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Sérgio Graciano: “Salgueiro Maia foi um herói ocasional”

Falámos com Sérgio Graciano, realizador de ‘Salgueiro Maia – O Implicado’, um filme biográfico que se centra mais no homem do que no militar e símbolo do 25 de Abril.

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Quase 50 anos depois do 25 de Abril, surge nos cinemas a primeira longa-metragem sobre a vida de Salgueiro Maia, o capitão cuja acção foi decisiva para o triunfo do golpe militar de 1974. Assinado por Sérgio Graciano e com Tomás Alves no papel principal, Salgueiro Maia – O Implicado vai também ser uma série de televisão com quatro episódios. A Time Out conversou com o realizador.

Como é que nasceu Salgueiro Maia – O Implicado? Era um projecto seu?
Não, o projecto foi-me proposto pelo António Sousa Duarte e pelo José Gandarez, da produtora Sky Dreams. Chamaram-me para uma reunião, fui lá, ouvi-os e aceitei fazer a biografia do Salgueiro Maia.

Ficou logo interessado, ou ainda hesitou, por não ser uma ideia sua?
Fiquei ainda a pensar um bocadinho sobre o projecto, mas também não há como dizer que não a fazer um filme sobre o herói de Abril. Eu gosto de um lado emocional, forte, nas histórias e o guião era todo só emoção. E decidi arriscar.

O argumento estava já totalmente pronto ou ainda trabalhou nele?
O argumento é do João Lacerda de Matos, baseado num livro biográfico do António Sousa Duarte. Ainda trabalhei nele. Já estava escrito, mas ainda agarrei nele e limei algumas arestas, descasquei-o um bocadinho.

O filme é muito mais sobre o Salgueiro Maia íntimo, do que sobre o militar e ícone da revolução.
Sim, é muito mais sobre a pessoa e muito menos sobre o herói. É o Salgueiro Maia marido, pai de família, amigo, e também o militar. São todas as características dele que conhecíamos menos.

Salgueiro Maia - O Implicado
DRSalgueiro Maia - O Implicado

O filme chama-se Salgueiro Maia - O Implicado. Mas a verdade é que, após o golpe de 25 de Abril, ele passou o resto da vida a tentar não se implicar em nada, a recusar tudo o que lhe propunham, cargos, benesses, etc. Este título não é contraditório?
É verdade, ele passa o resto da vida à parte de tudo, a não aceitar nada do que lhe propõem. Mas a palavra “implicado” também faz sentido porque, mesmo assim, ele acaba por se implicar no pós-revolução. O Salgueiro Maia estava lá, no sítio certo, no 25 de Abril, e depois as coisas vão-lhe acontecendo, ele foi fazendo o percurso dele, sem estar do lado de ninguém, sempre apartidário, sem se meter na política, sem querer qualquer tipo de visibilidade, ao contrário de um Otelo Saraiva de Carvalho, por exemplo. Por isso, acho que ele foi um herói ocasional.

Como é que foi o processo de escolha do Tomás Alves para interpretar o Salgueiro Maia? Nunca pensou num actor muito conhecido para fazer o papel?
Na primeira reunião que tive para falar sobre o filme com os produtores, lembrei-me automaticamente do Tomás Alves. Eu já o tinha achado parecido fisicamente com o Salgueiro Maia, numa ocasião em que o encontrei fora do âmbito do filme. Acho-o um bom actor e muito apelativo, apesar de não ser uma vedeta, e penso que ele tem muito a ver com a personagem.

Ele falou também com a Natércia Maia para preparar o papel?
Sim. A Filipa Areosa falou mais com ela, porque a ia interpretar. Eles estiveram ambos comigo quando fui falar com a Natércia, e a Filipa esteve lá depois mais uma ou duas vezes. E acho que ela também a personifica impecavelmente.

Vê-se perfeitamente que as sequências que se passam em África, durante a guerra, foram filmadas cá em Portugal. Não teve orçamento para ir rodar lá?
Não, infelizmente. Isso nem sequer foi uma possibilidade. O filme não teve um orçamento muito grande, por isso nunca se proporcionou. Os oficiais do Exército ajudaram-me muito a preparar essas sequências, fomos acompanhados por eles durante toda a rodagem, mas ficámos por cá. E tive muita pena, porque não é o mesmo filmar com esta luz de cá e com a luz amarelada de África.

Crítica:

  • Filmes

O capitão Salgueiro Maia foi fundamental para o triunfo do golpe militar de 25 de Abril de 1974 e recebeu a rendição de Marcello Caetano no Quartel do Carmo. A seguir, e ao contrário de muitos dos seus pares, não se meteu na vida política, não se envolveu com partidos, nunca aceitou cargos e permaneceu um militar de vocação sem apetite para a vida pública, acabando por se transformar no símbolo suprapartidário, consensual e ideologicamente “puro” da revolução.

Em Salgueiro Maia – O Implicado, Sérgio Graciano quer mostrar a vida e a intimidade do homem por trás do ícone, e para lá dele. A recruta, a guerra em África, o militar de carreira sério e patriota desiludido com o regime, o amigo, o marido e pai de família, a recusa de cargos e benesses no pós-revolução e os choques com a hierarquia militar, até à morte de cancro, apenas com 47 anos. O filme procura dar o máximo de informação sobre o protagonista (correctamente personificado por Tomás Alves), sempre a saltar de uma cena para outra, num condensado de vida mais esquemático, solto e ilustrativo, do que aprofundado, articulado e emotivo: é um Salgueiro Maia em estenografia biográfica.

Eurico de Barros

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