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Não julgue estas lojas do Porto pela montra

Estas lojas do Porto não são o que parecem. São muito mais: lá dentro, além de compras, encontra comes e bebes, criativos em acção e até tatuagens.

Mauro Gonçalves
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Os roteiros de compras estão a mudar e o Porto não é excepção. Pela cidade, há novos espaços que convidam a fugir ao conceito de loja convencional, agregando arte, eventos, zonas de trabalho e até propostas gastronómicas. Pegámos na carteira e fomos ver como param as modas – que é como quem diz bater a porta de quatro espaços que não convém julgar pela montra. E já que lá está, pode sempre fazer umas compras – é que estas lojas do Porto são fora da caixa, mas não tanto.

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O bairro está em ebolição e Inês Figueiredo veio ajudar à festa. No final de 2022, abriu a Athena, um espaço que é praticamente uma montra de tão rasgado que está para a rua. Ao Bonfim vão chegando os primeiros turistas, embora seja entre os vizinhos que este novo conceito de loja está a despertar mais curiosidade. “Já nos chamaram de clube e acho que estamos muito próximos disso. As pessoas conhecem-se aqui, constroem relações aqui e encontram-se muito aqui. Sentem mesmo que está a nascer aqui uma comunidade e eu não conheço nem tenho esta experiência em muitos espaços aqui”, esclarece a proprietária.

Mas o que é que torna esta morada tão especial – além da fachada em vidro que a inunda de luz natural? Tudo começa com um exercício de curadoria. Na bancada central, mistura-se ilustração de autor, peças de cerâmica, joalharia e outros acessórios de moda, com predomínio de pequenas marcas portuguesas, mas sem que isso seja uma bandeira. Ao mostruário, Inês adiciona uma selecção de vinhos naturais e de baixa intervenção e ainda um aroma a café, com a chegada de uma nova marca, vinda de uma torrefacção em Berlim.

“Agora já muita gente vem ter comigo e diz que gostava de estar aqui, mas no início foi mesmo uma pesquisa minha. Andei à procura de artistas com os quais me poderia identificar e a ideia também sempre foi não ter muita coisa, ser fácil para as pessoas escolherem. Nunca me imaginei a ter um espaço demasiado cheio, ruidoso.”

A comida é outra das peças. Há sempre um bolo do dia pronto a fatiar, café de especialidade ou vinho a copo, embora os dotes culinários de Inês estejam reservados para os eventos que vai organizando na Athena. “Basicamente sou advogada, mas quando estava a terminar o estágio decidi que queria aprender a cozinhar. Fui trabalhar para um restaurante, mas dois ou três meses depois a pandemia apareceu e voltei para casa.” A história estava só a começar. Inês criou o próprio projecto de refeições entregues em casa e, com o gradual regresso à normalidade, começou a procurar o espaço. “Não queria aquelas lojas muito típicas do Porto, estreitas e em granito. Quando olhei para aqui, fiquei apaixonada.”

Parte do espaço continua longe dos olhares do público – é onde funciona a cozinha, posta a laborar em dias especiais. É que além de loja e sala-de-estar, a Athena tem sido muito requisitada, sobretudo aos fins-de-semana. Por aqui acontecem festas de aniversário, lançamentos de marcas, flash tattoos e até já houve quem escolhesse esta esquina do Bonfim para casar. “Parecia que estavamos em Nova Iorque, com toda a gente na rua a olhar. Acho que não há limites para o que podemos fazer aqui.”

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Assim que entramos, o pensamento é só um: a firme certeza de que alguém no Never Not Studio adora azul Klein. O tom está por todo o lado – nas escadas, nos móveis, nas peças de cerâmica, nos livros – e dá ao escritório um toque de sofisticação. As boas-vindas são dadas por Tânia Dioespirro, a stylist e directora criativa que converteu uma velha boutique de bairro, e onde já tinha funcionado em tempos um negócio de família, num espaço de trabalho suficientemente versátil (e bonito) para receber outros inquilinos e ainda abrir portas ao público com eventos especiais. A moda, como já seria de esperar, paira no ar.

“Apesar de ser fácil trabalhar à distância nesta profissão, começo a ter um arquivo de tralha muito grande – sapatos, chapéus, acessórios e roupas que vou guardando. É um espólio que tenho de guardar em algum sítio”, começa por explicar Tânia, apaixonada pelo trabalho de Yves Klein e, logo, pelo azul. Resolvido o problema da “tralha”, teve de encontrar quem quisesse partilhar o espaço sem sair das áreas criativas. O recrutamente correu ainda melhor do que o esperado, com um designer e um realizador de cinema, que trabalha sobretudo na área da moda, a juntarem-se ao clube. “Acho esta parte criativa super importante. Às vezes divertimo-nos só a decidir o que vamos pôr na montra. Outras vezes, sei lá, posso estar com dúvidas no meu trabalho e consigo pedir uma opinião que sei que é informada.” Ricardo Andrez e César Augusto são os colegas nas carteiras do lado. O primeiro faz da secretária a sua mesa de corte e acelera o ritmo em vésperas de apresentar uma nova colecção em Lisboa – e também recebe clientes por marcação. O segundo passa bastante mais tempo de olhos postos nos ecrãs ou a matutar em conceitos para os próximos fashion films.

O Never Not Studio abriu portas há quase um ano e não quer ficar por aqui. Aos criativos residentes quer juntar pequenas pop-ups e assim abrir as portas ao público. “A minha ideia sempre foi conseguir ter aqui um espaço que desse montra a outros projectos, que não tenham loja física no Porto ou que sejam negócios online. Por isso é que tentámos que o espaço também fosse flexível.” Tânia pensou em todos os pormenores – nas secretárias amovíveis, na pré-instalação de expositores de roupa, nas zonas de estar e até no terraço do andar de cima, ideal para eventos ao sol. “Terá sempre de ser algo integrado na identidade do estúdio, que tenha a ver connosco. Acho que designers, projectos de fotografia, ilustração, acessórios, tudo o que tenha a ver com moda e áreas criativas.” O plano já está em marcha, é seguir o Instagram para ficar a par das novidades.

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Numa antiga gráfica portuense nasceu uma das mais completas propostas de compras da cidade. A LOT, sigla para Labels of Tomorrow, mistura moda com uma curadoria de marcas nacionais e etiquetas estrangeiras, perfumaria, comida e uma pitada de entretenimento. Uma experiência completa, nas palavras de Edgar Ferreira, empresário que volta a dar provas de inovação, depois da abertura da The Feeting Room, em 2015. “Queremos dar palco e exclusividade às marcas. Para uma marca que ainda não está implementada é muito mais interessante. Para as pessoas é óptimo, porque entram e descobrem esse talento independente”, assinala.

O charme do edifício é o primeiro a falar. As escadas e corrimãos originais foram mantidos, bem como as colunas que sustentam este espaço de pé-direito generoso. Marcas portuguesas como a A Line começam a afirmar-se, ao lado de velhas conhecidas como a Sanjo e de outras ainda menos sonantes como a joalharia da Esquível. Mas para a nova loja, inaugurada em 2022, vieram também alguns pesos pesados internacionais, como a brasileira Osklen ou a revigorada Camper. Num espaço maioritariamente dedicado à moda, os clientes são ainda surpreendidos pelo corner da Next Memory. A marca com loja em Lisboa tomou conta de um dos cantos do segundo piso com as suas fragrâncias para a casa e cuidados para o corpo.

Mas a LOT esconde outros segredos, a começar por um jardim nas traseiras, especialmente propício a eventos a céu aberto – já houve concertos, bancas pop-up e espectáculos de drag queens –, sempre que a meteorologia o permite. Subidas as escadas e com direito a esplanada e vista, chegamos ao pequeno restaurante, com lugar para 70 pessoas. No menu, o Eleven Lab (que também está junto ao Douro, na Rua do Ouro) propõe refeições ligeiras, como bowls, tacos e sanduíches. Para acompanhar, prove uma das sangrias da casa e ganhe embalo para as compras.

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É preciso tocar à campainha para, finalmente, matar a curiosidade. Lá em cima, num segundo andar com vista para o Mercado do Bolhão, não vai encontrar uma concept store de marcas de luxo, nem um spa de acesso exclusivo. Em vez disso, a Casa Fúria é um espaço partilhado onde todos trabalham em prol de um único ideal: a beleza. Natacha Cutler e Isadora Borges foram as primeiras a juntar-se. “Já tínhamos muitos clientes em comum, pessoas que já cortavam o cabelo com a Natacha e faziam as unhas comigo, mas depois bateu a pandemia e ficámos fechados em casa. Então aí foi mandar uma DM no Instagram: hey girl, queres ser minha partner?”, revela a segunda. Só que a primeira morada era bem mais pequena, algures na Rua do Rosário, e, ao fim de um ano e meio, a Casa Fúria instalou-se aqui, com as duas talentosas fundadoras e espaço para acolher mais criativos.

“Estava a ser muito difícil para mim encontrar um espaço que estivesse aberto a coisas diferentes e a um tipo de serviço diferente também – mais personalizado, algo com mais tempo. E sabia que a Natacha também sentia que tínhamos de trabalhar por conta própria.” A dupla aproveitou para alicerçar o novo projecto em conceitos como o de inclusão. A casa é hoje um safe space para as comunidades queer, mas também para as migrantes, além de se pautar pelo lema do slow work – cada cliente é atendido com marcação prévia, sem interferências e no recato deste segundo andar no centro do Porto –, afastando-se da imagem do salão tradicional. “Até porque as coisas que fazemos a nível criativo levam muito mais tempo. A nailart, as colorações. São coisas muito mais alternativas”, sugere Isadora.

Luis Gonzalez veio à boleia da mudança e chegou para ser o primeiro tatuador residente. O estúdio onde trabalha fica no andar de cima, uma extensão da casa onde as agulhas são postas a funcionar, as que aqui moram (já são quatro, no total) e as convidadas. O quarteto fica completo com Alicia Medeiros, a aprendiz de nailart que acabou por ganhar a sua própria carteira de clientes.

Os limites são o da criatividade de quem idealizou a Casa Fúria. Na sala da entrada, há sex toys à venda, mas também uma selecção de peças de roupa vintage. As exposições também são recorrentes, até porque não faltam clientes talentosos. “A maioria dos nossos clientes é de áreas criativas. Temos muitos fotógrafos, ilustradores, pessoas que fazem coisas que admiramos. Então, de certa forma, queremos receber o trabalho deles aqui também”, afirma Natacha. Ideias como esta têm feito crescer uma comunidade em torno do projecto, de locais e de novos portuenses. “Fazemos os eventos, as pessoas vêm e sentem que este espaço é delas”, remata. A última exposição resultou de uma open call e chegou às paredes das escadas. Entre arte, cabelos, unhas e tatuagens, um dia esta casa ainda toma conta do prédio inteiro.

Mais compras no Porto

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  • Floristas

Não duram eternamente, mas fazem feliz quem as recebe (a não ser que seja alérgico). Um ramo de flores é, provavelmente, o presente mais versátil de que há memória e cai bem em praticamente todas as ocasiões. Sejam amarelas, brancas ou vermelhas; tulipas, rosas ou malmequeres, nas melhores floristas no Porto encontra estas flores e muitas mais.

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