O mês de Dezembro é sempre de excessos e em Janeiro não precisa de abrandar. O melhor até é juntar o útil ao agradável e gastar as calorias recém-adquiridas num workshop ou num passeio de fim-de-semana com a família.
Algures entre o Paraíso e a Terra, um palhaço assiste ao seu próprio funeral. Vigiado em silêncio por anjos zelosos, pendurados em candelabros gigantes, imagina um ambiente carnavalesco. Em vez de luto, uma alegre procissão. Em vez de sombra, um cortejo em festa.
Depois de passar por quatro continentes e ser visto por mais de oito milhões de espectadores, Corteo chega finalmente à Europa. A estreia da grande produção de arena do Cirque du Soleil em Lisboa está marcada para o dia 3 de Janeiro de 2020, na Altice Arena – mas antes a Time Out foi a Estugarda ver como se faz a magia imaginada pelo dramaturgo Daniele Finzi Pasca. O que encontrou foi um conjunto de 51 artistas de 18 nacionalidades – acrobatas, músicos, actores e cantores do Brasil, do Cazaquistão, da Argentina ou do Japão – a treinar pinos e saltos, músicas e piruetas, em palco e nos bastidores, entre a azáfama dos últimos preparativos.
Na sala do guarda-roupa, quatro costureiras de olhos pregados à maquina trabalham nos últimos acertos dos mais de 260 figurinos. Dezenas de ventoinhas garantem que as meias secam a tempo. Um técnico confirma que os arneses estão a postos e em segurança.
No ginásio improvisado levantam-se pesos; na plateia massajam-se lesões que, provavelmente, não terão mais cura. Ao espelho, os palhaços tratam da maquilhagem: Mauro, o palhaço sonhador, ri e chora ao mesmo tempo; o palhaço branco ajeita o chapéu e prepara-se para brilhar. Uma acrobata rebola em torno de um varão suspenso, o colega sobe e desce o escadote com um equilíbrio vertiginoso, sob o olhar atento do técnico de luz, sob o som dos instrumentos da banda ao vivo a afinar.
Uma empregada de limpeza dá os últimos toques no palco de 36 metros, com uma estrutura rotativa de 12 metros e meio. Senhoras e senhores, o espectáculo vai começar – e está quase a chegar. Vera Moura