O futuro da restauração pós-pandemia
O envolvimento de empresas de tecnologia que procuram dar respostas às necessidades deste mercado em franco desenvolvimento tem-se revelado uma tendência pelo mundo fora. Mas a pandemia, é certo, foi a catalisadora de todas as mudanças. Que o digam Diogo Noronha, Damian Irizarry e Marta Fea que, em Março, puseram em andamento o colectivo FoodRiders num pequeno espaço da Calçada do Poço dos Mouros, na Penha de França. É aí que vive a Ameaça Vegetal, o novo projecto gastronómico do chef Diogo Noronha, que vai ao encontro de uma dieta flexivegetariana. Ao mesmo tempo, essa cozinha é a nova casa da marca de comida mexicana Las Gringas, de Damian e de Marta.
“Estamos numa zona que é um híbrido do que era a restauração pré-pandemia”, explica Diogo sobre o colectivo, numa sala de reuniões que também é armazém, ao lado da cozinha aberta onde tudo é preparado. A experiência aqui é um pouco diferente da do restaurante tradicional, mas distancia-se igualmente da realidade das dark kitchens. “Temos um espaço aberto que opera em grande percentagem em delivery, e depois temos também a possibilidade de fazer take-away. A cozinha é completamente aberta, há transparência total em todos os processos.” A equipa que prepara a sopa de bisque de camarão ou a sanduíche de couve-flor assada, presentes no menu da Ameaça Vegetal, também é a responsável por fazer as tortilhas de farinha que acomodam as gringas ou as salsas da marca mexicana. O trio quer explorar um modelo de negócio que, apesar de se apoiar no universo digital, vai buscar à proximidade com o cliente semelhanças do modelo tradicional de restauração. As paredes em cimento, decoradas com ilustrações e fotografias de artistas, tornam o ambiente mais aprazível e o gira-discos permite que os visitantes possam escolher a música que ouvem enquanto aguardam que os pedidos lhes sejam entregues ou põem a conversa em dia com um dos anfitriões.
Para os FoodRiders, “existe uma restauração pré-pandemia e existirá uma restauração pós-pandemia”. O conceito de dark kitchen “é uma coisa escura, tal como o nome indica, que está à distância e que entrega comida, a única relação que as pessoas estabelecem é com a embalagem ou com a comida que recebem em casa”. Aqui, “há uma abordagem muito diferente do processo; há interdisciplinaridade entre várias áreas; há um conceito de bebidas; uma linguagem gráfica e artística de colaborações. Temos uma dinâmica no sentido de criar uma comunidade e de incluir as pessoas em vez de ser um restaurante virtual puro e duro”.
No todo, há várias lições a retirar, acredita Diogo Noronha, que antes de se juntar ao colectivo estava à frente do Pesca, no Príncipe Real, outra vítima do primeiro confinamento. “Em grande medida, os modelos de entrega que operam agora são de sobrevivência. São de pessoas que, com alguma resiliência, tentam aguentar os seus negócios e estão a tentar adaptar-se. Haverá uma direcção interessante, que é a que estamos a desenvolver como projecto, que é a de beber o melhor de dois mundos e de encontrar conceitos e experiências. O que tentamos desenvolver aqui é uma experiência que vai além de estar em casa e ter fome.”