.

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★★★

Em 1973, um jovem jornalista francês de desportos motorizados e cantor de terceiro plano chamado Claude Vorilhon foi à televisão dizer que, quando um dia passeava no campo perto de Clermont-Ferrand, viu um OVNI. Dele saiu um extraterrestre, que lhe revelou que os humanos tinham sido criados pelo povo galáctico a que pertencia, os Elohim, e lhe chamou Raël, o que significava, segundo ele, “o mensageiro”.

Vorilhon poderia ter sido mais um mitómano inofensivo e rapidamente esquecido. Mas em vez de voltar a casa e continuar a procurar óvnis com um par de binóculos, decidiu fundar uma seita para espalhar a mensagem transmitida pelo alienígena, que baptizou de Movimento Raëliano; escrever livros sobre ela; e espalhar uma doutrina feita de lugares-comuns proto-mindfulness e de conversa pseudo-científica, e onde a “libertação sexual” desempenhava uma função muito importante. Bem como o desejo de clonar seres humanos para atingir a imortalidade. Cedo começaram a aparecer histórias e denúncias de enriquecimento pessoal e de uma vida luxuosa por parte da Raël e dos seus mais próximos, bem como de abusos sexuais e de incitação a práticas como o incesto. Entretanto, o líder da seita havia anunciado ser meio-irmão de Jesus Cristo, Maomé e Buda, após um passeio num disco voador dos Elohim em que conversou com aqueles.

A série documental francesa Raël, o Profeta dos Extraterrestres (Netflix), de Antoine Baldassari e Alexandre Ifi, passa a pente fino a incrível história do Movimento Raëliano, e a descarada e colossal mistificação colectiva por trás dela (a seita tem representações um pouco por todo o mundo), mostrando mais uma vez os extremos a que a credulidade humana pode ir, e como é fácil enganar muita gente durante muito tempo. E também como as autoridades e os media podem ser demasiado condescendentes, e ter uma atitude perigosamente passiva ou ligeira perante movimentos deste tipo.

Entre os muitos entrevistados, estão antigos raëlianos que perceberam a certa altura que tinham sido iludidos (alguns, abusados sexualmente); actuais membros que continuam a acreditar piamente na mensagem do seu líder; a muito sorridente química Brigitte Boisselier, uma dos “bispos” da seita e co-fundadora, com Raël, do Clonaid, um laboratório-fantasma onde fingiram ter clonado um ser humano nos anos 90; e o próprio Raël, que está vivo, de boa saúde e próspero no Japão, e que continua a negar ser um vigarista e um perverso sexual e a pregar a sua “doutrina” a quem o quer ouvir, rodeado, como sempre, de mulheres jovens e bonitas.

A série é rica em testemunhos (destaque para o da jornalista canadiana que, com uma fotógrafa, conseguiu infiltrar-se no grupo e denunciar o que lá se passava numa série de reportagens, o que levou o governo a retirar ao Movimento Raëliano os benefícios dados no Canadá às seitas religiosas, e o levou a deixar o país) e imagens de arquivo de várias fontes. Embora os autores pudessem ter ido buscar mais depoimentos de, por exemplo, psicólogos ou sociólogos, Raël, o Profeta dos Extraterrestres deixa-nos, finalmente, indignados. O charlatão Claude Vorilhon continua em liberdade, impune, abastado e a fazer prosélitos, após meio século de mentiras, logros, burlas e abusos sexuais como “Profeta dos Extraterrestres”.

Mais críticas de televisão

  • Filmes

★☆☆☆☆

Esta série da Prime Video é filmada com o estardalhaço visual de quem quer agradar àquela geração cujo principal entretenimento são os jogos de vídeo e que vê todos os filmes de super-heróis.

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