Desde que Pablo Casals as resgatou a um esquecimento de mais de dois séculos, as Suites a Violoncello Solo Senza Basso, de Johann Sebastian Bach, tornaram-se na montanha sagrada do repertório para violoncelo. Como explicou numa entrevista Jean-Guihen Queyras, um dos seus mais notáveis intérpretes, o facto de o violoncelo estar completamente só, sem o amparo do baixo contínuo, deixa “infinitas possibilidades de interpretação, por comparação com uma obra ‘normalmente’ harmonizada”.
As seis Suites para violoncelo solo terão sido compostas por Bach entre 1717 e 1723, quando estava ao serviço do príncipe Leopold de Anhalt-Cöthen. Dada a sua elevada exigência técnica supõem-se que poderão ter sido escritas para os dois excelentes violoncelistas então ao serviço do príncipe Leopold: Bernard Linigke e Carl Ferdinand Abel. A Suíte n.º 5 requer uma afinação não-convencional e, segundo muitos intérpretes e musicólogos, a Suíte n.º 6 foi composta para um violoncelo piccolo de cinco cordas, um instrumento raro, de menores dimensões que o violoncelo-padrão, que desapareceu de circulação no final do Barroco. Os intérpretes que aderem à “interpretação historicamente informada” costumam recorrer a um piccolo na Suíte n.º 6, os outros tocam todas as suítes com o mesmo instrumento.
As Suítes estavam muito esquecidas quando, em 1889, Pablo Casals, então com 13 anos, deu com uma velha edição numa loja de partituras em segunda mão – passaria os 13 anos seguintes a tocá-las diariamente, até julgar-se capaz de as apresentar em público. Passar-se-iam mais 34 anos até que, em 1936, se dispôs a começar a gravá-las – três anos depois, em 1939, conclui a empresa, tendo sido o primeiro violoncelista a fazer o seu registo integral. Foi esta gravação que contribuiu decisivamente para a popularidade das Suítes e desde então todos os violoncelistas de primeiro plano se têm sentido obrigados, mais tarde ou mais cedo, a enfrentar o desafio.
Bach por Antônio Meneses
O brasileiro Antônio Meneses (n. 1957), foi membro do histórico Beaux Arts Trio entre 1998 e a sua dissolução, em 2008, gravou o Duplo Concerto de Brahms com Mutter e Karajan, o Don Quixote, de Strauss, também com Karajan, e tem colaborado regularmente com Abbado, Blomstedt, Bychkov, Jansons e Muti e boa parte das grandes orquestras mundiais. Esta experiência habilita-o a subir ao cume mais elevado da literatura para violoncelo, numa ascensão que será feita em duas etapas, com as suítes n.º 1, 3 e 5 na segunda-feira, e as n.º 2, 4 e 6 na terça.
Fundação Gulbenkian, segunda-feira 9 e terça-feira 10, 21.00, 20€.
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