Thurston Moore
©Ari MarcopoulosThurston Moore
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10 canções indie pop ao vivo em estúdio

Os registos captados ao vivo num estúdio de gravação permitem ter uma visão diferente de canções que já conhecemos e, muitas vezes, mostram as bandas no seu melhor. Eis 10 grandes momentos

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Por vezes os discos de estúdio soam demasiado polidos e assépticos – está tudo perfeito, mas, durante o longo processo de gravação e mistura, o feeling e a excitação ficaram de fora – e, por outro lado, os concertos ao vivo têm noites más, porque o vocalista não consegue ouvir-se e desafina, ou a acústica da sala é bera, ou o volume está demasiado alto, ou os volumes dos instrumentos estão desequilibrados, ou a escala do concerto torna a experiência impessoal.

As actuações “ao vivo em estúdio” (com ou sem público) conseguem, por vezes, reunir o melhor dos dois mundos: a espontaneidade, vibração e urgência do live e o rigor, detalhe, subtileza e intimismo das gravações de estúdio. Não é por acaso que cada vez mais músicos exploram este formato, quer num verdadeiro estúdio de gravação quer num local que proporcione condições similares.

10 canções indie pop ao vivo em estúdio

“I’ll Possess Your Heart”, dos Death Cab For Cutie

Local e Data: Hall of Justice, Seattle, 2008.

Pode dizer-se que esta é uma “gravação caseira”, no sentido em que o Hall of Justice, um dos mais afamados estúdios de Seattle, tem sido a “casa” de Chris Walla, que foi guitarrista e produtor dos Death Cab For Cutie desde a sua fundação, em 1997, até 2014, e foi nele que Walla gravou muitos dos discos de Death Cab For Cutie, bem como de dezenas de bandas para as quais desempenhou as funções de engenheiro de som e produtor. “I’ll Possess Your Heart” provém do álbum Narrow Stairs (2008) e é difícil evitar que o seu ímpeto inexorável se apodere do nosso coração e da nossa cabeça.

“Germs Burn”, de Thurston Moore

Local e Data: KEXP Studio, Seattle, 5 de Outubro de 2014.

A KEXP-FM é uma rádio pública de Seattle que desempenha papel de relevo na divulgação de música indie e que convida regularmente músicos para actuações ao vivo nos seus estúdios – a quantidade e variedade de registos da série “Live on KEXP” disponibilizada no YouTube é impressionante e alguns dos videoclips desta lista provêm daí. “Germs Burn” é a faixa que encerra The Best Day (2014), o quarto álbum a solo de Moore, mas não destoaria ao lado das melhores canções da sua antiga banda, os Sonic Youth.

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“King and Lionheart”, de Of Monsters And Men

Local e Data: Billboard Tastemakers Sessions, Mophonics Studios, Nova Iorque, 2012.

A canção provém de My Head Is an Animal (2011), o álbum de estreia dos islandeses Of Monsters And Men, banda com algumas afinidades com os canadianos Arcade Fire. “King and Lionheart” chegou ao n.º 1 do top de singles da Islândia (para o que deverá bastar vender algumas dúzias de exemplares) e ao n.º 17 do top indie dos EUA.

“Mama’s Gonna Give You Love”, de Emily Wells

Local e Data: Laundro Matinee, Big Car Service Center, Indianapolis, EUA, 2012.

Emily Wells é uma multi-instrumentista (violino, viola, violoncelo, teclados, percussão) que grava os seus discos com escassa ajuda alheia. O que é inesperado é que se apresente ao vivo também com um one-woman show, recorrendo a loops, programações, pedais, samples e muito engenho para restituir o que se ouve em disco e que é uma mescla, em registo minimal, de gospel, hip hop, electrónica, ironia e inocência. Desde 1999 que Wells lança os seus discos em edição de autor ou em editoras obscuras e “Mama’s Gonna Give You Love” provém do seu sexto álbum, Mama (2012).

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“End-End”, dos Lego Big Morl

Local e Data: algures no Japão, 2015.

Este é um caso em que a versão ao vivo em estúdio precede (em dois anos) a versão “oficial”, que surgiu em 2017 no quinto álbum da banda, Shinzou No Ibasyo (Heart’s Place). A entrega, o sentido de espectáculo e a execução irrepreensível dos Lego Big Morl em concerto ao vivo fazem com que estes tenham uma intensidade que os discos de estúdio dificilmente captam. Este é o seu único registo “ao vivo em estúdio” disponível no YouTube e está filmado em plano fixo, mas vale a pena procurar a edição limitada do álbum Re:Union (2011), que inclui um DVD com uma vibrante sessão live in studio de 45 minutos exemplarmente tocada e filmada. Neste videoclip, quem não compreenda japonês pode avançar, sem grande prejuízo, até aos 0’55.

“Nothing Is Gonna Hurt You Baby”, dos Cigarettes After Sex

Local e Data: KTSM, El Paso, Texas, 2012.

Numa versão acústica, “Nothing Is Gonna Hurt You Baby” não ficaria longe do universo de beleza letárgica dos Mazzy Star, embora Greg Gonzalez, o vocalista e motor criativo dos Cigarettes After Sex, não propicie confusões, do ponto de vista físico, com Hope Sandoval. Todavia, antes de se verem imagens de Gonzalez, não faltará quem pense que se trata de uma cantora de voz grave, escura e sensual. “Nothing Is Gonna Hurt You Baby” faz parte do primeiro disco da banda, o EP I. (2012), e termina aos 4’40 do videoclip abaixo (mas não se perde nada em ver o resto).

Os músicos que acompanham Gonzalez nesta sessão estão nos antípodas do visual e da postura das estrelas de rock – e é certo que a indolência da música dos Cigarettes After Sex não convida a comportamentos exuberantes – mas enquanto os outros mostram algum envolvimento com a música, o teclista cumpre a sua função com o mesmo entusiasmo com que faria censos de tráfego numa estrada municipal numa tarde muito quente.

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“Half Gate”, dos Grizzly Bear

Local e Data: Studio Q, CBC Radio, Toronto, Canadá, 2012.

Apesar do nome, os Grizzly Bear não vêm, como outras bandas americanas nesta lista, de um estado onde um passeio pelos bosques pode proporcionar encontros com ursos, mas da urbaníssima Brooklyn. A versão de “Half Gate” no seu quarto álbum, Shields (2012), cresce até proporções sinfónicas, mas nesta versão tudo é mantido contido e despojado e também lhe fica muito bem.

“Home and Somewhere Else”, dos Mimicking Birds

Local e Data: OPB Studios, Portland, EUA, 2009.

A versão de “Home and Somewhere Else” incluída no álbum Mimicking Birds (2010) resume-se à voz e guitarra acústica de Nate Lacy e alguns efeitos sonoros. Embora o seu despojamento não seja desprovido de encanto, a versão registada nos estúdios da rádio OPB é mais rica e apelativa, graças à adição da guitarra eléctrica e bateria – aliás, passa-se o mesmo com as restantes versões desta inspirada sessão na rádio OPB, um raro caso em que a o live in studio é sistematicamente mais elaborado do que a versão do disco.

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“Morton’s Fork”, dos Typhoon

Local e Data: KEXP Studio, Seattle, 3 de Novembro de 2012.

Os Typhoon são onze e ninguém ficou em casa: trouxeram para o estúdio três trompetes, dois violinos, cavaquinho, guitarra acústica (cujo executante transita depois para o piano eléctrico), guitarra eléctrica, baixo e duas baterias. Os Typhoon são, como os Mimicking Birds, do estado de Oregon e têm três álbuns editados – “Morton’s Fork” surge no terceiro, White Lighter, lançado um ano depois desta versão live in studio de 2012.

“No One’s Gonna Love You”, Band of Horses

Local e Data: KEXP Studio, Seattle, 16 de Fevereiro de 2014.

Os Band of Horses gravaram esta canção com os recursos usuais do pop rock no seu segundo álbum Cease To Begin (2007), mas no live in studio na KEXP, sete anos depois, escolheram reduzi-la ao essencial: voz, guitarra acústica e bandolim. A versão original parece plenamente satisfatória, mas isso é só até experimentarmos a sensibilidade à flor da pele da versão “nua”.

Posto de escuta pop

  • Música
  • Rock e indie

O prólogo ao livro de poemas Os conjurados (1985), a derradeira obra de Jorge Luís Borges, é tão precioso e iluminador como o melhor dos seus poemas. Escreve Borges, do alto da infinita sabedoria dos seus 86 anos: “Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não estejamos, um instante, no paraíso. Não há poeta, por medíocre que seja, que não tenha escrito o melhor verso da literatura, mas também os mais infelizes. A beleza não é privilégio de uns quantos nomes ilustres”. Seguem-se dez comprovativos, não de como mesmo poetas medíocres são capazes de magníficos versos, mas de que existem criadores talentosos a viver longe dos holofotes, porque, pura e simplesmente, não existe uma relação entre talento e reconhecimento. São 10 músicas pop que poucos conhecem, mas todos deviam conhecer. 

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  • Música
  • Pop

O pop-rock sofre de algum complexo de inferioridade face à música dita “erudita” e é por essa razão que alguns grupos vêem na actuação com uma orquestra clássica uma forma de ganhar respeitabilidade. Quem pensa assim está equivocado, pois o pop-rock não precisa de envergar traje de cerimónia para ser digno, fica muito bem de calças de ganga rasgadas e t-shirt desbotada. A verdade é que, em muitos casos, a adição de uma orquestra traz pompa e espalhafato em vez de um acréscimo de sofisticação ou acaba até por pôr em evidência a pobreza da composição. A adequação dos arranjos é fundamental, mas se o material original não for bom, não é cobrindo-o com um glacé de metais e creme de cordas que vai tornar-se tragável.

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