Orelha Negra
©DR
©DR

O melhor que ouvimos em Setembro

Dos Phoenix a Wiki, estes foram os melhores discos que rodaram pela Time Out em Setembro. Escutem com atenção

Publicidade

Setembro é um mês estranho. A meio caminho entre o Verão e o Outono, data dos últimos festivais e dos primeiros grandes concertos, quando ainda se sentem os efeitos da seca editorial do Verão mas começam a despontar os primeiros discos da rentrée (bonita palavra esta, repitam connosco: "rentrée").

Essa amplitude reflecte-se nos discos que nos passaram pelos ouvidos durante o mês de Setembro. Dos Phoenix aos Wiki, passando por Orelha Negra e o feliz encontro de King Gizzard & The Lizard Wizard e Mild High Club, estes foram os melhores.

O melhor que ouvimos em Setembro

Phoenix - Ti Amo

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

No vídeo de “J-Boy”, um delicioso momento retro-italiano, nomeiam-se as influências dos Phoenix: Beatles, Kraftwerk, The Jacksons, Velvet Underground, Prince, Serge Gainsbourg... Enfim, quase tudo. E ainda se poderia acrescentar The Strokes, de que o próprio “J-Boy” constitui um excelente exemplo. Ou os Buzzcocks, ou Hall & Oates... Para esta banda de Versalhes, a funcionar desde 2000, tudo pode ser refinado através de uma batida disco, muito anos 70, completamente dominada pelos sintetizadores.

Neste sexto disco, o carácter retro, nos limites do kitsch, é acentuado pela aventura italiana implícita no título e explícita na letra: “I’ll show you how to win/ my festival di Sanremo”. É um disco que exala felicidade e alegria, em que quase se ouvem os tilintares dos copos de “champanhe ou prosecco” a bordo de iates, apesar de, sim, todos sermos “kamikazes in a hopeless world”. Ah, a bela decadência... Manuel Morgado

King Gizzard & The Lizard Wizard with Mild High Club - Sketches of Brunswick East

  • 5/5 estrelas
  • Recomendado

Como assim? O que é que o cu tem a ver com as calças? Igual a inquirir o que uniu os King Gizzard & The Lizard Wizard, colectivo psych-rock australiano, e Mild High Club, que é no fundo Alex Britten, virtuoso músico californiano com escola jazz, daquela que descai, volta não volta, para o rock. Aparentemente, o quero-lá-saber do líder da trupe exploratória, Stu McKenzie, não combinaria com a pauta que Britten tem à sua frente. Só que Britten, ainda que saiba ler música, ainda que, fosse essa a sua vontade, pudesse ser músico de orquestra, tomou o gosto da jam, do vamos tocar e ver onde é que isto vai, e fê-lo durante meses em digressão norte-americana com os King Gizzard.

Eis o resultado: Sketches of Brunswick East (referência a Sketches of Spain, de Miles Davis), um paradoxal intervalo no xamanismo recente dos australianos (visível no frito e belo Flying Microtonal Banana); um sinal de que não foram engolidos pelo génio da lâmpada, pelo veneno das serpentes que conseguiram domar; um sinal que não cederam à demência e que conseguem largar o rock-ayahuasca para fazer um brilhante disco de jazz psicadélico. Claro que duvidamos que o fizessem sem Britten, músico completo, que os obriga a baixar o tempo, a moldar os seus desvarios perante rotações mais bumerangue, mais vai-e-volta e nem tanto só de ida.

Bom, não se engane, não é um disco de baladas, não é um disco de free jazz, não deixa de ser coisa pantanosa, na verdade, o intervalo de que falávamos acima é um meio-intervalo, um tempo de desconto amenizado por Mild High Club, sem perder a anestesia provocada pelos loops das cordas, a amnésia dos teclados. Britten, fica por perto. Fica para ser possível mais obras-primas como “Tezeta”, uma sincopada canção de amor estranho, que costuma ser o melhor amor; fica para “You Can Be Your Silhuette”, enorme aproximação à tropicália, como se Caetano Veloso a tivesse produzido, meio bêbado, talvez; fica para “Countdown”, sempre a descer até à praia, sempre a fazer ricochete na água. Treze canções de uma fragilidade desconhecida, misturada com noites de que talvez não nos recordaremos. Treze canções que asseguram um dos melhores objectos que já nos passou pelo estreito em 2017. Miguel Branco

Publicidade

Orelha Negra - Orelha Negra

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

O programa dos Orelha Negra ao terceiro álbum soa a consolidação do caminho traçado, sobretudo a partir do disco anterior (nenhum dos registos tem título; catalogue-se a coisa por números, tipo banda de rock progressivo ou enciclopédia em volumes; é seguro que o quinteto não se importará com as analogias). Um caminho no qual deslindaram uma linguagem própria, facilmente identificável, com uma rapidez surpreendente, tendo em conta que se mexem num bazar em tempos sobrepovoado: funk-jazz-rock em plano de fuga da Terra rumo a nenhum cosmos em particular, que o que vale é a viagem e não tanto o destino. A soul e o hip-hop estão no ADN de faixas (como na autoexplicativa “Apolo 70”), no baixo e na guitarra e no scratch e em cachos de vozes pedidas de empréstimo, ingredientes entranhados nos temas e não forçosamente dispostos logo na montra.

Aqui corre um conjunto de temas explanados no tempo sem preocupações com a concisão dos três minutos da indústria, formando um compêndio de composições densas de elementos (há muito para onde se pode virar, como exemplifica “A Sombra”, onde o pára-arranca rítmico vem do hard rock) que envolvem o ouvinte em vez de vergá-lo à solenidade ou ao peso do conceito.

Orelha Negra soa sobretudo a uns anos 1970 imaginados a posteriori. Tem um love theme para fita erótica pré-depilação brasileira? Tem, em “Claire”. Alimenta a memória dos aposentados das primeiras raves e noites de house? Alimenta, com a plácida “Soul2”. Celebra a fuga em todo o esplendor de lacas e lantejoulas e disco-sound? Celebra, em “Fenix”. Avança com o esboço de uma ópera gospel espacial? Avança, em “Ready”. Um disco de malas feitas para a viagem. Jorge Lopes

Wiki - No Mountains in Manhattan

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Wiki volta. E se isto é um facto – e é, eis o primeiro disco de estúdio do rapper nova-iorquino – é também um pedido, um desespero, ao estilo saco-cama à porta de uma sala de concertos. No fundo: da próxima vez não demores tanto. É certo que depois de Lil Me (mixtape de estreia editada em 2015) saíram belos discos, a questão é que nada soa a Wiki, nem Wiki soa a nada.

Bom, aqui, em No Mountains in Manhattan, o elemento dos RatKing (juntamente com Hak e Sporting Life) soa profundamente a uma coisa: Nova Iorque. São 16 canções que podiam ser um filme, como se tivesse agarrado uma GoPro e nos levasse pelas ruas da sua cidade. Nunca um guia turístico teve esta destreza de ritmo. Leva-nos a comer noodles na poluída “Chinatown Swing”; promove uma viagem de ferry na aquática “Islander”; apresenta--nos o presidente da câmara em “Mayor”, uma faixa embebida num funk/soul bastante 90s; convida-nos para uma sessão de estúdio inédita com os Wu-Tang Clan, representados por Ghostface Killah em “Made for This”; descreve-nos, com saudades, a relação que teve com a rapper Princess Nokia.

A diferenciação de Wiki não se fica pelo flow anasalado (que lhe dá extra classe), pelos genes porto-riquenhos, está lá nas palavras (de quem absorve as ruas de Nova Iorque como suas), está lá na velocidade nada trap nem nada 2017. Está lá. No Mountains in Manhattan é um pau de dois bicos: um retrato de Nova Iorque que acaba por ser também um retrato de Wiki, onde se expõe de camisa aberta, depilação por fazer, dentes por arranjar. Se houvesse montanhas em Manhattan Wiki já as tinha escalado. Miguel Branco

Há sempre música entre nós

  • Música

Setembro é um mês estranho. A meio caminho entre o Verão e o Outono, data dos últimos festivais e dos primeiros grandes concertos, quando ainda se sentem os efeitos da seca editorial do Verão mas começam a despontar os primeiros discos da rentrée.

  • Música

Em Novembro ponha tudo a secar que pode o sol não voltar, como se dizia antigamente. Outro bom conselho: cave fundo em Novembro, para plantar em Janeiro. Quando tiver completado estas tarefas cruciais, veja um concerto em Lisboa. Miguel Araújo no Coliseu dos Recreios é um dos destaques do mês. UB40 e Shakira na MEO Arena são outros. Numa onda completamente diferente, há Father John Misty no Coliseu dos Recreios. E mais coisas boas.

Publicidade
  • Música

Dezembro é um mês complicado. As compras e os jantares de Natal dilapidam a paciência e o orçamento familiar, mas há concertos em Lisboa para nos animar. E não nos referimos apenas a concertos natalinos. Há tudo o tipo de concertos, de Carlos do Carmo aos britânicos The Horrors.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade