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Sete bandas indie onde quem manda são elas

No Dia Internacional da Mulher, eis sete exemplos de bandas lideradas por mulheres, que dispensam paternalismos, condescendências ou regimes de quotas.

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Um dos aspectos em que as mulheres tendem, em média, a ser superiores aos homens, é na empatia, pelo que também são mais eficientes a trabalhar em grupo. Não é de espantar que, uma vez tombadas as barreiras mentais que faziam encarar com reserva a presença de raparigas em bandas de pop-rock, estas se revelem tão dotadas como os rapazes.

Sete bandas indie onde quem manda são elas

Soccer Mommy

Nos EUA, “soccer” designa o “futebol europeu”, já que “football” corresponde àquilo a que em Portugal (e no resto do mundo) se chama “futebol americano”. Nos EUA, o “football” é, com o hóquei no gelo e o baseball, um desporto típico dos rapazes, enquanto o “soccer” foi visto, durante muito tempo, como um desporto para raparigas ou “sissies” (mariquinhas, no sentido de rapazes pouco viris). É isto que explica que os EUA estejam no 1.º lugar do ranking de futebol feminino da FIFA e tenham ganho três dos sete campeonatos do mundo, enquanto no futebol masculino ocupam um modesto 24.º lugar (atrás do Senegal) e falharam a qualificação para o Campeonato do Mundo de 2018 ao perder um jogo decisivo com a selecção de... Trinidad e Tobago.

A expressão “soccer moms”, cuja primeira ocorrência registada data de 1982, designa mães de classe média, residentes nos subúrbios e quase sempre casadas, cujas ocupações principais são as tarefas domésticas e levar os filhos à escola e às actividades extra-curriculares – com relevo para o desporto, que, no caso das raparigas, é, frequentemente o “soccer”. Para este efeito recorrem, tipicamente, a um minivan, um carro espaçoso e seguro, apropriado para levar também os filhos dos vizinhos e os respectivos sacos com os equipamentos desportivos.

Uma vez que a imagem das “soccer mommies” corresponde à de uma mulher que se anula para estar ao serviço da família, é claro que a cantora e guitarrista Sophie Allison estava a ser irónica quando escolheu este nome para a sua banda, que tem vindo a ser catalogada como “bedroom pop”, uma categoria vaga e pouco rigorosa, que pressupõe canções intimistas, gravações caseiras e sonoridade lo-fi. Os Soccer Mommy lançaram dois álbuns, For Young Hearts (2016, Orchid Tapes) e Collection (2017, Fat Possum). Vale a pena notar que Sophie Allison tem só 19 anos.

[“Try”, uma canção do álbum Collection, ao vivo em estúdio nas sessões Audiotree Live, 2017, com Sophie Allison a ser acompanhada por Julian Powell (guitarra), Emily Allison (baixo) e Thomas Borrelli (bateria)]

Mourn

As regras gramaticais da língua portuguesa determinam que numa enumeração de substantivos de géneros diversos, basta que um seja do género masculino para que este género se imponha. Aqui e ali têm surgido excepções a esta regra machista: é o caso da banda Throwing Muses, que tinha nas vozes, guitarras e baixo três elementos do sexo feminino e na bateria um elemento do sexo masculino, e que costuma ser referida em Portugal como “as Throwing Muses”. É legítimo empregar o mesmo procedimento com a banda Mourn, que tem distribuição de géneros idêntica e que, por coincidência, tem uma sonoridade que faz lembrar as Throwing Muses – e também a abrasão e crueza da P.J. Harvey dos primeiros álbuns, Dry e Rid of Me (há quem junte à sua lista de influências Patti Smith e as Sleater-Kinney).

Nas Mourn as vozes e guitarras são partilhadas por Jazz Rodríguez Bueno e Carla Pérez Vas, o baixo está confiado a Leia Rodríguez e a bateria a Antonio Postius e a sonoridade espanhola dos nomes, que contrasta com o seu som retintamente anglo-saxónico, tem uma explicação: a banda é de Barcelona, o que poderá ser surpreendente para quem associe Espanha a outros géneros musicais e espere que o inglês das bandas espanholas seja ininteligível ou hilariante. Inesperada é também a idade dos membros da banda: quando lançaram o seu primeiro álbum (homónimo) em 2014, eram ainda adolescentes. Entretanto, em 2016, saiu um segundo álbum, Ha, Ha, He – ambos tiveram edição norte-americana pela Captured Tracks.

[“Otitis”, do álbum Mourn, ao vivo em estúdio, 2014]

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Speedy Ortiz

Mais uma banda que nasceu com uma mulher – Sadie Dupuis – a fazer demos lo-fi com voz e guitarra e depois recrutou cúmplices para formar uma banda “completa” – o guitarrista Matt Roubidoux (depois substituído por Devin McKnight e, a partir de 2017, por Andy Nolholt), o baixista Darl Ferm e o baterista Mike Falcone. A banda formou-se no início de 2011, em Northampton, Massachusetts, e lançou o álbum de estreia, Major Arcana, em 2013, seguido em 2015 por Foil Deer.

A sonoridade evoca o indie rock americano da década de 90 – Pavement, Dinosaur Jr. – e as letras são cáusticas: “A minha boca é uma fábrica de onde sai toda a componente tóxico do discurso que eu vomito [...] A minha cara é incapaz de exprimir quão mal me sinto”, canta Dupuis em “Tiger Tank”.

[“Tiger Tank”, do álbum Major Arcana]

Mothers

O nome da banda é possivelmente um remoque a quem acha que as mulheres deveriam remeter-se ao papel de mães e deixar o rock para os homens. Kristine Leschper começou por fazer demos só com voz e guitarra acústica, mas acabou por encontrar parceiros na sua cidade de Athens, Geórgia, primeiro em Matthew Andregg (bateria) e, depois, em Drew Kirby (guitarra) e Patrick Morales (baixo). Leschper exibe uma sensibilidade à flor da pele e não oculta nada sobre as suas vulnerabilidades e tormentos emocionais. Tem sido comparada a Angel Olsen e Sharon Van Etten, mas nalguns momentos – como em “It Hurts Until It Doesn’t” – também há pontos de contacto com Kristin Hersh. A banda (“as Mothers”? “os Mothers”?) estreou-se em álbum em 2016, com When You Walk a Long Distance You Are Tired.

[“It Hurts Until It Doesn’t”, do álbum When You Walk a Long Distance You Are Tired, numa versão ao vivo em estúdio nas sessões Audiotree Live, 2015]

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All Dogs

Em 2012, Maryn Jones – que também se apresenta a solo sob o nome Yowler e faz parte da muito recomendável banda Saintseneca – juntou-se a Nick Harris (guitarra), Amanda Bartley (baixo) e Jesse Withers (baixo) para formar os All Dogs. A banda, de Columbus, Ohio, estreou-se em disco com Kicking Every Day, em 2015, move-se na área da power pop. As letras de Maryn Jones são um desfile de vulnerabilidades, desorientação, instabilidade emocional e auto-depreciação: em “Skin” canta: “Estou sempre à espera que tudo se desmorone”.

[“Sunday Morning”, do álbum Kicking Every Day]

Waxahatchee

A recorrência da história da rapariga que grava um álbum lo-fi sozinha no quarto e só depois arranja gente para formar uma banda sugere que, apesar de tantas mudanças na sociedade, ainda persistem condicionantes mentais que fazem com que não seja tão fácil para as raparigas como para os rapazes juntarem-se numa garagem ou numa cave a fazer barulho.

Katie Crutchfield também começou por gravar música sozinha no quarto– em Birmingham, Alabama – com recursos parcos, antes de se juntar à irmã, Allison Crutchfield (teclados), e a Katherine Simonetti (baixo) e Ashley Arnwine (bateria). O nome da banda vem de Waxahatchee Creek, um curso de água da região, que retém um daqueles nomes índios que dão colorido à toponímia americana. Não contando com American Weekend, o primeiro álbum ainda a solo, os Waxahatchee lançaram os álbuns Cerulean Salt (2013), Ivy Trip (2015) e Out in the Storm (2017).

[“Silver”, do álbum Out in the Storm]

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Jen Cloher

“Quando eu era nova/ Queria que me chamassem Jon/ Não era difícil/ Cabelo curto, sem curvas dignas de menção/ Podia fazer coisas/ Que me eram vedadas enquanto Jen/ Andar de bicicleta com os rapazes/ Beijar raparigas e fazer barulho// [...] Este mundo não foi feito para as mulheres/ Descobre-se isso antes da primeira menstruação/ Desculpa, não estás a ouvir-me?/ Então e agora, que estou a gritar?// [...] Eu sei/ Que sou uma mulher forte/ Nunca pus isso em causa/ A minha força vem de trás/ A minha mãe, orgulhosa, preferia ser respeitada a amada [...]”

A canção “Strong Woman” condensa, em apenas três minutos, uma nota auto-biográfica, uma reflexão sobre a desigualdade de género, uma afirmação da homossexualidade feminina e uma sonora proclamação de independência. A sua autora, Jen Cloher, nascida em Adelaide, Austrália, em 1973, é mais frequentemente referida por ser a companheira de Courtney Barnett, uma “querida” do meio indie, mas Cloher tem uma carreira mais merecedora de atenção do que de Barnett, primeiro como Jen Cloher and the Endless Sea (2006-10) e depois como Jen Cloher, tout court. Gravou dois álbuns com os Endless Sea (Dead Wood Falls e Hidden Hands), dois singles em parceria com Barnett; em 2016 lançou o EP Good For You e em 2017 o álbum Jen Cloher.

[“Strong Woman”, do álbum Jen Cloher]

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