Os concertos das Savages são extáticas comunhões de rock’n’roll. Digam o que quiserem, mas no meio do som e da fúria da banda sentem-se as barreiras emocionais que separam a banda do público a ruírem. E é estranho que, quando nos encontramos com Beth e Thompson no dia seguinte, esses muros tenham voltado a ser erguidos.
Os britânicos The Horrors souberam crescer com o passar dos anos e o seu som nunca parou de mudar. Começaram por fazer um garage rock negro e sujo, viraram-se para o shoegaze, abraçaram um psicadelismo carregado de cor e hoje são um banda maior, sem medo da pop, mas cujas canções flirtam com a new wave e música industrial. Domingo, apresentam o novo disco, V, no Lisboa ao Vivo.
Os vossos discos são muito diferentes entre si, mas nunca deixam de soar a The Horrors. É premeditado?
Tentamos afastar-nos da última coisa que fizemos, mas tirando isso não tentamos fazer diferente só porque sim.
Não trabalhavam com um produtor externo desde que fizeram o Primary Colours, em 2009. Porque decidiram gravar o novo disco com o Paul Epworth?
Passámos muito tempo a fazer os discos sozinhos e sentimos que era altura de tentar uma nova abordagem, de trazer algo de novo ao grupo. O Paul Epworth foi sugerido pela nossa editora, a XL. Estava algo céptico, mas achei que podia ser interessante e, de facto, revelou-se produtivo. Não sentimos que estávamos a trabalhar com um produtor de grandes êxitos, mas com um gajo como nós, que gostava de música e de sons esquisitos.
Ainda assim, o novo disco parece-me mais imediato, mais pop. Ele contribuiu para isso?
Ele esforçou-se para garantir que as canções eram tão boas quanto podiam ser, mas não me pareceu que estivesse a tentar que as canções fossem mais certinhas, mais imediatas, ou o quer que seja. Talvez nos estivéssemos a sentir mais pop, ou se calhar agora escrevemos canções pop melhor.
Há qualquer coisa no V que remete para os Depeche Mode, e sei que vocês tocaram juntos este ano. Eles influenciaram-vos de alguma forma?
A mim não. Só tenho um disco dos Depeche Mode e é um 12 polegadas do “Personal Jesus”, com uma remistura espantosa no lado B. O meu interesse neles limita-se a isso. Mas o resto da banda é capaz de se identificar mais com eles, até porque são da mesma região do Reino Unido.
Não costumam tocar canções do primeiro disco, o Strange House. Ainda te lembras de quando é que foi a última vez que tocaram essas canções ao vivo?
É capaz de ter sido em 2009. Misturavam-se no alinhamento com as canções do Primary Colours.
Porque é que pararam de tocar essas canções?
Pura e simplesmente não fazem sentido ao lado das novas. Têm uma onda e uma carga emocional diferentes. Ao longo dos anos temos escrito novas canções que queremos tocar, e parece-me estranho olhar para trás e desenterrar músicas que não tocamos há oito anos, mesmo que haja um gajo a pedir para tocarmos “Sheena Is A Parasite” [o primeiro single do grupo] em todos os concertos.
Mas o que é que sentes quando pensas no Strange House, passados dez anos?
Não sinto nada em especial, se queres que te diga. Parece que foi feito noutra vida e, honestamente, nem sei bem como é que o fizemos. Não sabíamos bem o que estávamos a fazer. Essa foi a melhor parte.