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Nostalgia de Maio: as músicas que dominavam o airplay há umas décadas

As músicas que estavam a passar insistentemente na rádio neste mês, há 10, 20, 30 e 40 anos.

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Diz-se que a memória abafa as coisas más e amplifica as coisas boas, e que é graças a esse artifício que conseguimos suportar o peso do passado. No caso da música, a solução às vezes passa por abafar o som de uma canção mazinha ou tentar amplificar uma boa memória que lhe esteja associada. É que, se pensarmos bem, ao lado das músicas que continuamos a trautear com prazer, arquivamos muitas outras que não nos importávamos de esquecer mas que, recalcitrante e involuntariamente, perduram nas nossas cabeças. No fim, umas e outras fazem parte do nosso baú de nostalgias. Eis os sons que dominavam o tops em Portugal, Reino Unido e Estados Unidos, nos meses de Maio de há umas décadas.

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Há 40 anos: Maio de 1981

Em Maio de 1981 morre Bob Marley, François Mitterrand é eleito Presidente de França e Andrew Lloyd Webber estreia Cats. No dia 13, João Paulo II sobrevive aos dois tiros disparados por Mehmet Ali Ağca – cumprem-se 60 anos sobre as aparições da Cova da Iria, cheira a milagre e Roma vê no acontecimento a concretização de uma das profecias de Fátima. A inflação em Portugal ultrapassa os 17%.

Por cá, ouvem-se ainda os ecos da Eurovisão de Abril. Carlos Paião, que representara Portugal, abre o mês a liderar o top de singles com “Playback”, mas acaba destronado por “Making Your Mind Up”, a canção com que os ingleses Bucks Fizz venceram esse festival e que parece a ilustração perfeita da letra portuguesa (mas de tudo isso já lhe falámos na Nostalgia de Abril). No final do mês, seis meses após ter sido assassinado em Nova Iorque, John Lennon torna-se na voz mais ouvida nos gira-discos nacionais com “Woman”, single que vai liderar a tabela de vendas até início de Julho.

Mas o grande acontecimento são os Taxi. A 31 de Abril, a banda do Porto apresenta o seu homónimo álbum de estreia no Dramático de Cascais, na primeira parte do concerto de The Clash. A viagem vale aos Taxi 15 mil escudos de cachet e a confirmação de que estão no caminho certo. O pavilhão apinhado entoa “Chiclete”, “T.V.W.C.” e “Vida de Cão”, singles que mal se tinham estreado na rádio e que se vão tornar omnipresentes na frequência modulada desse Maio. Taxi, o LP, será o primeiro disco de ouro do rock português, por vendas superiores a 15 mil exemplares (Ar de Rock, de Rui Veloso, foi editado antes mas demorou mais tempo a atingir a meta) e nesse ano apenas “Super Trooper” , dos ABBA, conseguirá despachar mais vinil em Portugal.

No Reino Unido a Eurovisão é já notícia de ontem e a liderança do top de singles pertence a “Stand and Deliver”, canção de Adam & The Ants que recupera a frase emblemática dos salteadores de estrada do século XVIII, e que tem a grande virtude de lembrar vagamente este sketch dos Monty Python. Após cinco semanas no top, a canção começa naturalmente a escorregar para o esquecimento onde hoje habita. É seguida ao longo de todo o mês por este “Stars on 45”, dos Star Sound, projecto de estúdio que se entretém a amalgamar sucessos alheios em medleys com batida disco, e que ainda hoje é capaz de excitar festas de nostalgia.

Entretanto, a britânica Sheena Easton, que em finais de 1980 tinha já liderado o top de singles do Reino Unido com “9 to 5”, parte à conquista da América. O single é líder de vendas nos Estados Unidos no início de Maio, com o título modificado Morning Train (9 to 5)”, para não ser confundido com “9 to 5”, canção de Dolly Parton que meses antes ocupara o mesmo n.º 1 da Billboard Hot 100, e que por esta altura leva já 23 semanas no top, conservando ainda a posição 51. Mas o grande destaque desse Maio é mesmo “Bette Davis Eyes”, de Kim Carnes, que alcança o top a 16 de Maio e por lá se mantém nove semanas. Mais tarde conseguirá feito semelhante em Portugal: será o single mais vendido ao longo de dez semanas consecutivas, entre 20 de Setembro e 22 de Novembro.

Há 30 anos: Maio de 1991

Em Maio de 1991 os croatas votam em referendo a saída da Jugoslávia, antecipando o fratricídio em que os balcãs haveriam de mergulhar no Verão seguinte. O Manchester United é campeão europeu depois de bater o Barcelona na final, o primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi é assassinado, e no cinema estreia Thelma & Louise.

Em Portugal, o mês começa ao som de um clássico que já então somava 40 anos. “Blue Velvet”, canção originalmente gravada por Tony Bennet em 1951, acabara de ser recuperada para um anúncio da Nivea, na versão gravada por Bobby Vinton em 1963. À boleia do reclame, chegou ao número 2 da UK Singles Chart em Setembro de 1990, e oito meses depois aterrava no primeiro lugar da tabela portuguesa. No resto do mês, o top será dominado pelos Enigma. A priori, nada fazia adivinhar o sucesso da receita, misto de música de elevador e ambiência pseudo-conventual, vozes eróticas em francês, arabescos e vozeirões gregorianos em latim. Mas MCMXC a.D, o álbum de estreia do projecto alemão, acaba por ser o LP mais vendido desse ano em solo nacional, e o single “Mea Culpa Parte II” vai liderar o top até final de Maio.

Para a posteridade, porém, ficou este “More Than Words”, dos Extreme. Em Abril tinha sido número 1 da Billboard e número 2 da UK Singles Chart. Em Portugal não foi além do terceiro lugar em Maio, mas encheu um país de vaidade ao ver a bandeira portuguesa dependurada no amplificador do açoriano Nuno Bettencourt e pôs toda uma geração a tentar copiar aqueles acordes batidos na guitarra.

No Reino Unido, Maio é dominado de princípio ao fim por Cher com a sua versão para “The Shoop Shoop Song (It’s In His Kiss)”, que já evocámos na edição da Nostalgia de Abril. Passamos por isso aos lugares seguintes do top de vendas e recuperamos este “Gypsy Woman (La Da Dee)”, com que a norte-americana Crystal Waters nos martelou a cabeça meses a fio e que ficou para a posteridade como um exemplar clássico da música house. Entre os 45 rotações mais vendidos desse mês nas ilhas britânicas encontramos também duas baladas que terão contribuído para o nascimento de muita gente que por estes dias celebra 30 anos: “Promise Me”, de Beverley Craven, e “Senza Una Donna (Without A Woman)”, na versão regravada por Zucchero com Paul Young, dois rapazes que em 2021 já conseguem viajar na Carris com meio bilhete.

Por fim, nos Estados Unidos, assiste-se à segunda invasão sueca, depois dos ABBA e antes do IKEA. Desde 1989 que os Roxette coleccionam sucessos no mercado norte-americano e “Joyride” é o quarto single do duo a alcançar o número 1 da Billboard Hot 100, depois de "The Look" (Abril de 1989), "Listen to Your Heart" (Novembro de 1989) e "It Must Have Been Love" (Junho de 1990), que integrou a banda sonora do filme Pretty Woman.

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Há 20 anos: Maio de 2001

Em Maio de 2001 é lançada a versão portuguesa da Wikipedia. De visita à Síria, João Paulo II torna-se no primeiro Papa a entrar numa mesquita. Itália elege Silvio Berlusconi pela segunda vez. No cinema estreia Shrek e em Portugal o Boavista é campeão.

Em Janeiro, o músico e produtor Rui Silva tornara-se no primeiro português a conquistar o número 1 do top inglês de singles com “Touch Me”, nessa altura disputando o airplay com temas de gente como Eminem, Madonna, Britney Spears ou Robbie Williams. A 10 de Fevereiro, o single retirado do álbum o português gravou com a voz de Cassandra chega também ao cume dos singles mais vendidos em Portugal, e ali permanecerá, com algumas oscilações, até início de Junho. Em Maio, era ainda campeão do airplay nacional. A acompanhá-lo nos lugares do pódio vai tendo “What It Feels Like For A Girl”, de Madonna, “One More Time” dos Daft Punk, ou “I'm Like A Bird”, de Nelly Furtado, que há-de ser prato forte para a nostalgia do mês seguinte.

No Reino Unido, Rui Silva já não figura no top, agora ocupado por Geri Halliwell. Para primeiro single do seu segundo álbum a solo, a ex-Spice Girl lança esta versão de "It's Raining Men", um original das Weather Girls, que em 1983 alcançara já o número 2 da UK Singles Chart List e o número 1 da US Billboard Hot Dance Club Play. É o quarto single consecutivo da Ginger Spice a atingir o top britânico, depois de "Mi Chico Latino", "Lift Me Up" e "Bag It Up", todos extraídos do álbum de estreia Schizophonic, de 1999.

Nos Estados Unidos, desde de Abril que não há como fugir à voz de Janet Jackson, que alugou o trono da Billboard Hot 100 para uma temporada de sete semanas (um recorde do ano) e que ali se vai manter até final de Maio com “All For You”. Como já nos ocupámos dela na Nostalgia de Abril, viramos a nossa atenção para outra canção impossível de evitar por aqueles dias e que andou por todos estes tops sem nunca alcançar um número 1. Recordemos então “Thank You”, single retirado do álbum de estreia de Dido, a cantautora britânica que esteve sempre a uma letra de distância de uma piada fácil.

Há 10 anos: Maio de 2011

Em Maio de 2011, a Troika apresenta o programa de assistência financeira a Portugal. João Paulo II é beatificado no Vaticano, Ratko Mladić é capturado na Sérvia, Dominique Strauss-Kahn é detido em Nova Iorque, Osama bin Laden é morto no Paquistão. O FC Porto vence o SC Braga na final da Liga Europa e o Barcelona vinga-se do Manchester United na final da Liga dos Campeões (ver acontecimentos de 1991).

Em Portugal, o single mais ouvido é português. “A Máquina (acordou)”, dos Amor Electro, vai ocupar o primeiro lugar do top até à primeira semana de Junho. Destrona enfim Israel Kamakawiwo'ole (também conhecido por Bruddah Iz, ou simplesmente Iz), o havaiano que 14 anos após a sua morte se faz ainda ouvir com um best of da sua carreira e o medleySomewhere Over The Rainbow/What A Wonderful World”. Estava há um mês e meio na liderança, e só por uma semana cedera o primeiro lugar a Rolling In The Deep”, de Adele.

No Reino Unido, não há ainda forma de escapar às duas canções que dominaram o top em Abril: On The Floor”, a lambada de alta voltagem cantada por Jennifer Lopez e Pitbull, e a “Party Rock Anthem”, de LMFAO com Lauren Bennett e GoonRock. Só no final do mês é que Pitbull abocanha o top a solo, com Give Me Everything, uma daquelas batidas que até final do Verão se fará ouvir em todas as pistas de dança e lojas de pronto a vestir do mundo. Só porque sim, decidimos virar a atenção para o número 4 desse mês, ocupado por “I Need A Dollar”, de Aloe Blacc, que sempre envelheceu um pouco melhor.

E por fim, os Estados Unidos, onde se repete boa parte da playlist de Abril, com “E.T.”, de Katy Perry e Kanye West (que abre o mês no top); Rolling In The Deep”, de Adele (que fecha); On The Floor”, de Jennifer Lopez e Pitbull; ou “S&M”, de Rihanna com Britney Spears. Tudo música para ouvir em aparelhagens com bons subwoofers.

Música para os seus ouvidos

  • Música

Depois da pandemia, dos cancelamentos e dos confinamentos de 2020 e 2021, os músicos voltaram finalmente a subir aos grandes palcos em 2022. Houve muitos e bons espectáculos ao vivo – para os quais já nem precisámos de nos mascarar – mas tudo indica que em 2023 vamos ver e ouvir mais e melhores concertos em Lisboa. O ano ainda agora começou e já temos estreias e regressos de peso marcados até Outubro. Alguns já esgotaram, mas ainda há bilhetes para a restante maioria. Agarre-os enquanto é tempo.

  • Música

Depois de dois anos sem festivais de Verão, em 2022 voltámos finalmente a pisar os seus recintos. Mas o que encontrámos foram espectros – concertos que chegaram com dois anos de atraso, versões remendadas dos cartazes bem superiores originalmente anunciados, alinhamentos a roçarem o raquitismo. Este ano, porém, os festivais vão regressar com a força e os cartazes a que nos habituámos antes de acontecer o que aconteceu em 2020. Pelo menos a julgar pelo que já se conhece do Primavera Sound, do NOS Alive, do Super Bock Super Rock, do MEO Marés Vivas, do Vodafone Paredes de Coura e do MEO Kalorama. Isto, claro, partindo do princípio que a pior das décadas não tem mais uma tragédia à nossa espera ao virar da esquina. Esperemos que não.

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