Passaram seis anos e ele nem deu por isso. O último disco de estúdio, Mútuo Consentimento, é de 2011, mas até chegar a este Nação Valente, Sérgio Godinho não parou de criar. É que se acaso pára, confessa, crescem-lhe borbulhas. Aos 72 anos, cresce o desassossego da escrita – lá para Setembro há novo romance – mas não se imagina sem criar música e sem lhe dar palco.
A banda indie por excelência regressa a Lisboa para apresentar o seu último trabalho, Everything Now, um álbum de letras contundentes e ritmos dançáveis. Descobrimos como se forjou este disco junto de Tim Kingsbury, baixista do grupo canadiano.
O som mais dançável e funk deste álbum foi premeditado ou improvisado durante as gravações?
Na verdade foi um produto do ambiente em que gravámos e do espaço onde tocámos. O estúdio de New Orleans em que nos reunimos estava cheio de baterias, de instrumentos de percussão e sintetizadores, pelo que saiu tudo de uma forma muito natural.
Apesar de a música convidar à despreocupação, as letras são bastante duras.
Gostamos da ideia de contrapor o bonito e o não-bonito nas nossas composições. De pegar em algo delicado e torná-lo em algo brutal. O Win [Butler] é quem escreve todas as canções, mas é muito importante para todos nós ver como é que a nossa música se relaciona com o que está a passar-
-se no resto do mundo.
“Até que toda a minha casa esteja cheia de merdas sem as quais não poderia viver” é um dos versos de “Everything Now”. A faixa-título, bem como o próprio disco, é uma crítica à sociedade de consumo?
Não pretendemos dar lições de moral a ninguém. Toda a gente faz compras na internet e sabe o quão prático é. O disco está mais focado na dinâmica deste sistema, na importância de termos consciência dos efeitos a longo prazo do vício no telemóvel e nas redes sociais.
Um discurso que por vezes parece ter um ritmo dos Abba.
É verdade que há certos toques de Abba neste disco, mas é apenas uma entre as muitas influências do álbum. Por exemplo, o Bowie está sempre presente. Também gostamos de The Clash e até incluímos elementos que soam a Motown.
Como foi o processo criativo do disco?
Win escreve sempre a pensar nos ritmos que podem acompanhar cada frase. Às vezes é ele próprio quem chega com uma demo, ou então partimos de uns acordes e tudo flui de forma natural. Ou pode ser que ele tenha uma ideia louca e depois nós transformamo-
-la numa canção. Mas o processo criativo de cada tema é muito diferente.
As críticas negativas afectam-vos?
Não me dou ao trabalho de ler críticas negativas, porque não ganho nada com isso, mas acho que todos fazemos o melhor possível.