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©Anwar Hakim
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Quando a saudade aperta: 13 canções escolhidas por músicos portugueses

Numa altura em que a distância é obrigatória e a saudade bate, pedimos a 13 músicos para traduzir o sentimento numa canção à sua escolha.

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"Saudade" é, por estes dias, uma das palavras que mais ouvimos. Saudades da família, dos amigos, saudades de um abraço, uma saudade transversal, difícil de pôr em palavras, ainda que caiba numa só. Mas, numa altura em que ao alimentarmos esta saudade estamos a fazer a coisa certa, é preciso olhá-la de outra forma, percebê-la de outra forma, e nisso a música foi sempre uma expressão poderosíssima. Pedimos a vários músicos portugueses que o fizessem: traduzir, numa música, as saudades que lhes cabem dentro, e explicar quais as memórias inerentes às canções. Treze nomes, do hip-hop ao rock, responderam ao desafio e fizeram da saudade a banda sonora de todos nós.

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Quando a saudade aperta

Alex D'Alva Teixeira (D'Alva)

"Sin Ti", MAR & Guydo

“‘Sin Ti‘’ tem sido, a meu ver, uma das canções mais relacionáveis desta quarentena, focando-se em sentimentos reais e universais de quem está longe da pessoa com quem mais se deseja estar, e no entanto essa possibilidade é inexistente, ou seja, esta música é perfeita para quem tem saudades do crush. Honestamente sinto mesmo muita falta de poder abraçar todos os meus amigos."

André Henriques (Linda Martini)

"Lembra-Me Um Sonho Lindo", Fausto

"Faz-me recordar a casa antiga dos meus pais onde cresci e os discos de vinil que tinhamos na sala. Sinto saudades dos meus pais. Há mais de um mês que só os vejo através de ecrãs e queria abraçá-los agora."

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Ben Monteiro (D'Alva)

"Beyond The Pines", Thrice

"Tanto eu como a Joana (minha parceira) somos Emo Post-Hardcore Indie Kids at heart e Thrice tem sido não só das bandas que conseguiu sair ilesa dessa era, com credibilidade e maturidade acrescida, como tem sido a banda sonora nas nossas road trips, o que mais gostamos de fazer juntos. É o nosso momento equalizador, onde ora falamos ora passamos um disco inteiro em silêncio, ora cantamos juntos. Somos o tipo de pessoa que prefere a viagem em si ao destino, e esta canção é um pouco sobre isso, ao mesmo tempo que evoca em mim um tipo de saudade particular: a saudade de algo que ainda não chegou. É desses momentos que sinto mais falta."

Carminho

"Peace Train", Cat Stevens

"Lembra-me os anos que vivi no Algarve, quando ainda morava com os meus três irmãos. Fazíamos muitas viagens de carro, todos juntos a cantar, e esses tempos deram-nos um gosto pela música que ainda hoje nos une."

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Catarina Salinas (Best Youth)

"At Seventeen", Janis Ian

"Lembro-me de estar no meu quarto, triste, porque o rapaz de quem eu gostava só queria saber de mim por eu ser amiga da rapariga em quem ele estava interessado... A adolescência, principalmente no início, tem destas coisas e na altura parece que o mundo vai desabar e nós vamos desaparecer no meio do 'terramoto'...! Entretanto, no meio deste tormento amoroso, o meu pai aparece-me no quarto e diz que tem uma música que gostava muito que eu ouvisse. Ouvi-a com ele, sem mostrar a minha fraqueza, e depois ouvi-a, vezes sem conta, sozinha e cheguei à conclusão que minha tristeza também era egoísta, tal como interesse do rapaz na minha pessoa! O meu pai nesse dia não sabia que eu tinha chorado por 'amor' mas conseguiu, juntamente com a Janis, acabar com a minha suposta dor!"  

Cláudia Pascoal

"Som de Cristal", Marante

"A escolha obrigatória do meu pai, ao conduzir, até hoje. Ouvi em loop todas as cassetes do Marante durante toda a minha infância, e todas elas estão entranhadas no meu subconsciente. Antes era uma tortura, mas agora dou por mim a ouvir no Spotify a épica frase "transformei esposa em mulher da rua". Nunca estive tanto tempo longe dos meus e do meu Porto. Tenho saudades, mas sei que brevemente estarei junto de quem amo e vamos poder cantar o ‘Som de Cristal’ em uníssono."

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Ed Rocha Gonçalves (Best Youth)

"Telefono", Phoenix

"Em 2017 eu e a Tânia fizemos uma roadtrip pelos Estados Unidos. Foi das maiores sensações de liberdade que já senti: só nós os dois, duas malas, e um V8 americano. Esta música fez parte da banda sonora que nos acompanhou desde o Big Sur ao Death Valley, e de Las Vegas a Los Angeles, com Palm Springs e o Mojave Desert pelo meio. Muita vontade de ter essa sensação outra vez."

Filipa Marinho (Marinho)

"Way over Yonder", Carole King

"Há canções que nos transmitem saudade imediata. Saudade de um tempo passado ou então do que nem sabíamos que íamos sentir falta no futuro. Essa é a que eu mais sinto: saudade de um futuro em que abraço os meus, cuja banda sonora pode perfeitamente ser o Tapestry da Carole King."

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Samuel Mira (Sam The Kid)

"Sherane a.k.a Master Splinter’s Daughter", Kendrick Lamar

"Podia ir por vários caminhos. Mas estou a lembrar-me especificamente de uma, a 'War', versão do Bruce Springsteen. Causava uma emoção em mim que me tornava irrequieto e queria partir tudo. Lembro-me de estar em cima do sofá, fazer o pino. Podia ir pela saudade, ausência, em relação ao Snake, e escolher a 'Letter To The King'. Mas está a apetecer-me ir para uma nostalgia e saudade mais recente. Na altura da primeira vez que fui a Macau, foi quando saiu o primeiro disco do Kendrick Lamar, Good Kid Maad City; nessa semana que lá estive, e que o álbum fez o leak, estive a consumi-lo. Só que mal carreguei na primeira faixa, 'Sherane a.k.a Master Splinter’s Daughter', não saí dali durante muito tempo. Lembro-me de lá estar com os meus irmãos de Orelha Negra, razão que me fez ir a Macau, e da conversa ser ‘já ouviste o novo do Kendrick Lamar? Mano, ainda nem saí da primeira faixa, está em loop’. Obviamente, quando ouço essa faixa, leva-me para Macau e para a viagem inesquecível que tive com eles. Foi um momento de partilha, Orelha Negra pela primeira vez no Oriente. Cada vez que a ouço leva-me a esse momento que gostaria de repetir."

Telmo Galeano (Tekilla)

"The Sweetest Taboo", Sade

"É um tema muito particular porque faz-me lembrar o meu pai, António Velasco Galeano, quando vivia com a família em Lisboa, na Rua Conde Redondo, onde cresci e frequentei a escola primária do Passadiço. Este e outros temas de Barry White, Sting (The Police) ou Bob Marley lembram-me imenso o meu pai, de quem tenho saudades desde que faleceu em 1992 em Luanda, Angola, vítima de assassinato. Por isso é especial e nesta altura vem-me muitas vezes à cabeça. Penso como seria se ele ainda estivesse vivo e tenho apenas uma única certeza: não seria músico nem seria a pessoa que sou hoje."

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Tiago Bettencourt

"Fado português", Amália Rodrigues

"Faz-me sentir saudades do tempo em que o fado era um porto seguro para os melhores poetas portugueses. Eu ouvia fado como quem lê um livro de poesia. Hoje em dia as prioridades mudaram e, com muita pena minha, já não é bem isso que se passa, com raras excepções. Este fado lembra-me também a altura em que descobri a Amália nos discos do meu pai, e passava horas a fio de olhos fechados admirar a intensidade que ela conseguia imprimir em cada palavra e a cada verso, sem esforço, com simplicidade, verdade e honestidade. Foi uma fase de aprendizagem e absorção. Faltavam ainda uns bons anos para eu sequer pensar em escrever a minha primeira canção."

Tiago Lopes (Regula)

"I Just Called To Say I Love You", Stevie Wonder

"Escolhi esta música/autor em particular porque, para além de ser a primeira que me lembro de ouvir na rádio, remete-me para os momentos mais felizes da minha infância num contexto familiar. Saudades."

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Samuel Úria

"Walk On the Wild Side", Lou Reed

"Quando era puto ouvi essa canção no Oceano Pacífico da RFM, e então todas as noites sintonizava o mesmo programa na esperança de voltar a escutar aquele riff inicial. Tenho saudades de perder o sono por coisas importantes, como canções-cinderella. O Lou Reed a deixar-me um sapato de cristal e uma linha de baixo."

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