Mariza: "Falta-me fazer tudo"

Mariza acaba de lançar um novo álbum, homónimo. Prepara-se para voltar a pisar o palco do Coliseu, esta sexta-feira e sábado

Luís Filipe Rodrigues
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A fadista Mariza acaba de lançar um novo disco que partilha o nome com ela, onde volta a trabalhar com o produtor Javier Limón e colabora com um par de nomes mais ligados às músicas africanas, Héber Marques e Matias Damásio. Falámos antes dos concertos desta sexta-feira e sábado, no Coliseu dos Recreios.

Ao fim de quase 20 anos de carreira vais lançar um disco chamado apenas Mariza. Porquê?

O disco esteve para ter vários nomes. Primeiro era para se chamar Amor, porque o amor é tão importante que fazemos tudo à volta disso. E as canções que eu canto falam todas muito de amores, fazem-nos sonhar, pensar melhor. Depois, como eu danço muito em palco, passou para Fado Bailado. Mas não estava convencida, achava que nenhum nome fazia jus ao que tinha feito. E finalmente ficou Mariza.

Há muito tempo que a tua música vai além do fado: escutamos a tua herança africana, a tua paixão pelo Brasil. Isso volta a acontecer neste disco. Quão importante é trazer essas outras músicas para dentro do fado?

As pessoas acham que isso é um acto consciente, mas não é. Esses ritmos vão aparecendo inconscientemente. Não sei se é porque toda a minha vida ouvi muitos géneros musicais diferentes, se também pela minha vivência dos últimos anos.

Como é que o Héber Marques e o Matias Damásio surgem aqui?

O Matias e eu somos representados pelo mesmo escritório e temos o mesmo manager. Foi uma sugestão dele. Confesso que nunca pensei que o Matias escrevesse para outras pessoas, e foi um processo engraçado porque a forma de escrever dele é muito diferente da nossa. Tanto que quando o tema chegou comecei a ler o poema e a ouvir e pensei se teria capacidade para cantar aquelas palavras. Só depois, em estúdio, é que percebi que sim. O Héber também é amigo do meu manager, João Pedro Ruela, e eu já era fã da banda [dele, os HMB]. De certa forma, pedir-lhe uma música foi um atrevimento da minha parte.

É o terceiro disco que o Javier Limón te produz.  É o único produtor que se repete na tua discografia. O que é que ele tem que te faz voltar a ele uma e outra vez?

Há um entendimento muito grande entre nós os dois. Muitas vezes estamos sentados à frente da mesa de som, a ouvir só a viola e ele diz-me: “Quieres aquí la guitarra portuguesa”. E é mesmo isso. Trabalhar assim é muito fácil.

Mas como é que ele, um homem mais ligado ao flamenco, aparece na tua órbita?

O Javier é um homem muito virado para o flamenco, mas está atento a várias sonoridades. Quando se começa a falar com ele de música, é incrível o entendimento que ele tem. Ele é ligado à música do mundo em si. Para ele não interessa o género, tem é de ser bem feito, com bons músicos, bons compositores. Que também é como eu penso.

O disco abre com a “Trigueirinha”, apenas contigo a cantar o fado, e encerra com uma versão da mesma canção onde te juntas a Carolina Deslandes, Jorge Palma, Mafalda Veiga, Marisa Lins, Ricardo Ribeiro e Tim. O que te levou a fazer isso?

Acho que existe em relação ao meio musical aquela sensação de que ninguém se dá bem com ninguém. Mas eu não sinto isso, não tenho problemas com ninguém. Então decidi cantar com vozes que admiro e de que sou fã. Fui fazendo convites e os primeiros músicos com quem falei aceitaram logo. E o engraçado é que todos estávamos de acordo que os lucros da faixa revertessem para a Casa do Artista.

A ideia sempre foi doar os lucros à Casa do Artista?

A ideia já era um pouco essa, sim. Porque eu apoio muito a Casa do Artista e quando falei com eles disse-lhes logo no que estava a pensar.

Há poucas fadistas tão internacionais, tão conhecidas. O que é que sentes que, profissionalmente, te falta fazer?

Falta-me fazer tudo. No dia em que eu achar que já fiz tudo não vale a pena continuar. O ser humano move-se através do sonho e eu sonho muito, ainda quero atingir muita coisa.

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