O burel é usado como elemento agregador de uma estética exemplar e isso só é possível quando a matéria-prima está logo ali à mão de semear. Não é por isso de estranhar que se encontrem paredes e móveis forrados a burel, tectos adornados com fitas que aproveitam os desperdícios da fábrica, quadros floridos cosidos à mão e uma cúpula convertida em saleta com lareira coberta de lã.
Aproveitando o privilégio da altitude e os bons ares da serra, o spa é uma continuação da história do hotel e traz para dentro de portas uma piscina panorâmica aquecida, com passagem para o exterior e onde apetece ficar de molho a ver a serra, mesmo nos dias mais rigorosos de Inverno. Logo ao lado, para eliminar qualquer vestígio de stress, há salas de massagens, sauna e banho turco.
À hora das refeições, importa dizer que não vai querer sair do hotel. Não só porque os 11 km que distam até Manteigas são penosos para quem enjoa em trajectos de curva-contracurva, mas sobretudo porque o chef Manuel Figueira tratou de desenhar uma carta que olha para os sabores tradicionais da Beira como ponto de partida para uma abordagem mais contemporânea e criativa, mantendo, porém, a autenticidade da gastronomia local. Os pastéis de massa tenra recheados com cabrito desfiado são obrigatórios, mas avisamos já que são altamente viciantes, pelo que o mais provável é querer repetir a dose em todas as refeições. Chegam à mesa aos três e são óptimos para acompanhar com um copo dos muitos (e bons) vinhos disponíveis na garrafeira.
E porque ainda estamos longe daquela altura do ano em que a neve toma conta da paisagem, vale a pena dar corda aos sapatos e ir explorar os trilhos em redor do hotel. Há os oficiais, demarcados por estacas de madeira, e os outros, descobertos por João Tomás, e que seguem um rigoroso e organizadíssimo trajecto orientado por mariolas (aqueles montinhos de pedras que se encontram pelo caminho e que eram usados pelos pastores como ponto de referência). Num deles, com duração de cerca de duas horas, respira-se a paisagem moldada pelos glaciares, descobrem-se formações rochosas surpreendentes, antigos sanatórios e lagoas de água azul turquesa onde vai querer parar para mergulhar. No Vale do Rossim, fica a dica, a temperatura da água ronda os 24 ºC e a toda a volta há pequenas enseadas de pedra para desdobrar a toalha e estender o farnel. Antes de se pôr a caminho, peça na recepção um mapa e uma cesta de piquenique. Também há calçado de caminhada para quem, como nós, se esqueceu das sapatilhas.
Já de regresso ao hotel, sirva-se do lanche preparado para os hóspedes, ocupe uma das mesas do terraço e deixe-se ficar no embalo da paisagem até ao sol se pôr e a vila de Manteigas se transformar num carreiro de luzinhas que dão o dia por terminado.