Música, Jazz, Alexandre Frazão, Baterista
©Tiago Fezas Vital/Facebook/Alexandre FrazãoAlexandre Frazão
©Tiago Fezas Vital/Facebook/Alexandre Frazão

Oito bateristas de jazz portugueses que precisa de ouvir

Longe vai o tempo em que o papel do baterista era ficar lá atrás a marcar o ritmo, como provam estes músicos portugueses

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Em contraste com a música clássica, em que a percussão costuma desempenhar um papel menor e há obras em que o percussionista passa meia hora imóvel e apenas intervém no “tcham-tcham” final, o jazz confiou, desde os seus primórdios um papel importante à bateria. Na era do swing, virtuosos como Gene Krupa e Buddy Rich deram à bateria um novo protagonismo e quando, na viragem das décadas de 1940-50, o bebop fez explodir a linguagem do jazz, havia bateristas como Kenny Clarke, Max Roach e Art Blakey a liderar a revolução. Na década de 1960, as inovações operadas por John Coltrane e Miles Davis tiveram o precioso contributo dos bateristas Elvin Jones e Tony Williams (respectivamente) e a turbulência rítmica de Bitches Brew, álbum pioneiro da fusão do jazz com o rock que se tornaria marcante na década de 1970, provinha das duas baterias de Jack DeJohnette e Lenny White.

Hoje a bateria desempenha papel tão importante no jazz como qualquer outro instrumento e alguns dos mais excitantes grupos do nosso tempo têm bateristas à frente – e Portugal não é excepção.

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Oito bateristas de jazz portugueses que precisa de ouvir

Alexandre Frazão

Frazão não é português – nasceu em Niterói, Rio de Janeiro – mas veio para Portugal aos 19 anos, em 1987, e tornou-se num dos pilares do jazz português. Na verdade o seu talento espalha-se generosamente por outras áreas musicais, pelo que até quem não se interesse por jazz o conhecerá por ter tocado com Resistência, Ala dos Namorados, Pedro Abrunhosa, Rui Veloso, Júlio Pereira, Joel Xavier, Rão Kyao ou mais recentemente os Dead Combo.

Frazão não tem discos em nome próprio, mas o seu contributo para o jazz nacional – ao lado de Bernardo Sassetti, Maria João, Mário Laginha, Mário Delgado ou Carlos Martins ou no colectivo TGB (que co-fundou em 2002, com Mário Delgado e Sérgio Carolino) – é inestimável e a sua versatilidade é assombrosa.

[Hot Clube, Lisboa, 23.12.17: o Mário Laginha Trio, com Bernardo Moreira e Alexandre Frazão, toca “Tráfico”, composição do álbum Espaço (2007, Clean Feed)]

José Salgueiro

Tal como Alexandre Frazão, Salgueiro é um sustentáculo não só do jazz português como da pop-rock e da música portuguesa, tendo feito parte do Trovante e tocado com Sérgio Godinho, Resistência, Vitorino, Janita Salomé, Gaiteiros de Lisboa e Pedro Jóia, entre outros. Integrou os Cal Viva (um super-grupo com Maria João, José Peixoto e Carlos Bica) e colabora (ou colaborou) com Bernardo Sassetti, António Pinho Vargas, José Peixoto, João Paulo Esteves da Silva e Carlos Barretto, com quem mantém há 20 anos o trio Lokomotiv, de que também faz parte Mário Delgado. Esta intensa actividade como sideman ajuda a explicar que só em 2017 tenha surgido o seu primeiro disco em nome próprio, Transporte Colectivo.

[Entrevista com José Salgueiro e excertos de concerto dos Transporte Colectivo no Hot Clube, Lisboa, 12.05.17, com Guto Lucena (saxofone, clarinete baixo), Mário Delgado (guitarra), João Paulo Esteves da Silva (piano) e Cícero Lee (contrabaixo)]

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Bruno Pedroso

Bruno Pedroso (n. 1969) é, juntamente com Alexandre Frazão e José Salgueiro, responsável pela componente rítmica de boa parte da música que se faz em Portugal, seja na área do jazz – João Paulo Esteves da Silva, Bernardo Sassetti, Afonso Pais, André Fernandes, Júlio Resende, Nelson Cascais, Paulo Curado, Luís Figueiredo, Gonçalo Marques – ou não – Paulo de Carvalho, Joel Xavier. Tem também dado o seu contributo aos discos das novas promessas do jazz português, como João Hasselberg e João Barradas.

[Com Júlio Resende (piano) e André Rosinha (contrabaixo), ao vivo na Fábrica Braço de Prata, Lisboa, 07.04.17]

Marco Franco

Começou pelo rock e pelo metal, derivou para o jazz e para a música improvisada, voltou ao rock (na vertente instrumental) e acabou por se envolver num jogo de sedução com o piano que resultou em Mudra, um disco de piano solo lançado em 2017.

Sim, o Marco Franco de Mudra é o mesmo que tocou com os Peste & Sida e os Braindead e faz parte do duo Memória de Peixe (com o guitarrista Miguel Nicolau) e coincide com o baterista que lidera os Mikado Lab (que registaram Baligo e Coração Pneumático), que formou um trio com o contrabaixista Gonçalo Almeida e o saxofonista Rodrigo Amado (que gerou o disco The Attic), que faz parte dos colectivos Clocks & Clouds e Deux Maisons e que tem tocado com Norberto Lobo.

[Os Mikado Lab, no Festival de Músicas do Mundo de Sines, 2011]

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João Lencastre

O veículo das ideias de João Lencastre enquanto líder são os Communion, um grupo de formação flutuante por onde já passaram David Binney, Bill Carrothers, Phil Grenadier, Leo Genovese, Ben van Gelder e André Matos e que nos últimos anos tem tido por base o trio com o pianista Jacob Sacks e o contrabaixista Thomas Morgan. Os Communion lançaram cinco discos – One, B-Sides, Sound It Out, What Is This All About e Movements in Freedom – em que se regista uma deslocação do jazz mainstream (One) para estruturas soltas e fluidas (Movements in Freedom, o título está mesmo a dizê-lo), mas a actividade de Lencastre não se esgota nos Communion: 2019 marcou a estreia em disco do projecto Parallel Realities, com Albert Cirera (saxofone), Rodrigo Pinheiro (piano) e Pedro Branco (guitarra). Lencastre faz também parte do colectivo No Project, com João Paulo Esteves da Silva (piano) e Nelson Cascais (contrabaixo).

[Os Communion ao vivo no Rive Rouge/Mercado da Ribeira, Lisboa, a 07.03.2018. Nesta ocasião, os Communion são Ricardo Toscano (saxofone alto), Alberto Cirera (saxofone tenor e soprano), João Paulo Esteves da Silva (Fender Rhodes), André Fernandes (guitarra) e Nelson Cascais (baixo)]

João Lobo

João Lobo (n. 1981) travou conhecimento com Enrico Rava num workshop em Siena (Itália), em 2003 (tinha o baterista 22 anos) e o trompetista não tardou a convidá-lo para integrar o seu quinteto New Generation – é o que se chama entrar no jazz pela porta principal. Desde então, Lobo tem tocado com muitos outros músicos internacionais – Giovanni Guidi, Scott Fields, Alexandra Grimal, Riccardo Luppi, Manuel Hermia – e nacionais – Júlio Resende, Hugo Antunes, Carlos Bica. Fundou os colectivos Tetterapadequ, Norman, Going e Mulabanda e associou-se num duo com o guitarrista Norberto Lobo (sem relação de parentesco), que entretanto se converteu no sexteto multinacional Oba Loba. O projecto mais recente é o trio Simugh, com Norberto Lobo e o contrabaixista belga Soet Kempeneer.

Para lá dos cerca de 40 discos que gravou com estes grupos, Lobo pode ser ouvido a solo em Nowruz (2017, Three:Four Records).

[Lobo a solo nas MagaSessions, Lisboa]

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Marco Santos

Marco Santos (n. 1981) estudou na Holanda e lá assentou base, pelo que não é de estranhar que a sua estreia como líder – Ode Portrait (Sintoma Records), gravado em 2013 – misture holandeses – o pianista Laurens Hoppe e o contrabaixista Boris Oud – e portugueses – Santos e o guitarrista Rui Silva. O baterista lidera também o projecto Marco Santos Unity, faz parte do colectivo Triktopus e lançou recentemente o projecto a solo Common Ground, em que a bateria é complementada por projecção vídeo, spoken word e electrónica.

[Excerto de “Both of Me”, composição de Marco Santos incluída em Ode Portrait, ao vivo no FestJazza Koprivnica, Croácia, 08.07.16, com Rodolfo Neves (trompete), Michiel Stekelenburg (guitarra), Jeroen van Vliet (piano) e Boris Oud (contrabaixo)]

Gabriel Ferrandini

É o benjamim desta lista – nasceu em 1986 – embora a extensão, variedade e riqueza do curriculum, que se espraia pelo jazz, pela música improvisada e pelas franjas experimentais do rock, não o deixe adivinhar. Lidera o trio Volúpia das Cinzas (com Pedro Sousa e Hernâni Faustino), faz parte do Motion Trio e do Wire Quartet de Rodrigo Amado, do RED Trio, do Nobuyasu Furuya Trio, da VGO, da Lisbon Connection, do SONE Quartet e dos Pão, gravou em duo com David Maranha e em trio com Thurston Moore e Pedro Sousa (Live at ZDB) e com Pedro Sousa e Johan Berthling (Casa Futuro) e tem-se desdobrado por encontros pontuais com improvisadores de gabarito internacional (como Evan Parker). Em 2019 lançou pela Clean Feed o álbum Volúpias, uma síntese da residência do trio Volúpia das Cinzas na Galeria Zé dos Bois.

[Ferrandini a solo na Galeria Zé dos Bois, Lisboa, 30.01.2011]

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Tim Tim Por Tim Tum

Tim Tim Por Tim Tum não é um baterista, são quatro. Este original grupos foi fundado em 1996 por músicos portugueses, inspirados por um workshop do mítico baterista Max Roach no Jazz em Agosto do ano anterior. A formação tem variado ao longo do tempo, mas Alexandre Frazão, José Salgueiro, Bruno Pedroso e Marco Franco têm sido elementos regulares nos últimos anos. Quem imagine que um quarteto de baterias é sinónimo de monotonia, terá de rever as suas ideias após ouvi-los. No videoclip abaixo, o convidado Jim Black (um norte-americano que visita frequentemente o nosso rectângulo) toma o lugar de Bruno Pedroso.

Jazz em Portugal

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Algumas das maiores estrelas do jazz tocaram trompete. Foram os casos de Louis Armstrong (1901-1971), Bix Beiderbecke (1903-1931), Miles Davis (1926-1991), Chet Baker (1929-1988) ou Dizzy Gillespie (1917-1993), entre muitos outros. Hoje, embora não tenha o mesmo protagonismo, o trompete continua a ser uma peça fulcral do jazz um pouco por todo o mundo. E estes cinco trompetistas contam-se entre os seus melhores intérpretes em Portugal.

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Começou por ter um papel apagado e discreto, percebeu-se que poderia ser mais do que um mero marcador de ritmo com Jimmy Blanton, emancipou-se com Charles Mingus e Scott LaFaro. Hoje é consensual que o contrabaixo não só não é um “instrumento menor” como pode assumir protagonismo equivalente ao do saxofone ou do piano e não é por acaso que alguns dos mais excitantes projectos do jazz português são liderados por contrabaixistas.

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Durante várias décadas, o piano foi visto no meio jazzístico como um instrumento indispensável: a mão esquerda do pianista pode fazer de secção rítmica e a direita ocupar-se da melodia, e pronto, não são precisos mais instrumentos; já os outros instrumentos do jazz tiveram de esperar até à década de 60 para que se tornasse aceitável que pudessem apresentar-se a solo. Nos nossos dias, o piano já não é indispensável, mas continua a estar na primeira linha. E Portugal está bem servido de bons pianistas de jazz.

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