A viola da gamba não foi uma criação inglesa, mas foi nas Ilhas Britânicas que a sua história conheceu momentos gloriosos. É provável que este instrumento de arco tenha surgido em Aragão no final do século XIV, tendo depois ganho difusão em Itália, onde a coroa de Aragão reinava sobre Nápoles e a Sicília, embora alguns autores defendam que o berço da viola foi Veneza. De qualquer modo, foi em Itália que ganhou o nome porque é conhecida: a designação “da gamba” decorre de os músicos segurarem o instrumento entre as pernas (“gambe”), à maneira dos tocadores de rebab do Norte de África, o que a distingue da viola da braccio, que é tocada como os violinos. Os instrumentos da família das violas da gamba distinguem-se da família dos violinos também por possuírem seis cordas (em vez de quatro), um braço mais largo, uma escala com trastos e um som doce e nasalado. Existem em vários tamanhos, sendo os mais comuns soprano, alto, tenor e baixo (tendo esta última as dimensões aproximadas de um violoncelo).
A partir de Itália as violas da gamba espalharam-se pela Europa: terão chegado a Inglaterra no início do século XVI e não tardaram a merecer a aprovação real. Na década de 1520 há registos de violas da gamba e gambistas de origem flamenga na corte inglesa e em 1540, Henrique VIII contratou seis gambistas italianos (possivelmente judeus sefarditas). As Ilhas Britânicas revelar-se-iam terreno fértil para o instrumento, sobretudo na forma do viol consort, formado por três a seis violas da gamba, de diferentes tamanhos, por vezes complementadas por alaúde, órgão ou harpa; entre as várias violas do consort não existe uma relação hierárquica, cada uma desempenha o seu papel na construção de uma complexa tapeçaria polifónica.
A música inglesa para viol consort é quase sempre de tonalidades melancólicas e desliza com compostura e contenção – e se é certo que inclui peças com nomes de danças (“pavans”, “galliards”, “allmaines”), estas destinavam-se mais a fazer dançar a mente do que os pés. A “English consort music” desabrochou na segunda metade do século XVI e começou a declinar em meados do século XVII.
[Um interior holandês com um uma viola de gamba e um instrumento de tecla, por Jan Verkolje, c.1674. A música era um hobby frequente e socialmente bem visto entre a aristocracia e burguesia da Europa do Norte no século XVII]
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