Clã - Fã
Foi preciso um musical para público jovem encenado por Nuno Carinhas e com texto de Regina Guimarães, estreado no Teatro Carlos Alberto em Janeiro de 2017, para se ouvirem novas canções dos Clã. Canções que são o combustível do espectáculo mas que, como este disco prova, têm ampla vida autónoma.
O corpo e a luminosidade da maioria das canções não diferem do percurso “para adultos” dos Clã (nem de Disco Voador, álbum de 2011, também com versos de Regina Guimarães, também imaginado para os mais novos). A pop-rock de “Ela Não Seria Ela” e “Super Superstição” são Clã vintage. A entrada de “A Cantigante” é irmã gémea de “Roxanne” de The Police. A melodia e cadência de “Amar e Ser Amado” regressam a “H2Omem”, tema de Lustro, o disco de 2000 cujos apontamentos exotica são repescados para a melhor canção de Fã: “Cisne e Rouxinol” é um prodígio de coros e acordes com cheiro a mar, desvios pelo jazz e a voz da actriz Maria Quintelas, que devia pensar a sério numa carreira paralela na música.
Outros temas têm um registo mais infantil, caso de “No Baile das Bambolinas”, cujo tango vem embebido num perfume nostálgico próximo de Miguel Araújo; e de “Quem Bem Me Quer”, de novo exotica mas cuja estrutura quebradiça mantém o ouvinte em sentido. Apenas “Fantasputo”, hip-hop gótico que parece plasticina nas mãos de um miúdo de três anos, perde o pé sem o suporte cénico, mas não rouba brilho a uma obra que sabe conversar com cabeças e corações dos sete aos 77.
Jorge Lopes