TOREL 1884_PORTO
Luís Ferraz
Luís Ferraz

Viagem ao centro da Terra no Torel 1884

Instalado no centro histórico, o irmão mais novo do grupo Torel acaba de ocupar um edifício de 1884 que é agora porta de entrada para um mundo de descobertas.

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Em A Viagem do Elefante, José Saramago conta a história de Salomão, um elefante nascido em Goa a viver em Lisboa, em meados do século XVI, que D. João III decide oferecer ao primo, Maximiliano da Áustria, como presente de casamento. A história é real com uns pozinhos de ficção, que o autor decidiu juntar ao enredo para atacar, entre outras coisas, a necessidade que Portugal tinha, na altura, de parecer bem no contexto europeu, mostrando e ofertando as riquezas usurpadas – perdão, trazidas – das geografias longínquas por onde o império ia passando.

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Foi com esta história que Ingrid Koeck, austríaca e uma das sócias do grupo Torel Boutiques, apresentou uma das doze suítes do novo Torel 1884, acabado de abrir na zona histórica do Porto, num palacete do século XIX (construído justamente em 1884) onde antes funcionou uma agência bancária. África, Américas e Ásia servem de inspiração a cada um dos três pisos do hotel, cuja entrada é também um convite a viajar no tempo e a conhecer as descobertas portuguesas ao longo da História e que agora identificam cada um dos quartos. Pássaros Exóticos, Tabaco, Café, Sedas, Porcelanas, Chá e Salomão, entre outros, relembram a época de ouro da grande epopeia com uma elegância exótica que se estende aos espaços comuns.

Mas antes, falemos do hall de entrada. Num cenário que podia ser a fazenda no Quénia que serve de cenário ao filme África Minha escondem-se, entre plantas tropicais, duas colecções de esculturas de cabeças humanas assinadas por João Pedro Rodrigues, que se enfrentam parede com parede numa representação algo filosófica sobre os mundos material e antimaterial. De um lado aquilo que vemos e de que dispomos, do outro tudo o que nos representa mas que não é palpável – com uma forte alusão às musas de Camões e à curiosidade e coragem femininas ao longo da História.

Passa-se o primeiro arco do edifício e chega-se a uma imponente escadaria que deixa ver os varandins de cada piso, iluminados naturalmente por uma claraboia. Do que era antigamente manteve-se praticamente tudo no mesmo sítio. Aliás, a preservação do edifício para deixar brilhar o que já lá estava foi a única regra imposta durante as obras de remodelação. Os tectos altos, o corrimão de madeira e ferro, as portas com grandes chaves de ferro, o chão de tábua corrida que ainda range quando se passa e as janelas rasgadas para os estendais das primeiras casas que começam a descer para a Ribeira mantiveram-se, em respeito à arquitectura da zona antiga da cidade, e serviram de tela em branco para o que viria a ocupar o espaço.

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As banheiras ao pé da cama, os reposteiros de serapilheira, as paredes forradas a palhinha, os tapetes berberes e os móveis de madeira escura cruzam-se numa amálgama de estilos exótico e tradicional que representam também o Porto como está hoje: cosmopolita e virado para o mundo.
A título de curiosidade, vale a pena visitar a casa de banho do quarto “Pássaros Exóticos” só para se perder no papel de parede com araras, papagaios e outras espécies que estamos longe, longíssimo, de saber identificar, camufladas em verdes tropicais que também só conhecemos da televisão e que combinam lindamente com o lavatório em latão e as loiças e torneiras antigas. Foi entretanto eleita por uma publicação internacional como uma das casas de banho mais bonitas do mundo. Sem grande espanto, portanto.

No último piso está a “Biblioteca sob as estrelas”, um cantinho
com livros de História antigos em várias línguas (também há exemplares em japonês), poltronas e sofás de veludo e um
honesty bar discretamente guardado numa mala antiga, daquelas que os grandes senhores dispunham para, precisamente, transportarem as espirituosas durante as viagens.

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No Bartolomeu Wine Bistrô, no piso térreo, num cenário onde se encontram as memórias dos três continentes, servem-se o pequeno- -almoço e refeições leves, e dá-se a conhecer a excelência dos vinhos portugueses – os títulos mais valiosos estão guardados no antigo cofre do banco, agora transformado em garrafeira e sala de provas.

Outro hotéis

  • Hotéis

O Dá Licença, antes de ser o sítio magnífico que é, era para ser só uma casa de férias de Victor Borges e Frank Laigneau, que procuravam um pequeno refúgio no campo para onde pudessem fugir quando a vida em Paris se tornasse demasiado frenética. Fica entre Estremoz e Evoramonte e é um paraíso de oito quartos com uma colecção inimaginável de arte e artesanato.

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