The xx
@Alasdair McLellan
@Alasdair McLellan

The xx: “Temia que nos estivéssemos a afastar”

A poucos dias do concerto no NOS Alive, The xx falam das provações que tornaram o novo disco 'I See You' mais luminoso

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Percebe-se que Romy Madley Croft se preocupa demais pela forma como fala da sua estrela pop favorita. Durante um concerto de Mariah Carey em Londres, há uns meses, Croft estava preocupada porque a diva estava a apoiar-se demasiado e a ser carregada nos seus dançarinos. “Estava a pensar para os meus botões: espero que ela se aguente em pé”, recorda, aterrada. “Estava mesmo nervosa. Até que subitamente ela se começou a mexer sozinha e percebi que estava tudo bem.”

A guitarrista e vocalista é a mais engraçada do grupo. O baixista e vocalista Oliver Sim tem carisma para dar e vender, enquanto o mago da produção Jamie Smith (vulgo Jamie xx) está quase sempre calado, a comer amêndoas e a descrever “coisas” como “boas” ou “mesmo boas”. Mas há muito do que falar: a digressão mundial da banda passa pelo NOS Alive na sexta-feira, para já não dizer nada dessa inversão de marcha luminosa que é o terceiro álbum, com o grupo em pico de forma. O que tem muito que se lhe diga, dado que a banda se tornou muito popular logo com o primeiro disco.

O trio cresceu junto em Londres: Croft e Sim conheceram-se com três anos e conheceram Smith aos 11. Os primeiros e marcantes discos, xx (2009) e Coexist (2012) são exercícios monocromáticos, de atmosferas esparsas, feitos por jovens cabisbaixos que foram exaltados por gente como Drake e Rihanna. O aguardado terceiro álbum, I See You, lançado em Janeiro, muda as regras do jogo e avança por estrada de tijolos amarelos rumo a uma electrónica tecnicolor.

Em vez de ser o tipo de música celestial que te embala no caminho de volta a casa, I See You parece ter sido feito a pensar nas pistas de dança. Dos sopros jazzísticos da faixa de abertura, “Dangerous”, aos ritmos quentes e abafadiços de “Lips”, é surpreendente. Sobretudo vindo de uma banda que até agora era demasiado tímida para nos olhar nos olhos. Paralelamente, parecem também ter crescido em palco.

Apesar da extroversão e expansão da sua música, eles continuam inaudíveis durante a entrevista, como se tivessem medo que alguém lhes fosse ralhar por estarem a falar. O silêncio – ou perto disso – sempre foi a zona de conforto dos membros de The xx. Mas recentemente, enquanto estavam separados depois das gravações do novo álbum, o silêncio tornou-se desconfortável. “Nunca tínhamos sentido falta uns dos outros”, explica Croft.

I See You foi produzido ao longo de 17 meses, entre Nova Iorque, Los Angeles, Reykjavík, na Islândia, e Marfa, no Texas. “Foi o contrário de qualquer outra experiência que tivéssemos tido”, nota Smith. Nunca tinham trabalhado num grande estúdio antes, apenas em pequenas salas. Ninguém podia entrar lá. O anterior Coexist foi acabado antes de o mostrarem a quem quer que fosse. Desta vez partilharam o material com algumas pessoas ainda numa fase embrionária. Sim admite que isso os ajudou “a descontrair” e evitou que se limitassem a si próprios como dantes.

“Quando falámos do Coexist, embelezámos a experiência”, brinca Croft. “Toda a gente nos perguntava se tinha sido uma experiência difícil, e nós dizíamos que não tinha sido.” Esboça um sorriso: “Mas foi.”

Além de os ter levado para fora de Londres, o terceiro álbum coincidiu com uma expansão do som da banda. O trabalho a solo de Smith encorajou Sim e Croft a fazerem música mais luminosa e ambiciosa. “Tinha muita inveja dos sets de DJ do Jamie, de o ver a fazer as pessoas dançar”, confessa Sim. “Quis que fizéssemos o mesmo.”

Na actual digressão, Croft interpreta a canção “Brave For You”, uma ode à família que perdeu. A mãe morreu quando ela tinha 11 anos, e o pai partiu quando tinha 20, no mesmo ano que uma prima, que era quase como uma irmã, faleceu. “Estava preocupada com essa canção”, admite. “É evocativa de uma altura em que estava a reestabelecer uma relação com a memória [da minha família], a voltar a um lugar que evitei durante muito tempo.” A maquete é dilacerante. Mas nas mãos do trio torna-se eufórica e triunfante. “Agora sinto isso na canção. Não me sinto exposta ou magoada. Estou a olhar para a frente.”

Talvez sejam os problemas de Croft que fizeram de The xx mais do que apenas uma banda. São uma família, uma amizade que sobrevive. Antes de 2015, o grupo só tinha estado separado durante as férias de Verão da adolescência. A distância causou problemas, particularmente para Croft e Sim. “Não foi incrível”, admite Sim. “Temia que nos estivéssemos a afastar.”

Ainda nunca tinham percebido que as amizades davam trabalho. “Durante muito tempo pensei que tinha feito algo de errado, e a Romy pensava o mesmo”, diz ele. “Estava a tentar dar-lhe espaço, e ela estava a tentar dar-me espaço, mas achei que estava a ser fria. Só quando nos encontrámos é que percebi que isso era estúpido.”

“Não queríamos mostrar-nos vulneráveis, por isso só dizíamos as coisas através de mensagens”, conta Croft. Sim junta-se à festa: “Nada é pior do que as mensagens. Podemos lê-las de um milhão de formas diferentes.” E as redes sociais também passavam uma imagem errada. “As pessoas só revelam o melhor de si. Tu pensas que sabes como é que os teus amigos estão em Londres, mas eles podem estar a passar mal e só partilharem fotos incríveis. É preciso ouvir a voz das pessoas.”

Sem os colegas de banda por perto, Sim estava na mó de baixo. É possível ouvir precisamente isso nas canções “A Violet Noise” e “Replica”. “Acho mais fácil dizer o que sinto através das canções do que em conversas. Foi assim que sempre comuniquei com eles os dois”, afirma Sim, referindo-se a Croft e Smith. (Sim está sóbrio há um ano.) “Sinto-me muito orgulhoso da minha recuperação, e isso entusiasma-me.” Por uns momentos sorri, mas depois volta a fechar-se. “Ainda estou a tentar perceber certas coisas. Talvez no futuro faça mais algumas canções sobre isso...”

Enquanto isso não acontece, a dinâmica familiar de The xx está intacta mais uma vez. “O Jamie é o pai”, diz Sim. “Sou?”, retorque Smith, antes de se virar para Croft. “Romy, dirias que és a mãe ou o pai?” Ela pensa um bocado. “Às vezes sinto-me muito mãe”, diz ela. “Mas talvez seja o pai. Mesmo que não diga nada, penso muito em vocês os dois.”

A recente digressão da banda pela América do Sul foi um “pandemónio”. “Não estamos habituados a ver pessoas aos aos gritos, a gritarem e a cantarem todas as letras”, diz a cantora, enquanto se ri. Foi assim que imaginaram o sucesso? “Ao início não tínhamos quaisquer ambições. Nunca pensámos que fossemos além dos bares onde tocávamos em Londres”, recorda Croft. “Mas algures pelo caminho apaixonámo-nos por isto, e hoje somos muito ambiciosos. É engraçado. Não sei como é que isso aconteceu.”

Hoje, os membros da banda são ambiciosos. “É a primeira vez que estou a dizer isto, mas adorava escrever música sem ser para os nossos discos”, confessa Sim. E Croft quer continuar a escrever para outros artistas, como fez com os OneRepublic. “Ainda é um sonho meu”, admite. Smith, um homem de poucas palavras, não tem grandes planos para o futuro à excepção de fazer uma banda sonora para um filme. Pondera escrever para ficção científica, mas abandona a ideia, dizendo que o melhor filme espacial já foi feito: é o Interstellar, de Christopher Nolan. “Gosto de comédias românticas adolescentes foleiras”, diz, esboçando finalmente um sorriso. Está com sorte: com The xx vai poder continuar a fazer bandas sonoras de muitas dessas histórias.

O NOS Alive 2017 está aí

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