Alice Phoebe Lou
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10 talentos precoces do pop-rock

O pop-rock é intrinsecamente juvenil? Claro que não, mas às vezes surgem uns putos-prodígio que exibem um talento bem para lá do que seria expectável da sua idade. Eis uma dezena de exemplos, respigados de mais de meio século de pop-rock

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Há músicos que mantêm a relevância no pop-rock bem para lá da meia-idade, mas são raros. Na verdade, a estatística mostra que é frequente que os discos mais válidos das bandas sejam gravados quando os seus membros estão a meio da sua terceira década de vida – e alguns nem atingem a quarta década, pois não faltam exemplos de músicos que saíram de cena, quase sempre por overdose, suicídio ou problemas de saúde imputáveis ao consumo de drogas, antes de fazerem 30 anos (até se fala do “Clube dos 27” para designar os muitos nomes famosos que faleceram com esta idade).

Por outro lado, a maioria dos miúdos à saída da adolescência não costuma ter maturidade para produzir obras artisticamente relevantes – muitos conseguiram que os pais lhes comprassem uma guitarra e um amplificador apenas porque essa posse, acompanhada das roupas, do corte de cabelo, da pose e do name-dropping adequados, confere uma aura de “artista” e “outsider” que permite subir alguns degraus na hierarquia social da escola secundária.

Mas há miúdos que, aos 18 ou 19 anos, já têm coisas para dizer, apesar da curta experiência de vida, e sabem construir canções com uma solidez que faz inveja a muito veterano.

10 talentos precoces do pop-rock

The Beatles

Exigirá algum esforço aos mais novos imaginar o respeitável Sir James Paul McCartney, hoje com 75 anos, como um miúdo de 15 anos. Foi com esta idade que, em 1957, McCartney foi convidado por John Lennon a juntar-se, como guitarrista, à sua banda, The Quarrymen. Várias entradas e saídas de músicos depois, os Quarrymen transformaram-se nos Beatles e, em 1960, fizeram a primeira de várias estadias a tocar em bares de Hamburgo (ainda com Stuart Sutcliffe no baixo e Pete Best na bateria). Em 1961, durante uma actuação no The Cavern Club, em Liverpool, conheceram Brian Epstein, que se tornaria no seu manager. Nas primeiras gravações para a EMI/Parlophone, em Junho de 1962, Best foi dispensado e Ringo Starr entrou para a banda. Por esta altura, Lennon e Ringo tinham 22 anos, McCartney 20 e Harrison 19.

O primeiro álbum, Please Please Me, saiu em 1963, precedido por vários singles, mas foi preciso que a banda passasse por mais dois anos de amadurecimento – nos primeiros tempos os Beatles eram uma boys band talentosa mas anódina – até surgir um álbum verdadeiramente inspirado: Rubber Soul.

[Actuação dos Beatles no The Cavern Club, de Liverpool, em 1962. Foi o primeiro concerto em que Ringo tocou e é também o primeiro registo vídeo da banda]

U2

Em 1976, o baterista Larry Muellen Jr., então com 14 anos, colocou um anúncio num placard da sua escola, em Dublin. Apareceram seis candidatos mas dois não tardaram a desistir – sobraram Paul Hewson, David Evans e o irmão, Dik Evans, e Adam Clayton. A banda começou por ter o pouco original nome de Feedback (quantas bandas de miúdos terão sido assim baptizadas nas última décadas?) e estreou-se a tocar na escola secundária de St. Fintan. Dik Evans saiu, a banda mudou o nome para U2 (após ter sido, transitoriamente, The Hype) e Paul Hewson e David Evans passaram a ser conhecidos como Bono e The Edge. Quando em 1979 lançaram o EP U2 3, com as canções “Out of Control”, “Stories for Boys” e “Boy-Girl”, Bono e Clayton tinham 19 anos, The Edge e Muellen, 18. Em 1980 saiu o álbum de estreia, Boy, e o resto da história é conhecido.

[“Electric Co.”, do álbum Boy, ao vivo em Londres, 1980. Bono esquece-se da letra a meio, falha compensada pela exibição de invulgares dotes de alpinista]

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Matt Johnson

Em 1977, aos 16 anos, o britânico Matt Johnson (n. 1961) andava a colocar anúncios no New Musical Express em busca de parceiros para formar uma banda. Antes de conseguir ter banda, gravou, em condições artesanais, um álbum por conta própria, intitulado See Without Being Seen (que permanece inédito até hoje, com excepção de uma faixa incluída numa compilação da Cherry Red Records). A banda, baptizada como The The, estreou-se ao vivo em Maio de 1979, mas a questão dos parceiros nunca foi resolvida satisfatoriamente, pois ao longo dos anos os The The sofreram constantes alterações de formação e ninguém ficou lá tempo suficiente para aquecer o lugar – basicamente, os The The são Matt Johnson.

Os The The estrearam-se com o álbum Soul Mining, surgido em 1983 (o seu opus mais recente é a banda sonora para o filme Hyena, de 2015), mas ainda antes de Soul Mining ver a luz do dia, já o hiperactivo Johnson tinha feito sair, em 1981, na 4AD, um disco sob o seu nome, Burning Blue Soul, em que toca todos os instrumentos e é co-produtor. Tinha à data 20 anos.

[“Icing Up”, de Burning Blue Soul]

Aztec Camera

Após a efémera experiência dos Neutral Blue, o escocês Roddy Frame (n. 1964) fundou, com 16 anos, os Aztec Camera, com Craig Handy (guitarra, depois substituído por Bernie Clark), Campbell Owens (baixo) e John Hendry (bateria, depois substituído por Dave Ruffy). Após os singles – “Just Like Gold” e “Mattress of Wire” – em 1981, 1982 viu surgir o single “Pillar to Post”, anunciando o álbum High Land, Hard Rain (na independente Postcard Records), que surgiu no ano seguinte. O álbum trepou até ao lugar 22 do top britânico e atraiu as atenções da major WEA – foi sob o selo desta editora que saiu o segundo álbum, Knife (1984), produzido por nada mais, nada menos do que Mark Knopfler. O resultado comercial foi positivo – o álbum subiu até ao lugar 14 do top britânico – mas como Roddy Frame – que ainda não tinha 20 anos – ficou ofuscado por ter um disco produzido por uma “lenda”, tratou de compor canções moldadas ao (suposto) gosto de Knopfler e descartou a frescura borbulhante e despreocupada de High Land, Hard Rain. Nunca mais faria, como Aztec Camera ou em nome próprio, um disco capaz de igualar o de estreia.

[“Oblivious”, do álbum High Land, Hard Rain, numa actuação em playback no programa Pebble Mill at One, da BBC, em 1983]

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Silverchair

Deve criar algum constrangimento aos membros de uma banda andar em tournée há anos e ter dois álbuns editados que venderam centenas de milhares de exemplares e não ter ainda atingido a idade legal para poder comprar uma cerveja. Foi o que aconteceu a três miúdos de Newcastle, Austrália, que gravaram Frogstomp, o seu primeiro álbum – em apenas nove dias – quando tinham 15 anos de idade, em Janeiro de 1995. O som dos Silverchair era tributário do grunge, que estava então no auge da popularidade, e revelava fortes influências de Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden.

A Rolling Stone elogiou-lhes o talento de escrita de canções, sobretudo em Israel’s Son e Pure Massacre, e profetizou que quando tivessem 18 anos os miúdos seriam “realmente perigosos”. O vaticínio não se confirmou: a banda manteve-se activa até 2011 e lançou mais quatro álbuns, mas a sua qualidade foi declinando (o último álbum tem canções pavorosas) e os Silverchair ficaram como uma curiosidade na história do grunge. Mas, por outro lado, há que reconhecer as canções do álbum de 1995 dos Silverchair são melhores do que qualquer coisa que os Pearl Jam tenham criado de 1995 até hoje.

[“Israel’s Son”, do álbum Frogstomp]

Uchu Conbini

Os Uchu Conbini foram um meteoro que atravessou o céu da pop japonesa: formaram-se em 2012, em Kyoto, lançaram dois mini-álbuns, Feel the Dyeing Note (2013) e I Looked By the Reflection Of the Moon (2014), e dissolveram-se no início de 2015. Emi Ohki (voz, baixo), Daijiro Nakagawa (guitarra) e Uto Sakai (bateria) ainda não tinham 20 anos quando gravaram o primeiro disco, e quem olhe para os rostos pueris do trio no concerto do vídeo abaixo poderá legitimamente supor tratar-se da estreia ao vivo de uma banda de miúdos da escola secundária, quando é (snif!) o concerto de despedida.

A proficiência técnica, o lirismo das suas composições e a precisão matemática com que tocam é que não tem nada de pueril – em “Eight Films” (a partir de 2’14) o trecho que começa aos 4’19 requer um virtuosismo impressionante, mas aos 5’00 eles repetem-no ao dobro da velocidade.

[Excertos do último concerto da banda, a 13 de Março de 2015]

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Alice Phoebe Lou

A biografia oficial indica que Alice Phoebe Lou terá nascido na Cidade do Cabo, em 1993, mas bem pode ter caído na Terra durante uma chuva de estrelas. Aos 18 fez um gap year na Europa, sustentando-se a tocar música na rua. Regressou à África do Sul, mas em 2013 decidiu fixar residência em Berlim. O seu primeiro EP, Momentum, saiu no ano seguinte, em edição de autor, com gravação repartida entre Berlim e a Cidade do Cabo, tal como seu sucessor, o álbum Orbit (2016). A voz portentosa, a expressividade arrepiante e o songwriting sofisticado não parecem condizer com a figura de rapariguinha (quando o videoclip abaixo foi rodado, Lou tinha 19 anos). Mas que ninguém duvide de que ela possui um "fiery heart” e uma “fiery mind”; e sabe tão bem que caminho quer seguir que recusou um convite dos Coldplay para tocar nas primeiras partes da tournée da banda britânica.

[“Fiery Heart, Fiery Mind”, do EP Momentum]

Neverstand

A energia e rebeldia adolescentes são frequentemente canalizados para o punk, embora quase sempre com resultados inconsequentes. Não é o caso dos Neverstand, que se juntaram em Osaka, em 2012, e criaram uma sonoridade entre o punk e a power pop, em que a turbulência e a tensão permanentes casam com melodias orelhudas – as suas melhores canções não fazem má figura ao lado das dos Foo Fighters.

Em Julho de 2015 – quando a idade média dos membros rondava os 19 anos – venceram o RO69Jack, o mais importante concurso de bandas amadoras do Japão, e lançaram o EP Crossing Sky, que veio juntar-se ao mini-álbum Stand By (2014). De então para cá surgiram os mini-álbuns Move On (2016) e AM 06:58 (2017).

[“Crossing Sky”, do EP homónimo]

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Hippo Campus

Os Hippo Campus são de St. Paul, no Minnesota, e estrearam-se com os EPs Bashful Creatures (2014) e South (2015), entretanto reeditados conjuntamente como The Halocline EPs. À data da gravação de South (que inclui a canção abaixo), os membros da banda tinham entre 18 e 20 anos, mas dominavam já a gramática pop com o à-vontade de quem tem uma dúzia de álbuns no currículo. O álbum Landmark, de 2017, reforça a crença de que esta banda ainda nos dará muitas alegrias.

[“Violet”, do EP South]

The Goon Sax

Os três membros dos Goon Sax ainda são adolescentes – a banda foi formada em 2013, quando os seus membros andavam na escola secundária em Brisbane, Austrália – mas partiram com alguma vantagem, pelo menos no que diz respeito ao património genético: o vocalista e guitarrista Louis Forster é filho de Robert Forster, um dos dois dínamos criativos dos Go-Betweens.

Forster e o guitarrista/baixista James Harrison começaram a tocar juntos no quarto do segundo, e Riley Jones foi admitida como baterista em 2014, após um mês de aulas do instrumento. A banda estreou-se em 2015 com o single Sometimes Accidentaly, a que se seguiu o álbum Up To Anything. Há quem ouça neles ecos de Television e Galaxie 500, mas a banda de que os Goon Sax estão embaraçosamente próximos são mesmo os Go-Betweens dos primeiros tempos – todavia, nestas idades há muita margem para progressão e para escapar à sombra da influência paterna.

[“Sweaty Hands”, do álbum Up To Anything]

Pérolas secretas da pop

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