Jim Black
©Christophe AlaryJim Black
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Jim Black: 10 facetas de um baterista que caiu do céu

Em Portugal muitos conhecerão Jim Black como o extraordinário baterista do trio Azul, de Carlos Bica, mas nem todos estarão a par dos projectos pelo quais Black espalha o seu talento – um deles, os Human Feel, actua no Jazz em Agosto

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Na apreciação a Unwound (1996), dos Bloodcount de Tim Berne, o Penguin guide to jazz recordings, de Richard Cook & Brian Morton (a Bíblia Sagrada do jazz), descreve a “prodigiosa” prestação de Jim Black como “um cruzamento entre Joey Baron e um anjo caído da percussão”. 21 depois, já não se justifica comparar Black com qualquer outro baterista, pois já se tornou ele mesmo numa referência. Mas a menção ao “anjo caído da percussão” continua a fazer sentido, pois a sua abordagem à bateria é tão original, desconcertante e inesgotavelmente inventiva que faz despertar a suspeita de que ele terá caído do céu aos trambolhões, mesmo que a sua certidão de nascimento nos diga que veio ao mundo em Seattle, a 3 de Agosto de 1967.

Human Feel, 5 de Agosto às 21.30 na Fundação Calouste Gulbenkian. 15€

Jim Black: 10 facetas de um baterista que caiu do céu

Human Feel

Membros: Chris Speed e Andrew D’Angelo (saxofones), Kurt Rosenwinkel (guitarra)
Álbuns: Human Feel (1989), Scatter (1992, GM), Welcome to Malpesta (New World), Speak to It (Songlines), Galore (2007, Skirl), Party Favor EP (2016)

Na adolescência em Seattle, Black estabeleceu amizades que se revelariam duradouras com o saxofonista Chris Speed (n.1967) e o trompetista Cuong Vu (n.1969), com quem viria a cruzar-se várias vezes em diferentes bandas. Black e Speed prosseguiram estudos em Boston, onde, em 1987, formaram os Human Feel, que são a mais antiga banda de Black. Tem tido existência intermitente ao longo dos últimos 30 anos, pois cada um dos membros do colectivo construiu uma notável carreira, mas voltam a reunir-se sempre que as suas preenchidas agendas o permitem, para criar uma surreal mescla de indie rock, free jazz e música de câmara.

Os Human Feel actuam na Fundação Gulbenkian, sábado 5 de Agosto, 21.30, 15€.

[“Retrogression”, de Welcome to Malpesta]

Tim Berne’s Bloodcount

Membros: Tim Berne e Chris Speed (saxofones), Michael Formanek (contrabaixo); por vezes o quarteto foi expandido com a adição de Marc Ducret (guitarra)
Álbuns: Lowlife: The Paris Concert 1, Poisoned Minds: The Paris Concert 2, Memory Select: The Paris Concert 3 (1995, JMT reed. Winter & Winter), Unwound (1996, Screwgun), Saturation Point (1997, Screwgun), Seconds (1997, Screwgun), Discretion (1997, Screwgun)

Os Bloodcount são uma das mais marcantes formações de Tim Berne e pautam-se por composições de 20, 30 ou até 50 minutos de duração que fermentam lentamente e vão da plácida aguarela ao pandemónio. Nem todos terão paciência para tão demorados desenvolvimentos, mas quem perseverar ver-se-á transportado para um universo paralelo.

[Excerto do DVD com concertos dos Bloodcount no clube Les Instants Chavirés, Montreuil, Paris, em Setembro de 1994, incluído em Seconds, editado em 2007 pela Screwgun]

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Carlos Bica & Azul

Membros: Frank Möbus (guitarra), Carlos Bica (contrabaixo)
Álbuns: Azul (1996, EmArcy), Twist (1999, Enja), Look What They’ve Done To My Song (2002, Enja), Believer (2005, Enja), Things About (2011, Clean Feed), More Than This (2016, Clean Feed)

O trio Azul dura há mais de 20 anos – uma longevidade inusitada para o mundo em incessante mutação do jazz – ao longo dos quais o grupo tem conseguido obter um delicado equilíbrio entre continuidade e inovação. A química e complementaridade entre os músicos é de tal modo perfeita que este é um trio em que nenhum elemento é passível de substituição. A sua música combina melodias belíssimas e tornados destruidores, por vezes na mesma peça.

[Ao vivo no Jazzahead! 2016, Bremen, Alemanha]

Dave Douglas Tiny Bell Trio

Músicos: Dave Douglas (trompete), Brad Shepik (guitarra)
Álbuns: The Tiny Bell Trio (1993, Songlines), Constellations (1995, hatHut), Songs for Wandering Souls (1999, Winter & Winter)

Jazz, música dos Balcãs e rock misturados com elegância, destemor, ironia e lirismo. A ausência de suporte nos graves é habilmente suprida pela sagacidade e engenho dos músicos e ninguém reclamará da falta de um baixo ou contrabaixo. A música é maioritariamente da pena de Douglas, mas abre-se ao universo clássico (Schumann, Germaine Tailleferre), à canção (Georges Brassens, Joseph Kosma, Kurt Weill) e à tradição jazz (Herbie Nichols, Roland Kirk), sem que a mistura pareça forçada.

 [“Ferrous”, do álbum Songs for Wandering Souls]

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Pachora

Membros: Chris Speed (clarinete), Brad Shepik (tambura, banjar, saz eléctrico, guitarra acústica), Skúli Sverrisson (baixo)
Álbuns: Pachora (1997, Knitting Factory), Unn (1998, Knitting Factory), Ast (2000, Knitting Factory), Astereotypical (2002, Winter & Winter)

Um aprazível encontro entre jazz, post-rock e tradições dos Balcãs, Próximo Oriente e Norte de África, feito de melodias sinuosas e ritmos vivos. Dos grupos em que Black tem participado, é o mais imediatamente acessível.

[“Unn”, do álbum homónimo]

Jim Black’s Alasnoaxis

Membros: Chris Speed (saxofone), Hilmar Jensson (guitarra), Skúli Sverrisson (baixo eléctrico)
Álbuns: Alasnoaxis (2000, Winter & Winter), Splay (2001, Winter & Winter), Dogs of Great Indifference (2000, Winter & Winter), Habyor (2004, Winter & Winter), Houseplant (2009, Winter & Winter), Antiheroes (2012, Winter & Winter)

Black já teria um lugar na história do jazz pelas inovações que trouxe à forma de abordar a bateria e pelo contributo como sideman para um impressionante número de discos cruciais das últimas duas décadas. Com os Alasnoaxis, Black começou também a afirmar-se como líder e compositor, numa concepção sonora que privilegia melodias belas, simples e desanuviadas e grooves pop-rock, regularmente “sabotados” por acessos “subversivos”.

[“Maybe”, ao vivo no A Vaulx Jazz, em Vaulx-en-Vilen, França, 2009]

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BB&C

Membros: Tim Berne (saxofone) e Nels Cline (guitarra)
Álbuns: The Veil (2009, Cryptogramophone)

O colectivo BB&C une Black ao seu antigo “empregador” Tim Berne e ao mago da guitarra Nels Cline, que é mais conhecido como membro do grupo de indie pop Wilco, mas que tem também notável obra no jazz mais aventureiro, à frente do Nels Cline Trio e dos Nels Cline Singers. Os BB&C trabalham sem rede: o seu modus operandi é a improvisação livre, sem acordos prévios, mas o resultado dir-se-ia fruto de longa ponderação e transita com naturalidade e fluidez das atmosferas planantes à fúria thrash metal.

[Ao vivo no ShapeShifter Lab, Brooklyn, 7 de Maio de 2012; as coisas começam a aquecer a partir do minuto 5]

Jim Black Trio

Membros: Elias Stemeseder (piano), Thomas Morgan (contrabaixo)
Álbuns: Somatic (2011, Winter & Winter), Actuality (2014, Winter & Winter), The Constant (2015, Intakt)

A formação é clássica, a música não – nenhuma formação de que Black faça parte será “clássica”. O trio mostrou que, além do casamento de jazz e post-rock dos Alasnoaxis, a mente de Black fervilhava com ideias da mais variada natureza.

[Ao vivo no clube Sunset, Paris, Novembro de 2013; a partir do segundo 44’’ pode apreciar-se uma das invulgares técnicas de Jim Black: tocar címbalos com um arco de violino ]

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Jim Black’s Not Bloodcount

Membros: Tim Berne e Chris Speed (saxofones), Michael Formanek (contrabaixo)

Em 2014, no âmbito de uma residência de duas semanas no clube nova-iorquino The Stone, gerido por John Zorn, Black voltou a juntar-se a Berne, Speed e Formanek, sob a designação Jim Black’s Not Bloodcount, o que sugere que embora os músicos sejam os mesmos, a música é outra.

[Jim Black’s Not Bloodcount, ao vivo no The Stone, 25.03.2014; a quem não disponha de 40 minutos para ver o vídeo completo, recomenda-se que se assista à peculiar abordagem à bateria patente nos primeiros minutos]

Jim Black’s Malamute

Membros: Óskar Gudjónsson (saxofone), Elias Stemeseder (teclados), Chris Tordini (baixo eléctrico)
Álbuns: Malamute (2016, Intakt)

O quarteto tem nome de uma raça de cão originária do Alaska e usada para puxar trenós e combina a sonoridade invulgarmente macia e velada do saxofone de Óskar Gudjónsson, os inventivos (e, por vezes, adstringentes) teclados de Elias Stemeseder e o baixo eléctrico de Chris Tordini, e influências que vão do rock à música de dança e ao noise.

[Ao vivo no Bilbaina Jazz Club, Bilbao, 12 de Maio de 2015]

Jazz em Agosto

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