Uma delas junta a coreógrafa Andresa Soares a Olga Cunha, actualmente encarregada dos serviços gerais num lar de terceira idade. Nos últimos meses, Andresa confinou-se às artes e Olga aos cuidados do final da vida. Juntas vão apresentar “Arredar”, um encontro que explora o que há de essencial naquilo que fazem, como vivem o confinamento e o desconfinamento, o que mudou ou o que tem de mudar. “A relação com a terceira idade no final da vida, com necessidades que deveriam ser muito mais do que apenas a sobrevivência (higiene, comida, sono, saúde) permite uma reflexão rica sobre aquilo que é a manutenção da humanidade e a função redutora para a qual a sociedade actual remete tanto o idoso como o cuidador”, lamenta Andresa que com Olga descobriu novos interesses, como o paralelismo com o arredar da actividade artística “para o âmbito do supérfluo, do dispensável”. “É o mesmo gesto de redução e condicionamento da vida humana”, diz.
Para chegar ao encontro final do TBA, foram precisos outros encontros, online, mas privados, onde Andresa e Olga se entrevistaram mutuamente. “A Olga é uma óptima conversadora e contadora de histórias, para além de ter muita sensibilidade e pensamento sobre o que faz e o que vai vivendo. É também uma pessoa muito empática, então toda esta situação foi um misto de indignação relativamente ao funcionamento do sistema e de percepção da pertinência do seu modo de ser e ligações que cria”, explica a coreógrafa, que foi gravando e tomando notas até chegar ao texto final que junta as duas vozes.
Mas será Essenciais também uma forma de sublinhar que os profissionais do espectáculo são isso mesmo, essenciais? "Essa é a premissa central deste programa. É tão pertinente como cansativo ainda termos de atirar essa questão para cima da mesa", queixa-se Andresa, ressalvando que há duas coisas que ficam "visíveis" neste encontro em particular: a falta de investimento na cultura e a falta de condições de trabalho das cuidadoras, "maioritariamente mulheres", sublinha.