Fomos à pesca e descobrimos os melhores restaurantes de peixe e marisco em Lisboa. Do mar para o prato, sem espinhas, esta lista sabe a Verão o ano inteiro.
Sexta-feira, 20.35. Raquel e Natércia, peixeiras, estão de volta da sua banca a guardar o peixe fresco do dia, as espetadas já preparadas, imagem de marca da Peixaria Centenária, ou o marisco, em arcas frigoríficas. A rotina de mais um dia de trabalho nesta peixaria mudou às sextas-feiras: além disto, agora tiram o excesso de gelo de cima da banca de alumínio e tapam-na com um tampo de madeira desdobrável. O novo projecto da Peixaria Centenária, no Príncipe Real, é transformar a banca numa mesa de jantar logo a seguir ao fecho da loja, às sextas-feiras, e servir bons pratos de peixe.
Desde que abriram a Peixaria Centenária, em 2013, que Joana Mateus e Rui Quinta, dois dos sócios, recebem várias chamadas a perguntar se dá para marcar mesa. “É estranho uma peixaria chamar-se peixaria e só vender peixe”, ri-se Joana. Começaram a responder que já não dava, que tinham a lotação esgotada. Cinco anos depois e com uma comunicação particular e muito activa nas redes sociais, resolveram dar resposta aos pedidos e agarrar os fãs que acham graça às postas de pescada lançadas no Facebook mas não são clientes. Chamaram o chef Pedro Marques, fundador do restaurante Entra, em Marvila (que entretanto vendeu), e criaram o conceito “A Banca na Peixaria”. É simples: “jantar peixe em cima da mesma banca que durante o dia vende peixe fresco, com os pratos das nossas avós, bom vinho e boas receitas de peixe, sem serem armadas ao pingarelho”, resume Joana.
Todas as semanas, à sexta-feira (ou conforme o pedido para outro dia, desde que feito com antecedência), desmontam a banca para transformá-la noutra, com capacidade para oito a dez pessoas. Desligam as luzes (mantém-se só um foco de luz ligado) e criam um ambiente mais intimista e confortável – sem frio ou cheiro a peixe. Os bancos são altos, a loiça é antiga, das avós de Rui. Onde normalmente se amanha o peixe, há um fogão improvisado e um tacho de esmalte antigo, que virá depois para a mesa. É lá que Pedro cozinha. “Não há um menu definido. Ligo para a peixaria para saber o que têm e começo a pensar no que vou fazer. Ainda há bocado estava a olhar para aquele sável que estava na banca e a pensar numa caldeirada ou em fazê-lo frito”, diz. A comida é sempre tradicional portuguesa. “Não há nada muito moderninho, embora haja uma ou outra coisa reinventada”, reforça Joana.
Andam em testes há um mês e já calhou servirem ostras de entrada, salada de búzios ou uma salada fria de lulas grelhadas, com tomate cherry, azeitonas Kalamata, cebola roxa, salsa e vinagrete de limão. O prato principal é sempre de tacho, reconfortante, do arroz de berbigão à caldeirada. Já experimentaram um caril de peixe mas como não é muito português, riscaram do planeamento mensal. Para jantares de grupo especiais, o menu pode ser adaptado em conversa com o chef, da sardinhada à mariscada.
Às 21.00 começa a chegar a clientela do jantar. Pedro senta-se sempre à mesa, seja com um grupo que já se conhece todo ou, como tem acontecido, perfeitos desconhecidos, que normalmente vão em pares, e “cola aquela gente toda”, explica Joana, que nesta fase inicial também tem sido presença assídua nos jantares. É Pedro, também, que serve todos, e como numa grande família ou na casa das avós, há pratos pelo ar e a passar de mão em mão, e dá para repetir até ver o fundo ao tacho.
A sobremesa também é clássica, seja um arroz doce ou farófias. No dia em que nos sentámos na banca, houve mousse de chocolate com bocados de bolacha digestiva, uma espécie de salame à colher. É tudo bem regado com vinho branco, escolha do chef. Caso para dizer: abanca aí, ó freguês.
Praça das Flores, 55 (Príncipe Real). Reservas para jantar: 91 419 9427. A banca do peixe a sério está a funcionar de terça a sábado das 08.30 às 20.30. E agora também têm banca no mercado de Campo de Ourique com peixe fresco entre as 08.00 e as 20.00.