O Requiem de Mozart está envolto numa névoa de lendas e rumores, parte dela resultante de haver quem julgue que o filme Amadeus, de Milos Forman, é uma biografia rigorosa e não uma ficção a partir de uma peça de Peter Shaffer, que, por sua vez, se inspirou uma peça de Aleksandr Pushkin.
[A composição do Requiem segundo o filme Amadeus, de Milos Forman, com Tom Hulce (Mozart) a ditar o “Confutatis” a F. Murray Abraham (Salieri): uma fantasia que resulta numa magnífica cena de cinema mas não tem qualquer relação com a realidade]
Os factos sobre o Requiem são os seguintes: Mozart recebeu a encomenda através de um emissário do conde Walsegg, em Julho de 1791, na mesma altura em que também lhe foi encomendada a ópera La Clemenza di Tito. Foi a esta última que deu prioridade – pois destinava-se às cerimónias de coroação do imperador Leopoldo II como rei da Boémia – e deslocou-se a Praga para dirigir a sua estreia. De regresso, dedicou-se à finalização e revisão de A Flauta Mágica e do Concerto para clarinete e só a partir de 8 de Outubro começou a trabalhar no Requiem. Porém, adoeceu em meados de Novembro e faleceu a 5 de Dezembro, deixando o Requiem muito incompleto. Constanze, a viúva, que precisava desesperadamente do resto do pagamento combinado com Walsegg, tentou que Joseph Leopold Eybler, um amigo e ex-discípulo de Mozart, terminasse a obra, mas, após ter orquestrado alguns trechos, este desistiu da empresa. Foi Franz Xaver Süssmayr, assistente de Mozart (a quem é atribuída a composição dos recitativos de La Clemenza di Tito), que acabou por fazê-lo. A partitura só foi entregue em Dezembro de 1793 a Walsegg, que a fez tocar no seu castelo de Stuppach, em memória da falecida esposa.
Süssmayr teve a sensatez de intervir o mínimo possível, reutilizando trechos da primeira metade da obra para completar as partes em que Mozart não deixara qualquer esboço. É a versão que usualmente se ouve nos discos e salas de concertos, mas, sobretudo a partir da década de 1970, têm sido vários os musicólogos a apresentar as suas próprias reconstruções do Requiem, baseadas nos esboços de Mozart.
O Requiem por Gianandrea Noseda
Com Christina Poulits (soprano), Katarina Bradic (mezzo-soprano), Steve Davislim (tenor), Tommi Hakala (barítono), o coro Amici Musicae, a Orquestra de Cadaqués e direcção de Gianandrea Noseda. Noseda dirige a Orquestra de Cadaqués desde 1994 e tem prestigiada discografia na Chandos à frente da Filarmónica da BBC. O programa inclui a fresca e despreocupada abertura da ópera A Flauta Mágica, uma acoplagem pouco congruente, mas que não há-de prejudicar a fruição.
Fundação Gulbenkian, terça-feira 12 de Dezembro, 21.00, 20-40€.
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