Quando esta “lua” nasceu, em 1933, pouco ou nada tinha a ver com a que conhecemos: o título era “Prayer (Oh, Lord, Make Me a Movie Star)” e deveria expressar, através de uma oração, a ambição da personagem de Jean Harlow de se tornar numa vedeta de Hollywood. A cena foi imaginada por Richard Rodgers (música) e Lorenz Hart (letra) para um filme musical da MGM, Hollywood Party (1934), uma amálgama de várias sequências independentes, cada uma delas com diferentes actores, argumentistas e realizadores, e que tinha por único fito a auto-celebração de Hollywood.
A ideia não foi a lado nenhum: Harlow nem sequer entrou no filme e a canção não foi gravada. Rodgers & Hart reciclaram-na para o pouco menos olvidável filme Manhattan Melodrama, desse mesmo ano, mas a sequência em que figurava a canção, agora com nova letra e título – “It’s Just That Kind of Play” –, acabou por ser suprimida. Todavia, a MGM entendeu que fazia falta uma canção numa sequência passada num nightclub e encomendou-a a Rodgers & Hart, que requentaram a sua canção pela terceira vez, agora com o título “The Bad in Every Man”. Desta vez a canção figurou na montagem final, mas tal não significou o fim das suas metamorfoses: a MGM entendeu que a canção teria potencial comercial se sofresse algumas modificações e Hart lá foi convencido a escrever a quarta letra.
O instinto do pessoal da MGM estava certo e a canção, agora com o título “Blue Moon”, tornou-se num sucesso, primeiro pela Casa Loma Orchestra e Benny Goodman, logo em 1934, depois por uma verdadeira avalanche de jazzmen e cantores pop: Tommy Dorsey, Billy Eckstine, Mel Tormé, Billie Holiday, Elvis Presley, Dean Martin, The Marcels, The Platters... Até a indie pop se apropriaria dela, com a despojada (e muito lunar) “Blue Moon Revisited”, do álbum The Trinity Session (1988), dos Cowboy Junkies.
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