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Há alguma coisa errada com o cinema de imagem real, quando é num filme animado digital que vamos encontrar uma história de angústia existencial que nos deixa emocional e psicologicamente arrasados (e também incomensuravelmente divertidos). Sim, estou a falar de Toy Story 4, de Josh Cooley, onde a nossa empatia com as dores, estados de alma e alegrias do grupo de brinquedos (com algumas novas aquisições) liderado pelo cowboyWoody é semelhante à que teríamos por personagens vividas por actores de carne e osso numa fita mainstream. Esta é uma das grandes forças da série Toy Story: fazer-nos interessarmo-nos, preocuparmo-nos, sofrer e vibrar com um conjunto de brinquedos criados por computador, como se fossem pessoas verdadeiras.
E Toy Story 4 tem personagens, situações e peripécias mais do que suficientes para isso. Garfy, o boneco feito pela pequena Bonnie a partir de um garfo de plástico, e ao qual ela se afeiçoou, tem medo de ser um brinquedo; Woody, que deixou de ser o favorito de Bonnie, tem medo de ir parar ao armário e tenta fazer ver a Garfy a importância que tem para Bonnie; Bo Peep, que regressa após ter aparecido só no primeiro filme, ultrapassou a sua condição de “brinquedo sem criança”, e tenta convencer Woody que isso não é o fim do mundo, ou seja, da sua razão de ser como brinquedo; e a boneca Gabby-Gabby (o mais próximo que a série já teve de um vilão) nasceu com um defeito e nunca foi de uma criança.
Toda esta aflição acontece ao longo de uma viagem de férias e é temperada por muita e excelente comédia em jacto contínuo, numa história atarefadíssima mas brilhantemente arrumada e conduzida, a que se juntam todas as vozes e a habitual assombrosa execução técnica da Pixar. Toy Story 4 é uma obra-prima e nunca mais vamos olhar para um garfo de plástico da mesma forma. Eurico de Barros