Naquela que é, provavelmente, a rua mais esquizofrénica de Portimão, onde reina a histeria e a desordem, fica um dos melhores restaurantes do país – e nada nisto é um exagero. Em cima da Praia da Rocha, o restaurante Bela Vista Hotel & Spa é uma porta de entrada para um mundo delicado. João Oliveira, que antes daqui chegar em 2015 passou pelas cozinhas estreladas do Largo do Paço, em Amarante, do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e do Vila Joya, em Albufeira, está seguro do caminho que percorre e o menu nunca esteve tão afinado. “Nós agora trabalhamos só Algarve, mais cultura e produto premium”, resume o chef, que conseguiu a estrela Michelin em 2017. “Começámos em 2015 com um menu voltado para a sustentabilidade. Em 2016 e 2017 trabalhámos com peixes menos conhecidos, só peixe de arrastão que não tinha valor comercial. Em 2018, quando muita gente começou a fazer menu de mar, nós começámos a definir cada vez melhor o nosso caminho e começámos a trabalhar só com barcos de pesca artesanal. O ano passado começámos com o mapa e agora fazemos a sequência de Vila Real de Santo António até Sagres, olhando para a parte de cima, da serra, na parte das sobremesas”, conta João Oliveira, que apesar de não ser algarvio – é natural de Valongo – quis conhecer e representar a região onde vive e trabalha. O mapa a que se refere é, na verdade, a única coisa que existe em cima da mesa quando o cliente chega. Dividido em três partes, como o menu (200€), ajuda a localizar cada ingrediente de cada momento numa determinada zona, tornando simples e acessível o caminho do mar e da horta à mesa. “A cozinha não é 1+1, mas quanto mais tu comes, mais experimentas e mais testas, acabas por ter uma paleta de cores, sabores e texturas maior e acaba por sair tudo naturalmente”, explica, como se fosse fácil. E é por isso também que o menu está em constante evolução e pratos como aquele que serve diferentes variedades de tomate e camomila, numa combinação também de diferentes técnicas, pode nunca ser bem o mesmo. Ou a sua versão das lulas algarvias, ou o lagostim de Sagres e couve-flor. “Dependendo do produto, há semanas em que mudamos dois, três pratos. Há semanas em que não mudamos nenhum”, aponta, destacando que mesmo aqueles que já são conhecidos como os seus pratos de assinatura, como é o caso da “Laranja do Algarve”, em que uma laranjeira é deixada na mesa para que o cliente apanhe a sua própria “laranja”, vai sofrendo alterações. “Na laranjeira, trocamos a guarnição seis, sete vezes ao ano”, garante, contando com a ajuda do chef pasteleiro Fábio Quiraz. O serviço, atento e imaculado como se espera num restaurante do género, serve a sala, luminosa e bonita, e o chef tem a capacidade de quebrar o gelo logo ao início ao receber os clientes na cozinha, onde são servidos os primeiros snacks.
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