L.A. Witch - L.A. Witch
Um coelho da cartola. Quer dizer, estando nós no reino da bruxaria – de um trio de bruxas que faz rock com restos de óleo da garagem ou com os lábios gretados de tempo a mais no deserto – talvez o coelho saia da cartola vestindo preto integral, com voz de saqueador.
Quatro anos após a sua formação, as L.A. Witch estreiam--se com um homónimo que soa a travessia, daquelas com um cantil de whisky no bolso de dentro do casaco, daquelas em que se o homem da estação de serviço não tem cuidado ainda lhe roubamos as garrafas e as bolachas todas. Há algo de impostor na voz nasalada e evocativa de Sade Sanchez – ecos entre jeitos country e punk – e bem sabemos como a imagética do crime é sedutora (basta escutá-la na inaugural “Kill My Baby Tonight” para querermos ir presos com estas feiticeiras). Em “Untitled” só nos falta o cavalo para começar o rodeo; o solo da baixista Irita Pai em “Baby in Blue Jeans” parece sacado do tom laranja das montanhas do Arizona.
Em suma, é um indie rock de roupa escura, sem medo de ver sangue, saído da garagem directamente para a aridez do deserto. Onde nunca lhes faltam líquidos. Miguel Branco