Os concertos das Savages são extáticas comunhões de rock’n’roll. Digam o que quiserem, mas no meio do som e da fúria da banda sentem-se as barreiras emocionais que separam a banda do público a ruírem. E é estranho que, quando nos encontramos com Beth e Thompson no dia seguinte, esses muros tenham voltado a ser erguidos.
Erik “Ripley” Johnson não vai em modas. Membro dos Wooden Shjips e dos Moon Duo, é um dos nomes mais valorosos do rock psicadélico americano actual. Os seus Moon Duo tocam segunda-feira no MusicBox, e antes conversámos com ele.
Os vossos discos do ano passado chamam-se Occult Architecture [vol. 1 e vol. 2]. De onde é que vem esse nome?
Tinha acabado de ler uma biografia do [místico e crítico social britânico] Aleister Crowley, e isso levou-me a uma série de livros mais esotéricos sobre o oculto e magia. Por essa altura, por coincidência, tínhamos dois volume de música focados na luz e na escuridão. Tematicamente fazia sentido.
Porque decidiram fazer dois discos tão diferentes?
Inicialmente queríamos fazer um disco mais negro e pesado. Estávamos a trabalhar no Inverno, e a música reflectia o nosso estado anímico. Só que acabámos as gravações com algum material que era muito leve e luminoso para entrar no disco, e por isso decidimos fazer um segundo, mais leve.
Então porque é que não fizeram simplesmente um álbum duplo?
Queríamos que as pessoas experienciassem os discos separadamente, e misturámos os dois em alturas diferentes já a pensar nisso. O primeiro em Berlim e o segundo, uns meses mais tarde, em Portland.
Qual é a tua relação com o ocultismo?
É algo que me interessa. Sobretudo a ideia de conhecimento oculto. Os humanos experienciam o mundo a partir de um certo corpo linguístico e ponto de vista, mas isso claramente não é tudo o que existe. Acho que temos uma visão muito limitada da realidade.
Por falar em limitações... Os Moon Duo começaram por ser projecto paralelo à tua outra banda, os Wooden Shjips. O que te levou a começar este projecto?
Eu só queria fazer mais música, andar mais em digressão. E os [Wooden] Shjips não podem viajar muito por causa dos trabalhos, família, etc.
Pois. Os Wooden Shjips não lançam um disco há quase cinco anos e tocam cada vez menos. Parece que se tornaram o projecto paralelo. O que mudou?
Não mudou grande coisa. O ritmo da vida, talvez. Mas vai sair um álbum novo dos [Wooden] Shjips a 25 de Maio, pela Thrill Jockey. Chama-se V.
Mas paralelamente os Moon Duo cresceram. Agora têm um baterista
nos concertos e tudo. Sentiram que fazia falta uma terceira pessoa?
É bom ter percussão ao vivo e deixar que isso alimente a música. As caixas de ritmos também são óptimas, mas é uma sensação diferente. Um ser humano é sempre mais dinâmico, e o John [Jeffrey] é um baterista muito bom.
Tu começaste a tocar rock psicadélico antes de voltar a ser moda. O que pensas da actual popularidade do género?
É fixe. Acho que, hoje, é mais fácil qualquer tipo de música encontrar um público.