A música coral costuma ter uma aura de espiritualidade e elevação e pode ser vista como o mais perto que os humanos podem chegar do canto dos anjos. A designação a cappella refere-se a um caso particular da música coral em que as vozes não têm acompanhamento instrumental e que seria a prática musical dominante nas igrejas do Renascimento, Porém, nem toda a música a cappella é de natureza religiosa e nas igrejas e catedrais do Renascimento coexistiam práticas diversas, existindo muitos locais em que as vozes eram sustentadas por um órgão e dobradas (nalguns casos substituídas) por instrumentos, o que é atestado por relatos de testemunhas e pelas folhas de pagamentos aos instrumentistas e documentos similares. O facto de a partitura não especificar o uso dos instrumentos não significa que, cada mestre de capela, dependendo da prática local, das imposições das autoridades religiosas e dos recursos disponíveis, não pudesse juntá-los às vozes. Mesmo a Capela Sistina, onde os usos eram mais conservadores e que é vista como o paradigma do canto a cappella (pelo menos para o mundo católico), há registo do uso pontual de órgão.
A 3.ª semana do ciclo Reencontros propõe um programa duplo de música a cappella pelo prestigiado ensemble de música antiga De Labyrintho, no Palácio Nacional de Sintra (21.30, 10€):
Sexta-feira 16
“Threnos: As Lamentações do Profeta Jeremias”, integralmente preenchido com as Lamentationes Hieremias (1588), de Marc’Antonio Ingegneri (c.1535-1592), mestre de capela na catedral de Cremona, professor de Monteverdi e um dos mais respeitados compositores italianos do final da Renascença.
Sábado 17
“O sonho da graça: A arte sublime de Josquin Desprez”, com a Missa Gaudeamus e três motetos de Josquin des Prez (c.1450-1521), o maior vulto musical da Europa do seu tempo. O coro De Labyrintho, fundado em 2001 pelo baixo Walter Testolin, que o dirige, emprega apenas uma ou duas vozes por parte, opção que sacrifica a monumentalidade em favor da transparência e da subtileza e que é a que mais valoriza o intricado rendilhado polifónico da música da Idade Média e Renascimento.
O Festival Coros de Verão reúne 23 coros e 750 participantes e tem ramificações no Castelo de S. Jorge, no Museu da Marinha e no Mosteiro dos Jerónimos. A entrada é livre.
Quinta-feira 23
CCB, 21.00: Coro Infantil da Universidade de Lisboa, direcção de Érica Mandillo
Sexta-feira 24
CCB, 9.30, 14.00 e 16.30: Competição Internacional de Coros Castelo de S. Jorge, 21.30: Coro Nacional da Turquia, direcção de Cemi Can Deliorman
Sábado 25
Grande Auditório do CCB, 15.00-17.00; caminho pedonal do CCB, das 16.00 às 17.30; Jardim Vasco da Gama, Belém, das 16.00 às 19.00, Museu da Marinha, das 18.00 às 19.30, Claustro do Mosteiro dos Jerónimos, a partir das 21.30
Domingo 26
CCB, 19.00: LalitAnjali (Singapura), Coro Estatal da Turquia, entrega de prémios e actuação conjunta dos coros participantes.