Praia da Samoqueira - Porto Covo
Fotografia: Arlindo CamachoPraia da Samoqueira
Fotografia: Arlindo Camacho

12 razões para (re)descobrir Porto Côvo agora

Para provar, experimentar e ficar. Uma lista feita de novidades frescas e de outras coisas boas que, felizmente, não mudam.

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Porto Côvo está a mudar. Em menos de dois anos, nasceram aqui projectos com novas ambições, fixou-se gente e talento. Há dois chefes de mão cheia apostados em fazer da vila uma referência gastronómica, há um novo turismo rural a competir na primeira divisão do país, há gente da terra a perceber que a qualidade é a única aposta possível, a abrir hostels com pinta, a pensar sustentável, a manter escolas de referência para mergulho e para surf. Há, sobretudo, a vontade, que a pandemia acelerou, de dar uma vivência de ano inteiro a um lugar acostumado a hibernar dois terços do ano. Eis uma dúzia de novas e velhas boas razões para descobrir a vila do sudoeste.

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12 razões para (re)descobrir Porto Côvo agora

1. Vadiar à mesa no Alma Nómada

Depois de anos a ganhar calo no Loco de Alexandre Silva, na Bica do Sapato de António Bóia, no Feitoria de João Rodrigues ou no Belcanto de José Avillez, Ricardo Leite fixou-se agora em Porto Côvo para assumir o seu primeiro espaço como chef executivo. Aqui procura criar uma cozinha com assinatura, atenta à sazonalidade e inflexível com a qualidade do produto, comprometida com a ideia de tornar a vila do sudoeste numa referência gastronómica – a avaliar pelo passa-palavra, vai no bom caminho. O peixe vem lota de Sines, os frescos das quintas da região, o borrego é alentejano, a vaca é minhota (60 a 90 dias de maturação), a inspiração vem de toda a parte, e o resultado é uma carta sofisticada mas a prometer conforto. É o próprio Ricardo que nos aponta dois pratos exemplares desse equilíbrio. Um, o bacalhau de cura prolongada. “Tem cura de 18 meses, inacreditável, quase quintuplica quando é demolhado”, entusiasma-se o chef. A demolha pode levar sete dias, depois o bicho há-de ser mergulhado em leite de amêndoa, feito aqui mesmo na casa, servido com caviar, pil pil (picante típico basco), crocante de batata, ervas do mar e ar de aneto (25€). No outro extremo, o arroz de carabineiro em forno a lenha para duas pessoas (60€). “Um arroz à antiga, à moda do Norte”, explica este transmontano: “crocante por cima, húmido e macio por baixo, leva um óleo de carabineiro que faço com as cabeças e tem uma potência de sabor incrível. Um prato rústico, todo de conforto”. Não estranhe se um destes dias Porto Côvo fique conhecido como a vila onde é possível avistar uma estrela Michelin dentro de um parque de campismo.

Costa do Vizir Monte Branco. 96 575 4882. Todos os dias até às 22.30. A partir de 40€/pax

2. Ir ao Lamelas comer este Alentejo e outro

Ana Moura tem raízes em Porto Côvo e Lamelas, o seu apelido materno, denuncia essa filiação. Foi esse o nome que escolheu para o restaurante que em Maio deste ano abriu no espaço da antiga Tasca do Xico, com uma varanda sobranceira ao Porto de Pesca. A antiga chef da Bacalhoaria Moderna, em Lisboa, mudou-se de armas e bagagens para a sua terra das memórias perfeitas e férias grandes e aqui abriu uma casa que é já atração da vila. A carta é toda orientada para os sabores deste Alentejo, com muito mar mas sem virar costas à planície e à serra. Há os pratos “da costa”, onde se incluem títulos que fazem salivar, como chocos salteados com batata e azeite de poejo (17€), açorda alentejana com pregado frito e ovo escalfado (18€) ou ovo frito com carabineiros (25€). E há os pratos “do campo”, ondem militam um ensopado de grão e borrego (18€) ou um arroz caldoso de coelho (19€). Tudo isto com muita criatividade mas sem grandes pretensões. É ver as entradas. Chegam em pequenos pratinhos (4€) de nome simples: salada de polvo, salada de ovas, lulinhas fritas com maionese de limão, carapauzinhos fritos. E no entanto, há um tratado de técnica em algumas delas. É o caso do Almece, produto esquecido da região, feito a partir do soro de coalhada do queijo de ovelha. É uma espécie de pré-requeijão, mais líquido, que Ana cobre com uma suave película, meio estaladiça, que chegamos a desconfiar ser presunto, mas é afinal uma lâmina de abrótea curada, pincelada de ovo e um azeite de poejo. Um poema com dez centímetros de diâmetro.

Rua Cândido da Silva, 55 A, Porto Côvo. 92 406 0426. Todos os dias até às 22.30. Preço médio 25-30€/pax

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3. Procurar refúgio no Monte da Bemposta

O Monte da Bemposta é um novo turismo rural nascido num dos lugares mais inacreditáveis do Alentejo. Estamos no planalto a sul de Porto Côvo, logo além do Forte da Ilha do Pessegueiro. Onde outrora havia uma exploração de porcos, plantou-se uma correnteza de casas rasas, forradas de um conforto irrepreensível, decoração rústica minimal, detalhes cuidados. São dez estúdios mezzanine (até três pessoas), cada um com o seu pequeno pátio frente ao mar, alinhados até à casa principal, onde encontramos mais um apartamento T3 (até seis), um estúdio e uma suite. Lá mais adiante no terreno, há outros três estúdios para dois. Excepção feita à suite, todos os alojamentos são independentes, equipados com kitchenette. Tudo isto em traça alentejana, com aquela geometria meridional de casas brancas, moldura azul, vermelho nas portas e na esquadria das janelas. Frente à casa há uma boa piscina, mais além dois campos de paddle, resguardados no eucaliptal, adiante um espaço cercado onde burros, lamas e alpacas vagueiam. São oito hectares de paraíso litoral, sossego garantido, muito espaço livre e o mar à vista de todos os pontos.

Bemposta, Porto Covo. 96 451 3088. res@montedabemposta.pt. Preços época alta desde 215€ suite, estúdio mezzanine superior até 355€, estúdio normal 265€. Mínimo quatro noites de estadia em Julho e Agosto.

4. Sossegar no Ocean House Alentejo

Estamos no limite sul da vila, ainda no centro mas resguardados, e para trás estende-se um horizonte de campo aberto. “Um sossego mesmo no pico do Verão”, promete André Teixeira, metade do casal que uniu as três casas que aqui havia para criar num novo hostel cheio de pinta. Recuperaram a traça, devolveram-lhe o branco azul e vermelho que a tradição manda, aplicaram umas portas de madeira bruta. Lá dentro, seis quartos duplos independentes, dois com varanda, todos com muita luz, confortáveis, chão de madeira e decoração feita de detalhes de conforto. O Ocean House Alentejo esteve para abrir em 2020, mas depois o mundo suspendeu-se. “Ainda arrancou em Outubro, acolheu gente no fim de ano, fechou em Janeiro”. Resumindo, é a estrear. Em baixo, uma sala aberta com cozinha. É aqui que preparam os pequenos almoços, servem o pão que Vânia Chu - a outra metade desta dupla - faz de véspera com massa mãe, doces caseiros, queijo da região. Nas traseiras há uma pequena horta, ervas aromáticas a perfumar uma esplanada orientada a sueste, boa para terminar o dia, perfeita para o ver nascer. Há bicicletas e pranchas de stand up paddle para quem lhes quiser dar uso. Estamos a dois minutos do mar.

Rua 25 de Abril, 3. 93 266 5269. www.oceanhousealentejo.com. Quarto duplo 90€. Mínimo duas noites em época alta

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5. Caminhar sobre as águas

A escola de surf Costa Azul divide-se em dois pontos. Um, mais acima em São Torpes, chama-se Pico Louco, e o nome diz mais ou menos tudo o que precisa de saber: não é para meninos nem para iniciantes. O outro, já a meio da idílica estrada M1109, na Praia da Vieirinha. E este, garantem-nos, é “o sítio” para quem se quer iniciar. As aulas duram pouco mais de duas horas e incluem todo o material, seguro e instrutor 40€. Mas também há cursos de um (65€), três (210€) e cinco dias (330€) e aluguer de toda a espécie de material para fazer do mar uma festa, do skimming ao snorkeling. A novidade este ano são os passeios de stand up paddle: começam aqui e terminam em Porto Côvo, uns seis quilómetros a remar de pé, ao largo de falésias e enseadas. A experiência, claro, é só “para malta mais experiente”. Para horas e preços, é falar com eles.

Praia da Vieirinha. costazulsurf.com. 93 266 5269/ 96 122 2533

6. Levar o dia até ao fim na Vieirinha

Já que veio pelo surf, deixe-se ficar até esgotar o dia. Estamos na Vieirinha das melhores praias da zona, a meio caminho entre São Torpes e Porto Côvo. Mesmo junto à cabana da Costa Azul, tem o Pedra na Casca (Praia da Vieirinha. 269 869 013. Fecha à terça. A partir de 25€/pax), restaurante com esplanada, que aparece em quase todas as recomendações que os nativos nos vão oferecendo. É aqui que Carla, mulher de pescador, lhe vai mostrar um menu infalível para rematar um dia de praia perfeito no Sudoeste: amêijoas, salada de polvo, choco frito, moreia frita. A especialidade é marisco e peixe fresco, mas também há cataplanas, arrozes e raia de alhada. Ali mais abaixo, o Magic Cactus (Praia da Vieirinha. 269 869 007. Ter-Dom, 10.00-20.00). Uma casa de madeira plantada no limiar do areal e uma esplanada sobranceira à duna, o Atlântico todo à frente. Há refeições de peixe do dia, arroz de garoupa (33€/2pax) e outras coisas a saber a mar. Mas o lugar convida mesmo é a um copo e a um petisco, de preferência a ver o sol pôr-se mesmo diante. Aposta-se em caipirinhas, daiquiris, mojitos e margaritas (6,5€/7,5€), pregos e tostas várias (5,5€), picapaus de carne ou de choco frito (12,5€), pratinhos e camarão ou de amêijoa (10,5€ / 12,5€). A novidade por estes dias são as sunset parties, que é o palavrão camone para descrever pé na areia, copo na mão e disco no prato, no tal calmo improviso do poente. Acontecem às sextas e sábados.

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7. Perceber que não havia um pessegueiro na Ilha

É uma figura da terra e toda a gente o recomenda. Em todas as etapas da nossa expedição por aqui, surge o nome de Joaquim Matias. Pescador desde miúdo, acompanhou o levantamento arqueológico feito no local nos anos 80 e gosta de dizer que tem um mestrado na Ilha do Pessegueiro. É uma enciclopédia de história local, que palestra nas duas horas que duram as visitas ao ilhéu. Tempo para descobrir vestígios com mais de dois mil anos, ouvir histórias de portos e baías de piratas, saber que ali existiu uma fábrica de salga de peixe, mas nunca houve um pessegueiro. Ele explica.

Visitas guiadas até 15 de Setembro, com saída do porto às 10.00, 14.00 e 16.00 (dependendo do estado do mar). Preços: a partir de 10€. 96 553 5683

8. Virar-se para dentro com a Finn’s Routes

“É para quem quer conhecer um pouco mais deste Alentejo, sem ser só praia”. Finn conhece bem os recantos e trilhos destas terras e, desde há uns meses, aventurou-se como guia turística. Criou a Finn’s Routes e agora corre os caminhos do Parque Natural em passeios guiados. A expedição começa numa carrinha, que apanha os exploradores em lugar a combinar. A lotação é de seis. Há programas já desenhados, que variam em extensão e tempo. O Walk & Discover (40€ pax) dura umas três horas e, como o nome promete, faz-se sobretudo a pé, seja a acompanhar o curso da Ribeira do Torgal até mergulhar no idílico Pego das Pias, a descobrir praias secretas na zona ou a conhecer os recantos e hábitos da aldeia de São Luís. Há também os passeios de dia inteiro, que é como quem diz cinco a seis horas (70€ pax), que batem esses mesmos sítios com mais pormenor e incluem petisco alentejano em cenários paradisíacos. Depois, claro, há os programas desenhados por medida.

Finn’s Routes. 96 579 4525. www.finnsroutes.com. Preços incluem seguros

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9. Ir ao fundo do mar com a Ecoalga

É a única escola (“legal, pelo menos”) em toda a Costa Alentejana. Fazem baptismos e cursos de mergulho em todos os níveis de formação, do primeiro ao de instrutor. “Fazemos saídas regulares para mergulhadores certificados de todos os níveis; fazemos todos os tipos de mergulho, do lúdico ao científico”, explica Joaquim Parrinha. Os baptismos de mergulho com garrafa, que é o que aqui se deixa como proposta, fazem-se junto à Ilha do Pessegueiro. Ficam por 60€/pessoa, incluem saída de barco, todo o equipamento e garrafa, e fazem-se para um mínimo de duas e um máximo de oito pessoas. Tudo o resto, para gente mais experimentada, faz-se nuns 50 locais de mergulho que Joaquim conhece a fundo, entre Sines e Vila Nova de Milfontes.

Ecoalga. Rua 25 de Abril, 5C. 96 462 0394. www.ecoalga.com

10. Armar-se em Madonna ou Bo Derek

Andar a cavalo pela praia tem o seu quê de cenário idílico, muito hollywoodesco, mesmo para quem nunca tenha posto os pés nuns estribos. Lembra Madonna a montar na Comporta ou Bo Derek a cavalgar os sonhos de muita gente. Ora, a Herdade do Pessegueiro está aqui tornar a coisa realidade (Bo Derek não incluída) e proporciona passeios de uma hora (30€) que começam nos seus terrenos, num lugar privilegiado, sobranceiro à Ilha do Pessegueiro, e seguem por aí adiante até meter as patas na água. Para outras aventuras, a oferta de turismo equestre é grande e inclui semanas inteiras de programas pensados para pouca ou muita gente. Se quiser ficar por aqui, há cinco casinhas de traça alentejana, todas elas resguardadas no maior sossego, com vista para o mar e para a serra, e muito espaço verde em redor. Para preços e condições, melhor falar directamente com eles.

Herdade do Pessegueiro. GPS: 37°49’54.64″N / 8°47’12.77″W. herdadedopessegueiro.com. 96 332 0898

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11. Apanhar fresco no Mercado

Há duas bancas de peixe dispostas em L, costas com costas. Concentremo-nos numa delas. Não tem mais que 12 passos de um português de média dimensão, como este que se assina, mas em qualquer dia guarda mais espécies de peixe do que muitos povos conhecem uma vida inteira. Numa quinta-feira de Junho, na banca de Joaquim e seus irmãos, era assim: Tamboril, raia, cação, pata roxa, pampo, safio, polvo, lula, choco, carapau, carapau pequeno (quase jaquinzinho) sardinha, corvina, choupa, abrótea, bodião, pescada, atum, pregado, dourada e robalo de vários tamanhos, amêijoa de Sesimbra, besugo, sarrajão, sargo, sargo veado, linguado, linguado de areia, safia, rascaço, imperador, cantaril, salmonete, pargo e bica. Apenas algum robalo, dourada e pregado são de viveiro e tudo está bem identificado. A maioria, chega todos os dias de Sines. Os preços tendem a salgar no Verão, mas nenhuma das etiquetas choca qualquer comprador habituado.

No lado oposto, recomendam-se as duas bancas de Cristina Brás. Numa, vende frescos trazidos directamente das suas hortas, já ali na Sonega e na Fontemouro. Não têm certificação de produção biológica, mas “é tudo feito com o que a terra dá”. Se quiser mesmo biológico com papel passado, tem a banca da Quinta da Cotovia, mesmo ao lado, mas que só vem aos fins-de-semana e trabalha sobretudo com cabazes. Por este dias iniciais de Verão, atenção ao tomate rosa e ao coração de boi. Também há chucha, que lá para diante há-de aparecer em doce já afamado, na outra banca em frente, precisamente onde Cristina e o marido vendem doces e licores caseiros, feitos pela sua própria mão. São umas dez variedades de cada, quase todos também do que a sua própria terra dá.

Todos os dias, 07.00-13.00

12. Mergulhar onde as águas brilham como pratas

Já cá faltava o clichê do Rui Veloso e do Carlos Tê, não era? Pronto, já não falta. E para cantarolar a música nem precisa da Time Out, assim como já ninguém precisa para descobrir as melhores praias que rodeiam a vila, desde a idílica estrada M1109 que desce de São Torpes, até para lá da Ilha do Pessegueiro. Estão todas bem sinalizadas, bem cuidadas, não tem que enganar. Esta entrada serve apenas para lhe dar uma coordenada essencial para tempos de Covid. Eis a lotação máxima das principais praias da zona para este Verão: Praia Grande de Porto Côvo (400 banhistas), Praia da Ilha do Pessegueiro (700), Praia de Morgavel (400), Praia de São Torpes (2.000), Praia Vasco da Gama (2.000) e Praia da Vieirinha / Vale Figueiros (1.300).

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O Verão não tem de ser cancelado. Comece a fazer as malas e faça-se à estrada. Verão que se preze envolve, por decreto, umas idas a banhos na praia. Ponha a toalha ao ombro e a sombrinha às costas.

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Se a ideia de se fechar noutro sítio que não a sua casa o deixa claustrofóbico e os planos para este ano passam por se fazer à estrada, veio ao sítio certo. De caravana, ou a dormir numa tenda em cima do carro, damos-lhe dicas para manter a distância – e o espírito aventureiro.

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