“Time is my friend ‘til it ain’t and runs out”. É assim que começa “Bones of Birds”, de King Animal, o último álbum dos Soundgarden. Na noite de 17 de Maio de 2017, após um concerto dos Soundgarden em Detroit, o tempo deixou de ser amigo de Chris Cornell – foi encontrado enforcado no seu quarto de hotel.
Cornell nasceu em Seattle em 1964. Aos nove anos descobriu uma colecção de discos dos Beatles abandonada na cave de um vizinho e passou os dois anos seguintes a ouvi-la em regime intensivo – é óbvio que a experiência lhe deixou marcas profundas, pois por trás da fúria metálica dos Soundgarden, as melodias beatlescas mostram-se por vezes bem vivas.
Aos 20 anos, em 1984, bem antes de haver Nirvana ou Pearl Jam, Cornell formou os Soundgarden, com o guitarrista Kim Thayil (nascido em Seattle de pais emigrados da Índia) e o baixista Hiro Yamamoto (de ascendência japonesa). Cornell começou por ocupar-se da voz e da bateria, mas depois a banda recrutou para este último posto Scott Sundquist, que daria lugar em 1986 a Matt Cameron. Foi com esta formação que gravaram o primeiro single, para a SubPop, e o primeiro álbum, Ultramega OK (1988), já na editora SST.
A estreia ainda tinha arestas por limar mas já estavam definidas as principais balizas da sonoridade Soundgarden: riffs metálicos (Led Zeppelin e Black Sabbath como referências mais evidentes) no extremo grave do espectro, complexidade rítmica, abrasão punk, psicadelismo gótico e ecos deformados de música indiana, e com a voz de Cornell a deslizar entre registos muito variados e adoptando frequentemente como modelo o metal e os falsetes paroxísticos de Robert Plant.