Já tinha estado aqui?
Estive uma vez, exactamente neste quiosque.
O motivo também foi uma entrevista?
Não, era mesmo tomando um café.
Tem algum lugar preferido em Lisboa?
Eu ia falar Meco, mas não é Lisboa, né? Acho uma das praias mais bonitas que já vi, e eu vivo num lugar de muitas praias. Me parece um dado importante que Lisboa, uma cidade com essa história, com essa arquitectura, e ao mesmo tempo tem uma proximidade com a natureza, com uma exuberância. A primeira vez que vim aqui foi em 1992.
Era diferente.
Muito. Tinha história, mas eu sentia uma melancolia, mesmo nos dias solares. Quase como se a cidade escrevesse o passado.
E agora estamos no futuro?
Não, sinto que é uma cidade que tem o passado escrito, mas com um projecto de futuro.
O seu gosto por Lisboa foi preponderante para aceitar o convite para Artista na Cidade ou teria dito que sim mesmo que odiasse a cidade?
É quase impossível responder a isso. Como fazer essa projecção diante deste lugar, tomando esse sol? Talvez, se fosse num lugar horroroso, com pessoas ruins, podia perguntar: “será que o Artista na Cidade pode ser só uma ou duas apresentações?” Aqui não, aqui dá para pensar em estar realmente.
Esteve cá em 2013 no Maria Matos, em 2016 no Alkantara, em 1992 também foi em trabalho?
Sim, como actriz. E é curioso porque Lisboa foi a primeira cidade que visitei na Europa, nunca tinha viajado para a Europa. Também participei duas vezes no Festival de Almada. E sim, depois estive no Alkantara, aí já com uma história nos festivais europeus, mas para a gente, para mim e para os artistas que estavam comigo, foi um impacto. A gente já tinha apresentado o Se Elas Fossem para Moscou? em alguns festivais e sempre com uma resposta positiva, mas com intermediação da legenda. E o meu trabalho fala directamente ao público e quando a gente chega num lugar, que não é mais o nosso lugar e que você fala com o público como se fosse o seu lugar... isso foi incrível.
Sabe-lhe bem estar por aqui.
Sim, o meu trabalho é muito na relação com o espectador e isso foi bem importante.
Recuando um bocado na sua história pessoal, como é que chegou ao teatro?
A expressão artística sempre esteve colada a mim, na leitura e na escrita, acho que sou uma autora, que me expresso através do teatro e do cinema, me formei em jornalismo...
...isso é que talvez não tenha sido boa opção.
É, mas o jornalismo me abria duas possibilidades: o cinema e a literatura. Pensar a ideia da palavra como alguma coisa que chega no outro. E o teatro também esteve sempre presente, a minha família, que não tem nada que ver com arte, tinha uma prática que me foi muito importante. A gente assistia a várias peças infantis, a gente copiava todos os textos e depois apresentava na nossa casa, nas festas de aniversário, a gente ensaiava, fazia diferente. Vi os meus pais e tios actuando e, mais tarde, eles dirigindo a gente. É uma trajectória um pouco óbvia, sim, de continuidade.