O Verão está a acabar e não tardará que as maçãs, bem maduras, comecem a tombar no chão. O ambiente desta canção do álbum This Empty Northern Hemisphere (2009), o quarto de Isakov, é de perda, melancolia e um entorpecimento induzido pelo vinho de dente-de-leão.
A receita para esta invulgar beberagem provém do extraordinário romance Dandelion wine (1957), de Ray Bradbury, que foi publicada por cá com o título A cidade fantástica e que narra, através de um filtro onírico, as alegrias simples do Verão de Douglas Spaulding, um rapaz de 12 anos, numa bucólica cidadezinha (ficcional) do Illinois, em 1928 (cidade e infância que têm seguramente pontos de contacto com as experiências reais de Bradbury, nascido em 1920). É o avô de Douglas que tem o segredo da confecção do exótico licor que funciona como um concentrado de Verão engarrafado, um destilado de experiências e descobertas. As “auroras de Junho, meios-dias de Julho, tardes de Agosto” ficaram para trás, deixando-nos “apenas o sentido de todas aquelas coisas na cabeça”. Mas se as esquecermos, podemos sempre recuperá-las enquanto tomamos um trago da garrafa de vinho de dente-de-leão.