Por toda a cidade há concertos. Alguns valem mais a pena do que outros, por isso siga as nossas sugestões dos melhores concertos em Lisboa esta semana.
Podíamos contar todos os discos e projectos paralelos de Ben Chasny, mas isso seria um investimento exagerado de tempo. Sobretudo quando podemos apenas dizer que Ben Chasny é um dos mais entusiasmantes guitarristas (e compositores) americanos do presente, com um corpo de trabalho múltiplo, que se distribui pela folk, rock, noise, música experimental e psicadelismo. Terça-feira à noite, apresenta o álbum do ano passado, Burning The Threshold, no Teatro Maria Matos, e um dia antes dá uma lição teórica e prática gratuita sobre o sistema de escrita musical hexádico, por ele desenvolvido. Quisemos saber mais sobre o assunto.
O que vem a ser este sistema hexádico de escrita musical?
É um sistema aberto, no sentido em que cria pré-composições que não dizem exactamente o que tocar, mas dão pistas sobre o tipo de música que se pode fazer com elas. No workshop comparo-o às marcas e riscos que o Francis Bacon, o pintor, fazia na tela. Os sinais visuais que mais tarde estariam na base das linhas dos seus quadros.
A Drag City está prestes a lançar um terceiro disco de música hexádica. Desta vez sem canções tuas. Quão envolvido estiveste no projecto?
Muito. Convidei pessoalmente todas as pessoas que tocam no disco, e pensei nelas por razões muito específicas. Cada artista tem um som que eu sabia que ia puxar uma parte específica do sistema, dado que está muito aberto à interpretação. Na maior parte dos casos já tinha falado com os músicos sobre este sistema de escrita, e eles tinham uma ideia daquilo em que consistia.
Vais fazer um workshop hexádico em Lisboa na segunda, e no domingo em Braga. Já tinhas feito algum? Como é?
Sim. Normalmente faço uma breve apresentação do sistema hexádico, explico como surgiu, qual é a sua linhagem, etc. Depois toda a gente tem uma hipótese de desenvolver as suas próprias composições, e é possível que tenhamos tempo de pegar naquilo que as pessoas fizeram e ver ao que soaria.
Mas quem é o público-alvo destes workshops?
Músicos. Sobretudo guitarristas, apesar de não ser preciso levar guitarra e o meu amigo Phil Legard até já ter escrito sobre uma possível transposição do sistema para o piano.
Um dia depois do workshop vais dar um concerto no Maria Matos, onde vais apresentar o teu disco do ano passado, Burning The Threshold. Estás a fazer isto em todo o lado?
De momento só estou a conduzir workshops em Portugal, mas espero voltar a fazê-los, daqui a uns meses, nos Estados Unidos. Basicamente, são eventos muito especiais que eu organizo umas quantas vezes por ano desde que o sistema foi apresentado e partilhado por mim. Uma vez que o Hexadic III ia sair agora, achei que seria engraçado voltar a trabalhar dentro do sistema este ano. Voltar a fazer workshops.
No Burning The Threshold, abdicaste do sistema de composição hexádico. O que te levou a fazer canções mais directas outra vez?
Sempre foi normal para mim alternar entre música acústica e eléctrica, dissonante e harmónica. Estava com vontade de tocar guitarra de uma forma mais harmoniosa e tinha acumulado uma quantidade simpática de canções, por isso achei que era altura de reuni-las todas num só lugar.
É um disco muito acessível. Foi uma reacção à complexidade do método hexádico?
Sim, de certa forma. Mas é como te estava a dizer, gosto de ir tocando diferentes estilos de música.
O Burning The Threshold parece-me diferente dos teus outros discos acústicos. Concordas?
Sim. Usei uma afinação nova que lhe deu um carácter distinto. É um disco mais luminoso.
O Ryley Walker toca no disco. Já o conhecias?
Adoro a música dele. A maneira de tocar. Assim que o vi ao vivo pela primeira vez fiquei muito bem impressionado. Isto em 2014, quando nos cruzámos em digressão. Ele é um doce.
Teatro Maria Matos. Workshop: Seg 16.30, entrada livre (inscrição obrigatória para catarinaferreira@egeac.pt até quinta-feira). Concerto: Ter 22.00, 3-14€.