O musical St. Louis Woman causou celeuma quando estreou em 1939 e, acaso alguém se lembrasse de lhe limpar as teias de aranha, é provável que causasse ainda mais polémica nos racialmente tensos EUA de hoje. O musical de Harold Arlen (música) e Johnny Mercer (texto) tomou como base o romance God Sends Sunday, do escritor afro-americano Arna Bomtemps (1902-1973) e se, à partida, pareceria positivo que a Broadway pusesse em cena um livro de um autor negro e com personagens negras, não faltou quem visse nessas personagens um estereótipo racial – a NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) entendeu que os papéis negros do musical “ofendem a dignidade da nossa raça” e a actriz e cantora Lena Horne, figura cimeira da comunidade artística afro-americana, rejeitou a proposta para desempenhar o papel principal.
O musical teve um modesto sucesso e a sua única canção que entrou no repertório corrente foi “Come Rain or Come Shine”, uma promessa de amor incondicional, “faça chuva ou faça sol”, “estejam os dias nublados ou soalheiros/ Tenhamos nós dinheiro ou não”. Esta disponibilidade para aceitar destinos diversos traduz-se em abordagens que vão da soturnidade à exultação – pode dizer-se que é uma canção propensa à ciclotimia.
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