CupcakKe - Ephorize
A internet deu-nos um punhado de rappers brilhantes. Outros assim-assim. Outros nhec. Até este Ephorize – dois discos e duas mixtapes pelo caminho, desde 2016 – CupcakKe estava entre o assim-assim e o nhec. Atenção, o conceito sempre esteve lá, dirty-rap para mandar preconceitos abaixo – sim, “sou mulher e quero falar de sexo e de órgãos genitais” é sempre um bom princípio – só que a qualidade, sobretudo no que à produção e às letras diz respeito, escasseava. Sempre teve a métrica, que convenhamos está melhor do que nunca, e a capacidade rítmica de se reinventar em dez segundos. Agora dá ares de última evolução, que nem um pokémon que atinge o seu potencial, que se torna capaz de arrumar com os rivais sem grande esforço.
Falamos de um disco com 15 faixas que formam um bolo, perdão, um cupcake robusto, coerente e com temáticas que exterminam a ideia de que a rapper é um mero fenómeno da internet, que só sabe falar de desejo sexual. E se é certo que isso se mantém, numa escrita mordaz e quase de cartoon (oiça-se “Spoiled Milk Titties”, onde até um som de esparguete a ser sugado reproduz), mas há muito mais. Há um maravilhoso hino LGBT, canção de rua larga e iluminada, chamada “Crayons”. Já “Navel” – provavelmente a melhor música do disco – é uma egotrip embebida num instrumental flautado e a soar a 90s. Temos evidentemente também que abordar “Fullest”, onde verbaliza coisas como: “Try to clown me I’ma Ronald McDonald you (Donald you)”. E o melhor é que essa última faixa decorre num instrumental numa qualquer bodega de Havana, ou, eventualmente, num baile onde mandam as danças de salão latinas.
Não fossem dois erros de percurso, duas canções com beats meio house que podiam bem não estar aqui, diríamos que este é um belo disco com rap de fusão. Aliás: é na mesma. Cheio de malagueta. Como se pretende.
Miguel Branco