Gottes Zeit Ist die Allerbeste Zeit (Actus Tragicus) BWV 106
Data e local de estreia: 1707-08, Mühlhausen
A cantata BWV 106 é uma reflexão sobre a transitoriedade da vida e a aceitação da morte e está entre as primeiras que Bach compôs, numa altura em que tinha 22/23 anos e ocupava o posto de organista em Mühlhausen. A juventude do compositor não se reflecte na obra, que revela absoluta maturidade e domínio dos códigos e recursos da música sacra da época – o modelo seguido na BWV 106 é o de Dieterich Buxtehude (c.1637-1707), então o mais influente compositor do Norte da Alemanha, e a instrumentação emprega, não violinos, violas e violoncelos, como se tornaria corrente nas suas obras posteriores, mas flautas e as “arcaicas” violas da gamba, que em breve “passariam de moda”.
A cantata foi composta para um ofício fúnebre (possivelmente do presidente da câmara municipal), mas o tom dominante é de serenidade e confiança. As palavras de abertura deixam-no claro: “Gottes Zeit Ist die Allerbeste Zeit” (“O tempo de Deus é o melhor dos tempos”). Para lá de aceitar a morte – “Este é o antigo pacto: Homem, tens de morrer” – há que encará-la como esperança e não como punição. A música, embaladora, não descreve um mergulho no abismo infernal, mas um tranquilo deslizar para o repouso eterno.
[Por Dorothee Mields (soprano), Alex Potter (contratenor), Charles Daniels (tenor), Tobias Berndt (baixo) e Sociedade Bach da Holanda (Nederlandse Bachvereniging), com direcção de Jos van Veldhoven, ao vivo na Oostkerk, Middelburg, Holanda, 2015. A interpretação recorre a instrumentos de época e segue os princípios da “interpretação historicamente informada”, tal como todas as que se seguem]