Os concertos das Savages são extáticas comunhões de rock’n’roll. Digam o que quiserem, mas no meio do som e da fúria da banda sentem-se as barreiras emocionais que separam a banda do público a ruírem. E é estranho que, quando nos encontramos com Beth e Thompson no dia seguinte, esses muros tenham voltado a ser erguidos.
Os Spoon marcaram e influenciaram a música indie americana desde o primeiro disco, em 1996. E, indiferentes às modas, nunca pararam de refinar o seu som. Com o álbum Hot Thoughts, deste ano, provam que ainda são capazes de baralhar e introduzir novas ideias numa fórmula que parecia cristalizada. Antes do concerto de sexta, no Coliseu dos Recreios, conversámos com o baterista e fundador Jim Eno sobre singles dos Can, o último disco dos Spoon e maus presidentes republicanos.
É verdade que o vosso nome vem de um single dos Can?
Confere.
Qual é a história por trás disso?
Foi há muitos anos. Já tínhamos marcado o primeiro concerto, mas ainda não tínhamos escolhido um nome. Precisávamos de ter qualquer coisa no cartaz, e então cada um sugeriu possíveis nomes. Spoon foi aquele com que todos concordámos.
O vosso novo disco, Hot Thoughts, saiu pela Matador, uma das maiores editoras indie americanas, que também editou o vosso primeiro disco, há 21 anos. Porque decidiram voltar a assinar pela Matador depois de tantos anos?
Normalmente nós tentamos vender os nossos discos a várias editoras quando os completamos. Desta vez, a Matador pareceu-nos a melhor opção, devido ao seu historial e ao entusiasmo com que receberam o disco. E devo dizer que é muito bom estar de volta à Matador.
Na “Tear It Down” cantam sobre derrubar um muro. Sei que não é sobre o prometido muro mexicano do Trump, ou pelo menos não era quando a gravaram, mas muita gente faz essa leitura. O que pensam disso?
O Britt [Daniel, vocalista e principal compositor] escreveu a canção antes das eleições. Na altura todos pensámos que o Trump ia ser esquecido, que ia ser apenas uma mancha na história da política americana quando o disco finalmente fosse lançado. Para nosso azar estávamos errados. Mas se a canção ajuda as pessoas a lidar com o que se está a passar neste momento, ficamos muito contentes. Força.
Em 2007, quando lançaram o Ga Ga Ga Ga Ga, eram muito críticos do presidente George W. Bush. Até tinham um par de canções sobre ele. Passados dez anos o Donald Trump é o vosso presidente. A minha pergunta é: não têm saudades do Bush?
Nunca pensei que pudesse haver um presidente pior do que o George W. Bush. O Trump provou que eu estava errado. Dito isto, não tenho saudades do presidente Bush. Esses também foram anos muito complicados.
O Hot Thoughts parece um disco mais sugestivo, mais físico, do que os vossos discos anteriores. Concordam?
Concordo que tem um som mais físico, mas em geral tendemos a gostar de registos duros. Desta vez quisemos fazer um disco diferente e que soasse ao futuro. Com barulhos estranhos e teclados esquisitos em primeiro plano.
Como é que foi o processo de gravação?
Foi uma experiência muito positiva. Trabalhámos arduamente para fazer um disco que explorasse novos sons e não repetisse o que fizemos antes. O trabalho de estúdio foi entusiasmante e colaborativo. E acho que isso se nota.
Tu e o Britt Daniel fazem música juntos há mais de 20 anos e nunca perderam o entusiasmo. Qual é o segredo dessa longevidade?
Estamos nisto pelo amor à música, meu. Estamos aqui para o que der e vier e nada se vai atravessar no nosso caminho. Além disso, bebemos imenso.
Apesar de não serem banda mainstream, a vossa música ouve-se muito em séries e programas de televisão. Dá para viver bem da música?
A maior parte dos meses conseguimos pagar as contas com a música que fazemos, mas temos de trabalhar no duro. Viver da arte não é fácil, mas é o trabalho mais recompensador que já tive.
Ainda pode comprar bilhetes para o concerto dos Spoon, sexta às 21.00 no Coliseu dos Recreios. Basta clicar aqui.