Dream Guincho
Inês Félix
Inês Félix

Três novos hotéis em Cascais para uma escapadinha na Linha

Seguimos a Linha e encontrámos boas surpresas no centro da vila, junto ao mar e no coração da serra.

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Quem é que disse que no Outono não acontece nada de jeito? Só nos últimos três meses abriram três novos alojamentos em Cascais: uma guesthouse em homenagem ao mar, um mini-resort para famílias que gostam do mar e um hotel de charme que a única coisa que tem em comum com o mar é a linha do horizonte. Assim de repente, são muitas coisas a acontecer. Coisas muito boas e que estão ao lado de Lisboa. Mesmo sabendo que o calendário até ao final do ano não vai ser generoso em feriados, vale a pena aproveitar o fim-de-semana para fugir da cidade e ir respirar os ares do mar. A dois, em retiro de descanso ou com os miúdos atrás, damos-lhes três bons motivos para se pôr a caminho.

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Três novos hotéis em Cascais para uma escapadinha na Linha

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Legasea Guesthouse
Legasea Guesthouse

O número 5 da Rua Nova da Alfarrobeira foi casa de família, consultório médico, hostel e, desde 23 de Setembro, é uma guesthouse de tributo ao mar. A ideia partiu de Francisco Garcia e Duarte Reis, que há coisa de um ano decidiram apresentar uma proposta para recuperar a casa centenária no centro da vila e transformá-la em ponto de encontro entre a comunidade local e a nova tribo de surfistas que saltita de poiso em poiso atrás da onda perfeita em viagens de curta duração. Gente ocupada, sem tempo a perder e para quem as palavras “camarata”, “retiro de surf ” e “hostel” não fazem parte do léxico. Foi com a mira apontada a este grupo específico de surfistas modernos, os que exigem dormir confortável e descansadamente numa cama a sério, em quarto individual e com algumas mordomias, que o Legasea se surgiu. Duarte e Francisco sabiam ao que iam porque antes de se meterem na aventura do alojamento andaram, nos últimos anos, a organizar viagens personalizadas na Surf Around Portugal e perceberam que havia, no segmento do surf, uma procura crescente pelo Portugal autêntico, sem filtros ou armadilhas para turista, com experiências que fossem directas ao assunto. Com o esquema todo montado, ficava só a faltar a parte do alojamento.

A casa de 1770, outrora com terreno que se estendia até ao mar, estava à espera de solução e o plano da guesthouse começou a ganhar forma. Manteve-se a traça antiga, os painéis de azulejos, os tectos de madeira e até a salgadeira na cozinha, e deu-se nova cara aos sete quartos da casa. Seis deles transformaram-se em suítes duplas e familiares (se viajar com miúdos, pergunte pela do sótão, que encaixa quatro pessoas à vontade) e o que sobra ajeitou-se para encaixar uma camarata para seis. Além da luz que passou a entrar, voltaram alguns dos móveis originais da casa, quadros que contam a história da antiga vila de pescadores, juntaram-se uns tapetes feitos à mão, colchões topo de gama, uma vista simpática para o mar e estava feito um refúgio a sério para quem a paixão pelo mar não implica abdicar de um ou outro luxo.

Entretanto, Mariana Garcia juntou-se à dupla e assumiu a pasta do acolhimento. Tudo o que foi preciso para fazer da casa uma casa a sério, Mariana tratou. E depois começou a desenhar um plano para pô-la a mexer. A prioridade foi sempre juntar cascaenses e visitantes e seria o mar e o seu legado a juntá-los. De um lado, os que vêm à procura das ondas da Linha, do outros os que sabem de olhos fechados quando “é que não está bom no Guincho” e qual a esplanada perfeita para ficar à espera que o vento mude.

Como todas as boas histórias, esta também se vai escrevendo à volta da mesa, na cozinha que é sala de convívio e onde os pequenos-almoços são abertos a todos, hóspedes e público em geral. Mariana trata da ementa e é ela a responsável pelo pão de banana fresquinho todas as manhãs, pelos queques de aveia, as comportas de fruta e a granola caseira, fugindo, sempre que possível, da oferta tradicional do rolinho de fiambre e queijo e de produtos com grande pegada ecológica. O café Flor da Selva vem de uma fábrica na Madragoa (é verdade, faz-se café no centro de Lisboa), os chás e as aromáticas da horta biológica da Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais e o pão é da Gleba.

Em breve, um dos antigos quartos da casa, onde terá funcionado o tal consultório médico, vai ser uma pequena mercearia e loja zero waste, com acessórios de cozinha, vinhos da Viúva Gomes, pranchas de surf, roupa e decoração. Até lá, o entra e sai da casa vai acontecer por dois motivos: os brunches de fim-de-semana, que arrancam já este mês, e as aulas de ginástica natural. Se não sabe do que se trata, não comece já a torcer o nariz e a apontar o dedo às modinhas do fitness. A ginástica natural é um ritual (chamemos-lhe assim) de preparação física utilizado por muitos surfistas de alta competição e que junta yoga com jiu-jitsu para treinar força, postura e respiração através de movimentos orgânicos e fluidos. É muito mais simples do que parece e também muito mais exigente. Acontecem de segunda a sábado no estúdio de ginástica ou no terraço e são abertas a todos (80€/ pacote de 8 aulas). Para quem prefere ficar só por uma modalidade, há aulas de yoga todos os dias (80€/ pacote de 10 aulas), aulas de surf e caminhadas em Cascais e Sintra (por marcação). No final do dia, se precisar de pôr os e-mails em dia ou despachar trabalho, há uma sala de cowork com um frigorífico honesto recheado para um lanche tardio. Serve-se do que quiser e no fim paga o que consumiu, simples assim.

Os quartos não têm televisão – Mariana admite que é uma batalha complicada – mas pode sossegar o bichinho Netflix no ecrã da sala de estar.

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Existe uma vida “Antes dos Filhos” (AF) e outra “Depois do Filhos” (DF). No período AF, planear uma escapadinha ou férias a dois é mais ou menos como descascar amendoins: fácil, rápido, indolor e até relaxante. Depois dos Filhos, diz-se adeus à espontaneidade, arruma-se a mochila de serviço e abraça-se uma logística complicada de sacos e mais saquinhos, brinquedos, mudas de roupa, banheira, espreguiçadeira, cadeira de refeições, pratos e talheres adaptados, mais os tupperwares para a marmita, os termos, enfim. Para quem tem como hobby andar de passeio, a ideia pode ser demolidora. Viajar com crianças faz-se, é verdade, mas não é bonito de ver.

Maria Saldanha Daun e António Monteiro correram o mundo juntos mas foi quando começaram a levar os dois filhos que perceberam que o mundo não está preparado para pais em apuros. Camas de bebé sem colchão, cozinhas sem talheres, polibans impossíveis e demasiados bibelôs. Encontraram de tudo. Então decidiram fazer pelos outros aquilo que gostavam que tivessem feito por eles e criaram o Sea Ya – Family Surf Houses, no centro da Charneca, a escassos 15 minutos a pé do Guincho. Compraram uma moradia antiga e dividiram-na em três casas independentes (T0 a T2) super, hiperpreparadas para receber famílias.

Funciona assim: no momento da reserva deve ser indicada a idade de cada criança e alguma recomendação especial que os pais considerem pertinente, para depois Maria e António preparem a casa à medida. Há brinquedos adaptados à idade, produtos de higiene específicos para cada tipo de pele, banheira de bebé montada, berço e cama com roupa feita à medida, cadeira de refeições e toda a parafernália de cozinha que é precisa para alimentar uma família. Mas há mais.

À chegada, os adultos recebem um hotspot gratuito para estarem sempre em contacto com os donos da casa, nem que seja em alto mar. O mais velho ficou com tosse a meio da noite? Maria e António podem ajudar a encontrar a farmácia mais próxima ou a chamar um médico ao domicílio. Com isto tudo imaginamos que esteja já a fechar a mala para se pôr a caminho, mas antes deve ainda saber que os terraços têm piso antiderrapante, chuveiro aquecido e espaço para lavar pranchas e pendurar fatos de surf, que vai ter um cabaz de boas-vindas à espera, chegue a que horas chegar, que não há objectos descartáveis dentro de casa e que existe um compromisso ambiental que deve ser respeitado por todos. Há garrafas reutilizáveis para evitar o uso de plástico, os detergentes da roupa e louça são amigos do ambiente e a roupa de cama, os tapetes e os sofás são feitos de materiais 100% naturais e estão preparados para sobreviver aos imponderáveis da infância.

Tudo muito bem, mas e os pais? Para os pais há exactamente aquilo que é preciso: paz de espírito e uma cama queen size coberta por lençóis de percal, daquele mesmo bom com 300 fios, que é mais ou menos como dormir nos braços de uma nuvem fofinha. De resto, não faltam opções fora de casa para ocupar o seu tempo e o deles. Pode entregá-los a uma aula de surf e aproveitar para dar uma volta de bicicleta à beira-mar ou juntar toda a gente numa sessão de walking mentorship, um passeio em família pela Serra de Sintra que funciona como uma terapia de grupo sem o peso que normalmente lhe está associado. No fundo é dar uma volta com as suas pessoas favoritas, respirar fundo e curtir o momento. Por marcação também há aulas de yoga, passeios a cavalo até à praia, kitesurf e caminhadas. Não há televisão, mas há wifi, jogos de tabuleiro, cadeiras de baloiço ao ar livre e muitos trilhos por explorar.

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Sabe aqueles casais em que um dos elementos é alérgico ao sol e o outro nem sequer gosta de praia? Esse é o tipo de casal que vai ficar muito feliz por saber que perto do Guincho acabou de abrir um hotel, isso mesmo, um hotel, que não tem nada que ver com mar, surf ou temas associados.

Para começar, é uma obra magnífica que não espera encontrar na Malveira da Serra: um complexo de casas de madeira nórdicas, altas e escuras que escondem um edifício único enorme, com um pé direito altíssimo e oito quartos temáticos identificados por grandes clássicos da literatura. É um hotel literário? Não oficialmente, mas só para ter uma ideia, há livros espalhados por todo o lado, até nas escadas que levam aos quartos. Em homenagem a Sophia de Mello Breyner, escolhemos a Menina do Mar e encontrámos o ambiente requintado de uma estância de neve sem manias, luxuosa mas sem pretensões. Inesperado. E surpreendentemente bom. Mas voltando ao casal. Aqui não existe a pressão do pé na areia, da prancha debaixo do braço ou da pele curtida pelo sol. Nada disso. Aqui vale ser branco como a cal, não saber nadar e preferir mil vezes passar um fim de tarde a ler do que dez minutos à beira-mar.

O piso térreo da casa é um espaço aberto gigante com vários ambientes, entre uma mesa de jogo, cantos de leitura e sofás e televisão, e estende-se a uma sala com cozinha onde se serve o pequeno-almoço e o jantar (por marcação) e que está coberta de candeeiros com livros abertos a fazer de abajour. A comida é caseira, descomplicada e fiel ao receituário português, pelo que tanto pode calhar cruzar-se com um bacalhau à Brás e um caldo verde como com um lombo assado com batatas. Só há duas coisas que não mudam: o pão quente todas as manhãs e o chá com bolo caseiro servido a meio da tarde.

Quando idealizou o projecto, Rosário Pinto Correia queria “uma casa para receber como em casa”, sem cerimónias, em espírito de convívio e com o glamour de outros tempos. Exemplo disso é a sala de jogos para fumadores. Fumar é uma coisa de outros tempos, lá isso é, mas há quem goste e no Dream Guincho há espaço para passar uma noite à antiga, a jogar bilhar, a atirar umas setas ou a arriscar uma notas no piano. A sala é muito bem ventilada e desde que não haja ninguém a fumar, o cheiro é praticamente imperceptível. A sério.

Não vale a pena dizermos-lhe que a piscina exterior vai ter de ficar para outra altura, até porque o mais provável é o microclima da serra encarregar-se sozinho de travar qualquer tipo de aproximação – mesmo nos dias em que o resto do país esteja a gozar de um sol esplendoroso. Fica para o Verão. Talvez. Nunca se sabe. Depende sempre do nevoeiro.

O melhor de Cascais

A hashtag a usar é #brunchcomvista. Em Cascais há uma série de restaurantes e cafés que se renderam ao grande pequeno-almoço tardio – a maioria tem vista mar para fotos com cenários idílicos e uma mesa farta.

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Fica a apenas meia hora de Lisboa (se evitar as horas de ponta, claro!), mas pode ser um destino interessante para uma noite romântica, para uma escapadinha de fim-de-semana ou para umas férias de Verão em família, perfeitas para se armar em turista e aproveitar em pleno as melhores praias da Linha.

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