“De Fuego de Amor Herido”, de Joan Pau Pujol
O catalão Pujol (1570-1626) foi menino de coro na catedral de Barcelona e deve ter mostrado qualidades precoces, pois com apenas 23 anos foi nomeado assistente do mestre de capela da dita catedral, lugar que nem teve tempo de aquecer, uma vez que foi tentado por um posto ainda melhor: o de mestre de capela na catedral de Tarragona. Dois anos depois mudou-se para cargo análogo em Zaragoza, onde ficou 17 anos. Em 1612 regressou à catedral de Barcelona como mestre de capela e a maior parte da música que dele sobreviveu data desta última fase da carreira.
“De Fuego de Amor Herido” é um villancico, um género tipicamente ibérico, destinado a ser tocado nas igrejas mas que, em vez dos textos litúrgicos em latim usuais na música sacra, recorre a textos livres em espanhol, que, por vezes, esbatem as fronteiras entre os domínios sacro e profano. Quem leia ou ouça fora de contexto a última estrofe deste villancico poderá tirar conclusões erradas: “E no fim hás-de ser minha/ E hás-de desfrutar da minha casa/ E hás-de sentar-te à minha mesa/ Como esposa regalada”. Porém este casamento é estritamente espiritual: o noivo é Deus, a casa é a Santa Madre Igreja e a esposa é a alma.
[Por La Grande Chapelle, com direcção de Albert Recasens, do CD Música para el Corpus (Lauda)]