Se em 2006 os Buraka Som Sistema carregavam a periferia no nome, em 2019 a editora que nasceu com a banda conseguiu desfazer fronteiras e derrubar preconceitos. João Barbosa, mais conhecido por Branko, é o principal responsável. Sem sobranceria, foi ele, com a Enchufada, que nos foi mostrando o caminho para a “Nova Lisboa”, a mesma que Dino d’Santiago exalta em Mundo Nôbu. Não por acaso, são os dois os cabeças de cartaz da Enchufada na Zona, a terceira e maior edição até agora, que acontece neste fim-de-semana no Capitólio.
“Em 2017 quando tivemos a ideia de fazer um evento que fosse uma bandeira daquilo que é o catálogo da editora, queríamos fazer uma festa e ter uma série de DJs que tivessem edições e que estivessem relacionados com tudo o que a Enchufada faz, e isso continua a ser exactamente a mesma coisa”, diz Branko. “O que terá crescido foram as relações com alguns dos artistas, tal como alguns dos artistas”, acrescenta. “A própria ideia desta música electrónica global também poderá ter crescido um bocadinho.”
A verdade é que de uma noite no Estúdio Time Out, em 2017, e outra dividida entre o Hard Club e o Maus Hábitos, no Porto em 2018, a Enchufada Na Zona acontece agora em duas noites. Os primeiros bilhetes esgotaram num ápice.
“Eu divido as coisas em duas fases”, aponta Branko. “A primeira foram os dez anos de Buraka Som Sistema, em que grande parte da estrutura estava muito focada nessa dinâmica. Com o fim da banda, conseguiu-se pôr em prática uma série de coisas que tínhamos aprendido e aplicá-las a uma vaga renovada de artistas”, explica o músico, ao lado de Rastronaut (João Silva), que é quem vai abrir a festa no Capitólio.
“Sinto que grande parte destes 12/13 anos de actividade da editora criaram as condições para que se valorizasse e se olhasse de forma diferente para estes sons que já existiam. O kuduro, a kizomba, fazem parte da matriz sonora e cultural de Lisboa”, acrescenta Rastronaut. “O que fizemos foi trazer isso para uma linguagem mais electrónica, que permite ser apreciado de outra forma.”
Para Branko, “às vezes essa roupagem podem ser artistas que dão um contexto ao som”. Dino d’Santiago “é um exemplo perfeito”. “Se calhar a novidade dessa ‘Nova Lisboa’ é que assumiu- -se que já faz parte da nossa personalidade musical. É oficial”, atira. “Já ninguém questiona”, completa Rastronaut.
“É muito bonito ver as pessoas a celebrarem a sua cidade, a sua periferia, a terem que assumir que o hip-hop de Lisboa se calhar tem um twist de kizomba e não faz sentido fugir disso”, continua Branko, o mestre de cerimónias que subirá ao palco no sábado com vários convidados. Ele que este ano lançou Nosso e se rodeou de nomes como Mallu Magalhães, Catalina García, PEDRO ou Dengue Dengue Dengue.
Resta saber quem aparece de surpresa na festa que Branko e Rastronaut encaram como o jantar de Natal da Enchufada. Pelo reencontro e pelo que aí vem: “Se 2019 foi o ano de solidificar os projectos bandeira da editora como foi o álbum do Branko, este próximo ano vai ser mais focado nos trabalhos de artistas mais emergentes”. Alguns para ouvir já no fim-de-semana.
Capitólio (Avenida). Sex-Sáb 21.00-01.00