Le Chant des Oiseaux, de Janequin
Ano: 1528
Ave: todo um aviário
O francês Clément Jannequin (c.1485-1558) foi um dos mais prolíficos e originais compositores de canções profanas da Renascença. A maioria das suas 250 canções, quase sempre a quatro vozes, são de temática amorosa, mas entre elas há também canções onomatopaicas que reproduzem criaturas, eventos ou episódios pitorescos da vida real. Le Chant des Oiseaux é uma de três canções de Janequin de temática ornitológica – as outras são Le Chant de l’Alouette e Le Chant du Rossignol – e o seu texto abre com uma celebração da Primavera, estação propícia aos amores: “Despertai, corações adormecidos/ O deus do amor chama-vos/ Neste primeiro dia de Maio/ As aves farão maravilhas/ Se quereis tirar-vos de cuidados/ Abri os vossos ouvidos”. Não estamos, porém, perante uma cândida e sonolenta aguarela campestre e em breve a letra revela o seu lado zombeteiro, com alusões a aventuras extra-conjugais (sendo o “cuco” uma metáfora para o marido traído).
Para quem imagine a música da Renascença como rígida e espartilhada, Janequin reserva grandes surpresas, de que é exemplo a forma como talha o texto de forma a criar efeitos onomatopaicos: “Frian frian frian.../ tar tar tar... tu velecy velecy/ Ticoun ticun... tu tu... coqui coqui/ Qui lara qui lara ferely fy fy/ Oy ty oy ty... trr. Tu/ Turri turri... qui lara/ Huit huit... oy ty oy ty...teo teo teo.../ Tycun tycun... Et huit huit... qui lara/Tar tar... Fouquet quibi quibi/ Frian... fi ti... trr. Huit huit...” E ainda há quem pense que a “vanguarda” e o “experimentalismo” foram inventados no século XX.