Noah Lennox, vulgo Panda Bear, é um dos mais influentes músicos independentes deste século. A viver em Lisboa há mais de uma década, foi responsável por discos seminais como Person Pitch, de 2007, ou Merriweather Post Pavillion (2009), dos Animal Collective, mas isso não lhe subiu à cabeça. Falámos sobre o novo álbum, Buoys.
Anna Calvi é galvanizante na busca da sua liberdade. No álbum Hunter, desafiou as convenções de género, confrontou a sua sexualidade e soltou-se da dicotomia masculino/feminino. Neste terceiro disco descobriu uma forma mais feroz de usar a sua mestria musical para comunicar algo urgente. A sua música é elevada pela habilidade gutural da sua voz de veludo negro e pela forma como extrai fúria das cordas de uma guitarra. Numa luxuriante lascívia, Hunter é uma declaração poderosa que desmantela as ideias normativas que cercam a sexualidade e o género. Sem medo de ser vulnerável, pois isso torna-a mais poderosa. Sem medo de mergulhar no escuro, pois é onde brilha mais.
Hunter foi lançado há quase um ano. Como é que o álbum e os seus temas em torno da sexualidade, feminismo e género têm sido recebidos?
Estou feliz com a forma como o álbum foi recebido, mas, pelo menos na Grã-Bretanha, houve um aumento de homofobia desde o Brexit. Ainda há definitivamente muito por que lutar.
As pessoas hoje falam mais abertamente sobre género e sexualidade. Tens algum receio que isso possa tornar-se apenas uma moda, algo para capitalizar?
Não me preocupo com isso, porque é uma coisa boa para as crianças LGBTQ+ haver mais representação nos media. Haverá sempre pessoas que tentam ganhar dinheiro com qualquer movimento. O mais importante é sentirmos que temos uma voz.
Sentiste falta dessa representação quando eras mais nova?
Sinto que a Patti Smith me deu muita força enquanto crescia, e sempre lhe estarei grata. Mas gostava de ter tido mais referências LGBTQ+ quando era mais nova.
A Anna Calvi adolescente ficaria orgulhosa de quem és hoje?
Acho que o meu eu adolescente não ia acreditar que me tornei uma cantora, eu tinha fobia de cantar quando estava a crescer. Mas era tão obcecada com tocar guitarra, acho que ela ficaria muito feliz por saber que acabei por fazer isso como profissão.
O que te atraiu na guitarra?
Vi um vídeo do Jimi Hendrix a tocar em Woodstock e fiquei agarrada. Adoro a versatilidade da guitarra – tão agressiva que ela pode ser e tão bonita que ela também pode ser.
Quando é que descobriste o feminismo?
Lembro-me de ter 10 anos e estar a jogar futebol com os rapazes. Toquei na bola com a mão, mas eles disseram que não era falta porque eu era “apenas uma rapariga” e não sabia o que estava a fazer. Fiquei furiosa. Foi o meu despertar feminista.
Como é que as expectativas e a pressão para te conformares a um género afectaram a tua vida?
Acho que me afectaram de tantas formas, tão pequeninas, que a certo ponto não dá para distinguir entre quais foram forçadas sobre mim e quais são inerentes à minha personalidade. Para mim, como mulher, senti-me pressionada a ter que satisfazer os outros, a estar sempre a sorrir e a não ser ameaçadora. Talvez seja por isso que quando estou no palco sou o oposto.
Sentes que consegues ser mais tu própria quando estás em cima do palco?
Sim, definitivamente. As regras de comportamento são suspensas, podes ser a versão mais livre e selvagem de ti própria. A única limitação é a imaginação.